MELANCOLIA & SUICIDIO ( AFINAL PORQUE DESEJAMOS NÓS MORRER? )
Falar de depressão, melancolia, saudosismo, tristeza, suicídio, seja o que for que atinja as nossas emoções bem lá no âmago da nossa essência e nos faça refletir acerca do porquê de outros indivíduos sentirem uma pungente comiseração pelas suas vidas e, consequentemente, desejarem dar-lhes um término, ainda é um tabu para a sociedade; um flagelo que desejamos evitar a todo o custo e uma espécie de conversa perniciosa e de mau agouro, quase como uma epidemia, que nos pode contagiar apenas de ser focada!
Portanto, não o fazemos!
É comummente sabido que se afirmarmos perante um futuro pretendente que possuímos essa predisposição para estados melancólicos, o seu interesse romper-se-á numa fração de segundos, a sua candura desvanecer-se-á com a nossa confissão e, amavelmente, seremos dadas logo como mulheres problemáticas. O amor ou ensejo que, outrora, nos haviam jurado ser sincero passa a ser substituído por desculpas cordiais de absentismos, incertezas emocionais e pareceres parciais: afinal de contas, ninguém deseja ter uma mulher depressiva do seu lado, não é uma qualidade atraente! Aos seus olhos a mulher depressiva passa a ser vista como um ser vulnerável, em constante carência, impermeabilidade, inconstância e demasiado sensaborona para ser apresentada a quem quer que seja. O dito flagelo também atinge os homens, não nos enganemos relativamente a isso; todavia, parecem ser as mulheres sempre as presas mais fáceis do nervosismo a flor da pele, do choro convulsivo e das redundantes dores de cabeça que parecem atingir-nos como relâmpagos.
As teorias em torno da morte de Marylin Monroe acarretam sempre um cariz conspiratório, embora, para o mundo, a atriz mais sensual do século XX tenha falecido, vítima de suícidio! Na manhã do dia 5 de Agosto de 1962, a notícia da morte de um dos maiores ícones do cinema chocou o mundo "A bela e loira Marilyn Monroe, símbolo esplendoroso da emocionante vida de Hollywood, havia morrido tragicamente, provavelmente em consequência de um suicídio; voluntário ou involuntário. O seu corpo foi encontrado nu na cama. Tinha apenas 36 anos de idade. A estrela, com um longo historial de perturbações psíquicas, tinha o telefone na mão. Junto dela, encontrava-se um frasco de soporíferos vazio", dizia uma concisa nota de Imprensa. Mas a dúvida se Marilyn havia sofrido uma overdose intencional ou acidental ficou sempre no ar, fomentado várias teorias. Uma delas é a de que a actriz teria resolvido colocar fim à sua própria vida depois de saber que o presidente John F. Kennedy desejava terminar o seu romance com ela. A actriz mais sexy da história de Hollywood viveu envolvida em vários dramas ao longo da sua vida. Filha de uma actriz fracassada e emocionalmente instável, Marilyn - Norma Jean Baker - passou grande parte da infância em lares de adopção e comunidades rurais no norte de Los Angeles.
Mais tarde, a busca pela fama e pelo amor fizeram-na percorrer um caminho duro, passando pela prostituição e por uma série de casamentos falhados.
As causas para um individuo cair nesta estado de apatia existencial ainda são desconhecidas, embora, muito se tenha estudado acerca do assunto! Acredita-se que a melancolia ou depressão advêm de uma neurose onde a premissa central gira em torno da trajetória errónea ou acertada da nossa vida e das nossas necessidades individuais mais primitivas e ocultas a face dos outros seres humanos; daí que cada caso seja um caso. A depressão em si nunca pode ser estereotipada: atinge todas as classes e todos os gêneros, contudo, ainda existe quem se ache imune a dito flagelo e repugne quem o viva.
