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FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

TIAGO MADALENA ( III INTERVIEW ABOUT HIM AND VANESSA PAST)

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CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA DO POST ANTERIOR

 

Helena Coelho: Mas nesse Verão não. Nesse Verão detinhas autocontrolo e eras uma miúda segura. Ciente de que o Tiago não poderia oferecer-te os seus lábios a moverem-se ao ritmo dos teus, pura e simplesmente, procuraste outros.

 

Vanessa Paquete: Sim, após muito ponderar, e cansar-me verdadeiramente das nossas provocações mútuas. Se ele não tinha nada de bom ou útil para me ensinar e eu a ele, aparentemente, mais valia ficarmos mesmo naquele estado de animosidade e com aquelas saudações anti climáticas, com as quais, ele me presenteava tão frequentemente. Havias dias tangíveis, bons – na verdadeira aceção da palavra – em que a minha esperança se reacendia e conseguíamos comunicar. Existiam outros, porém, em que ele objetificava tudo, franzia o esgar e ficava com aquela expressão de gajo saturado estampada na face. No final, fui eu a ficar saturada… Porém, no ano seguinte, lá iria eu embarcar no comboio, mais uma vez, desta feita, com toda a experiência adquirida ao lado do Simão no porta bagagens e a desculpa esfarrapada que o Tiago já havia crescido o suficiente para não me franzir mais o sobrolho. Errar é humano…

 

Helena Coelho: Parece-me que eras muito mais madura que ele, ou tão simplesmente, cresceste depressa demais e desejavas tão avidamente explorar o que existia em teu redor?

 

Vanessa Paquete: Creio que a literatura influenciou-me muito. Era, como já referi, uma fã acérrima da leitura de assuntos pertinentes. Era atraída, automaticamente, para livros de cariz soturno onde assuntos como a droga e a sexualidade eram abordados. Sentia a urgência de começar a explorar o meu corpo. Não que eu quisesse colocar em prática o que havia lido compulsivamente, até porque, a assimilação do conteúdo de certos livros ensinou-me a detetar, instintivamente, onde se encontrava o perigo.

 

Helena Coelho: Daí já seres possuidora de preservativos aos catorze anos de idade?

 

Vanessa Paquete: Da nossa conversa, deves ter apreendido que aprendi algo com a turma que eu frequentava. Associa essa experiência a um estudo minucioso dos livros que eu lia. Não foi preciso ninguém dizer-me que a pílula evitava a gravidez mas não doenças contagiosas e que o preservativo também não era fiável a 100 %, mas, que para primeiras relações, continuava a ser o melhor método de contraceção. O próprio Simão foi o primeiro a mencionar o uso de preservativo. (risos) Miúdos, sim! Mas miúdos altamente conscienciosos e atentos para o mundo circundante. Talvez o destino tivesse tido a sorte de juntar duas mentes pensadoras e analíticas. Como já te referi, anteriormente, e volto a vincá-lo, creio que com o Tiago a história teria sido bem diferente. Para começar, não teria acontecido sob as circunstâncias enternecedoras e mágicas que proporcionaram o encontro da alma de dois miúdos sedentos de paixão, tesão, desejo, sonhos e ilusões…

 

Helena Coelho: O Tiago não estava a altura da situação?

 

Vanessa Paquete: (ri-se compulsivamente)

 

Helena Coelho: Não te rias. É uma pergunta séria…

 

Vanessa Paquete: Estás a perguntar-me se o Tiago não estava a altura de tirar-me a virgindade?

 

Helena Coelho: Sim…

 

Vanessa Paquete: (coloca um ar sério) Não, não estava! Ainda haveria ter de crescer muito a nível físico e, acima de tudo, de mentalidade. Ele era uma criança lindíssima. Quase estou tentada a afirmar que o Tiago era um bibelô, um daqueles ursinhos de pelúcia que queremos abraçar muito. Detinha a sua teimosia, absolutamente implacável para comigo, mas era um rapaz meigo quando a ocasião assim o pedia. Acredito que possuía os mesmos desejos que qualquer rapaz em fase de entrar na puberdade possuí, porém, não acredito que os manifestasse ou os colocasse em prática com a mesma inteligência e intelectualidade com que o Simão o fez: ele foi simplesmente brilhante. Jamais o esquecerei!

