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FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

NOVO ÁLBUM DOS COLDPLAY: EVERYDAY LIFE SOB O AMANHECER E O ENTARDECER DE AMÃ NA JORDÂNIA - MUSIC IS THE WEAPON OF THE FUTURE

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Atrasada, mas sempre PRESENTE!

Os Coldplay são como um abraço reconfortante!

Uma banda que aprendemos a apreciar com os seus riffs de guitarra, em simultâneo, tocados com suavidade e firmeza. A voz do vocalista Chris Martin é frágil e encorajadora, como um abraço. Uma de suas letras mais memoráveis ​​diz: "Vou tentar consertar-te". E Chris está mesmo a falar a sério, dado que a música até foi escrita para Gwen Paltrow quando o seu pai faleceu. "Fix You" é um dos zénites de cada concerto desta banda britânica quando tocada em palco, contudo, os Coldplay são uma miríade de zénites e hits em cada concerto (como pequenos fogos de artifícios a serem lançados ininterruptamente). A banda é mesmo um “Firework”!

Quando os Coldplay anunciaram no ano passado o seu novo CD há muito aguardado “Everyday Life”, a banda mencionou que seria um álbum duplo (com Sunrise e Sunset), mostrando um lado mais "experimental" da banda, já antecipando a ansiedade dos fãs. E realmente os Coldplay surpreenderam os fãs, mas não da maneira que a maioria teria assumido.

O oitavo álbum de estúdio dos Coldplay explora temas completamente diferentes do "A Head Full of Dreams", de 2015, mergulhado numa infusão de sintetizadores cativantes e que levou à sua enorme turnê mundial em 2016-2017. O "Everyday Life" revisita o catálogo anterior do Coldplay, retomando às suas origens, com o seu som de guitarras suaves, melodias evocativas de piano e vocais melancólicos e vibrantes. Mas, curiosamente, inverte a extroversão dos álbuns precedentes onde o otimismo persistia, bombardeando-nos com alegria e positividade. No "Everyday Life", a banda aborda questões sérias e pertinentes do mundo em que vivemos, como o controlo de armas e a brutalidade policial, além de algumas faixas familiares que exploram relacionamentos (para ser honesta, não muitas). O álbum é brutalmente introspetivo, espiritual e – pasmem-se, religioso! É gratificante ver os Coldplay, finalmente, saírem do seu estereótipo de álbuns otimistas para algo mais cru e, por falta de um termo melhor, mais parecido com o "início do Coldplay", que alguns fãs desejam tão abertamente.

Outros, decerto não entenderam a mensagem da banda!

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Há muito que os Coldplay fugiam da excelência sonolenta e triste do "Parachutes" de 2000.

Os Coldplay são uma banda que se foi sempre reinventando em cada álbum para sonoridades mais apelativas e pop. "A Rush of Blood to the Head", de 2002, aumentou as guitarras; O "X&Y" de 2005 elevou a atmosfera e as sonoridades teatrais de guitarra pós-punk em preparação para o golpe de gênio de 2008 "Viva La Vida", para o qual convocaram o lendário Brian Eno ( conhecido como o 5 elemento dos U2 ) O "Mylo Xyloto" de 2011 inclinou-se demais para a eletrônica e o "Ghost Stories" de 2014 corrigiu em demasia o enjoativo entusiasmo do álbum anterior ao passar para a folktrônica silenciosa .

Um ano depois, "A Head Full of Dreams" equilibrou novamente o som da banda, misturando os sons folclóricos, pop, eletrônicos e pós-punk dos álbuns anteriores em um caleidoscópio de cores que nunca deixou de agradar o público.

Embora seja chamado de álbum duplo, o "Everyday Life" é mais curto que o "X&Y" e "A Rush of Blood". As suas 18 músicas passam num piscar de olhos, porque os Coldplay redescobriram a brevidade. Muitas parecem esboços, anotações de voz e performances puramente acústicas e a solo e que funcionaram maravilhosamente bem ao vivo na Jordânia; a maioria dos temas é construído em menos de três minutos, e apenas alguns aparecem como tarefas de banda completa, a um ponto que faz com que os singles pareçam dissonantes. Porém, o lançamento do álbum na cidadela de Amã, na Jordânia, revelou-se eficaz e um momento único de catalisador espiritual. Tudo funcionou melhor ao vivo na Jordânia, em comparação com o álbum de estúdio, que parece perder a mística da sonoridade envolvente. Teria sido melhor se a gravação na Jordânia tivesse sido lançada enquanto álbum, mas isso não aconteceu e temos o álbum de estúdio!

Pessoalmente, cinjo-me a gravação do YOUTUBE ao vivo na cidadela de Amã na Jordânia!

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O álbum cobre muito terreno e é verdadeiramente ambicioso e eclético. Começando pelo nascer do sol, literalmente, “Sunrise”, a faixa instrumental de abertura, é uma abertura orquestral lindamente avassaladora que parece ser o clímax de um filme vencedor de um Óscar (escutem-na ao vivo na própria capital da Jordânia com o sol a espreitar por entre os prédios de Amã, garanto-vos, é algo reflexivo e inspirador). "Sunrise" desvanece-se na segunda faixa, com Chris Martin a beijar o solo da cidadela e a entoar "Church" com Norah Shaqur, uma música ambiente descontraída e lindíssima com acordes de guitarra místicos e algo orientais sobre encontrar salvação numa outra pessoa.