A depressão é um colapso na nossa energia, é um não saber para onde ir, o que fazer, o que ser…
É um estado que deixa um hiato no nosso interior, uma ferida aberta, um buraco negro intransponível, e a partir daí surge um medo constante de se viver e conviver com os demais. Perdemos intimidade com todos em nosso redor porque não desejamos que estes contemplem o nosso âmago. Sentimos que não possuímos nada para oferecer ou mostrar porque se nos contemplarem a olho nu apenas irão ver uma ferida a sangrar, completamente infetada. Por vezes, silenciamo-nos e escondemos os nossos medos, demônios e fantasmas mais profundos para que ninguém possa ver o nosso íntimo e aperceber-se que não fazemos a mínima ideia de quem somos… Se as outras pessoas contemplarem o nosso vazio interior verão um louco, que não sabe para onde vai. Que nem sequer consegue escutar a sua própria voz ou seguir o seu próprio coração. Os outros verão que a nossa vida é um caos!
É triste e pungente a maneira como Quentin Bell relata o fim da sua tia escritora Virginia Woolf: Na manhã de sexta-feira, 28 de março, um dia claro, luminoso e frio, Virginia foi como de costume ao seu estúdio no jardim. Lá, escreveu duas cartas, uma para Leonard e outra para Vanessa (sua tão amada e estimada irmã). Nas duas cartas explicava que vinha ouvindo vozes há já algum tempo e que acreditava que nunca mais ficaria sã; não podia continuar a atormentar a vida de Leonard, seu marido. Virginia colocou ambos os bilhete sobre a lareira da sala de estar, e por volta das 11h30 saiu, levando consigo a sua bengala de passeio; e atravessou os prados até o rio. Leonard acreditava que ela já havia feito uma tentativa para se afogar: consequentemente, Virginia, teria aprendido com o fracasso, e estava decidida a não fracassar de novo. Deixando a bengala na margem do rio, a conturbada escritora esforçou-se para colocar uma grande pedra no bolso do casaco. De seguida encaminhou-se para a morte, " a única experiência ", dissera um dia a Vita, a sua melhor amiga " que nunca haverei de descrever ". Virginia Woolf padecia de uma série de perturbações mentais. Acredita-se que sofria do síndrome de bipolaridade. A sua sexualidade era algo ambígua e libertina. Virginia era uma leitora compulsiva. Queria compensar, em tempo recorde, o fato de não ter educação formal, universitária. Os irmãos Thoby e Adrian estudaram em Cambridge. Ela não pôde estudar lá. Ficou ressentida a vida inteira por tal fracasso. A sua saída foi ler bastante, aprender sozinha ou com o seu pai, Leslie Stephen, um homem sábio mas de personalidade frágil e difícil.Depois da morte do seu pai, em 1904, Virginia fez a sua primeira tentativa de suicídio. Muitas outras seguir-se-iam...
No ano de 2002, a atriz australiana Nicole Kindman, interpretou de um modo magistral os dilemas existenciais de Virginia Woolf no filme The Hours vencendo o Óscar para Melhor Atriz !
E quando os outros vêem que a nossa vida é um caos: o que é que fazemos nesses casos? Fingimos, obviamente! E qual é a razão para o fazermos? A verdade é que somos vistos como um bando de súcias na sociedade e para sermos aceites nos parâmetros convencionais da mesma, não partilhamos o nosso interior, apenas encenamos um teatro de sombras. Quem é que quer mostrar a sua pobreza interior? Tudo o que fazemos é encenar papéis de má qualidade onde exibimos uma vida de feitos alcançados e a certeza absoluta antes os demais que sabemos exatamente em que latitude nos encontramos, o que estamos a fazer e para onde vamos. Protegemo-nos dos nossos próprios demônios e dos demais porque raros são aqueles que são suficientemente corajosos para se abrir antes os outros com medo de serem julgados e de mostrar o seu próprio caos interior e vulnerabilidade.
Jamais cansar-me-ei de focar isto: os outros DETESTAM ter em ser redor pessoas com predisposição para se embrenhar na escuridão e, como tal, são evitados como se sofressem de uma doença infecto-contagiosa. Friedrich Nietzsche disse em tempos e bem: “ Não pensem que sou um homem feliz. Sorrio apenas para evitar as lágrimas. Se eu não sorrir, as lágrimas acabam por correr. “ A humanidade está completamente enjoada de pessoas nauseadas com as suas próprias vidas. Atitudes completamente erradas foram colocadas em prática por outros seres humanos que não são acometidos pelo dito flagelo; dizem-nos para escondermos as nossas lágrimas, para seguirmos em frente, para mantermos a escuridão a distância, para evitarmos familiaridades com pensamentos nefastos porque não conseguem lidar com a nossa angústia e desgraça interior.
