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FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

NIE PROSZE O WIECEJ



 

 

 

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 Credo, a imagem do vídeo quase parece pornografica ( visto assim de longe ), mas nada disso, é um tema que fala de algo muito singelo. Bem, na realidade, NÃO... mas como está em POLACO também ninguém vai entender o que ela está a dizer. Bolas, é verdade, existe o Google para traduzir mas aquelas traduções saiem sempre absurdas. O texto que se segue é um texto simples. Para a SEMANA tenho a II ENTREVISTA com a Helena para publicar e aí sim existe matéria interessante a ABORDAR. Adoro falar com ela. É como ir a um psiquiatra sem a agravante de ter de pagar balúrdios. O texto é acerca de uma incursão minha ao BitBar. Aliás eu poderia dizer sempre " quase incursões minhas " ao dito Bar porque ou te cheiro ou intuio algo e recuo. Depois acabo sempre por descobrir que acabaste por ir lá naquela certa noite... Ter sexto sentido é fenomenal ! Detestava algum dia entrar lá e ter de sair porta fora por tua causa. Aliás, RECUSO-ME a fazê-lo. Para que conste e fique aqui registado, se algum dia isso ACONTECER, eu nem me MOVO OK ? Tenho tanto direito de estar lá como tu, ora essa... De qualquer maneira, na próxima entrevista eu vou abordar algumas coisas acerca do BIT ( afinal de contas lá decidiu-se o meu destino por duas vezes consecutivas ). Engraçado ! Tu andas frequentemente por lá mas - no momento mais importante - é que não apareceste tu... Sabias que foi lá, numa Sexta-Feira, do ano de 2005 que, ao logo de 4 horas, a minha famosa carta de longuíssimas páginas para ti, foi revista ? É verdade ! Não te iria enviar aquilo sem um conselho sábio e maduro. E, como tudo na minha vida, à sua relevância dêem a sua relevância... A carta foi revista pela secretária do, então, Ministro da Justiça que agora é Ministro da Defesa... Só para que saibas, assuntos do Estado foram deixados em stand by durante um fim de semana para a carta ser revista  Nada como ter amigos tão fieis !!! Lá se enfiou a Rute num Alfa para o Porto com uma série de documentos atrás do Ministério para eu a ajudar nas traduções. Chegadas ao Bit foi troca por troca. " Pega lá a carta ! ", " Traduz-me essas cenas por favor ou faz a retroversão " Ficamos 4 horas no meio daquele burburinho todo, sentadas bem no centro do bar, a bebericar umas caipirinhas, casa qual em silêncio, a fazer favores uma a outra. Eu com assuntos do Estado em mãos. Ela com a carta para o Excelentíssimo Tiago Madalena. No final, o veredito foi direto e frontal, como só ela o sabia fazer ! " NÃO VAIS MESMO ENVIAR-LHE ISTO POIS NÃO? " A minha cara de ingenuidade deve ter-me denunciado pois revirou os olhos em jeito de desaprovação e acabou por contestar : " PRONTO, ESTÁ BEM, SE ASSIM O DESEJAS... CORTEI-TE AÍ UMA SÉRIE DE PARÁGRAFOS E EMENDEI-TE UMAS COISAS " , portanto, agradece a secretária do Srº Ministro a carta não ter chegado as 80 páginas

 

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            Fim-de-semana de Páscoa. O Gustavo insistiu em conhecer o Bit Bar e, como veio de visita a Leça, resolvi fazer-lhe uma incursão turística guiada (ainda que amiúde). Eu, que aprendi a ser muito discreta e cautelosa, quanto as minhas saídas em Leça, resolvi que era melhor inspecionar o local. Ato estranho para o Gustavo, todavia, aceite! Sendo conhecedora do horário do funcionamento do bar, estacionamos o jipe a porta, saímos e apreciamos a vista.                        

         - Ainda é muito cedo. Está fechado. É melhor regressarmos mais tarde! – Exclamou o Gustavo no seu habitual tom calmo de voz.

          Efetivamente, o silêncio e a escuridão denotaram a ausência de viva-alma (o local parece sempre assustador e tétrico visto desse ângulo). Sentei-me nos dois pequenos degraus que abrigam uma entrada contígua lateral de resguardo do bar. Mantive o olhar pregado na entrada, com os meus olhos a seguirem o movimento dos passos do Gustavo que, movido por uma curiosidade insaciável, espreitava por entre as gelosias e cravava o seu olhar na cor verde-hortelã do logotipo do bar. O silêncio arrastou-se. O Gustavo franziu o sobrolho e num tom calmo e complacente exclamou:

           - Voltamos daqui a umas horas – afirmou – Está fechado mas tem um ar bastante agradável…hey…tu aí…terra chama Vanessa!                                                                                            

             O seu tom de voz fez-me erguer o olhar, mordi o lábio e fixei o olhar por entre as janelas. Conclui a minha sentença, abanando apenas a cabeça em sinal negativo. O Gustavo parecia estarrecido. Estávamos em frente do bar. As luzes do jipe estavam acesas, a viatura estacionada no seu devido lugar, tudo absolutamente normal. Voltei-me para o olhar e acabei fitando-o com uma expressão de melancolia e anui:

         - Não! Hoje não me parece uma boa noite para te mostrar o bar.

         - Não? - Perguntou com um ar reticente e apreensivo, mas o seu tom de voz continuava tão calmo quanto o seu rosto.

