Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

CARTA PARA TI/ MINHA HEROÍNA, MINHA COCAÍNA... MEU VICIO AMADO; MINHA VIDA & MINHA SINA / PARTE III

DSC_0159.jpg

 

Culpo quem desta vez?


Culpo quem? Diz-me! A falta de heroína a correr-te no sangue?


Culpo quem desta vez, Afonso?


Pensei que tinhas mudado…


Não mudaste uma vírgula, e neste caso, tampouco se pode culpar a heroína ou a cocaína, o tráfico ou a má companhia…


És assim: arrogante! Não percebo o porquê da falta de humildade, com um registo histórico e familiar tão pesado, juro-te que não percebo!

 

Eu sinto VERGONHA, sim, do que foi a minha MÃE,DO QUE FEZ, DO LEGADO HORRÍVEL QUE ME DEIXOU: um ano presa, atrás das grades em Custóias (sabes o que é isso?!), um ano presa, numa cela escura, a adormecer ao som das suas lágrimas , sem a visita de nenhum familiar a exceção do meu pai, e ainda, a ter de se explicar à merda de um juiz porque escolhera a prostituição, porque escolhera vender o corpo se possuía uma licenciatura em línguas germânicas…

 

Para de dizer para não me focar tanto no passado da minha mãe; que sabes tu, Afonso?

 

Ah, as tais licenciaturas…

 

Frase proibida a minha beira: “ Eu adorava X ou Y , ela até se estava a formar e a tirar uma tese “.

 

É proibida; não sabias? Eu não me licenciei! E a minha mãe licenciou-se e acabou na prostituição.

 

DUPLA VERGONHA!

 

Eu achei que se agisse SEMPRE em PROL da defesa da minha MÃE, e não deixasse nenhum homem usar-me como uma PROSTITUTA, estaria a limpar a SUJIDADE que ela havia deixado em mim, o ESTERCO QUE FEDE E CHEIRA TÃO MAL, o esterco de ELA ter sido usada mil e uma vezes por homens e, ainda por cima, ter sido PRESA por consumo de droga. Meu Deus!!! Que VERGONHA , QUE VERGONHA, MEU DEUS, QUE VERGONHA que ela me DEIXOU inscrita na pele; uma VERGONHA tão grande que apetece açoitar-me diariamente, ou esfolar um homem vivo QUANDO ele despreza-me calca ou me troca por outra como se eu fosse um NADA!

 

Nessas horas só vejo o rosto da minha MÃE como se estivesse a olhar nas labaredas de uma fogueira e sinto uma HUMILHAÇÃO PROFUNDA, que me dilacera por completo o coração, e acredita que o CORAÇÃO doí mesmo, e o coração parte-se MESMO.

 

De dor??? Nem sempre!

 

De raiva, ISSO SIM!!! De profunda humilhação! O sufoco é tão profundo que tremes por dentro e por fora.

 

Tremem-te as mãos! Doí-te o coração. Lateja-te a cabeça.

 

Por vezes, acho que por HUMILHAÇÃO poderia esmagar o crânio de um homem ou atacar a sua jagular.

 

p_txt.jpg

 

 O que me fez desprezarem-me, tratarem-me mal… A minha MÃE não é a culpada de tudo… Tive a INFELICIDADE de ter uma madrasta a quem fui recomendada com o CUNHO de “filha de uma prostituta “, só faltava na TESTA uma marca IMPRESSA a ferro & fogo… Toda a gente ficou a saber. Praticamente toda a gente. Toda a gente menos eu que, num mundo de fantasia tampouco percebi o que se passava a minha volta, achava que a minha mãe se fora embora… Eu fui criada como sendo uma FILHA DE UMA PROSTITUTA, mas, como disseste e bem, tenho uma personalidade fora do VULGAR… Não sabia de nada / tampouco conseguia perceber o que se passava a minha volta (os maiores perigos do mundo) e era FELIZ no meu CASULO …

 

Eu só descobri tal aos 28 anos de idade! Coincidiu, infelizmente, com a minha partida do casulo paterno , valha-me Deus, como eu tive de assimilar tudo/sobreviver e medir de alto a baixo todos os homens que entravam na minha vida. Não foi fácil. Nada fácil. Sozinha no mundo, a ter de medir de alto a baixo cada pessoa que estava a minha frente, não confiando em ninguém, e depois quando confiava, abria o meu coração por completo…

 

Eu compreendi que era burra, cega, nada forte como eu me julgava, carente, que derramava litros de água por amor ou desamor e que enfraquecia neste mundo cruel…Todavia, sobrevivi, e fazendo jus a promessa que fizera a minha MÃE : nenhum homem maltratar-me-ia e, caso tal acontecesse, eu seria forte o suficiente para fugir para longe dele, manda-lo embora ou arranca-lo do meu coração.