Apenas especialistas no ramo e medicação apropriada poderão servir de colete de salvação, não a nós aparentemente, mas aqueles que nos rodeiam, porque a esses falta-lhes a coragem para lidar com a escuridão do outro e, uma vez embrenhados na escuridão de alguém, nunca se sabe quando poderemos ser sugados pela intempérie e sermos largados nas ondas agrestes de um mar revolto. A covardia é a resposta de quem nos rodeia face os nossos demônios. O silêncio torna-se o nosso escudo protetor e um dia o SUICÍDIO acontece, muitas das vezes, extremamente premeditado, outras das vezes, a custa de um consumo exagerado de estupefacientes para evitá-lo (irónico; não?)
Quando se pensa em poesia confessional, ou confessionalismo, um dos primeiros nomes que vêm à mente (e ao google, diga-se de passagem) é o de Anne Sexton, aquela que poderia ter sido irmã gémea de Sylvia Plath; não só eram melhores amigas como partilhavam os mesmos dilemas, aspirações e frustações pessoais o que levaria ambas ao suicidio! Anne, nascida em 1928 na cidade de Newton, Massachusetts, teve uma vida marcada pela sua luta contra a depressão, tendências suicidas e outros problemas de saúde mental. A famosa poetisa começou a escrever em meados da década de 1950, incentivada exatamente pelo seu psicanalista, como parte do trabalho da sua psicoterapia. Filha de um pai alcoólatra e de uma mãe que teve as suas aspirações literárias frustradas pela vida doméstica, Anne sentia-se completamente deslocada. Aluna mediocre, desobediente e desconcentrada, foi indicada insistentemente pelos seus professores para uma educação de cariz mais especial que, relutantemente, os seus pais não se interessaram em fornecer-lhe. A poeta Anne, ao contrário da sua amiga Sylvia, alcançou algum reconhecimento, tendo os seus poemas sido publicados em proeminentes revistas e chegou a vencer, inclusive, o prestigiado prémio Pullitzer, em 1967. Sexton agregava carisma e simpatia em torno de si e junto dos seus pares, uma empatia tal, capaz de entreter toda a gente que a rodeava. A sua beleza também não passou despercebida junto de nenhuma revista de moda da época, nem tampouco junto dos seus amigos, amantes e psiquiatras com quem mantinha variadissimas relações. Mas nada disso pareceu aplacar a sua solidão, tampouco a maternidade. Sendo vítima de várias depressões e tendo tentado o suicidio num dos seus aniversários, Anne continuou a sua luta contra a escuridão, acabando por instaurar a poesia confessional nos Estados Unidos; a sua temâtica girava em torno da morte e da complexa relação com os seus familiares. A 4 de Outubro de 1974, após regressar de uma reunião para avaliação de um dos seus manuscritos, Anne vestiu o casaco de peles da sua mãe, trancou-se na garagem, ligou o carro e suicidou-se por inalação de monóxido de carbono.
Suicídio (do latim sui, "próprio", e caedere, "matar") é o ato intencional de matar-se a si mesmo. Pensar em suicídio é entregar-se a uma busca incansável dos porquês. É refletir sobre quais sentimentos, faltas, lacunas ou mistérios rondam a nossa existência. Muitas questões surgem, como por exemplo, por que razão um individuo se suicida, o que aconteceu com aquela pessoa para desistir de viver e se matar, etecetera. Isto consequentemente leva-nos a uma busca por respostas no sentido de aliviar o sofrimento e a sensação de indignação e inconformismo, por alguém ter decidido acabar com sua própria vida.
A ideia do suicídio como um aparente desfecho para uma história de sobejo sofrimento, de um quadro depressivo, um ato de desespero ou insanidade, reacende uma discussão sobre a dificuldade que é a compreensão e a abordagem destas pessoas no desenrolar de suas tramas pessoais, além das dificuldades de deteção de sinais de desesperança, dos pedidos de ajuda, verbais e não verbais comuns frente ao surgimento do desejo de morte e da própria ideação suicida. Alterações de comportamento, isolamento social, ideias de autopunição, verbalizações de conteúdo pessimista ou de desistência da vida, e comportamentos de risco podem sinalizar um pedido de ajuda. O comportamento suicida está frequentemente associado com a impossibilidade do indivíduo de identificar alternativas viáveis para a solução de seus conflitos, optando pela morte como resposta de fuga da situação desmoralizadora.
