TER CANCRO NAO SIGNIFICA DESISTIRMOS DE NOS OU DA NOSSA APARENCIA
O cancro rouba nos muitas coisas, d entre elas a auto estima. Cai o cabelo. Cai as sobrancelhas e os efeitos nefastos variam de tipo de cancro para tipo de cancro. Há situações em que o organismo interno é mais afetado, outras em que é a parte externa que mostra os seus sinais da doença . Ainda é quase tabu falar de cuidados de beleza durante os tratamentos oncológicos, no entanto investigadores e médicos indicam que estes podem ser muito terapêuticos a nível físico e psicológico.
Encontrei este artigo que já data de 4 anos no Observador.
Espero que vos possa ser útil .
“Quando vou a uma sessão de quimioterapia compro sempre a Vogue ou outra revista feminina para ler”, conta Aurora Carmo 53 anos a receber tratamento para um linfoma. “Se levo a minha filha ela fica deprimida. Prefiro levar uma revista porque eu não me deixo deprimir, quero atravessar isto como uma coisa passageira”. Aurora é taxativa nas suas palavras. Quem não saiba que está a fazer o segundo ciclo de quimioterapia não fica a saber. Na escola onde dá aulas, nem colegas nem alunos parecem aperceber-se. O cabelo impecavelmente penteado, o rosto bem maquilhado, batom vermelho a pontuar a sua atitude positiva. O linfoma voltou 10 anos depois do primeiro ataque, mas Aurora não se dá por vencida e trata-o com algum enfado como se lhe dissesse “então, ainda não percebeste com quem te estás a meter?”.
Admite que ao contrário da maioria dos pacientes a tratar doenças oncológicas, gasta mais dinheiro em roupa nesta fase. “Ir às compras é a minha terapia”, desabafa. “Se fico em casa tudo parece pior, lá está a minha filha com cara murcha. Pego no carro, vou à baixa, vejo montras, encontro pessoas, vou até ao rio. Acabo por não resistir às compras”, diz sorrindo. A sua energia, seja resiliência ou fuga à depressão, é convincente. Mas ela ainda é uma exceção, porque o cancro é ainda uma doença que não se olha com normalidade e cujas sequelas psicológicas são tão grandes como as físicas, embora sejam vistas como secundárias. O peso social da doença, o desconhecimento das suas origens, as taxas de mortalidade, a complexidade e efeitos dos tratamentos, tudo isso foi muito bem analisado pela ensaísta americana Susan Sontag, no livro A Doença como Metáfora (Quetzal Editores). E tudo isto pesa como um pesadelo sobre os doentes.
Cuidar da imagem durante tratamentos oncológicos
Cuidar de nós próprios não é apenas uma questão estética é também uma questão de filosofia de vida como já sabiam os antigos gregos e latinos, para quem a disciplina e a força moral passavam por tratar do corpo e da alma, porque estes como sabemos, são inseparáveis. Por isso, se não tem uma rotina de cuidados com a pele do rosto e do corpo, esta pode ser uma boa altura para começar, seja mulher ou homem“e os homens ainda são culturalmente inibidos de ter essa preocupação”, lamenta Márcia Ferreira.
“É um período de grande stress e ansiedade que também se manifesta na pele. O problema é sistémico, físico, psicológico, o corpo fica com menos defesas por isso e normal que tudo isso se manifeste no rosto. Este “stress oxidativo” causa um maior envelhecimento da pele, a reparação dos danos na derme são mais lentos.
“Durante a radioterapia a pele perde muita água, daí que seja muito importante a hidratação para não se desenvolverem eczemas e outras lesões na pele que podem trazer novos problemas. O protetor solar de índice elevado é provavelmente o ativo mais importante de todos”, aconselha a dermatologista.
Aprender a maquilhar-se de acordo com os sintomas é outra sugestão que pode fazer maravilhas pela sua auto-imagem e auto-estima. É importante que cada um escolha o que o faz sentir melhor. Usar ou não usar perucas, turbantes, lenços, chapéus ou deixar que a cabeça glabra marque o seu novo estilo. Pode até brincar com várias coisas experimentando outros visuais alternativos ao habitual. O truque pode ser ver tudo isto como um desafio e não como uma tragédia. Hoje em dia é até comum as adolescentes saudáveis e as modelos usarem perucas para mudarem de visual, de cor de cabelo, para copiarem esta ou aquela cantora ou atriz.
Também as marcas de maquilhagem oferecem uma grande oferta de pestanas falsas que pode colar no extremo da pálpebra por cima do eyeliner. E mesmo para as sobrancelhas há tratamentos reconstituintes como o microblading, sobrancelhas falsas de colar e descolar ou desenho de sobrancelhas (hoje muitas perfumarias, maquilhadores profissionais oferecem workshops para ensinar a técnica). O importante é ter em conta que sejam apropriados para peles muito sensíveis. Marcas como a La Roche Posay, a Avene, a Neutrogena, a Clinique, entre outras, têm gamas de maquilhagem destinadas a quem tem problemas cutâneos.
Ao nível dos cremes hidratantes, anti-rugas, protetores solares, Márcia Ferreira aponta algumas marcas compatíveis com os tratamentos oncológicos: “Filorga, DC linha da Dermoteca, Isdin, Uriage, La Roche Posay, Skin Ceuticals, Martiderme, SVR, embora hoje haja muita oferta no mercado, sendo importante o aconselhamento pelo dermatologista para cada caso em concreto.”
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Texto & Crítica: OBSERVADOR 2018 ©