DREAMING OF YOU
Ontem à noite apareceste-me em sonhos. Não sei porque razão foste tu a consagrar-me com o prazer da tua presença, se , era com a minha " suposta " irmã que eu havia discutido... Oh Tiago, eles fazem-me rir. Hoje de manhã cheguei aqui ao Blog, e os olhares cuscos daquela família, impenetravelmente, já haviam esmiuçado as minhas entretidas conversas contigo. Devem ter feito deligências familiares para se apossarem destas linhas e vídeos meus online.Já não consigo fitá-los com complacência ou ficar entristecida pelas palavras do meu pai. O meu senhor pai e minha irmã acham-se, no legítimo direito, de me julgarem sem qualquer condescência (aliás acham-se todos) e afiançar aos seus conhecidos e desconhecidos que não sou uma rapariga de juízo. Ora, tal parecer, é injusto e golpeia-me a honra e o orgulho. Por demasiado tempo, fui uma vassala, mendiga de amor paterno, pedinte de afeto aos meus irmãos... Hoje, procuram evidências e provas para instarem processos judicias contra mim, ora no Facebook, ora naquilo que te escrevo. Na realidade, tu próprio poderás colocar a hipótese de o fazer. Bem, lamentavelmente, meus " amores " não possuo qualquer bem, nem um cêntimo na conta bancária que me possa ser esturquido. Podem tentar penhorar as minhas " afirmações de amor " . Escusado será desejarem penhorar-me um salário inexistente, visto, que não possuo rendimentos fixos, tão pouco sou assalariada por outrém, nem por conta própria...
E acaso o desejem fazer, é melhor fazerem como na Loja do Cidadão, tirar um Ticket, e aguardar a vez de serem atendidos , portanto, imaginem o quanto a pobreza , no meu caso insólito, é uma aliada na minha luta ! Possuo uma boa índole e bom carácter, por isso, não tentem penhorar-me tais traços da minha personalidade, mas, cansei-me de ser sensata e educada... No meu sonho contigo, tinha inúmeras queixas a carpir e incontáveis ofensas a enumerar e fiz de ti o recetor das minhas lamúrias; pobre Tiago, mas aquela família exaspera-me os neurónios!
Todavia, o texto abaixo , é de um outro sonho. Daqueles que se dão há meses atrás e - num momento de inspiração - o relatamos.
Já remonta a 2010, devo confessar-te !
Hoje voltei a sonhar contigo Tiago...
Povoares (novamente) o meu universo onírico é um privilégio, do qual, jamais prescindo!
Desconheço há quantas horas estava eu, submersa no leito, adormecida pelos meus típicos indutores do sono que, desta feita, tiveram uma sobrecarga acrescida devido aos acontecimentos penosos dos últimos dias...Perdi-me nos ponteiros do relógio e no crescendo colossal dos dias que se estendem e se prolongam, sem cessar, um após o outro...Abrir as pupilas dilatadas e ter de enfrentar a luz do dia é algo que se me afigura quase impossível. Sempre que sou assaltada por uma crise deste género, assumo atos vampíricos e prescindo do dia para não ter de enfrentar o azul toldado do Céu que se espelha lá fora e os raios incisivos e convictos do Sol que teimam em nos agraciar com o seu calor ; prescindo de tudo e refugio-me na negritude! Cerro as persianas até não puder entrar mais nenhuma brecha de luz que me avive os sentidos e deixo-me ficar assim... Imóvel para a vida, inerte para o mundo, " fechada para obras ", consumida pela dor de mais um abandono e a mercê de um ou outro indutor de sono que me rouba as horas do dia mas, por sua vez, me adormece para a dor e também faz avançar de uma maneira célere e eficaz o dia de luz que eu teimo em não querer enfrentar!
Abençoados " indutores do sono "!