Todos os potenciais sofredores de melancolia têm o seu sofrimento enraizado em variadíssimas causas complexas; desde fatores biológicos, psicológicos conscientes e inconscientes, interpessoais, sociológicos, culturais e existenciais. Uma série de fatores estão associados a depressão e ao risco de suicídio, incluindo a própria doença mental, consciente ou inconsciente, o uso de drogas e álcool, bem como fatores socioeconómicos. Circunstâncias externas, tais como eventos traumáticos de perda, separação, luto, falência financeira, podem desencadear o suicídio de igual modo e uma crise de melancolia aguda que nos faz desistir de viver.
A prevenção para os nossos ditos estados de melancolia vêm sempre na resposta de psicoterapia e fármacos, todavia, está comprovado cientificamente que cada caso é um caso isolado e que, muitas das vezes, a toma das ditas anfetaminas, ou a cessão das mesmas num período de “ desmame “ pode acelerar o processo de depressão, fazer com que haja uma reincidência e levar ao dito ato do SUICIDIO em si.
Eu não sou uma exceção a regra, subentenda-se! Com uma vida caótica, solitária e uma herança genética familiar de parentes com predisposição melancólicas e afetos emocionais bipolares, bem como, tendências abruptas para drogas e álcool, toda a minha vida fugi do uso de fármacos para combater a minha tristeza latente e a minha herança genética. A melancolia atingiu-me muito cedo, levando-me a estados extremos de desesperança e angústia insuportáveis! Aprendi com a minha não camuflagem da predisposição para a negatividade, que os homens odeiam mulheres da minha índole e, se porventura, se aproximam delas, fazem-no com um intuito de cariz sexual e leviano; jamais com a intenção de as ajudar ou preservá-las a seu lado como seres válidos para uma vida a dois.
Curiosamente, sendo eu um ser tétrico e soturno, sempre busquei nos homens por quem me interessava centelhas de luz e uma espécie de farol no meio do oceano que me pudesse conduzir a bom porto. Costuma-se dizer que os opostos atraem-se e – no meu caso – tal afirmação sempre se aplicou a minha existência. Nas amizades, pude constatar que o mesmo se sucedia; procurava amizades afetivas com pessoas de caracter forte e decidido, onde a constância fosse uma premissa básica. Creio que tentava extrair luz e segurança das pessoas que me rodeavam, todavia, este processo que parece algo simples, tem a contrariedade de pudermos estar a sugar vivacidade e energia a quem não a possui para dar e vender, ou seja, aprendi que deveria buscar a LUZ dentro de mim e não na circunferência dos afetos dos demais.
Não pretendo com isto utilizar clichés baratos porque jamais o faço!
Estive apaixonada anos a fio por um homem que era a minha antítese; ele era a água e o pão, o açúcar e o champanhe, um carnaval, um ser repleto de um caleidoscópio de cores. O meu contraste, evidentemente! Olhando para trás, é fácil percecionar se a minha afeição a ele e a minha exigência premente de fazer parte da sua vida: eu desejava que o seu calor se incidisse sobre a minha pele, a aquecesse e dardejasse centelhas de luminosidade para o meu coração; eu desejava alimentar-me da sua luz. Uma atitude muito literária e cinéfila, convenhamos! A sua rejeição, em contrapartida, e uma vida familiar caótica, fizeram-me experimentar os pensamentos suicidas desde tenra idade.
Mentiria a alguém que esteja a ler isto se não afirmasse que a religião foi um porto de abrigo.
Hoje, tendo-me convertido numa pagã, muitas das vezes questiono-me se não foi o meu desapego a religião que fez com que a minha vida nos últimos anos ficasse voltada de pernas para o ar. Porém, porquês e questões aparte, quando a tristeza e a melancolia se abate sobre mim tenho como foco principal as minhas recordações. Seria uma hipócrita se vos dissesse para seguirem em frente. Seria uma cínica se vos dissesse para procurarem ajuda especializada (procurem-na se acharem que esse é o melhor caminho para vocês) e também seria uma impostora se vos dissesse para sorrirem e não carpirem as vossas mágoas; chorem, berrem, gritem a vossa angústia, deixem que o vosso corpo exorcize a dor.
