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Lembras-te disto? Escrevi-te alguns meses após abandonar Leça. Já andava nas minhas andanças nómadas de " 10 Rooms With a View " (excelente título para um livro não?). Estou a brincar, tal significa apenas, que te escrevi esta missiva, quando iniciei a minha longa jornada por 10 quartos alugados e 10 mudanças de freguesias. Foi complicado. Na altura, sentia-me tão só, que apenas encontrei em ti um refúgio para desabafar, e, como tal, lá foste tu, novamente, o recetáculo das minhas confissões. Aos 28 anos de idade, ainda parecia uma rapariga muito "naïve"; não achas? Tão prendada nas suas palavras para contigo; tão repleta de bons agouros para com a tua vida; tão agradável na sua estima; tão devota a tua felicidade; tão carente do TEU RESPEITO! Poderia dizer-te, todavia, talvez, que fora um papel encenado para cair nas tuas boas graças (como mais tarde toda a gente o reivindicaria " Cuidado, Tiago, as missivas dessa criatura para ti, mais não passam do que artífices engenhosos de se apropriar da tua alma, apelar ao teu coração, para depois te lançar o seu feitiço de amor e enredar-te na sua teia malévola de amor eterno) Ah, meus caros, antes tivesse sido. Porém, não sendo eu uma pupila ou discípula de nenhuma feiticeira Wicca, e, sendo o Tiago, por sua vez, uma barreira inacessível, nenhuma palavra por mim escrita, proferida, ou qualquer ato pagão empreendido no auge da madrugada teria vergado aquele coração. Ante a minha pessoa, nunca houve perigo, e, as minhas cartas de amor para o Tiago eram genuínas e cheias de sentimento. Patéticas, sim! Escritas por uma ridícula apaixonada, míope e roliça, que acalentava sonhos de " estórias de encantar ", mas, sinceras! O que se seguiu foi um cansaço in extremis de ser tão ignorada, Voilá, não sou perfeita. Também colapso ante a “arte da espera”, e, face tal, bom, sou apenas humana, com uma dose bem agravada de defeitos e falhas de carácter. E cada desilusão minha, pareceu arrancar-me um pedaço do meu coração, golpeá-lo incessantemente e cruelmente, como se de um massacre se tratasse, e depois, nada mais restou desse meu coração. E ali jaz ele prostrado no chão, ainda, passados tantos anos… Em seu lugar, comprei um novo acessório para o meu peito; conseguem adivinhar? Uma estalactite das mais cristalinos que existem, mas igualmente, das mais afiadas também!
09 de outubro de 2008
Tiago, neste dia como outro dia qualquer, preenchido por apenas 24 horas e composto por apenas duas cores (dia e noite)...Neste dia tão simples e banal, fruto do nosso quotidiano e igual a outro qualquer...Neste dia (9 de Outubro), há algo a simbolizar, algo a comemorar: o teu aniversário!
Acrescento a este dia tão especial um desejo que me é constante e que está sempre presente em mim:
- Que todas as ruas em que triste tenhas entrado, tenham uma saída feliz;
- Que toda a seta que atires, atinja o alvo certo;
- Que todos te paguem com o BEM, mesmo até aqueles a quem MAL, porventura, possas ter feito;
- Que todas os caminhos percorridos te conduzam a um patamar superior de autoconhecimento;
- Que todas as pedras encontradas no meio do caminho se transformem em SABEDORIA;
- Que, por justiça, parentes te amem e uma mulher te sussurre ao ouvido os seus votos de amor e parabéns;
- Que tenhas todos os teus amigos em teu redor e que nada nem ninguém te falte...
E, por último, que surja, futuramente, a realização em total plenitude de todos os teus sonhos, anseios e aspirações. São estes os mais sinceros votos de uma mulher que cresceu diante dos teus olhos e a tua custa se transformou numa pensadora analítica, numa escritora mediana, numa poetisa multilingue, numa mulher de caracter incompreendido mas personalidade forte...
