QUANDO OMITIMOS A NOSSA OPINIÃO EM PROL DA ACEITAÇÃO DAQUELES QUE ADMIRAMOS: ATAQUES A PARIS, NICE & ALEMANHA
É apenas no silêncio que podemos escutar-nos e revolver a nossa alma, vasculhando os nossos erros e falhas. Quando todos os ruídos cessam, quando a TV, o smartphone, a playlist e os auscultadores estão mudos, só aí é que podemos escutarmo-nos verdadeiramente. Mas ainda que possamos calar os sons externos, qual o botão de volume para interromper os males do mundo? De que modo pedir para pararem as vozes que gritam, os diálogos que não cessam e toda a carnificina que acontece ao nosso redor e estilhaça o nosso cérebro e quebra a nossa fé?
Não existem respostas!
Tampouco soluções.
E essa é irremediável conclusão a que chegamos.
No ano passado por esta altura do ano deram-se os ataques de Paris e, numa onda solidária, todos juntamo-nos, demos as mãos e rezamos por todas as vítimas que haviam sido alvo de tamanha atrocidade, contudo, soluções continuaram a escassear, atentados a acontecer e a nossa vida a prevalecer; por tudo isto relatado aqui acima, gostaria de deixar um testemunho meu relativamente a minha opinião acerca dos ataques terroristas e de algo que aconteceu no ano passado aquando dos ataques parisienses e da nossa omissão de opinião em prol de aceitação.
Sendo eu uma seguidora assídua de um artista, cujo caracter, índole e personalidade muito admiro - apesar dos nossos abruptos diferendos- no ano passado, ao conhecer melhor a sua escala de valores e a cor do seu coração, ele tinha-me a seus pés. Não só porque é uma figura que possui um semblante agradabilíssimo de se contemplar, mas porque, efetivamente, é uma junção de beleza interior & exterior (algo muito raro de se presenciar nos dias que correm) !
Possuindo essa pessoa um blogue, no qual, exprimia alguns textos e sentimentos, eu ansiava fervorosamente por cada palavra sua redigida. A atravessar uma fase algo vazia e decrépita da minha vida onde o desemprego imperava e a desesperança também, afeiçoei-me aos valores que essa pessoa transmitia, todavia, as coisas não correram como eu suporia que poderiam vir a correr no meu imaginário; e quando digo isto nem eu própria sei ou reconheço o que esperava…
Aquando dos ataques parisienses, essa pessoa tinha-me a seus pés por tudo aquilo que é enquanto ser humano.
O seu texto de resposta aos ataques terroristas foi – ao contrário da sua índole pacifista e sempre otimista – um maranhado de palavras revoltadas como gládios que nos trespassavam. Não sei se era exatamente essa a sua intenção, mas, estando eu tão fragilizada e a mercê do seu constante otimismo, aquele texto para mim foi uma facada no meu coração em plena época natalícia polvilhada de solidão.
A minha resposta inicial foi exatamente a minha OPINIÃO – sem tirar nem pôr – como se costuma dizer. Era exatamente aquilo que eu sentia, aquilo que eu defendia e – acima de tudo – aquilo em que eu acreditava; uma resposta que era a antítese daquilo que todas as outras fãs foram escrevendo nos vários comentários que se foram avolumando no blogue.
A minha opinião era nua e crua e diferia em tudo daquilo que ele havia escrito e – acima de tudo – da opinião das suas fãs !
Apesar de acreditar que aquele foi o meu melhor texto político-religioso redigido até a data (com alguns desabafos psíco-emocionais à mistura), a verdade, é que pesava-me na consciência a contradição face a sua opinião; o que iria ele pensar de mim? O que pensariam os seus fãs? Cessaria ele de apreciar os meus textos redigidos no meu blogue? Teria ele achado uma falta de respeito a minha frontalidade? Meu Deus, o que iria aquele homem pensar de mim? O que iria ele pensar de mim após tamanho desabafo, onde desvalorizava os atentados, culpando o mundo, a História, o ciclo da Humanidade e – ainda – fazendo profecias futuras para mais atentados (o que veio tristemente a acontecer)! O que iria ele pensar de mim? Decerto deixaria de favorecer os meus Tweets. Decerto deixaria de fazer Retweet dos meus POSTS, mas aquela era a minha OPINIÃO: teria eu parecido fria e insensível face os olhos daquele homem tão sensível e amargurado com a face obscura da Humanidade?