Reter a angústia e silencia-la é que levar-vos-á ao limite da desesperança.
Sylvia Plath ( No Limite Da Desesperança )
Na década de 60 o mundo da literatura norte-americana perdia uma das suas mais belas, intrigantes e precoces vozes dos ditames da alma: a escritora Sylvia Plath! Sylvia é uma exceção curiosa no mundo dos afetos literários. Nascida em 1932 e – aparentemente – predestinada a um futuro promissor; não só Sylvia mostraria os seus dotes literários numa idade bastante precoce como a sua mestria, perfecionismo e inteligência a transformariam numa aluna de eleição em Cambridge, todavia, seria a sua beleza resplandecente a atirá-la quase para as malhas do mundo da moda, mundo esse que Sylva narraria de uma maneira exímia no seu único romance publicado, A Redoma de Vidro (The Bell Jar). Nele, Sylvia narraria a sua própria experiência numa importante revista de moda em Nova Iorque, quando uma importante revista citadina a elegeu como a modelo selecionada para ser fotografada em Manhattan.
A bela escritora viveria desde finais da sua adolescência uma renegação face a sua beleza, isolando-se daquele mundo, ao qual, ela parecia não pertencer. Sua beleza acabaria por ser ofuscada e relegada para segundo plano em prol da sua poesia soberba. O mundo da moda, da futilidade, expressos nos trâmites da roupa e da aparência foi demasiado pequeno para a jovem loura que, doravante, dedicar-se-ia à poesia, às imagens verbais e não a sua própria imagem. Um caso único no mundo literário; uma aspirante a modelo escolheria as suas influências literárias como Dylan Thomas e Emily Dickinson para se transformar – verdadeiramente – numa dos nomes mais influentes da poesia contemporânea.
Os ditames da alma de Sylvia são sobejamente conhecidos; desde a morte do seu pai aos 8 anos de idade que Plath parecia não lidar muito bem com o mundo circundante. A sua primeira tentativa de suicídio remonta a década de 50, altura em que a metodologia utilizada para combater tamanho mal da humanidade era o tratamento através de eletrochoques! As suas perturbações emocionais impulsionam Sylvia a refugiar-se sempre na sua escrita, onde a evocação da morte é uma premissa constante. É através da sua escrita que Sylvia exorciza os seus demónios e chora a sua dor, dor essa atenuada pela sua paixão e posterior casamento com o poeta inglês Ted Hudges. Contudo, passados os primeiros enleios de paixão, a relação parece estar predestinada ao fracasso: o casamento é abalado pelo enorme sucesso de Hudges enquanto poeta e a ofuscação de Plath enquanto dona de casa/escritora. Quase que a fazer relembrar um pouco a magistral obra escrita por Richard Yates na década de 60“ Revolutionary Road “ , Sylvia não consegue aceitar as convenções sociais da época e ser relegada para segundo plano naquele sistema de vida americano. Nem mesmo a maternidade parece acalentar e dar-lhe algum conforto, muito pelo contrário, Sylvia agoniza na sua própria redoma de vidro, não consegue canalizar as suas energias para a vida doméstica e familiar.
