I CAN`T LIVE WITHOUT YOUR SWEET FANTASY
Uma das minhas interpretações preferidas de sempre...
Hey, amor, como te sentes hoje?
Por favor, não te sintas zangado por te chamar de “ amor “; bem sabes que nunca mais voltaremos a ver-nos fisicamente, e, escrever-te é crucial para mim, sempre foi, portanto não te zangues comigo, prometes?
Escrever-te tem sido um grande disparate não achas? Todavia, é o único disparate válido que me mantem agarrada a esta vida; sabias? O teu silêncio não me importa e sabes porquê? Céus, vais achar-me uma louca ao afirmar-te aquilo que te vou dizer: “ O teu silêncio não me importa porque tu estás morto e os mortos não se manifestam, pois não? “
Deram-me a notícia da tua morte decorria o ano de 2007. Foi a Anabela que me anunciou o trágico acontecimento e o início de um luto profundo meu. Senti-me como uma náufraga, à deriva, sem saber para onde a maré me levava e a tentar, furiosamente, mudar o curso das águas, como se tal pudesse evitar a tua morte. Se bem me conheces, não aceitei o teu desaparecimento, claro que não ! Sentia-te vivo. Via-te vivo. Lá por eu estar destroçada, de coração partido e a alma sem ânimo, não significava que a ceifeira te tivesse levado, não achas, Tiago?
No entanto, foste assim qualificado: “ de fantasia morta, idolatrada, e transporta para a realidade com o início de uma depressão profunda revestida num luto emocional irreversível “. Foi este o meu diagnóstico ante o mundo psíquico. E no entanto… rejeitei toda e qualquer medicação possível. Não sei se sabes mas sempre vi os psicofármacos como um dia de Inverno gelado que nos prende os músculos, nos impossibilita de caminhar e nos trazem um vento de Oeste cortante que nos impede de respirar sincopadamente e sentir o aflorar da mais ínfima das emoções. Não tomá-los, surtiria em mim, um caleidoscópio de efeitos perniciosos: decidi arriscar a não tomá-los e fiquei a espera que a minha alma conseguisse, ainda, sustentar fortes alicerces capazes de te reter, fiquei sentada no alpendre do meu coração a espera que viesses, e tu não vinhas, Tiago, tu simplesmente já não vinhas…
Agora, tinha de te procurar eu, ininterruptamente, em redes cibernautas; o meu subconsciente chamava-lhe uma perda de tempo total, estar ali a desmembrar a ridícula de uma página de internet onde não se escutava o teu riso, onde não se ouvia a tua voz, onde tu não estavas ao meu lado e, na pior das hipóteses, estavas, sim, para cúmulo dos espinhos que ia descobrindo diariamente, ao lado de outras pessoas.
Eu tinha de regressar a ti obsessivamente. Como ia eu viver, ou aguentar dez ou quinze minutos, sem te ter no meu pensamento? Eu precisava voltar a encontrar-te, Tiago! O meu coração não conseguia enterrar a fantasia do homem que eu acreditei que – um dia – virias a ser. Eu idealizei-te. Inventei-te. Desenhei um esboço de ti onde, modéstia aparte, a perfeição imperava e cada traço era um deleite para os olhos de tão minucioso e arrebatador que eu o projetara. Olhava para ele e não lhe conseguia ver um pingo de maledicência, fraqueza ou falta de hombridade, e, por isso, amava-te incondicionalmente, ao ponto de ser louca o suficiente para não chorar a tua morte, nem tão pouco enterrar-te onde quer que fosse.
Tu acompanharas-me anos a fio e eu jamais cansara-me de estarmos juntos nas minhas fantasias.
Mesmo quando o tempo escasseava e, por vezes, a caocidade da minha vida e a acumulação de pessoas em meu redor (namorados, familiares, vida laboral e assuntos complicados), não permitiam que o meu tempo fluísse naturalmente, eu conseguia sempre arranjar, numa tarefa algo Herculana, uma maneira de me encontrar contigo em sonhos e fazer colidir a minha existência com a tua. Por vezes, bastavam-me apenas cinco minutos do meu tempo. Jamais entrei, algum dia, debaixo dos lençóis, desassossegada, por não ter estado contigo e junto a ti.
Havia tamanha voracidade de afeto, em mim por ti, que quando te via, efetivamente, ao vivo e a cores, saído das minhas fantasias, esquecia por completo todas as contraindicações que tal encontro faria ao meu corpo; os malefícios de ver a tua pele, uma vez mais, a crueldade de contemplar os teus olhos, sem deixar que tu os desviasses dos meus, a sede de beijar os teus lábios e aflorar cada poro e centímetro do teu corpo…
Ninguém podia dizer-me para eu chorar a tua “ morte “ porque eu ainda te sentia vivo dentro de mim. Nos meus sonhos eu ainda me agarrava a tua clavícula e conseguia arrepia-la com as minhas carícias subtis, nas minhas fantasias eu ainda te beijava o dorso e o interior das tuas coxas. Eu não podia chorar pela tua morte, Tiago, porque o teu corpo não jazia debaixo da terra, mas sim, nos braços de um outro alguém, ou dezenas de outros alguéns, quiçá!