 

Eu espernearia, se assim fosse necessário. Eu esbracejaria, se assim fosse preciso. Eu esfolaria a minha pele e o meu sangue, arrancaria os meus cabelos, arrastar-me-ia no chão com a dor, os olhos ficariam vermelhos e marejados de lágrimas, mas eu afastaria da minha vida os homens com INDOLE MÁ E CARACTER DÚBIO…

 

Gestos de carinho ocasionais, palavras doces com sabor a mel e olhos velados não iriam fazer-me perdoar a veleidade, a leviandade e a precaridade no ser humano. Poderia levar um tombo/ dois tombos/três, tombos, mas eu manteria a promessa que fizera a minha mãe; e MANTIVE daí estar solteira & sem filhos.

 

Demasiada falta de confiança, não tanto de falta de caracter ou índole dos pretendentes, simplesmente, não queria entregar a minha vida nas mãos de ninguém…

 

1-286.jpg

 

Tu és insensível Afonso (não sei aonde vais buscar aquela pessoa meiga e carinhosa que aparece DE QUANDO EM QUANDO e me abraça, cobrindo-me a testa de beijos ).

 

Não queres saber PUTO da vida dos outros: o impacto que tens nela, o que fazes o que não fazes…

 

Não queres saber de quem TE ajuda … há uma ingratidão em ti latejante!

 

Recordo-me de te ter safo com dinheiro (ou talvez tudo fosse mentira) para ires e vires a uma audiência da PJ porque, obrigatoriamente, tens de te apresentar mensalmente por teres uma pena suspensa de quatro anos, e, caso falhes, é uma nódoa negra a mais no CV que te pode colocar atrás das grades, ou acaso ter-te-ás esquecido?

 

Nenhuma pessoa da tua família te valeu nesse dia… vinte euros? Onde iriam Z. ou C. arranjarem-te vinte euros? Nem no fim do mundo! Ah, esqueci-me, agora são ricas e podem ostentar-se na rua e tu podes ir para a praia com as tuas MANAS – enquanto possuis cinco dias de liberdade arrancados a ferro à Instituição.

 

Fui eu que te vali nesse dia; EU, compreendes? E fui de cabeça erguida conjuntamente contigo até a PJ, quando OUTRA rapariga qualquer teria morrido de VERGONHA só de colocar os pés lá a acompanhar-te. Mas não a Vanessa. Não eu; e sabes porquê? Porque corre-me nas veias o sangue de uma ex-reclusa e o facto até de ser uma LECEIRA não me colocou altiva, nem arrogante… viver sozinha e ser FILHA DE QUEM EU SOU legou-me uma veia de solidariedade e ajuda para com os mais necessitados.

 

Chega; percebes?

 

Chega das tuas mentiras dominiosas!

 

Das tuas farsas ominosas!

 

BASTA!

 

CHEGA!

 

Eu não perdoo mentiras e farsas nem a minha própria sombra; compreendes?

 

Eu NÃO PERDOO! Podem ter-me arrancado tudo nesta vida, mas a minha DIGNIDADE ninguém ma arranca!

 

Eu sei o que fizeste!

 

Las-personas-drogodependientes-reconocen-peor-la-i

 

 

Sei que foste COMPRAR HEROÍNA no entretanto que nos separamos, naquele dia, ao vires da PJ (achas que não o sei?) E DEPOIS REGRESSASTE AO BUS (safei-te nesse DIA quando mais ninguém o fez e, ainda assim, utilizaste embustes de mentiras e o meu dinheiro para ires ao B.B.V comprar umas doses de heroína, visto que as de cocaína estavam no carro que se encontrava na oficina, escondidas, bem escondidas no isqueiro… e tu remoído e consumido de preocupação que os mecânicos a encontrassem.)

 

Burros…

 

Remexeram e mexeram no carro e realmente ninguém adivinhou que aquele veículo tinha cocaína escondida: a realidade da margem sul!

 

Preocupei-me contigo de uma maneira CEGA e dei-te o MELHOR DE MIM, de uma certa forma, a Vanessa compreensiva (sem perjuro ou julgamentos sobre a adição, apenas preocupação com doses excessivas e consequente overdose), lutadora (aquela que contra tudo e todos te defendia, te desculpava sempre as erratas danosas da tua vida com o meio envolvente, o legado parental, a iliteracia de toda a gente em redor, o background emocional e sociológico), aquela leoa feroz que se coloca a frente de tudo e de todos para defender alguém (quando estou iludida utilizo todos os argumentos para defender a mentira em que acredito), a amiga atenta e compreensiva ( porventura serei a única a saber muita coisa acerca de ti pois vives uma vida dupla de mentira, aonde mentes às tuas irmãs para obteres aquilo que desejas, mentes-me a mim para obteres misericórdia e perdão, mentes aos outros para OMITIRES aonde te encontras, o que fizeste, o que te aconteceu, quem és realmente, enquanto eu dou a minha cara por todos os meus ERROS). Dei-te a Vanessa generosa ;oferta de roupa,  ombro amigo para chorar, carinho, preocupação in extremis com o teu bem estar, o frio, se comias ou não comias, se a tua família implicava contigo ou não, se o teu pai (no meio de uma bebedeira) despejaria em cima de ti a sua raiva.