A traição do marido e poeta Ted Hudges parece ser a gota de água e a bomba detonadora que estilhaça a sua redoma de vidro. Naquela fria manhã de Inverno do ano de 1963, Sylvia tinha o seu sistema nervoso num colapso; descobrira há meses que o marido a traia, o seu casamento tornara-se inicialmente numa prisão (dois filhos num espaço de três anos mais um aborto) e depois numa farsa de marionetas. Na manhã de 11 de Fevereiro de 1963, antes das duas crianças amanhecerem, Sylvia prepara o pequeno almoço das mesmas, veda as portas da sua cozinha para que as crianças não sofram a intoxicação e abre o gás. Silenciava-se, assim, aos 31 anos de idade, uma das vozes mais promissoras da poesia norte-americana. Muitas das vezes questiono-me que destino seria o de Sylvia se, ao invés da literatura e de uma mente intelectual, tivesse optado pela futilidade das passerelles de Nova Iorque…
Michael Hutchence (Drogas, Depressão, Fracasso E Rock & Roll)
Michael Hutchence, símbolo sexual da década de 80 e 90, a própria encarnação de toda a mística em torno de uma morte pop/rock: drogas, fracasso e rock & roll ! Michael, um músico e cantor pop australiano que sempre soube agregar em seu redor alguns dos nomes mais influentes do mundo do espetáculo como é o caso de Bono, The Edge dos U2, com os quais, coabitava, quase lado a lado no Sul de França, em Nice. A sua sensualidade e voz enlevada como um beijo que se pressiona de encontro a cavidade da nossa clavícula, renderam-lhe não só o legado de sexualidade do então falecido vocalista dos “ The Doors “, Jim Morrison, como uma legião de fãs e uma atribulada vida amorosa com algumas das mais belas mulheres do mundo artístico, como é o caso de Kylie Minogue e Helene Christensen. Michael nasceu em Sydney, Austrália, a 22 de novembro de 1960. Morreu na mesma cidade, a 22 de novembro de 1997. Guitarrista e vocalista integrante da banda de rock australiana INXS, ficou conhecido para a posterioridade como "o selvagem do rock" no seu país. A partir de 1995, Michael, empreende uma relação com Paula Yates, a apresentadora de televisão britânica BBC (e ex-mulher do cantor pop irlandês Bob Geldof), com quem acaba por ter uma filha e a quem deram o nome de Tiger Lily. A carreira do INXS fez imenso sucesso, contudo, Hutchence pareceu não lidar muito bem com a aquisição de fama, e, consequente, vida amorosa agitada advinda dela. Contudo, seria um acidente em Copenhaga, na Dinamarca, a atirá-lo para as malhas da depressão!
Bono dos U2 & Michael: uma amizade eterna!
O acidente provoca-lhe danos cerebrais que o fazem perder por completo o seu olfato e o paladar. A partir dessa altura a sua vida entra numa linha descendente e em declive. Os álbuns dos INXS não passam mais do que recordações gloriosas de feitos passados. A sua relação com Paula Yates traz-lhe problemas agravados devido ao facto de Paula ser a ex-mulher de uma das personalidades mais influentes do mundo artístico beneficente (o fundador do Live AIDS de 1985, Bob Gedfon). A depressão toma conta de Michael e este vê no álcool e nos antidepressivos uma panaceia para os seus problemas, porém, nenhuma droga parece conseguir aplacar o túnel onde este havia entrado. Nos seus últimos momentos de vida, desesperado com os seus problemas pessoais e sob efeito de álcool, drogas e antidepressivos, o vocalista dos INXS, ligou para vários dos seus amigos (incluindo Bono dos U2 e Johnny Depp). Hospedado no apartamento 524 do Ritz-Carlton Hotel, de Sydney, a 22 de novembro de 1997, Michael suicida-se aos 37 anos de idade, enforcando-se com um cinto de couro preso à porta de seu quarto. Revistado o seu quarto, o cenário era desolador, uma verdadeira amálgama de bebidas e PROZAC (medicamento que lhe havia sido prescrito para ajudá-lo a contornar a profunda depressão que vivenciava)! A par com a morte de Kurt Cobain em 1994, Michael dos INXS, foi outro dos desfechos fatídicos que – no ano de 1997 – marcaram o mundo de perdas de celebridades (Gianni Versace e Princesa Diana de Gales)! Paula Yates não aguentaria a perda e três anos mais tarde, acabaria ela também por falecer, consta-se, vítima de morte acidental de overdose, deixando Lily órfã de pais (Paula deixou para trás ainda mais três filhos da sua relação com Bob Gedfon). Bono dos U2 ficou dilacerado com a perda, especialmente, porque Michael o contatara antes de falecer, em 1997. Com a morte de Yates, Bono e The Edge compuseram “ Stuck In A Moment “ para o seu álbum de originais “ All That You Can`t Leave Behind “ e fizeram uma sentida homenagem a morte de ambos!
