ENTREVISTA COM A PIN UP MISS MARY DEE
Não é de agora que esse assunto me atrai e inclusive foi um dos principais motivos para eu fazer esta entrevista. Pesquisei outros blogs do ramo. Estudei o conceito vintage, mas so entrevistando alguem que realmente ame este tema e que eu poderia compreende-lo a fundo !
1 - Maria, tivemos o privilégio de conhecermo-nos através de uma rede social, contudo, a amizade dura há já uns anos largos. Uma das coisas que mais me chamou a atenção em ti foi o teu estilo vintage/rétro, o quanto tu te encontravas envolvida com a arte (principalmente o canto, teatro, televisão e até fotografia). Tenho vários trechos do teu trabalho em todas as áreas e até tive a oportunidade de te incluir no meu portfólio particular de modelos. Como tens tempo para conciliar todas estas facetas da tua existência com a tua vida pessoal & profissional que também abrange a tradução?
R: Também não sei! (risos) Acho que acabo por ter tempo porque o facto de ser trabalhadora independente mo permite: faço o meu próprio horário enquanto tradutora, o que me facilita imenso a parte artística. Quanto à parte pessoal, há sempre espaço, embora, por vezes, seja difícil conciliar horários para sair com amigas, por exemplo. Cada uma tem o seu horário e fica difícil conciliar os de todas, mesmo que sejam só duas ou três.
2 - Sempre fui uma fã incondicional da tua voz; a primeira vez que te vi cantar, interpretavas “Gabriela “da grande obra de Jorge Amado. Foi amor a 1ª vista. Porém o teu verdadeiro universo a nível de cancioneiro é o estilo vintage. Fala-nos um pouco mais sobre esse teu interesse; como surgiu a paixão pela década de 50/60 do mundo da música?
R: Sempre adorei. Em pequena, ouvia a minha mãe e a minha avó a cantarem em casa, ouvia discos dos anos 60, via musicais dos anos 30, 40, 50 e 60, e ficava fascinada. Era aquele tipo de música que mais me fazia sentido.
3 - Sempre tive curiosidade em colocar-te esta questão: as grandes cantoras que aprecio do gênero pop/rock possuíam já ascendentes musicais (pais músicos etc.). Tens alguém na família com o bichinho da música ou simplesmente aconteceu? Com que idade descobriste que conseguias cantar? Podes falar-nos um pouco do teu percurso no mundo da música até chegares ao estilo vintage, bem como o teu famoso dueto com a cantora Áurea & a Luciana Abreu?
R: A minha mãe, a minha avó, as minhas tias sempre cantaram muito bem, mas limitavam-se a cantar em casa. A minha mãe chegou a cantar num evento da Casa dos Açores e, em dueto comigo, no casamento de um primo. Mas foi apenas isto. Acho que ela nem se lembra... Mas há fotos do crime, como prova! (Risos) O meu percurso na música? Ui... Com 4 anos, de férias no Algarve, estava a decorrer um concerto do José Cid, que pediu crianças para cantarem com ele “Como o Macaco Gosta de Banana”. Não descansei enquanto não fui para cima do palco, cantar com ele. Percebi que amava palcos e que era estar em cima deles que eu queria. Fui solista no coro da escola, quando andava na 4ª classe, mais tarde, com 14 anos, entrei para os Jovens Cantores de Lisboa, fui escolhida para os Onda Choc e já estava a tirar as fotos para a capa do novo álbum, quando nos perguntaram as idades. Quando souberam que eu faria 15 dali a alguns meses, disseram-me que já era muito velha e excluíram-me do grupo. O meu desgosto foi tal que, durante muitos anos, desisti do sonho de ser cantora. Centrei-me apenas no de atriz.
Com cerca de 27 anos, por motivos pessoais, desisti dos meus sonhos todos e abri um canal no youtube, onde cantava, como hobbie. Nessa altura, voltei a fazer teatro musical, e os elogios à minha voz foram muitos. E assim renasceu o meu gosto pela música. Comecei a ir a karaokes, e havia duas músicas em que eu brilhava sempre: “Big Spender” e “Diamonds Are a Girl's Best Friend”... Ou seja, temas fortes de musicais antigos. Uma amiga começou a convidar-me para cantar em lançamentos de livros, e foi aí que nasceu a Miss Mary Dee, como um alter-ego, pois sou envergonhada demais para cantar como Maria.
Com a Luciana, estávamos num convívio, num bar de karaoke, e, já não me lembro como, fui parar ao palco, a cantar com ela “Fallin'”, da Alicia Keys, a música com que ela se revelou, no casting dos “Ídolos” (onde me tornei apoiante dela).