 

Helena Coelho: E nem precisaste fazê-lo, visto que, voltariam a encontrar-se aos vinte e dois e vinte e sete anos respectivamente, sendo o último encontro um script digno de um filme. (risos)

 

Vanessa Paquete: Sim, tive muita sorte em puder voltar a amar o Simão, independentemente das pessoas que magoamos à nossa volta, de nos termos magoado a nós próprios, em virtude da nossa vontade e desejo irresoluto de estarmos juntos; afinal de contas o Simão já era um homem casado.

 

Helena Coelho: Nunca se esquece verdadeiramente o nosso primeiro afeto. Diz-me uma coisa; o Simão era um Lip Gallagher nos seus catorze anos de idade?

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Vanessa Paquete: (risos) A exceção dos olhos verdes sim, são muito parecidos, embora o Simão, fosse menos dado a bebidas e tabaco. De resto, o Simão, detinha aquele ar de gênio do Lip, feições e corpo semelhante, as mesmas questões e controvérsias e, seguramente, o total apego aos seus irmãos mais novos. Era um romântico, tal como o Lip e teve as suas doses de dúvidas bem vincadas na sua existência, inclusivamente, uma tentativa de suícidio com estupefaciantes à custa de uma gaja (fica pensativa). Gênio como era, pôde diversificar entre diversas opções universitárias, embora, toda a sua adolescência - apesar de namorar e ter um claro dom inato para as raparigas - ter decidido ingressar num Seminário e estudar para dedicar a sua vida a Deus (ri-se). Saiu passados três anos imbuído numa crise enorme de consciência e dúvidas e, tal como o Lip, seguiu Informática ou Robótica (a área onde é um gênio). Creio que já conseguiste juntar as peças todas do puzzle para perceberes a minha idolatria pela série Shameless… O Simão lembra-me imenso o Lip: era um rebelde intelectual; cabelo desajeitado louro, prancha debaixo do braço, viola ao ombro e uma parafernália de irmãos (ri-se). Tal como a Mandy Milkovich fez com o Lip, também eu instalei-me na casa do Simão, e era a melhor amiga da sua irmã. O primeiro mês em que nos cruzamos e passamos a conviver, as idas e saídas daquela casa eram tão abundantes, que nos contemplávamos cheios de curiosidade, mas, entre as minhas incursões constantes com a Madalena a praia, as tarefas domésticas na cozinha que pareciam nunca mais terminar e cuidar das crianças, ainda demorou algum tempo até dirigirmos a palavra um ao outro.

 

Helena Coelho: E quando é que tal aconteceu?

 

Vanessa Paquete: Quando o Sr. Rebelde Destemido se aventurou no meio de uma intempérie a ir surfar e foi parar ao hospital com umas dores pungentes. Acabou por lhe ser vaticinada uma pneumonia grave que o colocou de cama por mais de trinta dias.

 

Helena Coelho: E tu, tal como uma verdadeira Mandy Millkovich, trataste dele; estou correta?

 

Vanessa Paquete: Sim, tal como uma verdadeira Mandy Millkovich, mas tens de retirar da equação a promiscuidade latente da Mandy. Lá porque eu queria descobrir o mundo dos afetos bem como a anatomia humana e, erroneamente, tivesse tido uma atitude de vagabunda diante do Tiago, não significava que o era, ok?

 

Helena Coelho: Ninguém está a dizer isso. (suspiro)

 

Vanessa Paquete: Tratei dele como nem eu suponha que conseguiria tratar de alguém. A medida que foi melhorando, eu e a Madalena, também nos encarregávamos de saber por onde andavam as crianças e tratávamos delas.

 

Helena Coelho: Quantas eram no total?

 

Vanessa Paquete: (fica pensativa) Hmm, deixa-me ver… Havia a Madalena, o Simão, o Pedro, a Ana, o António, a Teresa e o Daniel. Uns anos mais tarde ainda haveria de nascer a Emília.

 

Helena Coelho: Uma autêntica família Gallagher (risos). Devias sentir-te muito em casa junto deles. Afinal de contas, possuías uma família igualmente grande: quantos irmãos tinhas na altura?