Dalida ( Talento E Maldição Mesclados Num Só )
Poucas personalidades do mundo artístico nos anos 60, 70 e 80 provocaram tanta emoção ao público, como aconteceu com a poliglota cantora Egípcia, Dalida. Mais de 30 biografias já foram publicadas sobre ela e a sua vida já deu origem a obras de ficção escrita, canções e filmes. Talvez mais do que por ser uma personalidade artística incomum, toda esta atenção se deva ao facto de Dalida ter tido uma vida tão gloriosa quanto romanticamente trágica. De ascendência italiana, de seu nome Yolanda Gigliotti, nasceu no Egipto, onde viria a tornar-se tornar-se uma Beauty Queen. Com o título de Miss Egipto na bagagem, parte para Paris em 1955, onde de imediato inicia uma carreira artística que será de sucesso ininterrupto. Contudo, a sua vida privada foi um mar de problemas e de sofrimento, sempre sob os olhares ávidos do público. Tendo-se ligado muito jovem ao diretor de rádio Lucien Morisse, veio a divorciar-se ao fim de 5 anos de vida em comum. Lucien Morisse viria a suicidar-se poucos anos depois, no que foi um dos sucessivos acontecimentos trágicos que marcariam a sua vida. Dalida, entretanto, passados dois anos do seu divórcio, viria a apaixonar-se pelo talentoso, mas perturbado idem aspas, cantor italiano Luigi Tenco. Depois de muitos esforços, Dalida convence-o a entrar no certame musical mais famoso de Itália: o Festival de San Remo. Na noite de 27 de Janeiro de 1967, após a divulgação dos resultados, Tenco não conseguiu aguentar a frustração por a sua canção Ciao Amore, Ciao, não se ter classificado! Enquanto Dalida e o seu staff o esperavam num restaurante, ele punha termo à vida no quarto do hotel onde se encontravam hospedados em sinal de protesto contra a ditadura italiana após a sua apresentação no famosíssimo festival. Acaba por ser Dalida, poucos minutos depois, a encontrá-lo morto no quarto.
Dalida em desespero também tenta o suicídio, um mês mais tarde, permanecendo 9 dias em coma. Numa evasão pessoal que Dalida apelidou de viagem de cariz lúdico para se refazer do luto, esta tranca-se num quarto de hotel e tenta a mesma proeza de Luigi. É socorrida a tempo pelo próprio staff do hotel que estranha a sua ausência. Uma semana depois ao sair do coma, ficou patente, para todos os seus entes mais próximos, que a bela cantora Egípcia francófona nunca mais viria a ser a mesma pessoa. Com a morte de Luigi Tenco o público de Dalida viria a demonstrar o quanto a admiração por um artista pode ser egoísta e até mesmo cruel! Daí em diante, a canção que levou Tenco à morte, tornou-se uma obrigação contratual incontornável para todos os espetáculos de Dalida. Nessas alturas, o olhar triste e vazio da cantora, e as lágrimas que muitas vezes não conseguia reprimir eram, para o público, o ponto mais alto de todo o espetáculo. O público que adorava a cantora, apreciava, em simultâneo, assistir ao espetáculo do seu sofrimento. Nos últimos anos de vida, Dalida tentou fugir à solidão em que vivia, tendo encontrado um novo companheiro em Richard Chanfray. Infelizmente para ela, este seu envolvimento não viria a ser menos problemático que os anteriores, dado que quando se conheceram ele estava a entrar num processo psicológico que o conduziria posteriormente a comportamentos violentos e à loucura. Após alguns anos de casamento com este homem, que afirmava ser messiânico, ter 17.000 anos e ser capaz de transformar metal vulgar em ouro e água em vinho, Dalida conseguiu o divórcio. E poucos meses depois Chanfray viria também a suicidar-se. Três casamentos: três suicidas! Dalida começou a questionar severamente a sua responsabilidade na morte dos seus companheiros, e, na busca de respostas para as suas questões, busca outras formas de realização pessoal, que incluiu uma viagem ao Nepal para estudar a religião Hindu bem como a adoção não concretizada de uma criança (o maior desgosto de Dalida residia no facto de nunca ter sido mãe). Apesar de toda a sucessão de dramas que viveu, Dalida conseguiu sempre manter inalterados o ritmo e o sucesso da sua carreira tanto em França, como no resto da Europa e nos Estados Unidos. Mas esse sucesso nunca lhe conseguiu dar o suplemento de alma de que necessitava para desejar continuar a viver. Um mês antes de falecer, confessou a um amigo, que se ninguém pode escolher o momento em que nasce, ela poderia, no entanto, vir a escolher o momento da sua partida. E, na verdade, a 3 de Maio de 1987, Dalida, mulher belíssima, afortunada, dotada, rica, famosa e admirada por milhões de pessoas, recusa-se a continuar prisioneira da solidão e da tristeza que o destino lhe impôs, e suicida-se com uma dose excessiva de barbitúricos. Deixa um pequeno bilhete, onde estava escrito: “A vida para mim é insuportável… perdoem-me” A sua voz e as suas capacidades interpretativas, tinham a marca profunda da sua vida conturbada. Com Dalida, a dor transfigurou-se também numa forma de arte, fazendo-nos sentir que alguns dos seus momentos mais terríveis eram, simultaneamente momentos passados para o público de forma artisticamente inesquecível. A sua interpretação de Je suis Malade no Olympia, em 1981, é disso um exemplo perfeito, pelo que tem de visceralmente emotiva a sua interpretação.