A banda torna-se política com o solene “Trouble in Town”, baseado em acordes de piano e num baixo, onde se aborda o racismo e a brutalidade policial de um incidente em Filadélfia enquanto uma gravação do policial Philip Nace a assediar um civil negro chega a um final instrumental explosivo. Fantástico de se ver, enquanto o Sol se ergue na cidade de Amã, na Jordânia, e Chris Martin grita “Go Johnny, go go Johnny, go Johnny, go “. Os Coldplay estão a lembrar-nos – finalmente – que vivemos num mundo cinzento, cheio de dicotomias, mergulhado em guerras de raças e credos. É um álbum político e espiritual; a nossa vida quotidiana é perturbada pelo estado consternado dos assuntos que afligem o nosso mundo, mergulhado cada vez mais em divisões e escuridão.

Conforme observado nas notas principais, o produto da música vai para The Innocence Project e The African Children's Feeding Scheme. Uma alusão semelhante à raiva é encontrada na faixa de guitarra em ritmo acelerado “Guns”, onde Martin aborda a necessidade do controle de armas nas letras.

A música que se segue, "Broken", junta Chris Martin com um coro gospel que ecoa uma prece em busca de orientação no meio da turbulência existencial, evocando o Evangelho.

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"Arabesque" é um tema bem diferente e um dos melhores momentos da carreira da banda, um momento construído sob a base de um esboço que sobrou das sessões do álbum “ Viva La Vida “ onde Brian Eno mandou Chris Martin sair do estúdio enquanto ele ensinava a banda a empreender um verdadeiro ritmo avassalador ( Chris não deve ter gostado ), todavia, “ Arabesque “ é a peça central indiscutível do álbum. O tema fala, mais uma vez, da justiça social, mergulha na música étnica negra, no jazz e na indignação política de uma raça. "Arabesque" transmite uma mensagem de paz através de um ritmo solto de Afrobeat e arranjos requintados do veterano da música nigeriana Fela Kuti e o seu filho Made. (Fela Kuti aparece através de uma amostra do documento biográfico póstumo Music is the Weapon, unindo três gerações da família em uma música).

E partilhamos o mesmo sangue! “

. "Daddy" e "Old Friends" são baladas de destaque, com vocais quase sussurrados que pintam histórias sonhadoras de amor e perda. "Daddy" é uma faixa de piano emocional comovente, escrita do ponto de vista de uma criança. "Old Friends" conta a história de um amigo perdido há muito tempo, com acordes leves acompanhando os vocais calmos de Chris.

 “Orphans” é maravilhoso; foi escrito pelos filhos de Martin e baseia-se na história de adolescentes refugiados que apenas desejam voltar a ter uma vida normal , é uma faixa que parece projetada com o propósito expresso de dar aos fãs algo para cantar nos espetáculos, o óbvio momento de Max Martin que todo o álbum pop anseia, mas, a verdade é que “ Orphans “ é genuinamente contagiante, eletrificante e lindo de se ver ao vivo na Jordânia quando os jovens se juntam a Chris : um momento de pura felicidade e luz no meio de um ambiente sombrio e desconcertante.

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"Èkó" celebra a beleza de áfrica, enquanto “Cry, Cry, Cry “entra, novamente, nos ritmos and blues, o que talvez deixe os fãs algo desconcertados! “When I Need A Friend “é uma prece pungente apoiada por um cântico gregoriano de nos levar as lágrimas! Os Coldplay não fizeram este álbum para o apresentar em estádios ao mundo como os antecedentes. Na realidade, anunciaram mesmo que não haveria qualquer turnê pois estavam à procura de uma maneira ecológica de fazer uma turnê sem prejudicar o meio ambiente. Para além de uma consciencialização meio-ambiental, os Coldplay trouxeram para este álbum vozes de outras culturas, contribuições de músicos e corais britânicos, vocais do cantor belga Stromae, uma homenagem ao poeta iraniano Saadi e uma música do falecido cantor e compositor escocês Scott Hutchinson.

Everyday Life é um álbum mais calmo e íntimo, o que não é uma coisa má, muito pelo contrário. Isso mostra que a banda é capaz de fazer música significativa sem sintetizadores e pirotecnia gigantes, como fizeram no passado. Os Coldplay querem que nós saibamos que eles se importam com as causas sociais, com o aspecto mais dúbio e negro da alma e que eles não vão lançar apenas hits pop-synth (embora nós os amemos) para contrapor a desordem social em que vivemos. Os Coldplay quiseram tocar na ferida, abrir consciências, experimentar novas sonoridades e arriscar num terreno em que poderiam perder fãs e eu aplaudi e aprovei!

É um álbum que junta religiões: a islâmica e a católica! Ouvem-se cânticos islâmicos enquanto Chris Martin finaliza a faixa título do álbum com “Aleluia, aleluia, aleluia “ na Jordânia, que até ganhou o único concerto internacional deste álbum na cidadela.

Viva La Vida Coldplay; vocês fizeram-no: o álbum da vossa carreira!

Só não sei se os fãs o entenderam…

Faixas a não perder em absoluto:

Church

Trouble In Town

Daddy

Arabesque

Orphans

Everyday Life

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Texto & Crítica: Vanessa Paquete 2020 ©
Fontes/ Sources: FOX NEWS, BBC, BBC ONE, Rolling Stone©
Fotos Principais: Todos os Direitos de Autor Pertencem aos Respetivos Fotógrafos ©
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