Sempre entregaste-te nos braços de outras mulheres, menos nos meus! E eu queria-te só para mim, num ato egoísta e desmesurado, de amar-te há mais de uma década… Eu queria-te só para mim!
No entanto, foste qualificado pela Dra. Anabela e pela Dra. Sandra e o séquito de psiquiatras que esmiuçavam o meu caso: “ de fantasia morta, idolatrada, e transporta para a realidade com o início de uma depressão profunda revestida num luto emocional irreversível “.
Eu não queria perder-te. Poderiam tirar-me tudo menos a tua ilusão. Mas o tempo golpeia-nos a vida, é uma penitência amarga e, desesperadamente, eu quis continuar a ver-te nos meus sonhos, a sentir o teu peito a palpitar junto ao meu, o teu sangue a dissolver-se no meu, tu a odiares-me e eu a amar-te. Que importa se tinha uma vida dupla? Tantas vezes fui apostrofada de prostituta por querer o sexo, o carinho e o interesse dos outros (num ato puramente egoísta) e amar-te em simultâneo.
Nunca me importei, sabes?
O teu silêncio, Tiago, era um fantasma que eu amava e todos os teus silêncios e ausências, para mim, valeram a pena, porque do teu silêncio eu conseguia desenhar e extrair dois braços abraçados, dois corpos alinhados em plena sincronia como uma espécie de simetria de arte. Do teu silêncio, eu conseguia fazer nascer duas mãos vagabundas a vaguear por entre a linha perfeita das minhas costas. Oh céus, o quanto eu amava, essas tuas ausências e esses teus silêncios na minha vida, pois da tua mais premente recusa, nasceu o mais perfeito dos amores: um amor politicamente incorreto mas feliz em toda a sua magnificência.
Por isso, meu amor, nunca aceitei a tua morte. Nunca quis chorar-te. Tão pouco enterrar-te. Onde haveria eu de sepultar-te? Diz-me! Eu sabia que no momento em que deixasse de sonhar contigo, de projetar-me em ti, de acreditar, quem acabaria sepultada seria eu, Tiago! O mais provável era cair no abismo do vazio e, numa previsibilidade indómita, de desistir de avançar e arriscar.
Já te disse o quão sou louca pela simples ideia de me apaixonar por alguém? Devo ter-te confessado, algures, no meio de uma das minhas epístolas infindáveis, o quanto amo AMAR e o quanto preciso de uma pele para desbravar, Tiago, no entanto, eu, que nunca quis que tu morresses dentro de mim, e que te prolonguei a vida quando tu já eras vítima de uma série de execuções, deixei o tempo passar e permiti que o meu próprio carrasco me assassinasse. Talvez sejamos a continuidade da saga de William Shakespeare, quem sabe? Aclamavam-te de fantasia morta e eu golpeei as paredes e gritei mil vezes: “ Não, o Tiago, não…Tudo, menos o Tiago “. O drama de se amar aparvalhadamente alguém é não se admitir a descontinuidade ou morte desse próprio amor.
E, um dia, a verdade veio ao de cima, e eu já não conseguia sentir-te nem amar-te, nem amar-te nem sentir-te e tu, efetivamente, estavas morto. Depois de ti eu sabia que não existia mais nada e deixei que tu me tirasses a vida e me sepultasses, ou fui eu que me sepultei a mim própria?
Tu eras a minha mais bela ficção e agora estás morto; como poderei eu viver sem ti, Tiago?
Não posso.
Não consigo.
Vanessa Paquete 2014 ©
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A voz foi bastante mais complicado.
Sabes qual foi uma das perguntas assíduas que me fizeram, ao longo daquela minha fase, de transformação física ? " Como é que uma rapariga como EU infligia tanta auto-destruição a si própria e me subjugava perante ti? " Claramente, nenhuma daquelas pessoas conhecia a " Vanessa " do passado. Olhavam para a " capa do livro " e julgavam-me pelo exterior. Como muitos homens e mulheres me viriam a dizer " eu poderia ter o mundo a meus pés ", mas, o problema é que ninguém sabia que eu ainda pensava como a " Vanessa " do Ivo e do Tiago e - sinceramente - até hoje acho que nunca deixei de ser a " menina enjeitada do Ivo e do Tiago " por isso, não, nunca me vi como os outros me viam. Por vezes, tão pouco me reconhecia nas fotografias: esta é uma delas!