ATÉ JÁ NICOLAU BREYNER: FALECEU O PAI DA FICÇÃO NACIONAL
Por norma, costumo ter sempre palavras para comentar aquilo que me afeta.
Todavia, quando não domino o assunto que quero comentar muno-me de muletas e de palavras alheias.
Morreu Nicolau Breyner!
Já toda a gente o sabe.
Toda a gente o chora!
Sim, esta música de levantar o telhado é para ti, que sempre amaste a vida e recusavas-te a ceder a inércia, a ajoelhar-te perante o comformismo... Eras um visionário que sonhava além horizontes e permitia-se a sonhar, a idealizar, a imaginar e a CONCRETIZAR ! A morte não existe para quem faz da sua vida uma eternidade... Recordo-te, apesar de não ser fã da ficção nacional! Foste o seu " percusor ", o seu " pai " de olhar sempre atento que carregava cada um pela mão até que estes conseguisssem caminhar sozinhos e pelos seus próprios passos. A morte não existe para quem faz da sua vida uma eternidade...
Não sendo, de modo algum, adepta da ficção nacional, confesso que me recordo do “ Nico “ como tão infectuosamente todos os seus colegas o chamavam na série “ Nico De Obra “.
E só!
Recentemente vi pela primeira vez a telenovela VINGANÇA onde representava o vilão mor e – para mim – o melhor de toda a ficção nacional (embora praticamente nada tenha visto)!
Bastou-me ver esse seu papel para reconhecer um grande ator e talento. Como toda a gente, vi Nicolau Breyner ao longo dos anos em programas nacionais e sempre me pareceu uma pessoa muito acessível, empática, de carisma inconfundível, uma TOUR DE FORCE, nada cheio de maneirismos e trejeitos de estrela deslumbrada pela fama !
Perdoem-me pela minha ignorância a nível da ficção nacional!
Tampouco sabia que havia transacionado para a TVI há dez anos. Desconhecia por completo. Hoje ao rever as dezenas de telenovelas onde havia entrado, apercebi-me que se me fizessem um questionário acerca de ficção nacional, reprovaria redundantemente e de uma maneira desastrosa!
Há anos que não clico o botão do meu comando para a TVI; perdoem-me não é nada pessoal! Mas desde que vi os REALITY SHOWS dessa cadeia de televisão torci o nariz. Também não sou uma grande fã de telenovelas portuguesas. Cresci com a Rede Globo, admito, ou seja, a fasquia nacional a atingir ainda vai no adro, todavia, temos feito uma evolução fantástica por aquilo que me pude aperceber hoje ao visionar imagens inéditas de variadíssimas produções.
Para mim, que visionei a VINGANÇA em finais de 2015 (8 anos após ser produzida ), achei que aquela era a trama mais vanguardista que vira até a data porque aprecio uma boa história com emoção QB, dilemas psíquicos, a dicotomia entre o bem e o mal e agentes policiais à mistura e uma boa porção de ação underground, thriller e armas (cada qual com o seu gosto certo?)
Quando tinha apenas dezasseis anos de idade, provendo de uma família abonada, o meu pai instalou em casa a TVCABO ou a TV por SATÉLITE algo que ainda era pouquíssimo usual naquela altura. Pouquíssimas pessoas a tinham. A mim, deu-me a possibilidade de fazer zapping ininterruptamente e passar dos canais portugueses para canais estrangeiros onde estacionei até aos dias que correm, portanto, cresci americanizada!
Vicissitudes da vida, uns anos mais tarde, fizeram-me ficar sem televisão e Internet (cerca de quatro anos), portanto, os livros tornaram-se os meus melhores amigos e tudo o que se passou a nível de ficção nacional e mesmo internacional passou-me ao lado.
Estou atualmente, desde 2014, a encher um disco de um treta com tudo aquilo que perdi desde o ano de 2008, todavia, posso assegurar-vos que já na altura não era fã de televisão, a exceção de alguns canais estrangeiros, portanto, facilmente me adaptei a ficar sem TV!
Todavia, fiquei leiga ADMITO a nível de produções nacionais, portanto, ser eu a tecer algum elogio a este grande ator, realizador, pai da ficção nacional seria inglório, todavia, ainda assim quis prestar-lhe a minha homenagem e para tal surripiei as palavras de um outro grande ator que cresceu sob a sua tutela e sob os seus ensinamentos e – em quem – Nicolau Breyner depositou muita esperança sem que este lha falhasse. O orgulho de Nicolau Breyner acerca deste ator sempre falou mais alto; era um "pai" babado…Não existe outra pessoa que consiga exprimir tão bem em palavras quem era Nicolau Breyner ! Eu jamais poderia fazer-lhe uma homenagem tão sentida ! Não tinha bases para o fazer. Tampouco sentimento tão profuso quanto este para o descrever ou uma ligação afectiva para o enaltecer mas este ator tinha-a...
"Partiu... e de que maneira.
Quero, quero mesmo, quero falar não daquilo que me uniu ao homem mas daquilo que o homem uniu.
Hoje... ele partiu, mas há anos que ele anda a partir as amarras que nos impedem de andar para a frente, a quebrar as barreiras do medo e da nossa pequenez, a empurrar-nos a acreditar, a quebrar preconceitos e estereótipos a fazer-nos dar valor, a sonhar...
Começou como tenor de ópera, tropeçou no teatro, onde cresceu e se formou como actor, como contador de historias. Na altura a única televisão digna para um actor era o teatro televisionado.
Mas ele viu mais, viu para além das nossas aparentes limitações e acreditou. Chamou uns quantos comparsas, para pela primeira vez se fazer aquilo que só se julgava ser possível lá fora. Drama televisivo de longo formato. Chamaram-no de louco e sonhador, ao qual ele agradeceu o elogio sorrindo, mas acima de tudo... fazendo.
Onde morrera sempre a diferença dos que discutem, criticam e analisam e dos que fazem. Ele fez, e voltou a fazer vezes sem conta.
Aquilo que é hoje em Portugal um mercado de reconhecido prestígio internacional, foi uma vez, apenas um sonho acreditado na cabeça de um homem grande, com alma de puto.
Daqueles putos que quando não sabem o que dizer contam uma história... e que histórias... tantas e tão vividas e tão celebradas e acima de tudo tão partilhadas por ti.
Partiu... Partiu o preconceito da aparente dividida comédia / tragédia, fazendo-nos rir durante anos com todas as suas peças, sketches, séries e revistas, apenas para mergulhar de seguida no mais intenso dos dramas e expor as suas fragilidades em personagens tão sérios e reais como os seus sonhos, em tantos filmes que nos presenteou.
Partiu... Partiu a barreira da idade. Aquele gigante com olhar de puto foi protagonista toda a vida, fosse em novela, filme ou teatro. Nunca deixou que a idade lhe tirasse o nervo, e com 70 anos continuava a ser protagonista de onde entrava.
Tal como todos os grandes, não era perfeito, não era fã de trabalho, nem do frio, nem de tristezas ou lamúrias... Dessem-lhe abraços, o Alentejo, gargalhadas e histórias numa farta mesa e tinham o Nico no pico do mundo.
O Nico era nosso, era dos nossos, éramos nós.
Partiu... mas desta vez dói. Alguém tão luminoso faz falta para alumiar o caminho e aquecer o sangue nos dias frios desta vida.
Um beijo grande de alguém que celebrará para sempre cada momento que passou contigo. "
Diogo Morgado
Até já Nico; sentiremos a tua falta!