TIAGO MADALENA ( COMO DEIXAR DE ESCREVER-TE? CARTA A TI)
Com a Helena Cunha de férias (a sortuda está algures em Buenos Aires), eu tive de fazer um pequeno interregno nas nossas conversações/diálogos acerca do Tiago porque, embora possua muita coisa para ser transcrita, sinto-me sempre melhor quando ela dá uma palavrinha de introdução na entrevista, como tal, a solução é aguardar que ela chegue da Argentina e do Chile.
Em Agosto, o Blogue faz um ano!
Inicialmente, tinha-me proposto a escrever 50 cartas ao Tiago. Era uma ideia que parece ridícula aos olhos de outrem mas que – para mim – faz todo o sentido. Compreendo que os demais não entendam, todavia, gosto de esclarecer da maneira mais frontal e direta que existe que não possuo família, tampouco filhos para cuidar, e efetivamente não sou casada; não possuo uma aliança no dedo, não fiz votos de amor perante ninguém e – mesmo quando possuía trabalhos de alguma responsabilidade – sempre senti um vazio enorme na minha vida!
As pessoas dizem que não saio. Que não me mostro ao mundo. Que tenho medo de arriscar algo novo. Que tenho medo de voltar a confiar nos homens. Que não fomento amizades, apenas conhecimentos vagos. Que a vida me assusta! Que saí de Leça para fugir ao Tiago e afastei-me de todas as minhas amigas, abandonado tudo para trás. Que é em Leça que se encontram as minhas verdadeiras conexões e raízes e efetivas possibilidades de vir a ser feliz (desde que enfrente que o Tiago possui uma vida sua própria e que – ao invés de fugir da realidade – a enfrente de frente)
Não nego que tudo isso seja verdade. O que as pessoas esquecem-se é que existem três coisas, para as quais, o ser humano nunca olha de frente porque lhe fere os olhos: o sol; a morte e a realidade.
Porém – se por um lado – parece um pleno ato de covardia deixar-me ficar por um amor platónico, a verdade, é que – na vida real – eu sei (porque conheço-me bem) que não possuo alicerces suficientes, de momento, para encetar o que quer que seja de novo na minha vida, sem ter a certeza absoluta que a seguir iria parar a prostituição ou a debaixo de uma ponte porque não possuo um único membro da minha família para me apoiar; ou seja estou a ser absolutamente pragmática e a ter os pés assentes na terra.
Eu já passei por isso. Já fui semi sem-abrigo. Já passei pela base dos carenciados a espera de um quarto numa Instituição do Estado. Já jantei durante meses a fio numa Instituição de Solidariedade. Já utilizei as suas senhas semanais para ir ao supermercado (como no tempos de guerra). E também já me reergui e voltei a ter o meu teto, o meu salário no final de cada mês, os meus cargos nas empresas, as minhas viagens... Na realidade, a minha vida é tão repleta de extremos que é impossível de ser descrita como uma vida normal.
Gostaria de focar nesta publicação, em especial, que se faço o que faço e não invisto efetivamente em mim ou na criação de uma família é porque – efetivamente – acredito que qualquer homem abandonar-me-ia e colocar-me-ia no lixo. Não consigo explicar esta minha desesperança, insegurança e falta de autoestima, mas a verdade é que tenho-a, como tal, o Tiago continua a ser um refúgio seguro para a vida. Ele não tem como me magoar. Jamais irá abandonar-me porque nunca o tive. Não padeço de saudades esmagadoras porque ele sempre se recusou a conceder-me uma oportunidade, apenas tenho de lidar com a humilhação que atravessei e a sua rejeição e com isso lido eu há anos, ou seja, o Tiago é quase como um amigo intimíssimo, aquela pessoa que amei incondicionalmente e, com a qual, sonhei construir uma vida e creio que acerca disso ainda posso falar abertamente.
Claro que, agora olhando para trás, e vendo a minha total covardia perante a vida e fraquezas, consigo perceber que o Tiago deve ter percecionado desde muito jovem uma certa arrogância em mim (mascarada de medos e inseguranças), uma grande revolta interior devido a situação familiar e um negativismo a latejar a cada palavra minha. Eu na altura tentei mudar por ele, juro que tentei: tentei ser uma pessoa mais sociável, aberta, mais confiante, cool, bonita por dentro e por fora, mas não consegui!
Dizem que não se muda a nossa personalidade! E nem ele com todo o poder que detinha sobre mim conseguiu operar tal milagre. Na verdade, minto! Quando eu estive inserida no seu grupo de amigos eu mudei efetivamente e de uma maneira radical. Continuava a ser uma miúda tímida mas era tão acarinhada por toda a gente e tão lisonjeada pelas suas amigas e mesmo pretendentes que – na altura – devo ter virado santificada ao seu lado; era um poço de adrenalina e alegria, uma aluna exímia e todos os dias andava com um sorriso na cara. É estranho relatar estas coisas passadas, mas eu era verdadeiramente FELIZ ao seu lado, o que ainda hoje me faz pensar muito no quanto eu apaziguei a minha dor interior a seu lado, no quanto sociável e empática eu me tornei e no quanto toda a gente me adorava; é assustador…
Absolutamente incompreensível!
