LAURA PAUSINI: #PAUSINISTADI 2016 (O REGRESSO A SAN SIRO PASSADO 9 ANOS)
Laura Pausini regressou a San Siro, em Milão, passados 9 anos e fez a sua tão aguardada #pausinistadi que a levou a três estádios Italianos (inclusivamente o de Roma), e comprovou o que já na gíria musical mundial toda a gente sabe: Laura é realmente a maior artista italiana que alguma vez saltou para o circuito musical internacional. Incontestável. Irrefutável. Escrito a ferro e fogo. Laura enverga as cores de Itália e o estandarte do seu país por esse mundo fora como o maior embaixadora do momento. Foi a primeira artista feminina em Itália a conseguir atuar num estádio e lotá-lo em 2007, sob uma descomunal chuva em pleno mês de Julho, que não demoveu um único fã de assistir aquele que tornar-se-ia um concerto mítico.
Em 2016, o feito voltou a repetir-se.
Com duas noites consecutivas lotadas em San Siro, Milão, Laura juntou cerca de 100.000 pessoas que entoaram em uníssono os seus temas. O palco desenhado pela própria em forma de um abraço, passava a mensagem bem clara que, passados 23 anos, o seu público ainda era o seu aconchego, o calor que a aquecia no amago da sua alma, e bastava dar um passo em frente para aquele abraço indissolúvel que os seus olhos e a sua voz ficavam presos naquela imagem, de um estádio cheio que dragava beijos, saudações e clamores na sua direção e exultavam com a sua presença; assim é Laura Pausini!
O sucesso do multiplatinado álbum lançado em Novembro do ano transato deu o mote para um concerto recheado de temas fortes, baseado no título do trabalho em questão: “ Simili “ ou “ Similares “. É uma Laura enlevada pelo galanteio e a adrenalina do seu público, que mescla intimidade e simplicidade - algo bastante difícil de se fazer ante 60.000 pessoas -, que abre o espetáculo com um monólogo escrito por Massimiliano Bruno: “ Os soldados do amor, eu trato-os como iguais. Milhões de olhos de cores diversas que vasculham e possuem medo. Livres para serem diferentes mas focados em manterem-se juntos, aguentando as suas lágrimas e os seus risos, lutando com golpes, afagos e olhares, encorajados pela proteção mútua. Jamais se conquista algo com o ódio. E contra tudo e contra todos devemos unir as nossas mãos. Não existem idades, alturas ou cores…apenas um projeto em comum. Engrenar no ritmo e ficarmos juntos neste relvado para pudermos contemplar o que existe mais além! “
Laura cronometrou o seu espetáculo para duas horas e meia nos três estádios (muito em parte devido ao facto de o estádio Milanês de San Siro ter restrição de horário), e tenta numa tarefa árdua e difícil conciliar todos os seus sucessos passados com os temas presentes, alternando grandes sucessos da sua carreira (muitos deles interpretados em Medleys), com a primazia do seu novo álbum. No total são 45 temas interpretados, o que levou Laura a tomar sérias precauções a nível vocal devido a amplitude dos estádios e ao volume sonoro que estes exigem. Momentos de silêncio para resguardar a voz. Alguns exames vocais, precauções e vigilância médica mas, acima de tudo, o resguardo da sua voz através do silêncio.
Laura quis agradar a todas as faixas etárias dos seus fãs.
Aqueles que a seguem desde 1993 e os mais recentes que talvez a conheçam de alguns anos para cá, apenas!