De cada vez que sonho contigo enches-me com a tua presença infinita e sinto, invariavelmente, que estás sempre comigo nestas horas de amargura e nestes períodos de sono conturbado e de vigília desconexa...Nem sempre me vens visitar em sonho...Por vezes passam-se meses até que regresses ao meu subconsciente e me surjas pleno e inteiro, e em carne e osso diante do meu olhar minucioso que te perscruta os passos e te segue atentamente. Nem sempre falamos (até em sonhos nos zangámos e utilizamos o silêncio enquanto barreira linguística entre nós já viste bem?)...Nem sempre interagimos um com o outro (não me perguntes porquê, não to sei dizer mas até em sonhos me foges, ocasionalmente )...Mas por vezes penso: é melhor assim!
Gosto de puder admirar-te, tal e qual um cineasta admira a sua película, milímetro a milímetro, sem pausas ou interregnos...Gosto de puder olhar-te e seguir-te os gestos e observá-los cuidadosamente e sentir que o tempo ali não conta porque (à parte os trocadilhos) é mesmo tudo ao faz-de-conta, Tiago. Muitas das vezes reprimo o desejo e a vontade de tocar-te, estranho não achas? É que o meu inconsciente, com toda a liberdade que eu lhe confiro e que lhe é permitida, não se atreve tão-pouco a invadir o teu território, nem mesmo em sonhos ele me obedece já viste bem?
Mas voltemos ao sonho...
Estamos numa casa velha (palpita-me que seja esta que habito presentemente dada a disposição dos compartimentos e móveis).
Estás lá tu e o Tomás.
O Tomás passeia-se pela casa e vai mantendo um diálogo percetível comigo, embora os meus sentidos, já não estejam centrados nele. Vejo-me forçada a representar um papel de má qualidade, para o qual, não estou preparada: sinto-me uma péssima atriz e uma manipuladora de afetos atroz! Vejo-me, de repente, numa sala de estar com o Tomás ao meu lado a tentar atrair-me a atenção para o ecrã de um computador ligado a Internet; ignoro o contexto da situação ou o que se encontra exposto na tela daquele PC: Estou completamente alheada da sua voz ou da sua presença!
O Tomás zanga-se (continuo sem saber o porquê ou o que tentava ele mostrar-me).
Resolve servir-se da sua autoridade e manipulação de namorado para me chamar à atenção e me abstrair do meu foco de pensamento aonde me refugiei alheada de tudo e de todos. Sinceramente, não sei o que procuro ou o que busco, com o meu olhar posto na porta de entrada da cozinha velha e enferrujada, mas é lá que tenho o meu olhar ancorado. Numa tentativa vã de me chamar a razão, o Tomás faz- um ultimato: " Vanessa, acorda! " o qual não surte qualquer efeito em mim; estou como que sob um efeito de hipnose. Começa uma contagem decrescente já num tom de voz algo ameaçador " Vanessa, vou contar até três e a terceira espero bem que fixes o meu olhar e me dês alguma atenção"
Começa a contagem:
Antes mesmo de o Tomás puder terminar a contagem e chegar aos três, eis que surges tu, Tiago, em passos titubeantes, repleto de presença, vindo do nada (de onde terás surgido tu?)...A alegria de ver-te parece-me irreal...Desenha-se-me um sorriso rasgado no rosto. A garganta seca-se-me de repente, as pernas perdem a força e deslargo apressadamente e, quase que num ato involuntário, a mão do Tomás que, até então, se encontrava pregada na minha...Perscruto-te até ao mais ínfimo detalhe, observo-te as expressões faciais (estarás tu ciente da minha presença naquela casa?). Ages com um à vontade fora do comum (não me recordo na integra de tudo, apenas apanhei momentos soltos e um ou outro fragmento desconexo). Entras na velha cozinha e fazes uma refeição leve. Sinto-me como uma " espiã " infiltrada ou a protagonista de uma qualquer experiência paranormal; O Tomás desapareceu subitamente como que em fuga aquele momento e tu ages como se eu tão-pouco estivesse lá...Envergas uma sweatshirt em tons estivais e uns jeans casuais...
Para variar e como já é hábito nestes meus sonhos a tua longevidade mantêm-se...