Quanto à Aurea, ela tem algo de muito retro nela, principalmente na sonoridade do primeiro álbum. Tornei-me fã. Quando houve um concurso para fazer um dueto com ela, não hesitei em inscrever-me... e consegui ser uma das 10 escolhidas para fazer um dueto com ela. Escolhi mal a música e, como estava a cantar como “eu própria”, fui atacada pelos nervos e a minha prestação não foi o melhor que eu podia dar. Talvez, um dia, tenha uma nova oportunidade.
4 - Falando agora do teu estilo retro; nunca te sentiste marginalizada ou posta de lado por, metaforicamente falando, seres uma viajante do tempo ou viveres na década errada?
R: Só mesmo pelo meu pai, que diz que me visto como uma velha e que só gosto de coisas de velhos (risos). De resto, nada. Também não ando vestida de pinup pela rua. Sou demasiado tímida para isso.
5 - De onde vem as tuas inspirações para compores os teus looks?
R: Basicamente, dos filmes. O cabelo da Rita Hayworth é o meu “sonho de consumo” desde pequena.
6 – Quais são as tuas referências, tanto no mundo da música como no cinema e de que modo as encarnas no teu dia a dia de pin up?
R: Na música, Frank Sinatra, Dean Martin, Doris Day, Rosemary Clooney, Ella Fitzgerald, Julie Andrews e, claro, Peggy Lee. Influenciam-me no sentido em que grande parte das musicas que canto é deles. No cinema, Rita Hayworth, Doris Day e Marilyn Monroe (e tenho um crush pelo Paul Newman). Só me influenciam no look, mas adoro o trabalho delas.
7 – Desde criança que tentas singrar no mundo artístico. Estiveste envolvida em vários projetos televisivos (participação coadjuvante / figuração em novelas) teatro e mais outros projetos; como classificarias o cenário artístico em Portugal? No meu ponto de vista, a estética ainda se sobrepõe ao talento o que me indigna um pouco: também sentes isso?
R: Bom, aos 10 anos, fiz locuções para a “Rua Sésamo”, e, aos 15, participei num concurso televisivo de revelação de novos talentos na área da representação, o “Pàtio da Fama”, apresentado pelo Diogo Infante. Quanto à tua questão, concordo plenamente. E, infelizmente, a tendência é cada vez maior.
8 – Como é o cenário Vintage/Retro em Lisboa? Sendo eu do Porto, noto que a moda vintage não é um ponto forte na minha cidade, ou mesmo uma tendência a seguir sequer. Creio que se alguém entrar num café ou shopping, adornada com uma flor no cabelo, um vestido estilo anos 60 e óculos à Marylin Monroe, de seguida perguntam-te “Where`s The Party? “: em Lisboa o universo vintage é plenamente aceite ou também sentes ainda algum sarcasmo e preconceito face o vosso modo de estar e viver em sociedade?
R: É engraçado que digas isso, pois há mais lojas vintage no Porto do que em Lisboa. Mas o povo do Norte também é mais brincalhão, em geral, por isso é possível que, em Lisboa, muita gente pense o mesmo e não diga nada. Mas já me aconteceu estar a sair da praia, com um vestido comprido, óculos retro e chapéu de palha de abas largas e passarem uns polícias, que comentaram, em tom de gozo: “Parece saída dos anos 50, daqueles filmes antigos.” Só me apeteceu rir. Se a ideia era criticar, falharam redondamente. (risos)
9 – De onde veio a inspiração para o nome Miss Mary Dee?
R: O mais simples possível. Já muita gente me chama Mary, como alcunha para Maria. E o Dee era para ser “D.” (de Duarte), mas achei que, visualmente, Dee ficava melhor. Não há nenhuma história interessante, é só isto mesmo. Que desilusão, não é? (risos)
10 – Para além de cantora vintage e a representação, também estás inserida no mundo da fotografia. Como te sentes diante das câmaras? És mesmo a Maria Duarte ou trazes para o cenário a Miss Mary Dee?
R: Para mim, a fotografia é uma brincadeira. Não sou modelo. Não tenho jeito. Poso, de vez em quando, para alguns fotógrafos, mas é mais para promoção da Mary Dee, por isso, sim, trago a Mary Dee. Principalmente nas fotos que tiro para as Retromodels (um grupo retro do qual faço parte, apesar de ter feito poucas coisas com elas nos últimos tempos), quem está ali é a Mary Dee e não a Maria. Não tenho jeito para modelo. Só tu é que consegues fotografar-me como eu gosto. A Pinky, das Retromodels, também se sai bem.
11 – Encontras-te sob a alçada de alguma agência e realizas trabalhos profissionais se assim te solicitarem enquanto pin-up?
R: Não. Trabalhos profissionais como pin-up, só fiz como cantora (uma vez com as Retromodels, outra com a Tatiana Santos – Cherry Doll – e outra a animar o concurso Miss Vintage Portugal) e como apresentadora (duas vezes) do concurso Miss Classic Doll. Mas nos concursos, fui contratada pelas respetivas organizações, e nos outros espetáculos, fomos nós a propor os espetáculos.