Kurt Cobain ( A Mística da Morte )
A década de 90 e a indústria do mundo fonográfico viria a ser sobejamente marcada por um tumulto intangível e de difícil compreensão para muitos dos fãs espalhados pelo mundo fora do Grunge de Seatlle: o suicídio de Kurt Cobain! Cobain viria a afirmar que Nevermind (o álbum que fez do vocalista dos Nirvana, um ícone de massas do rock, ainda que muitas das vezes relutante), era, literalmente, páginas arrancadas do seu diário pessoal, enquanto o seu primeiro álbum Bleach, era uma amálgama de letras aleatórias que lhe vieram a cabeça e ele exortou para os acordes da sua guitarra, sem pensar muito no que sairia dali. Kurt Cobain não conseguia simplesmente olhar para a sociedade e o seu próprio íntimo com indiferença e seguir com a vida, como outrora, sem lhe virem a memória lampejos de que ele, jovem artista em ascensão, acabara de se cruzar com a escuridão, e, portanto, fez o que achou melhor para transmitir à sociedade que ele tanto desprezava o seu parecer; um "wake up call" que vociferava bem alto, através da sua música, o que ele não conseguia mais tolerar ao seu redor. A morte de Kurt Cobain ocorreu no dia 5 de abril de 1994, quando o líder e vocalista da banda Nirvana foi encontrado morto em sua casa, localizada em Lake Washington Boulevard, 171, em Seattle. Embora, muito se tenha discutido em torno da morte do mítico vocalista, a verdade é que a teoria plausível de que Cobain teria sido assassinado não se coaduna, de maneira alguma, com a própria postura silenciosa e gélida de Kurt face o mundo que o rodeava nos meses antecedentes a sua morte. Não só Kurt possuía um historial comumente conhecido de depressão clínica, como o vicio das drogas também, enraizado bem no amago do seu ser, especialmente a heroína! Reza a história, que muito antes de se tornar num ícone musical, já Cobain sofria de uma acutilante dor face a humanidade, uma espécie de incompreensão quase infantil face as agruras da vida e as intempéries da existência. Já na adolescência, Cobain, havia sido diagnosticado como um jovem com défice de atenção, hiperatividade, e, na idade adulta, com proeminências e indicações de transtorno bipolar. Na sua nota de suicídio, Cobain, exulta a admiração que nutre por alguns dos seus companheiros no meio da música; o seu entusiasmo e empatia para com a profissão de músico, o êxtase de subir ao palco e encarar uma audiência, citando Freddie Mercury como exemplo e – num lamento pungente – pede perdão aos seus fãs por não conseguir sentir tamanha felicidade de estar diante deles, argumentando, inclusive, que enfrentar uma audiência é como picar o ponto numa fábrica que se detesta trabalhar. A sua nota de suicídio anunciava uma clara intenção de abandonar Courtney Love, a sua filha Frances, o mundo da música e tudo aquilo que o rodeava. A sociedade, pela qual, ele parecia nutrir tanto desprezo e incompreensão acabara de o derrotar com um tiro de espingarda deferido contra o seu crânio. A década de 90 foi entusiasticamente inspirada pela voz ácida e áspera de Kurt Cobain e, como qualquer mito que entra para a história, o seu chocante suicido no ano de 1994, só veio aumentar a mística em torno do tortuoso vocalista dos Nirvana.
Vanessa Paquete 2015 ©