O meu subconsciente não me deixa virar as páginas do calendário e lá te manténs tu nos teus dezanove/vinte anos de idade como se, no meu mundo do onírico, para ti, a ampulheta do tempo meu querido se tivesse, pura e simplesmente estagnado...Por vezes, julgo ser imaginação minha mas poderia jurar que te vejo sempre parado nessa fase final da adolescência, ou talvez, a tua própria longevidade (continuas com ar de catraio em certas fotografias) faça com que a minha imaginação se encarregue em dar-te uns retoques finais a seu bel-prazer e eu, nos meus sonhos, vejo-te sempre assim; com o tom de pele castanho a colorir o espaço e os olhos aveludados em tom pastel a alimentar a minha sede de estética!
Um arrepio profundo sobe-me pela espinha e morre sorrateiramente na nuca, sigo-te em passos de lã, tal e qual, uma criança segue um amigo invisível no auge da madrugada. Um calor imenso e incontrolável apodera-se de mim e espalha-se por todos os poros da minha pele e ruboriza o meu rosto...Tu contínuas sem me ver e, num gesto brusco mas involuntário, fechas-me a porta (do teu quarto presumo eu?) na cara e eu fico avassalada e desesperada por não puder ver-te mais os olhos ou o desacelerar do teu passo e o movimento dos teus gestos...
Eis que surge o Tomás, de novo, que tenta monopolizar a minha atenção para si mas vendo-me tão centrada em ti e tão ensombrada pelo meu súbito encontro com a porta daquele quarto fechada tão abruptamente sobre mim, resolve auxiliar-me, impotente ante a minha obstinação em seguir-te...
Não sei o que ele fez (não me questiones porque tão-pouco consigo responder-te). Apenas sei que as paredes moveram-se, como que por magia, numa espécie de incursão cinéfila à Escola de Hogwarts e pude constatar que, para lá daquela porta, cada parede ou móvel espelhava o teu gosto e a materialização da tua própria existência. Senti-me tal e qual uma " Alice, no País das Maravilhas " tentada a entrar mas relutante em fazê-lo sob pena do escrutínio alheio e o teu próprio olhar ameaçador (ter-me-ei esquecido eu que naufragava à deriva pelas ondas do meu subconsciente no mundo do Onírico aonde tudo me é permitido e concedido?)
Fiquei detida naquele limbo num estado total de alienação a observar-te.
Olhava-te sem que me pudesses tu devolver o teu olhar...Não me vias...Nem tão pouco me sentias...Acaso, alguma vez, ver-me-ás tu Tiago ? (Nem mesmo nos meus sonhos consegues percecionar a minha presença, consegues imaginar o ridículo e a ironia disto tudo? )...Depois do inevitável contacto com a estranheza de toda aquela situação, apercebo-me que é estúpido assumir um comportamento de normalidade absoluta porque, segundo a minha perceção, tão pouco pareço estar no mesmo plano físico que tu. Depois do contacto direto com o «estranho fenómeno », lanço a inevitável pergunta ao Tomás que ainda se encontra ao meu lado: " Achas isto normal? "
Chamemos as coisas pelos nomes; devo ter enlouquecido...
Por mais que te tente fugir, apareces-me sempre em sonhos, persegues-me incessantemente (ou persigo-te eu?).
O meu cérebro parece procurar invariavelmente em ti um mapa de ajuda, um códex qualquer que lhe decifre os enigmas de uma existência vaga e tão ausente de magia e desprovida de plenitude ...
Procuro-te, quiçá, numa tentativa vã de me lançares em sonhos umas frases que me consolem e umas meras palavras que me expliquem o que nunca ninguém me consegue explicar. A vida aborrece-me terrivelmente e quando estou concentrada em ti ou num tempo que já foi e não regressa mais, a mente fica impedida de vaguear e é aí que ao encontrar-te me encontro a mim própria (julgo ser sempre este o propósito da minha busca)...
Vanessa Paquete 2014 ©
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