Portanto, não é de estranhar que quando perdi o que me fazia FELIZ, pareça que perdi a capacidade de voltar a reencontrar a dita-cuja felicidade. A caminhos dos 36 anos é algo em que já nem penso, nem uma luta, na qual, invisto sinceramente. Toda a gente me questiona acerca da maternidade e do casamento e eu tenho sempre de reafirmar que só o faria com o homem da minha vida, portanto, estes dogmas e valores que estão muito implícitos em mim, jamais farão com que eu vá ser mãe ao acaso (porventura nem nunca virei a ser) ou que encete um casamento só porque SIM!
Este Blogue é um refúgio FELIZ para mim; é o estar de “ volta pró meu aconchego “ como diria Elba Ramalho. Peço desculpa ao Tiago por me apropriar dele para me completar e me fazer respirar, mas cá entre nós “ já sabes não é? “ e também peço desculpa as pessoas que participam da sua vida e que – de uma certa maneira – se veem englobadas nos meus pareceres, escritos, suposições e entrevistas, mas, ninguém me pode culpar por a vida ter sido madrasta comigo e me ter privado de ter uma vida própria.
Por vezes, tenho por hábito pedir a pessoas devotas que rezem por mim, visto que tornei-me numa cética, quase numa pagã, totalmente descrente de Deus, desde que ele me roubou tudo: família; amor; emprego! Outras pessoas dizem que o poder está unicamente nas minhas mãos e que cabe-me a mim mudar, procurar, buscar, arriscar, partir em busca da felicidade, mas eu pergunto-lhes sempre se quando partir em busca da felicidade e me partirem o coração e eu desejar cortar os pulsos quem me vai impedir de o fazer?
Portanto, fiquemo-nos pelo Tiago!
Ele é o meu refúgio para a vida!
TIAGO MADALENA ( COMO PARTIR EM BUSCA DA FELICIDADE? COMO DEIXAR DE ESCREVER-TE?)
Toda a minha escrevi-te e, neste preciso momento, não sei o que dizer-te! Este Blogue foi criado com o propósito de as minhas memórias e sentimentos ficarem registados. Não me é fácil, sabes? Não me é fácil buscar um caminho próprio para mim, se quando te tinha na minha vida, tudo o resto parecia não ter qualquer controlo sobre o meu Universo; compreendes o que te quero dizer? Não havia tempestade ou intempérie que me assolasse, era como se, de alguma maneira, a ilusão do amor que eu sentia por ti me protegesse contra todas as maledicências da vida e suas agruras.
Hoje, passei o dia todo de cortinas cerradas, como o fazia usualmente, quando vivia em Leça. Defronte da minha janela um Sol invadia o céu no seu halo azul incomensurável, porém, para mim, as horas permaneceram mortas, imóveis e estáticas! Quando tal me acontece, habitando eu, agora no Sul do país, tento abstrair-me da nostalgia que me percorre a alma e do silêncio que me inunda os dias e silencia, cada vez mais, a minha voz, refugiando-me nas areias sadias destas praias de mar azul-turquesa ou transparência verde topázio, onde a quietude e uma beleza apaziguadora reina. Aqui, não existe o som agudo e selvagem das ondas bravias do mar a enrolarem-se nos rochedos de Leça. Aqui o mar não nos rosna. Aqui o mar não nos emite ruídos avassaladores, nem nos seduz com voz de sereia para depois nos golpear. Aqui o mar lembra o crepúsculo, romântico e sereno, como uma ária entoada ao piano.
Só Deus sabe, só Deus, há quanto tempo já não sinto eu arritmias cardíacas, já não se me acelera o pulso, já não me grita o coração palavras de amor vorazes e ensurdecedoras que eu, sua escrava obediente, me via obrigada a transmitir—-tas! Ai Tiago, se pelo menos soubesses, o quanto quis ganhar-te o respeito e a tua admiração. Sim, bem sei, línguas maldizentes apelam ao bom senso e dizem-me que deveria ignorar-te; porquê ser escrava do teu parecer? Porquê? Juro-te que não o consigo explicar! Apenas me recordo do meu rosto esbraseado de cada vez que te comtemplava, do sangue a golpear-me as têmporas, do oxigênio a ficar retido nos pulmões e dos meus olhos relampejados a perseguirem-te como os de uma águia faminta que busca o seu alimento. E depois, depois Tiago, recordo-me das tuas palavras inaudíveis a cortarem-me o peito como vergastadas de um chicote.