Estes foram os pensamentos que me ocorreram naquele instante: o medo da não-aceitação e da desaprovação pela colisão tão dura de duas opiniões tão contraditórias. O MEDO prevaleceu sobre a minha verdadeira OPINIÃO e arrastei-me a seus pés para lhe pedir desculpas/perdão, tentando desculpar-me de todas as maneiras possíveis para me igualar as demais fãs que recebiam a sua atenção e iam de encontro a sua OPINIÃO!
Deixo aqui alguns dos trechos do seu texto acerca dos atentados de Paris :
" Eu sei que me levou algum tempo para escrever está crónica. Eu sei que é suposto escrever sobre o "sorriso". Eu sei que é suposto ter uma impressão edificante e elevar o positivismo no mundo, não só porque é suposto, mas porque eu assim escolho, mas às vezes ... É tão difícil ...
Eu poderia dizer que a nossa cara tem 44 músculos e que precisamos de 16 músculos para produzir um sorriso, e que, se pensarmos sobre isso, usamos menos de 40% dos nossos músculos faciais para produzir uma das expressões mais poderosas e fascinantes da humanidade.
Eu posso escrever sobre isso, ou ... posso simplesmente vomitar que está ficando cada vez mais e mais difícil de sorrir, quando há tantos lunáticos do mundo.
Quando há um grupo de pessoas decide ir pelas ruas de França e começar a matar pessoas aleatoriamente. O que é isto??? O que é isto???
Mais do que o meu lamento, eu quero compartilhar com as vítimas e suas famílias ... a minha falta de sorriso, a minha falta de vontade de seguir em frente, minha falta de vontade de entender. Pelo menos nos tempos bárbaros pré-históricos, sabíamos a natureza da vida naquela época, mas hoje, neste chamado mundo civilizado, onde supostamente nos sentimos seguros, onde a ciência tem ido mais longe do que nunca, quando mais e mais nos conectamos com nossa espiritualidade e sentido de quem somos no mundo ... De onde é que isto vem???
Eu costumava pensar que uma pessoa que sorri olhando diretamente para nós era uma pessoa que é confiante de si, como se estivesse a dizer: "Eu estou aqui.
Às vezes uma pessoa pode olhar para nós apenas por um curto período de tempo até afastar o olhar, e eu costumava pensar que isso significava que a pessoa era tímida, mas respeitosa e aberta.
Eu costumava pensar que um monte de coisas. Coisas que me faziam sorrir ... coisas fascinantes sobre a nossa condição humana, coisas maravilhosas. Mas está a ficar ... tão difícil.
Todos nós temos famílias ou pessoas que amamos, que tipo de alma perdida estaria disposta a fazer coisas tão horríveis como acabar com a vida das pessoas simplesmente por raiva, vingança ou religião, apenas para causar ainda mais dor?
Eu simplesmente não entendo, acho que nunca vou conseguir."
D.Soares CopyRight
Eu costumava pensar que uma pessoa que sorri olhando diretamente para nós era uma pessoa que é confiante de si, como se estivesse a dizer: "Eu estou aqui."
D. SOARES COPYRIGHT
Hoje ao abrir o SAPO, deparei-me com um texto que estava na vanguarda do dia como DESTAQUE, e, apercebi-me que aquela era realmente a minha OPINIÃO acerca das notícias de ataques terroristas. Quem pensa assim, talvez o faça por não possuir muito na vida. Outros acham-nos insensíveis, desrespeitadores, carentes, descompensados, seja qual for a razão todos nós temos direito a possuir uma OPINIÃO.