12 – Sei que – a par – do caleidoscópio de facetas que já mencionamos acima, és – tal como eu – uma fã incondicional do trabalho da Rede Globo, especialmente nos anos 80 e 90 e se envolver a atriz Eliane Giardini, ainda mais. Geres um fã clube da atriz, já visitaste por mais do que uma vez o Rio de Janeiro e, inclusive, já estiveste com a diva da Globo. Podes falar-nos um pouco dessa tua experiência por terras de Vera Cruz?
R: Essa foi uma experiência rápida. Estava com uma amiga, a Aline, que também é fã/amiga dela, a visitar uma igreja lindíssima, e resolvi rezar para conseguir estar com a Eliane durante essa viagem. Nesse momento, a Aline tocou-me no ombro, com o telemóvel na mão, e disse: “Amiga, desculpa interromper, mas a Eliane pediu para a gente ir ter com ela hoje.” Só me deu tempo de agradecer o milagre tão rápido e sair dali, à procura de transporte, para ir ter com a Eliane. Jamais esquecerei o olhar meigo e o abraço apertado que ela me deu quando me viu.
13 – A título de curiosidade; quais foram as novelas/ trabalhos que te marcaram mais da atriz?
R: Santinha de “A Indomada”, Lola de “Explode Coração” e Nazira de “O Clone” marcaram-me muito. Mas também adorei a Caetana de “A Casa das Sete Mulheres”, a Muricy de “Avenida Brasil”, a Anastácia de “Êta Mundo Bom” ou a Zana de “Dois Irmãos”.
14 – És tradutora profissional e – como tudo na tua vida – a arte anda sempre de mão dada com o teu universo artístico. A tua profissão levou-te até a Irlanda, onde tiveste o imenso privilégio – a meu ver – de conheceres, não só a Eliane como Malu Mader e Thiago Lacerda (verdadeiros ícones do mundo noveleiro); como foi essa experiência para ti?
R: Parecia um sonho. Foram todos tão amorosos para mim, desde o elenco à equipa técnica... Jamais esquecerei. Cheguei a ser entrevistada para a Tv Globo. Na verdade, eu fui à Irlanda de propósito para me encontrar com a Eliane... Mas, por um daqueles golpes de sorte que só acontecem uma vez na vida, a tradutora/intérprete deles adoeceu, e a Eliane ofereceu-me logo como substituta. Foi só um dia, mas a sensação foi maravilhosa.
15 – Conheces outras fãs da moda pin up ou quem assuma o estilo retro/vintage tal como tu o fazes?
R: Sim, várias. Muitas brasileiras, que só conheço pela internet, mas várias portuguesas, também. Aliás, já referi as Retromodels, que recriam os anos 50/60, e também a Cherry Doll, que tem uma banda de Rockabilly e Rock 'n Roll, a Cherry Doll & The New York Bops.
16 – Uma curiosidade minha: vejo-te sempre muito fluida e à vontade em palco: nunca costumas ter taquicardias antes de iniciares um espetáculo em piano-bares?
R: Claro que sim. Sempre. Ajuda beber um cocktail antes de cantar. Mas o que ajuda mesmo é que, a partir do momento em que o espetáculo começa, desaparece a Maria e surge a Miss Mary Dee.
17 – Já que falamos de espetáculos; onde te podemos encontrar presentemente? Conta-nos tudo acerca dos teus projetos para o futuro!
R: Há uma superstição no mundo artístico, que diz que não devemos falar sobre os projetos antes de termos a certeza de que vão para a frente. No entanto, como já foram divulgadas, aqui vão elas: vou dar aulas de Teatro Musical, ser monitora de um atelier de Teatro Musical, fazer uma peça musical, e um trio vintage acústico com a Tatiana Santos e o André Teixeira (da banda de rockabilly e rock 'n roll André & The Ducks, com a qual já atuei).
18 – Adoraria ver-te a fazer um dueto com o cantor canadiano Michael Bublé; se pudesses fazer um álbum de duetos, quem escolherias para as parcerias e porquê?
R: O Bublé, sem dúvida, e o Robbie Williams, pois são fabulosos neste tipo de música.
19 – Maria, foi um prazer puder fazer-te – finalmente – esta entrevista e digo “finalmente” porque existem questões que há muito desejava colocar-te: posso colocar-te uma última questão?
R: Podes, claro.
20 – O que dizem os teus olhos? Desculpa, não consegui resistir! (risos)
R: (Risos) Baixou o Daniel Oliveira! Os meus olhos dizem que sou uma mulher, com um lado de menina, que todos os dias se descobre e tenta ser uma pessoa melhor... e, acima de tudo, feliz.
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Entrevista: Vanessa Paquete 2018 ©
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Flyers: Vanessa Paquete
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