Quando a vida me sufoca, ou a desilusão e a dor me atingiram em cheio existe uma pessoa, ante a qual, eu me expresso. Talvez por saber, de antemão, que não obterei qualquer resposta me seja mais fácil rasgar-me em nudez e transparência ante um estranho.
Aos olhos dos outros torna-se patético. Aos teus idem aspas. Aos meus olhos é um ato de fé e coragem (já o referi por mais do que uma vez).
Por todo este parágrafo atrás citado, este ano, e pela 1ª vez em 17 anos, dedico-te estas pequenas palavras e dou-te os MEUS PARABÉNS porque tu és importante! A vida é muito curta e efémera e infelizmente para muitos é alimentada de ódios e rancores...
E eu sou apenas humana e como humana que sou também eu cai ante sonhos de luxúria e vaidade, rasgos de vingança ante o passado, exibicionismo exacerbado, indiscrição plena à custa de um momento de glória... Um dia menti-te ao dizer-te que abdicara dele… Menti-te acerca de muitas outras coisas mais... E ocultei-te uma verdade acerca das minhas origens...Nunca tive coragem de ta revelar à custa de juízos de valor...
Tu jamais compreenderás o que me liga a ti e eu jamais explicar-to-ei.
Sou uma péssima diplomata...Um verdadeiro desastre a desculpar-me ante os outros...Não possuo o dom da comunicação oral e quando escrevo não possuo o dom da síntese. Mesmo assim tento ser honesta para comigo própria (no mínimo). A custa dos meus valores e da minha honestidade exacerbada escolhi uma vida de solidão. Amei duas ou três pessoas mas nunca lhes ocultei quem eu era e isso fez com que eles se magoassem/ se desiludissem e, posteriormente, me abandonassem.
E a desilusão é amarga, Tiago, sabe a fel...
Nos meus sonhos gosto de me imaginar como um pássaro livre, ferido na asa, mas sequioso de voar...
Hoje já não te minto nem me iludo mais...
Perante um mundo cibernauta sinto que já ajustei algumas contas com o meu passado mas não que a minha dívida esteja, por completo, saldada. Era aquela que eu via nos meus sonhos nos meus 13/14/16 e 18 anos de idade quando percorria amiúde os corredores da Secundária de semblante fechado e sempre cabisbaixa.
Muitas pessoas escreveram-me a dar-me os parabéns. Outras quiseram encontrar-se comigo, inclusive, para saber o que é que tinha operado tal transformação. Muitas perguntaram-me se fizera um workshop, que fotografo contratara, a que SPA me dirigira, que dieta milagrosa seguira...Enfim, tantas estupidezes e futilidades, das quais, nem o próprio Diabo lembrar-se-ia. A todos respondi sucintamente...Não fora a nenhum SPA nem recorrera a nenhum centro de estética...Simplesmente crescera/ evoluira/ mudara as minhas feições (quiçá), tornara-me numa mulher.
Tinha a arte e o engenho/ a criatividade e a imaginação e possuía algo muito maior: a força! Um dia lembro-me de te ter dito em silêncio algures lá para meados dos anos 90 nos meus dezasseis anos de idade: " Hoje vês-me a chorar, com o rosto enxuto de lágrimas e um nó na garganta. Vês-me desengonçada e curvada que nem uma corcunda. Não lês as minhas palavras nem me ouves quando te sussurro. Não conheces o brilho do meu olhar nem a transparência da minha alma. Não conheces a cor do meu espírito nem a beleza do meu sorriso. Amanhã ver-me-ás altiva, de olhos postos no céu. Verás o meu olhar cintilante e far-te-ei mergulhar no azul da minha íris. Conhecerás o meu sorriso e dar-te-ei as minhas palavras. Um dia verás quem eu realmente sou. "
E assim se criou o meu mundo cibernauta!
