DOWNTON ABBEY - SEXTA E ÚLTIMA TEMPORADA: A ARISTOCRÁTICA FAMÍLIA CRAWLEY DE YORKSHIRE DEIXA JÁ UM CHEIRO DE NOSTALGIA NO AR
O drama de época mais aclamado de sempre, Downton Abbey, chegou até aos seus fãs com um sabor a fel a anunciar já a sua última temporada no dia 03 de Novembro no canal da FOX LIFE. O tão temido desfecho das aventuras e desventuras da família inglesa mais aristocrática da ficção internacional, os Crawley de Yorkshire, vê assim o seu término do final de 2015! A série, criada pelo realizador Julian Fellowes, segue de perto já desde 2011 a vida do atribulado clã aristocrático e as desditas dos seus membros e criados; desde o fatídico naufrágio do Titanic, até o confronto com a intempestiva I Guerra Mundial e todas as mudanças que vão ocorrendo no mundo socio-politico-económico que os rodeia; desde a emancipação feminina até a industrialização, a decadência da vida rural aristocrática e afins.
A receção ao programa, desde a sua I exibição, foi predominantemente positiva e efusiva. A audiência não ficou indiferente aquele drama de época que visava os paradoxos ingleses e os seus costumes. Galoardíssima a nível de prémios, Downton Abbey, tornou-se a série de época britânica de maior sucesso desde a década de 80 e foi altamente aclamada pela crítica. Tudo naquela propriedade de Yorkshire parecia atrair o público; desde a sua narrativa, as suas personagens e até a moda que foi imergindo temporada após temporada nas belíssimas “ soirées “ oferecidas pelo clã e através da indumentária da dama de ferro da família, Lady Mary Crawley, que ousadamente vai abrindo os preâmbulos de um novo mundo para as mulheres a nível de guarda-roupa. Todavia, não seria apenas Lady Mary a erguer o estandarte feminino ao longo das seis temporadas, mas também Lady Sybil, ao batalhar pela sua emancipação emocional e pessoal ao tornar-se num elemento prático e útil durante a guerra e apaixonando-se por um subalterno rebelde (Tom Branson) que mais tarde acabaria por revelar-se indispensável a família Crawley e a própria Lady Edith que, aparte os inúmeros diferendos com a sua irmã glacial Lady Mary, viria a enfrentar o estigma de ser abandonada no altar, a dor de ser mãe solteira e – por fim – a realização profissional enquanto redatora chefe de um aclamado jornal Inglês!
Embora irmãs rivais na narrativa criada por Julian Fellowes, Michelle-Dockery (Mary) e Laura-Carmichael (Edith), tornaram-se nas melhores amigas na vida real, ao ponto de compartilharem um apartamento no centro de Londres. Michelle afirma que a amizade de ambas foi uma das melhores coisas que lhe aconteceu na vida e que são almas inseparáveis !
Por todos estes fatores chaves, a série deixa já no ar um cheiro a melancolia e impregna-nos de nostalgia. Sendo esta a última temporada da série da ITV, os fãs anseiam por um final feliz para todos os seus elementos, mas os recentes episódios deixaram a pairar no ar que tempos difíceis e conturbados viriam assolar a família Crawley e a pergunta para, a qual, todos pretendem obter uma resposta parece difícil de ser ignorada: Como será o futuro para os habitantes da sumptuosa propriedade de Yorkshire e os seus funcionários? Francamente, muito incerto! A sexta e última temporada decorre no ano de 1925, nos loucos anos vinte que anteveem o CRASH da bolsa em 1929, cujas influências no mundo socioeconómico tiveram efeitos nefastos irreversíveis na economia. Com os avanços tecnológicos, a aparição do secador de cabelo e o frigorífico serão um autêntico tema de debate constante na famosa cozinha de Miss Patmore que parece não se conformar com a invasão de instrumentos tão pouco ortodoxos para a confeção das suas tarefas diárias. Já Daisy é bafejada, cada vez mais, com a acessibilidade a educação para os mais desfavorecidos visto que a jovem cozinheira há já duas temporadas que luta por singrar na vida e aprimorar os seus estudos.
Lady Mary (Michelle Dockery), nesta sexta e última temporada, terá de tomar sob a sua alçada a terrível tarefa de gerir as finanças da propriedade da família visto que Tom Branson, numa ida e retrocesso, partirá para Boston com a pequena Sybil. Diferenças gritantes erguem-se entre Lady Mary e o seu pai, Lorde Grantham (Hugh Bonneville), que se vê as mãos com a austeridade! A tristeza de ter de presenciar o leilão da propriedade do seu vizinho, incapacitado de a manter, deixam Robert apreensivo e de sobreaviso para intempéries futuras.
Mary ficou viúva bastante cedo e o mundo inteiro ficou de luto com ela, contudo, a sua força e aparência de gelo manteve-se e esta não se conformou com os seus infortúnios, encetando casos, possíveis enlaces e deslumbrando inúmeros pretendentes que nunca conseguiram substituir o lugar de Matthew no seu coração. Mas os fãs mais acérrimos e simpatizantes de Lady Mary irão gostar de saber que nesta temporada haverá um romance com um corredor de automóveis.
Enquanto Lady Mary se debate com todas estas suas quizilas interiores, a sua aia de estimação, Anna, fica finalmente ilibada e legitmamente inocentada do assassinato do Sr. Green. É um novo começo para Anna (Joanne Froggatt) e Mister Bates (Brendan Coyle) que desta feita se verão a braços com mais um problema: a infertilidade de Anna e a luta que ela terá de travar para engravidar. Terão Anna e Bates o seu final feliz, após tantos percalços e idas e vindas da prisão? Só o guião assim o dirá!
O ambiente entre os funcionários da sumptuosa propriedade também reina num clima de tensão e medo, visto que a família Crawley terá de fazer cortes orçamentais e têm como visados o seu STAFF particular.
Mas nem tudo são desgraças e tristezas em Downton Abbey, na última temporada. Um dos casais mais austeros de toda a narrativa, verá o seu papel invertido na última temporada quando se transformam no casal mais carismático do desfecho da série: a púdica Sra. Hughes e o altivo Sr. Carson (Jim Carter), que irão assemelhar-se a dois adolescentes em vésperas do seu casamento, preocupados com a consumação do mesmo no leito. A temática da intimidade numa idade mais avançada acabou por transformar-se num dos pratos fortes desta temporada.
Outras personagens que verão o seu guião resplandecer e crescer a olhos vistos, serão Lady Edith e a coadjuvante cozinheira de Miss Patimore, Daisy que acabarão por triunfar enquanto feministas progressistas, quer em gênero, quer a nível da educação! Lady Edith (Laura Carmichael) torna-se editora-chefe de uma revista, ocupando um lugar que – por norma da sociedade – estaria destinado a um homem. Enquanto Lady Mary lida com todas as questões económicas da propriedade dos Crawley em terreno campestre, Edith abraça a sua nova vida em Londres, na cosmopolita capital, enquanto que Daisy se transforma numa mulher cada vez mais habilitada a promover a sua educação e desafiando as normas impostas pela sociedade com um voto e parecer bem afiançáveis.
Não haverá uma única personagem do elenco que conseguirá escapar as mudanças na sociedade e a tudo aquilo que vai ocorrendo em Downton. O realizador não nos garante um final feliz para todos os seus elementos, ainda assim, o clã Crawley deixar-nos-á repletos de saudades; isso é certo!
Design de Flyers: Vanessa Paquete 2015 ©
Texto & Crítica: Vanessa Paquete 2015 ©
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