Junto a si em placo, possuiu seis coristas, onze músicos (incluindo um quarteto de cordas) e trinta bailarinos que levaram os estádios ao rubro nos temas mais dançáveis como “ Inamorata “ de Jovanotti que é interpretada duas vezes (é o tema que despede toda a equipa de Laura do seu público), e que parece ter sido concebida para ser tocada e dançada propositadamente em estádios. Temas como “ Resta In Ascolto “ continuam a ser momentos únicos que fazem Laura recuar a um passado sombrio que trazem à superfície o seu lado mais agressivo, quer a nível vocal como a nível de performance. Parece que Laura, apesar de toda a felicidade com que foi bafejada, não se esquece que em tempos foi traída por um homem que amou incondicionalmente e a guilhotinou
A provar tal, temos uma Laura que pega numa guitarra elétrica e entoa, numa mudança volátil de humor “ Come Se No Fosse Stato Mai Amore “, outro tema intempestivo que faz a própria Laura confessar ante o seu público “ Esta jamais poderia faltar “. O tema parece conectar-se com grande parte do público que, a dada altura da sua vida, já deve ter passado por uma situação semelhante. É uma canção icônica, cantada em uníssono e com alguma raiva até. Laura confessa que a interpreta sempre assim, apesar de presentemente possuir uma vida estruturada, mas que tal tema a faz regressar ao passado e que não vê estranheza na sua raiva. Outro tema que havia sido emblemático em San Siro em 2007 e que encerrara o espetáculo é “ Una Storia Che Vale “ que, desta feita, volta a ter o mesmo impacto no público: entoação em uníssono de vozes afinadas e comovidas.
E de Medley em Medley e atuação em atuação, Laura vai fazendo uma oscilação de humores da sua fase mais sombria da sua vida para os momentos mais doces da sua carreira e o encontro consumado com a paz, finalmente!
“Casomai” não poderia faltar e é uma desinibida, sempre indiscreta Laura Pausini, que direciona o seu olhar e a sua voz para Paolo Carta e lhe dedica o tema da história de ambos. De recordar que quando o cupido bafejou a dupla com a seta do amor, Paolo era casado há quinze anos e pai de três filhos e tal criou uma série de rumores em torno do casal. Ele foi visto como um oportunista. Ela como uma destruidora de lares. É com paixão e abraçada ao seu marido que Laura canta “Quantas pessoas me diziam “ Jamais acredites nele “, com a inveja de quem aguarda a repercussão de tal problema. Neste caso foi para melhor, tudo mudou. Neste caso, o erro foi não ter-te encontrado mais cedo, algum tempo antes de as emoções formarem a minha personalidade e entretanto o mundo julgava-me, porque havias tido de escolher entre ela e eu, atrás das paredes toda a gente sussurrava, ela desde que o encontrou já não é mais a mesma…” Paolo sorri discretamente. Sabe que ante milhares de pessoas está sob as luzes dos holofotes e aquele é o momento de ambos, ovacionado por um público entusiasta. Laura não se coíbe de mostrar as suas emoções e canta tão-somente para o seu marido. Um ecrã gigante, pejado de cenas de vídeo-clips, close-ups do concerto e o próprio público, foca a simbiose do casal.
E os momentos intimistas da sua vida privada não terminam por aqui pois é com o seu público que Laura divide as páginas da sua vida e tudo aquilo que vai escrevendo no seu diário; “ Invece No “, coloca o estádio em lágrimas e é entoada como um grito pungente em forma de dedicatória a todas as pessoas que perdemos na nossa vida (quer a nível físico ou sentimental). Um tema que não deixa ninguém indiferente por ser tão emblemático e nos abranger a todos, na realidade; quem de nós nunca perdeu alguém ou deixou algo por dizer a alguém que amava?
No estádio de Roma, Laura, atreve-se a falar das redes sociais e a dedicar tal tema a uma seguidora sua no Twitter que se encontrava no estádio essa noite e havia relatado a Laura num Tweet que havia perdido a sua mãe. É para essa fã, cujo nome Laura refere dezenas de vezes, que as vozes se elevam em lágrimas essa noite e Laura de olhos marejados de lágrimas diz “ Esta é para ti. Fecha os olhos! “ Notáveis, são os variadíssimos interlúdios musicais que a sua banda e coristas vão fazendo, enquanto Laura muda de figurino. As vozes das coristas já são conhecidas de muitos mas, este ano, para os estádios houve reforço e inovações. Canções como “ Simply The Best “ de Tina Turner, “ Crazy In Love “ de Beyoncé, “ With Or Without “ dos U2 e “ Locked Out Of Heaven “ de Bruno Mars, deram brilho ao espetáculo.
Outro momento intimista é quando Laura interpreta ao piano os temas dedicados a sua família. “Celeste” é cantada com comoção e numa atmosfera de quietude, com uma compositora toda vestida de branco a depor nos acordes do seu piano, igualmente branco, todo o amor que nutre pela sua filha: a dor, a espera, a ânsia do seu olhar vai transformando-se em versículos de comovida alegria. De relembrar que “ Celeste” foi composta quando Laura acreditava já não ser mais possível ter um filho, a não ser que recorresse a uma cirurgia.