E após 3800 visitas e não sei quantos convites para agências de modelo, publicidade, one night stand & love affairs, encontros furtivos e, inclusive, prostituição o meu mundo veio todo abaixo... Era católica de gema...Com uns alicerces cristãos mais bem implementados que o próprio templo de Salomão...Abolia por completo as curtes rápidas e os encontros em bares e discotecas, abolia a venda do corpo de uma mulher por achá-lo um sacrilégio e um atentado contra a minha moral... Senti-me suja, quase que como se estivesse exposta numa montra de uma das ruas de Amesterdão, embora de mim, nem fotografias escandalosas existissem sequer mas aquela era o mundo em que vivíamos...
Do outro lado do ecrã trocavam-se piropos e mandavam-se mensagens a pessoas, das quais, nada conhecíamos a não ser o rosto, o corpo, a maquilhagem, a indumentária e os bares que frequentavam...Depressa aquela rede social se tornou, para mim, numa espécie de mundo cibernauta frio e animal, do qual, eu não fazia parte, embora ainda hoje me encontre lá.
O meu mundo cibernauta foi criado de MIM para TI...
É uma confissão algo franca e muito invulgar mas totalmente verdadeira. Cada fotografia lá exibida esconde uma história por trás relativa a minha adolescência ou a um sonho que tive enquanto miúda do Secundário apaixonada por ti. Os meus slides shows eram a prova viva disso. Cada um deles era acompanhado por uma música precisa e exata que te tentava transmitir algo. Aquela foi a minha maneira de "falar" contigo.Já o havia feito em carta e depois, estas novas tecnologias, deram-me a possibilidade de, no fundo, " OLHAR-TE OLHOS NOS OLHOS"
Vou ser-te franca...Odeio cruzar-me contigo no meio da rua. Odeio-o desde que te escrevi aquela carta. Sei que tu te sentes mal quando isso acontece...Sei que não gostas de me ver...E eu própria também não gosto de te ver...Sinto-me mal, fico estúpida e agora sinto-me nua perante ti porque se lês isto que eu te envio sabes de mim mais do que, alguma vez, eu fui capaz de confessar a alguém... Sou muito diferente de ti e das mulheres que te rodeiam.Tenho a sensibilidade a flor da pele, esqueletos no armário QB e dilemas atrás de dilemas por resolver...
Queria ser muita coisa na vida...Talvez a ambição desmedida me tenho pregado uma rasteira. Por vezes, pareço o D. Quixote a lutar contra moinhos de vento invisíveis. Sei que amas e és amado, portanto, encontras-te no caminho certo...O meu sempre foi um percurso errático, à exceção de sete anos de interregno e paz consumada num relacionamento simples e tranquilo.
FELIZ ANIVERSÁRIO TIAGO!
São estes os mais sinceros votos de uma mulher que, embora esteja bem longe da vista, ainda pensa em ti!
Vanessa Paquete 2014© All Rights Reserved
PS: Eu só desejo que fique tudo registado em caso de eu não me safar; compreendem? É que, por vezes, acho que esta reencarnação não me vai correr muito de feição. Eu não sou do gênero de mulher de ficar a espera, por anos indeterminados, aprisionada na solidão e em quartos alugados na miséria, sem família (sim, esse é um ponto que vou tocar muito), que o amor me venha recapturar. Se o meu comboio já passou, e eu não fui capaz de o apanhar, apenas peço a Deus que me liberte, mas, Deus anda a matar inocentes, ao invés, de inúmeras pessoas que querem realmente despreender-se da vida... Se pelo menos, Ele compreendesse isso... A canção, bem, " O Monte dos Vendavais " é uma das minhas obras de eleição, embora tenha sido, a única obra da escritora Emily Bronte, é, indubitavelmente, um clássico da literatura a não perder. De salientar que as adaptações cinematográficas muito deixaram aquém, à exceção, da produção de 2009 do canal ITV que é soberbo ( o mesmo que passa o Downtown Abbey ), como se tu soubesses alguma coisa disto ( ??? ) ...