Evidentemente que – curiosamente – após o meu texto acerca do ataque à Paris de dito artista, existiu um hiato de Retweets e Favs incomensurável que me fez sentir culpada por defender a minha OPINIÃO, me fez reprimi-la, apaga-la e acreditar que lhe devia um enorme pedido de desculpas por ter expresso a minha OPINIÃO (por mais do que uma vez)! Acreditei estar a ser castigada e – como tal – posta automaticamente de lado!
Este texto dos DESTAQUES do SAPO espelha o que sempre pensei e agradeço ao seu autor por ter colocado cá para fora aquilo que eu não fui capaz de defender com medo da não-aceitação e da colisão de ideias com esse artista.
Aqui fica o texto :
“Em tempos tive um professor de Ayurveda que afirmava prescindir de ver notícias. Era russo de nacionalidade e tinha passado por vários países, e diferentes realidades, a lecionar e a trabalhar em clínicas de saúde. Era daquelas pessoas que, por tantas vezes mudar, lhe seria indiferente saber se estava em Portugal, na Hungria ou na Índia. Interessava-lhe o Humano – e o Humano existe em qualquer parte do mundo -, o bem-estar do próximo mas, principalmente, o bem-estar de si mesmo. Por diversas vezes nos dizia que trocava os noticiários por séries de comédia. Era assumidamente desligado do mundo, mas profundamente conectado com o próximo. Dizia-nos com alguma frieza: «Posso mudar os males do planeta? Dificilmente. Posso ajudar quem me rodeia. Claro que sim. Para quê sujar a minha mente com problemas pelos quais nada posso fazer? É gastar energia desnecessariamente.» O que à primeira vista nos parecia uma posição insensível, escondia uma sabedoria e uma ferramenta importantes para os dias de hoje.
Quem ontem não se sentiu impotente ao constatar que um camião pode invadir uma avenida repleta de pessoas inocentes e atingi-las sem piedade? Quem não se inquietou e chocou com as imagens de uma pessoa a ser abatida a sangue-frio por um polícia (figura que na sua génese nos dará segurança), em plena transmissão televisiva?
Ontem ocorreu-me as palavras ríspidas do meu antigo professor, quase palavras de desdém por um mundo cada vez mais difícil de compreender e distante do que possamos nós fazer por ele. Escapa-nos das mãos esta realidade feroz e enlouquecida que nos perturba e nos magoa. Infelizmente, olhamos para a História e concluímos que tempos conturbados e violentos são algo que nunca faltou. A nossa pequenez individual é inconsequente a uma estrutura encadeada há centenas e centenas de anos. Há que confiar nos que realmente têm esse poder e esperar que decisões acertadas e corajosas nos tragam fases melhores, dias melhores, anos melhores.
Ontem senti-me como o meu professor, e desejei apenas esquecer-me do mundo, ver o Seinfeld desde a primeira temporada, desencorajar a mente de reflexões, reflexões repetidas infinitamente que em nada me apazigua. Ontem senti-me que desligar-me da realidade é uma resposta tão insensível e cobarde quanto acertada e libertadora. “
Fernando Dinis CopyRight
Ter coragem é defender aquilo em que acreditamos (para o mal e para o bem)! Não permitir que medos de segregação nos oprimam. Não permitir que anuamos com a cabeça sempre e insistentemente com uma adoração fervorosa que assusta o mais devota dos cristãos.
Diferendos de opinião teremos sempre.
O medo da não-aceitação e da desaprovação estará sempre lá e temos de enfrenta-lo face a face.
Todavia, aparte a distância e colisão de opiniões, continuo a nutrir uma afeição desmedida por esse artista, mas agora vivida a solo e gerida a minha maneira.
A vida segue lá fora…
O Natal está aí a porta…
Desliguem-se deste mundo, da TV, do smartphone, da playlist e sorriam/sorriam muito para aqueles que amam!
Porque a morte, doravante. olhar-nos-á sempre de frente e a nós só nos resta VIVER A VIDA SEM MEDO !