LEMBRAR KURT COBAIN (THE MYTH, THE LEGACY AND THE ENDLESS LOVE OF THE SO-CALLED GENERATION X)
Ao conceder a II entrevista a Helena Coelho acerca do mítico e ridiculamente dessinteressante tema do meu Blog vieram à baila várias coisas (que é a melhor parte das nossas conversas) e, desta feita, foram os NIRVANA uma das estrelas a figurar no elenco da minha vida; falou-se de sexo, drogas e rock &roll numa fase muito precoce de uns adolescentes de cerca de treze e catorze anos de idade oriundos de uma Escola Secundária de Leça da Palmeira. Senti, de imediato, antes de publicar a entrevista, um apelo para redigir um artigo acerca de Kurt Cobain.
Nirvana é um termo que surge do Budismo e que significa um estado de libertação atingido pelo ser humano ao percorrer a sua busca espiritual. Numa das premissas fundamentais da doutrina budista, num sentido mais abrangente, nirvana indica um estado eterno de graça, uma espécie de renúncia ao apego da sociedade a posses materiais que não elevam o espírito e apenas trazem sofrimento. Quando falamos de Nirvana também podemos encontrar um sinónimo para tal termo numa espécie de exorcismo ou aniquilação de certos traços negativos da nossa própria personalidade, portanto, quando Kurt Cobain compunha, apenas pudemos deduzir que tal, significava um exercício interno de psicanálise, uma espécie de catarse emocional.
Cobain viria a afirmar que Nevermind (o álbum que fez do vocalista dos Nirvana, um ícone de massas do rock, ainda que muitas das vezes relutante), era, literalmente, páginas arrancadas do seu diário pessoal, enquanto o seu primeiro álbum Bleach, era uma amálgama de letras aleatórias que lhe vieram a cabeça e ele exortou para os acordes da sua guitarra, sem pensar muito no que sairia dali. Kurt Cobain não conseguia simplesmente olhar para a sociedade e o seu próprio íntimo com indiferença e seguir com a vida, como outrora, sem lhe virem a memória lampejos de que ele, jovem artista em ascensão, acabara de se cruzar com a escuridão, e, portanto, fez o que achou melhor para transmitir à sociedade que ele tanto desprezava o seu parecer; um "wake up call" que vociferava bem alto, através da sua música, o que ele não conseguia mais tolerar ao seu redor.
Nevermind foi classificado como um dos álbuns mais importantes e singulares do punk/rock dos anos 90, abrindo a porta a dezenas de bandas de Seattle analogamente dominadas pela angústia. Embora as letras de Cobain fossem indubitavelmente poderosas e sentidas, o verdadeiro sucesso do álbum provinha da música. O produtor Butch Vig (futuro elemento da banda Garbage) conseguira fazer a banda soar simultaneamente de forma elegante e crua. As palavras são inflexíveis, óbvias, descomplexadas e diretas sem quaisquer sublimações à mistura ou floreados, mas as melodias contribuíram substancialmente para criar um gênero. Temas como Smells Like Teen Spirit, Come As You Are e Lithium, apresentam uma estrutura clássica, eternizada na poderosa secção rítmica de Kris Novoselic, Dave Grohl (futuro vocalista e fundador do grupo Foo Fighters) e a voz troante de Cobain. Alguns violoncelos lacrimosos à mistura e uma arrepiante história acústica de rapto – Polly - interromperiam, aqui e ali, uma verdadeira explosão de energia de puro punk rock. Poucos rivais existiram para este trio de Seattle, antes ou depois. Cobain definiu um gênero, criou uma identidade inigualável e tal ver-se-ia nas gerações que o haviam de preceder e jamais deixariam que o seu nome caísse no esquecimento.
Poucos teriam acreditado no início dos anos noventa que Kurt Cobain ainda seria um ícone de estilos relevantes e influentes duas décadas mais tarde. Tal impacto foi construído não só a base das músicas criadas pelo homem de frente do grupo de Seattle, os Nirvana, mas também devido ao seu estilo grunge muito próprio e infame. Ténis Converse All-Star, jeans rasgados e camisas xadrez são peças de marca e destaque do guarda-roupa de alguns dos indivíduos mais marcantes da nossa cultura pop/rock e cinematográfica dos dias que correm.
Um estilo refrescante, descontraído e irreverente a referenciar a atitude indiferente de Cobain de se vestir. Desde a notória coleção de Marc Jacobs a homenagear o Grunge de Seattle e o estilo punk mainstream que contribuiu para a perda do seu emprego, mas valeu-lhe o amor e admiração do mundo da moda, o estilo inspirado no mítico vocalista do Nirvana começou a aparecer em todos os desfiles de moda da época.
A década de 90 foi sobejamente inspirada pela voz ácida e áspera de Kurt Cobain e, como qualquer mito que entra para a história, o seu chocante suicido no ano de 1994, só veio aumentar a mística em torno do tortuoso vocalista dos Nirvana. No decorrer do ano de 2013, Yves-Saint Laurent teve a audácia de fazer regressar as luzes da ribalta das passerelles internacionais uma criação semelhante a que Marc Jacobs lançara em 1993, inspirada totalmente no estilo grunge, obscuro e industrial de Seattle. No entanto, assim como já acontecera com o seu antecessor, Jacobs, as criações de Yves-Saint Laurent evocaram tanta ovação e dedicação avassaladora, quanto uma genuína controvérsia flagrante, já que os seus pares da indústria da moda ficaram chocados com o retrocesso aos anos 90 e ao não ser exibida a sua típica coleção de ensembles coquetes, talhados a medida e bem polidos.
Estava de regresso o repto e apelo do Grunge de Seattle; uma tendência que influenciou e marcou uma geração inteira, não só na mentalidade, como na sua aparência também.
Vanessa Paquete 2015 ©