De seguida, outro momento junta Paolo e Laura sob as luzes dos holofotes, ambos sozinhos, apenas acompanhados por uma guitarra acústica e as imagens da filha de ambos a serem passadas no ecrã gigante ante milhares de seguidores que cantam com Laura “ É a lei que devo l`amore”. Um momento de partilha da vida de ambos muito apreciável e aplaudido pelo público.
“Sono Solo Nuvole”, a canção/poema escrita por Sangiorgi Negramaro é entoada numa atmosfera etérea, para Laura de seguida partir para alguns êxitos passados que fazem os telemóveis vibrar da esquerda para a direita e da direita para esquerda com as luzes ligadas a interpretarem “ It`s Not Goodbye “, “ 200 Notes “ e a tão aguardada “ Seamisai”. “Entre Te E Il Mare” rouba-nos os corações há já dezasseis anos e é com grande alegria que os romanos veem Biagio Antonacci surgir no estádio de Roma para interpretar um outro êxito seu “ In Una Stanza Quasi Rosa “, e aproveitam a ocasião para lhe cantar à capella, a composição da sua autoria que maior fama daria a Laura “ Entre Te E Il Mare “, que acaba por unir-se a mais recente craição do autor para a cantora “ Lato Destro Del Cuore “ .
No total são 45 temas, repartidos por duas horas e meia de espetáculo; baladas, performances rockeiras e dance music para fazer o público tirar o pé do chão. Laura mostra-se sempre muito comovida e empática, acenando ao seu público e – já como é habitual – fazendo interlúdios seus das histórias por detrás de cada tema e incentivando os seus fãs, inclusive, a fazer duetos com ela. Uma artista de mãos dadas com os seus seguidores e de coração aberto. Absolutamente inquestionável.
Laura não dispensa uma boa troca de vestidos ao longo de toda a noite. Na realidade, algo bem mais glamoroso do que o San Siro de 2007, onde Laura fez apenas duas trocas de OUTFITS e um deles era jeans com uma jaqueta. A indumentária está a cargo de Nicholas Cerioni que alternou entre cores vibrantes e cortes de vestidos à ragazzina de anos 50, para algo mais sóbrio e sofisticado como o belíssimo vestido aos folhos amarelo que fecha o espetáculo ao ser entoada “ Lato Destro Del Cuore “ !
Portugal não ficou esquecido no meio de milhares de vozes que se sublevaram naquela noite no estádio do AC Milan e, embora, muito provavelmente Laura tivesse avistado – como a própria ia afirmando ao longo do concerto – bandeiras de variadíssimos países mas não a de Portugal, a cantora italiana focou o nosso país e mandou-nos beijos e numa homenagem luso-brasileira entoou um tema à capella na língua de Camões.
Laura não falhou, contra algumas probabilidades dos jornais italianos, e num gesto destemido e arruaceiro (que bem podia ter sido feito por uma mulher do norte de Portugal), ergueu o dedo do meio para os jornalistas que afirmaram veementemente que ela jamais conseguiria lotar San Siro por duas noites consecutivas; fotografia que percorreu escandalosamente todas as redes sociais em fração de segundos!
O êxito cumpriu-se e a frase mística de Laura (agora alterada para o singular também) de mandar-nos para casa fazer amor voltou a repetir-se.
De seguida, Laura empreende uma extenuante e exaustiva tournée norte e sul-americana que – literalmente - fá-la-á percorrer em dois meses todo o continente americano de lés a lés; desde o Canadá, passando pela América, todo o território sul-americano até ao Brasil onde a italianinha atuará em São Paulo e Rio de Janeiro.
Em seguida, a Europa!
Laura Pausini tem 42 anos, 23 de carreira e está imparável! É uma artista icônica. Muito provavelmente, a mais ativa do momento; aquela que leva a língua italiana aos quatro cantos do mundo e, cujo legado, jamais será suplantado!
Design de Flyers: Vanessa Paquete 2016 ©
Texto & Crítica: Vanessa Paquete 2016 ©
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