         - Não, nem por isso! – Respondi prontamente sem perder a minha linha de raciocínio e com um tom de voz soturno que transmitia o meu ceticismo quanto aquela nossa incursão noturna.

           A escuridão e o silêncio marcavam a pausa na minha voz.

         - Como queiras. Mas estás outra vez com aquele olhar.

         - Que olhar? – Indaguei eu já bastante irritada.

       - Aquela espécie de olhar que faz os teus olhos assemelharem-se a um caleidoscópio multicor. Já a Cristina o diz e afirma-o bem; a mudança para verde nos teus olhos deixa cair sobre ti um véu quase sobrenatural. Ficas com os olhos verdes quando estás zangada ou quando pareces estar a visualizar algo – e estremeceu ligeiramente ao prosseguir com a próxima suposição – como almas do outro mundo!

         Eu continuava como os olhos semicerrados enquanto lançava um último olhar através do vidro e sorrindo, exclamei com um suspiro.

     - Antes fossem almas do outro mundo. Não quero ter de te dar explicações porque já conheces a minha intuição. Não é uma boa noite para te dar a conhecer o bar; só isso!

       Tentei manter a voz o mais normal possível.

     - Não posso ter a certeza, como bem o deves supor, mas pressinto que teria encontros desagradáveis esta noite…vá, não te rias - A minha voz tornou-se ríspida e, quando voltou a olhar-me, os meus olhos pareciam dois cubos de gelo tão frios quanto dois glaciares.

     - Já sabes que sou uma daquelas aberrações estranhas que têm uma intuição apurada, visões fora do normal e teorias evasivas acerca das minhas premonições. Se te dissesse o que estava a visualizar, limitar-te-ias a zombar de mim – salientei eu, entrelaçando os dedos nervosamente e olhando-o fixamente, como que a aguardar uma resposta. Ele olhou-me com um ar enternecedor e disse, por fim:

       - Eu lá ia zombar de ti Vanessa! Não há maneira de superares as tuas premonições, bem sei, e essas tuas atitudes evasivas na tua própria cidade. Tu tens faro. Por vezes, parece que segues o cheiro das pessoas, consegues adivinhar os seus pensamentos, os lugares aonde estão. Chega a ser assustador…

         Já com os olhos fitos na porta do jipe e abrindo-a, suspirei.

     - Pois bem, mas a mim, estas ditas coisas sobrenaturais têm-me livrado de milhares de sarilhos nos últimos anos e de encontros extremamente desagradáveis e constrangedores.

         O Gustavo deu um último relance de olhos a porta dianteira do bar, concedendo-me tempo para me recompor e questionando-me:

     - Será que é a terceira que conheço algum bar em Leça?

         Olhei-o mal-humorada, mas acenei com a cabeça e deixei balbuciar algo impercetível, com apenas um laivo de raiva e – simultaneamente – pesar na minha voz. Por fim, acabei por dizer pesarosamente com uma ponta de escárnio e sarcasmo:

       - Da próxima vez, prometo que consulto a minha bola de cristal!  

         Soltou meia dúzia de gargalhadas, com a ignição do jipe já ligada.

       - Não te rias! – Anui contrafeita e num tom quase inaudível.

       - Mas – aparentemente – Vanessa tu não precisas de consultar a bolinha de cristal – hesitou por um momento e acrescentou – é que há aí, qualquer coisa no teu interior, num cruzamento qualquer aonde alma e coração colidem, um fio umbilical invisível que te une a determinada PERSONA. Ages tal e qual uma caçadora: a adrenalina pulsa-te nas veias se o sentes por perto, consegues antever o perigo do confronto entre a presa e o caçador, consegues percecionar tudo através dos teus cinco sentidos; o teu olfato segue-lhe o rasto, a tua visão vislumbra-lhe o rosto, a tua audição deteta o mais ínfimo dos seus murmúrios…bom, deixo o tato e o paladar de fora – disse ironicamente

         Baixei o olhar envergonhada e – numa repentina mudança de humor – aturdi num tom de voz aveludado:

       - Já viste alguma caçadora fugir da sua presa…hum?

         Acenou com a cabeça em tom afirmativo:

     - Tu!

         Deteve-se, olhando para mim com um ar sombrio, enquanto a sua afirmação ia ganhando mais densidade e profundidade nas avenidas nublosas do meu cérebro.

     - Ok…ok…basta desta conversa! – Resmunguei profundamente irritada.

       O Gustavo apertou delicadamente a minha mão, afagou-me os cabelos, entrelaçando-os nos seus dedos e encostando os seus lábios quentes junto da cavidade do meu pescoço, murmurou simplesmente:

     - Vanessa…Vanessa, diz-me porque é que foges do teu passado?

       Permaneci sentada no jipe, com os olhos fitos no bar, sentindo a frieza do meu olhar trespassar as paredes de pedra e as lâminas no âmago da minha alma, cortarem-me o coração em pedaços enquanto me explicava:

   - Porque sou uma caçadora. Enquanto a minha presa estiver ao meu alcance, tentarei sempre caça-la. A sua presença há-de despertar em mim os meus instintos mais primitivos e irracionais. E – enquanto boa ser humano que sou – ao invés de tentar caçar a minha presa, fujo dela – sorrindo acrescentei – de qualquer maneira, já sabes que a minha presa não se deixa caçar e foge do meu arpão como o Diabo foge da Cruz o que só faz de mim uma caçadora ainda mais impiedosa, faminta e sedenta do seu calor.

 

Vanessa Paquete 2012  ©