 

Vanessa Paquete: Seis no total (a contar com as enteadas do meu pai). Ainda faltava nascer a casula da família, portanto, quando nos juntávamos eramos seis, visto que, uma das minhas irmãs estava sob a guarda dos meus avôs maternos e era unicamente filha da minha mãe; não havia qualquer ligação ao meu pai… A família do Simão quando se juntava eram sete, no total, a prol de filhos; sim, sentia-me em casa. (risos)

 

Helena Coelho: Lamento dissuadir-te mas temos de finalizar esta entrevista.(pausa) Acho que toda a gente vai reclamar por nos termos expandido tanto, mais uma vez…

 

Vanessa Paquete: Deixa-me só acrescentar algo a um tópico que abordamos hoje.

 

Helena Coelho: Sim?

 

Vanessa Paquete: Queria regressar ao tópico do Ivo e do Tiago serem um produto Pop Pastilha Elástica e eu, uma fã incondicional do Grunge de Seattle, vivendo sob o espectro de uma geração que sublimava altas doses de angústia e sarcasmo e que idolatrava bandas que tinham o seu foco na alienação social… Não conseguiste entender como um mundo se pode cruzar com o outro. Como uma mente conscienciosa pejada de rebeldia social se pode sentir atraída por um Cover Boy…

 

Helena Coelho: Acabaste de inventar esse termo (risos); a canção não era Cover Girl?

 

Vanessa Paquete: Sim (apressa-se a argumentar), mas não é aí que quero chegar… Eu não fui a única fã da alienação existencial a sentir-me atraída por um produto Pop Manufaturado. Noutra entrevista falar-te-ei muito mais amiúde acerca dela, até porque nos transformámos em grandes amigas com o passar dos anos. Sabes o quão boa observadora sou; não sabes? Pois bem, existia uma rapariga com o estilo, a filosofia e a indumentária toda do culto dos Nirvana. Era uma artista exímia: pintava e desenhava (retratos sobretudo). A sua paixão pelo Kurt Cobain era fervorosa, mas, o que a diferenciava dos demais é que ela era uma excelente retratista, ao ponto de conseguir uma exposição na Junta de Freguesia com os seus esboços do Kurt. Ela almejava prestar-lhe uma homenagem. Creio que desenhava desde muito nova; talvez desde os doze ou treze anos de idade, todavia, na vida real adivinha por quem batia o seu coração apaixonadamente?

 

Helena Coelho: Não faço a mínima ideia…

 

Vanessa Paquete: Pelo Tiago Madalena. (risos)

 

Helena Coelho: Continuo a achar isso uma verdadeira dicotomia!

 

Vanessa Paquete: Helena, a escuridão é atraída pela luz, a noite quer encontrar o dia, o mal deseja redimir-se e começar a praticar o bem e, seguramente, a existir, quem perece no Inferno, deseja ganhar asas e voar até ao Céu em busca da redenção.

 

Helena Coelho: Estás a querer dizer que o Tiago era a luz?

 

Vanessa Paquete: Eu fui atraída que nem um hímen para ele e queria aproximar-me dele a todo o custo. Posso até ter-lhe dado uns meses de folga entre os meus catorze e quinze anos de idade e ter ido desbravar outros horizontes (fala do Simão), mas, sempre me senti verdadeiramente feliz e iluminada a seu lado, principalmente, quando me apaixonei por ele nos meus quinze anos de idade: ele conseguia extrair o melhor de mim, não é surrealista? (suspira)

 

Helena Coelho: Mmmh…Eu sempre achei essa história surrealista! Alguém que vive algo dos onze anos até os seus, quê…trinta e quatro anos, talvez, deve ser condecorada ou vista por um psicanalista.

 

Vanessa Paquete: (olha-me sarcasticamente) … por isso é que te procurei; o que é que achas que ando a fazer contigo? Psicanálise, minha querida! (ri-se) Não te sentes verdadeiramente exausta após teres estado a aturar o meu ego?

 

Helena Coelho: Não (sorrio) Tenho um saudável desrespeito- e respeito- pelo teu próprio ego, história e passado.

 

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Uma família onde cada individuo tem uma multiplicidade de falhas hediondas. Uma família onde cada membro falha, erra e segue o caminho errado, mas, no final, todos se amam e nenhum irmão perde de vista o outro. Se eu fosse uma Gallagher e tivesse desaparecido por três anos, teria tido a vizinhança toda em busca do meu paradeiro. Um exemplo a seguir, é uma série apenas mas a MELHOR DE TODAS !

 

Vanessa Paquete 2015  ©

Helena Coelho 2015 ©