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Talvez eu seja lamecha in extremis: nunca o neguei sequer!
Todavia, aparte crítica cinematográfica mesmo, continuo a não compreender porque razão os críticos de cinema arrasam filmes que – não sendo nada exuberantes ou inéditos na sua narrativa – para algumas pessoas podem compreender um certo significado.
Já não sei se aqui entra a componente da sensibilidade pessoal de cada um, ou até mesmo a experiência existencial que nos molda o caracter e faz sentirmo-nos sensibilizados perante algo ou não.
Beleza Colateral é um filme genial?
Não, claro que não; apesar do seu elenco de luxo.
A trama central está baseada em Howard (Will Smith) que perdeu a filha de seis anos e vive bloqueado numa espiral de luto, que ameaça a empresa que fundou com o seu sócio e amigo (Edward Norton). Este, juntamente com os seus dois colegas (Kate Winslet e Michael Peña) decidem então fazer algo para afastar o amigo da empresa, alegando insanidade deste. Primeiro, contratam uma investigadora particular (Ann Dowd); ao violar a correspondência de Howard, os colegas descobrem que ele anda a escrever a três entidades: a Morte, o Amor e o Tempo, sobre a morte da filha.
Qual é a ideia do trio? Contratar um trio de atores para desempenhar estes papéis (mais concretamente Dame Helen Mirren, Keira Knightley e Jacob Latimore), fazendo com que Howard sinta que só ele os consegue ver... Pelo meio, há ainda tempo para Howard conectar-se com uma mulher em luto pela morte da sua filha (Naomie Harris, prestes a ser nomeada aos Óscar por "Moonlight"), que dirige um grupo de terapia e nos "explicará" porque é que o filme se chama "Beleza Colateral”.
A premissa essencial deste filme é exatamente contemplar a beleza colateral. Do quê? Questionem-se a vocês próprios! Quem não perde muito tempo a questionar nada acerca das abstrações da vida jamais entenderá a premissa deste filme. É um cliché antigo e recalcado? Sim, é! Mas que nos faz recordar o porquê de existir tempo para ser gasto, se produzir e construir algo, o porquê de o amor presentear-nos com algo e nos surripiar também e, ainda assim, obstinadamente, devermos acreditar que existe “amor” algures e que vamos vivencia-lo e – em última instância – o porquê de tantos questionarmos o inquestionável: a morte!
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Se Howard escreve cartas ao tempo, a morte e ao amor, eu escrevo cartas a Deus.
Sim, é verdade, escrevo cartas a Deus!
Se é uma patetice? Seguramente!
Onde as deixo? Espalhadas por várias igrejas atrás de um altar!
Pronto, voilá!
Porventura, será a mulher da limpeza que as apanha e as coloca ao lixo. Quem sabe se ela não as lerá? Quem sabe se não entregá-las-á ao pároco e ele se entretenha com as minhas missivas a Deus na hora de jantar? Será que as guarda? Será que me chama de “pateta” e as coloca no lixo? Não sei! Apenas sei que de cada vez que escrevo uma carta a Deus sinto que ele a lê, principalmente, se a colocar atrás do altar da crucificação.
Passo horas sentada em igrejas sozinha a contemplar os altares e a descansar a mente.
Não sejam tão severos com filmes que envolvem a psique humana, ainda que vos possam parecer um pesadelo. Acreditem que existem pessoas que passaram por situações muito traumatizantes nas suas vidas e que questionam o tempo, a morte e o amor…
É um velho cliché, mas daqueles que nos toca e nos faz sempre recordar a razão, pela qual, ainda batalhamos, nos questionamos e ainda buscamos a beleza colateral.
Texto & Crítica: Vanessa Paquete 2017 ©
Fotos Principais: Todos os Direitos de Autor Pertencem aos Respetivos Fotógrafos ©