A minha língua sempre foi afiada, Tiago, tão afiada quanto o gládio de um soldado. Podes até apostrofar-me de vingativa, severa, endurecida e de possuir uma língua de cascavel, tão venenosa que quando o seu veneno te toca, se te entranha na alma e a torna empedernida, sem compaixão… As palavras são a minha arma, e sempre me muni delas, a bem ou a mal, para me lançar no abismo do campo de batalha de te amar e conquistar ou na arte inglória de me defender. Não possuo outros armamentos bélicos, à exceção de palavras. Agora, diz-me tu: “ Crês que as minhas palavras formam o meu carácter, moldam a minha personalidade e laminam a arquitetura do meu coração? Enganas-te! Erroneamente enganas-te! “ Poderás dizer-me de retorno: “ Moldam-te as tuas ações e essas, provaste-mo tu, foram revestidas de uma irracionalidade sem precedentes, impacientaram-me, enervaram-me e irritaram-me, Vanessa. Exprimiram uma mente silenciada em ponto de ebulição que não se soube controlar. Deste enfase a todas as fraquezas do teu carácter. Se era respeito que imploravas, o meu, dissipou-se no instante em que assumiste publicamente o papel de vítima enjeitada “
Como vês, Tiago, até as tuas palavras consigo percecionar. Bem vistas as coisas, desde o início, a minha tarefa contigo não era fácil. Vivíamos em mundos distintos, tão diferentes quando a Lua e o Sol, todavia, tu – para mim – constituías a estrela central do meu universo: todos os meus cometas dispersos, asteroides deambulantes, poeiras mais ínfimas e satélites mais aguçados giravam em torno de ti; tu eras tudo para mim!
Escrever-te sempre significou uma catarse psíquica para mim. Quando me apercebi que teria de abandonar essa arte, senti-me nua, um ser despojado do seu bem mais precioso…
Ai, Tiago, quão louca sou eu, ainda em pensar que os teus olhos de castanho veludo possam, um dia, pousar sobre os meus sem essas nuvens negras que se amontoam na profundeza da tua iris, de cada vez que um pensamento acerca de mim te trespassa a mente. Nos meus sonhos mais íntimos, quando o céu se abre em lampejos de luz e me chama para o mundo do onírico, por vezes, a tua voz grave ruge-me em surdina como um tremor de terra. Franzes-me o sobrolho e algumas rugas desenham-se na tua fronte, o teu olhar é grave, como se uma intempérie te tivesse abarcado os olhos. De repente, esses teus olhos aveludados, contemplam-me ainda mais incisivamente, como uma bala de um canhão desenfreada, de encontro ao meu peito. Lanças-me um olhar ensanguentado de raiva e consternação, como um forte presságio da tempestade que se avizinha; evocas o meu nome numa linguagem e num vocabulário que parece relampejar, trovejar e proferir injúrias desmedidas contra mim.
“ Vai “ , diz-me a minha consciência, impregnada de rasgos de coragem. “ Vai, vai de encontro a esse olhar irado. Que temes, Vanessa? Na tua vida nada possuíste. A miséria abraçou-te a existência, todavia, carácter e nobreza são falhas, das quais, ele não te pode acusar. Acusa-te em nome do quê? De um velho preconceito imaturo que desenvolveu acerca da tua pessoa. Acusa-te em prol de quê? De palavras sofridas que cuspiste implacavelmente quando já mais não as conseguias conter e te queimavam as entranhas, como um fogo que não se estanca? A cobardia não faz parte do teu carácter! Tu adoraste profundamente esse homem. Cada palavra sua desoladora mitigava-te a alma… Se porventura falhaste, e decerto falhaste, deveu-se a uma luta inglória e desleal onde cavalgaste contra todas as convenções socias da época (e presentes) e contra todos os estereótipos que te foram impostos. Que esperava ele? Que te desembaraçasses de toda a tua dor e dessa noite glacial de inverno que te habitava o coração, te remetesses ao silêncio e – sem qualquer transe – aceitasses satisfatoriamente o seu desprezo? Era isso que ele esperava? Criatura cândida e demasiado escrupulosa. Não saberá ele que o coração de uma mulher é escravo dos seus ímpetos? Indiferente ao génio do bem ou do mal? Esperava ele que – porventura – o teu estado febril pela sua pessoa, não passasse de um capricho teu, um vago estado silencioso e melancólico que te roubava as forças, mas que facilmente seria reparável com outros encontros fortuitos, onde a tua sede seria saciada? Ou esperava ele, que tudo não passasse de uma frescura? “
Contudo, o meu corpo mantinha-se imóvel e o meu estado inalterável. Não fui. Nunca vou ter contigo se sinto, ao de longe, o sangue a ferver-te nas veias e o coração a bater tão apressado que me é impossível contar-lhe as suas pulsações e tu pareces devorar-me com o teu olhar inflamado! Nem no mundo dos sonhos consigo rebater o teu parecer resoluto, desafiar-te, vergar-te, fitar esses teus olhos e fazê-los mergulhar nos meus selvagens, arrombando essa prisão indomável do teu coração, dizendo-te: “ Olha para mim, Tiago, por favor, escuta-me. Que é preciso eu fazer para despedaçar essa tua gaiola de aço? Diz-me, que é preciso eu fazer para obter a tua confiança, livrar-me desta vergonha e ultraje que pareço envergar sempre que estou diante de ti? Diz-me, que faço eu, para quebrar essa tua vontade férrea e indómita de me desprezares?”
Vanessa Paquete 2014 ©
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