ADELE: 25 (O NOVO ÁLBUM) - A MATURIDADE NO EPICENTRO DA SUA VOZ COM NOTAS QUE AINDA EVOCAM NOSTALGIA, TEMPOS PASSADOS E SENTIMENTOS OBSCURECIDOS
Quando Adele conquistou o mundo inteiro com o seu segundo álbum de originais, 21, a cantora inglesa representava uma ameaça absolutamente credível para todas e quaisquer rivais que desejassem igualar a sua capacidade vocal e mestria criativa. Sabia-se, de antemão, que seria difícil igualar 21, um álbum que bateu o recorde de permanência em #1 no Reino Unido de uma solista feminina e que bateu todos os Records do Guiness. Hoje, encontra-se posicionado ao lado de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band “ dos Beatles, como um dos álbuns mais vendidos de sempre, a par de bandas tão míticas quanto os Queen ou os Abba. Todavia, a revista Rolling Stone considerou perfeito o álbum 25, de Adele, lançado na semana passada. O disco recebeu cinco estrelas (cotação máxima) na crítica assinada por Jon Dolan. A cotação é bem maior do que a recebido pelo aclamado 21 em 2011 na mesma publicação. O álbum anterior da inglesa havia recebido apenas 3,5 estrelas na crítica escrita por Will Hermes na época. Isso faz de 25 um sucesso tanto de crítica quanto de vendas, colocando-o como candidato fortíssimo para as futuras premiações fonográficas.
Adele encontra-se mais madura, embora a sua voz ainda evoque notas de nostalgia de tempos passados e reminiscências de sentimentos obscurecidos, contudo, a sua dor e raiva parece mais racional/quase apaziguada. Os anos que Adele esteve ausente de um estúdio de gravação foram tumultuosos para a cantora inglesa; uma cirurgia as cordas vocais, a maternidade, falta de inspiração, álbuns descartados e a vida a eclodir toda em seu redor, mas, curiosamente, desta feita, Adele não conta as suas intempéries e catarses interiores de um modo intempestivo, mas sim saudosista! É como se Adele – por fim – tivesse encontrado o seu caminho através destas baladas retrospetivas. 25 é um álbum conciliador, repleto de letras intimistas e tão presentes no nosso diário pessoal que, a dada altura, nos damos a questionar se a cantora britânica estaria a pensar em nós quando escreveu aquele tema.
A Rolling Stone redigiu que 21 é um álbum acerca da metamorfose de dor em poder e que 25, sendo um álbum mais diplomata, ainda mantém o remorso como a sua grande fonte de inspiração e, de facto assim o é. No seu novo álbum, Adele lamenta o passado em músicas como “Wanter Under the Bridge” e “When We Where Young”. “Até ‘Hello’ é um adeus pungente e melancólico. O clima nostálgico é o caminho perfeito para uma artista que remonta décadas e décadas nas suas influências e em cada um dos temas que compõe. O álbum que, desta feita, contou com a colaboração de variadíssimos artistas como Max Martin, Bruno Mars, Paul Epwroth, Ryan Tedder e Danger Mouse, tem algumas referências líricas bem sonantes e uma sonoridade, ainda que ao estilo de Adele, bem contemporânea (basta escutar a faixa “ I Miss You “), um tema cuja batida nos alucina e a sua sensualidade nos revolve a cabeça porque a letra corroí-nos as veias e dá-nos calafrios na espinha. Toda a sua comoção estrutural e espiritual encontra-se guardada, todavia, nas entrelinhas de “ When We Were Young “ e “ Water Under The Bridge “, temas de escuta obrigatória!
Um trecho de crítica absolutamente fantástico da Rolling Stone brasileira salienta que o tema “Million Years Ago” é “um devaneio acústico maravilhoso, que se assemelha a uma composição de Caetano Veloso para Dusty Springfield.
“ Love In The Dark “ inicia-se com uns pungentes e lacrimosos acordes de violino para de seguida nos apresentar uma Adele segura e equilibrada nas suas emoções a lamentar um amor vazio, ecoando na sua voz que jamais poderá amar o seu apaixonado na escuridão, dado que oceanos os separam e tantas outras coisas mais os diferenciam e que jamais ele a poderá salvar: “ Por favor deixa de me contemplar para que eu possa viver. Eu não posso permanecer mais tempo aqui porque deixei de te amar. Estou a ser cruel para mostrar alguma empatia para contigo. “. De evidenciar os arranjos orquestrais deste tema; a voz que consegue atear fogo a chuva ou até derrubar farrapos de céu mescla-se aqui com violinos, violoncelos e contrabaixos, ressuscitando no seu amago as tais nuvens cinzentas que fizeram de 21, um dos álbuns mais aclamados pela crítica!
25 demonstra-nos efetivamente uma Adele conciliadora que ressurgiu das cinzas e se apercebeu que pode mostrar o seu lado mais vulnerável e caótico, sem que haja necessidade de ser vingativa e impulsiva na sua poesia. Em 25 existe uma confiança e um ponto de luz alcançado, um reencontro com o seu interior e constantes conversas nostálgicas que nos fazem lembrar que sim, Adele amadureceu e já não possui o fogo do seu álbum antecessor mas continua a reinar entre os montículos de fogo.
Texto & Crítica: Vanessa Paquete 2015 ©
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