 

Esquecer-te-ás, que um dia, fechaste-te a chave na tua própria casa e, posteriormente no teu próprio quarto, por mais de doze horas, visto que o teu pai apanhara uma bebedeira, e atormentou-te a noite toda com ameaças de expulsão, porrada, fazendo uma pressão psicológica enorme sobre ti, entrando e saindo do anexo a noite inteira, aos gritos!

 

Valeu-te a heroína, óbvio!!!

 

Sabe lá Deus mais o quê!!!

 

No dia seguinte, quando a tua irmã me contou fiquei em pânico, enquanto ela considerava a situação algo normal, eu entrei em pânico. Na altura, era a única pessoa do teu meio que sabia que consumias heroína, uma, duas, três vezes ao dia: voltaras a ter uma recaída, ou na realidade, nunca deixaras de consumir; certo? A ideia de uma overdose começou a desenhar-se-me na cabeça. Eram dezasseis horas; ninguém te fora acordar!? Ninguém te havia visto desde a noite passada? Não atendias o telemóvel? Continuavas trancado no quarto? Não havias almoçado? Ninguém sabia de ti? Mas que PORRA de gente era aquela que não via a gravidade da situação? Era EU a única ali com dois palmos de testa?

 

Fui eu que te tirei daquele quarto; lembraste? Após uma noite de tortura em que o teu pai de queria expulsar de casa por teres ido comprar heroína ao B.B.V.

 

Embora sempre achasse que ele não possuía qualquer moral para te dizer o que quer que fosse, honestamente... mas fui EU/EU que apaziguei a situação e te arranquei do quarto as 16:30, ainda sob o efeito de heroína ou coca e a alucinar " Tem calma é só a Vanessa ! " Dizias para ti próprio em surdina.

 

 

 Afonso, eu ajudei-te (contra tudo e todos) !

 

Eu não gosto da palavra omissão; sabias?

 

Tive de lidar com OMISSÃO ao lidar com o R. demasiada omissão que considerei MENTIRA, SEMPRE A MENTIRA nos nossos caminhos de vida e contigo não foi diferente. Lá vieram as mentiras sujas, hediondas, nojentas a arrastarem-se na lama. E como eu odeio mentiras, por isso tento sempre arrancar a verdade a ferro, por muito que me doa!

 

Mariana, Lara, Teresa, Ana, Sofia, quantos nomes sem rosto de miúdas com quem havias fodido, mas havia uma que predominava no teu delírio sob efeito da heroína: a Inês! “Bolas, que já parece um maldito karma “…Nem neste fim de mundo e no inferno da coca e da heroína me safo das Ineses. Porventura, terei sido eu um dos cavaleiros, agora reincarnados, a ceifar a vida de Inês de Castro…

 

“Inês… “

 

“Já te disse mil vezes que o meu nome é Vanessa, não Inês “

 

Foda-se, quantas doses de heroína terá este gajo de tomar para não me chamar Inês.”

 

Sabes quantas vezes me chamaste de Inês, Afonso, ou esqueceste o nome daquela que estava a ajudar-te?

 

Lá estava a Inês sempre nos teus pensamentos. Chamavas-me de Inês. Falavas na Inês. Em delírio sob a heroína lá estavas tu a contar-me sempre coisas da Inês (e hoje tão pouco te recordas disso, que me falaste na Inês, incessantemente)…

 

Foda-se, Afonso, eu estive lá para ti no percurso da heroína, das fodas noturnas, nas bebedeiras, no tráfico de erva (aquela tal planta que eu, feita parva, achava um Manjerico de S.João), eu estive lá para ti nas tais raves com os friends em que me desaparecias da vista, e depois/depois estive lá para ti quando entraste em reabilitação.

 

Eu estive lá para ti...

 

O que eu QUERIA?

 

Não sei!

 

" O que é que tu querias de mim, Afonso? Quando chegaste o que é que tu querias, diz-me! "

 

Suspiraste, pausaste a frase e num arregalar de olhos disseste : " Nada, não queria nada ! "

 

Não acredito em ti, Afonso!

 

As-músicas-mais-tristes-dos-últimos-tempos-A-Gam

 

Texto: Vanessa Paquete 2018 ©

Situação Verídica: Todos os Direitos de Autor Pertencem-me ©

Fotos Principais: Todos os Direitos de Autor Pertencem aos Respetivos Fotógrafos ©