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FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

NIE PROSZE O WIECEJ



 

 

 

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 Credo, a imagem do vídeo quase parece pornografica ( visto assim de longe ), mas nada disso, é um tema que fala de algo muito singelo. Bem, na realidade, NÃO... mas como está em POLACO também ninguém vai entender o que ela está a dizer. Bolas, é verdade, existe o Google para traduzir mas aquelas traduções saiem sempre absurdas. O texto que se segue é um texto simples. Para a SEMANA tenho a II ENTREVISTA com a Helena para publicar e aí sim existe matéria interessante a ABORDAR. Adoro falar com ela. É como ir a um psiquiatra sem a agravante de ter de pagar balúrdios. O texto é acerca de uma incursão minha ao BitBar. Aliás eu poderia dizer sempre " quase incursões minhas " ao dito Bar porque ou te cheiro ou intuio algo e recuo. Depois acabo sempre por descobrir que acabaste por ir lá naquela certa noite... Ter sexto sentido é fenomenal ! Detestava algum dia entrar lá e ter de sair porta fora por tua causa. Aliás, RECUSO-ME a fazê-lo. Para que conste e fique aqui registado, se algum dia isso ACONTECER, eu nem me MOVO OK ? Tenho tanto direito de estar lá como tu, ora essa... De qualquer maneira, na próxima entrevista eu vou abordar algumas coisas acerca do BIT ( afinal de contas lá decidiu-se o meu destino por duas vezes consecutivas ). Engraçado ! Tu andas frequentemente por lá mas - no momento mais importante - é que não apareceste tu... Sabias que foi lá, numa Sexta-Feira, do ano de 2005 que, ao logo de 4 horas, a minha famosa carta de longuíssimas páginas para ti, foi revista ? É verdade ! Não te iria enviar aquilo sem um conselho sábio e maduro. E, como tudo na minha vida, à sua relevância dêem a sua relevância... A carta foi revista pela secretária do, então, Ministro da Justiça que agora é Ministro da Defesa... Só para que saibas, assuntos do Estado foram deixados em stand by durante um fim de semana para a carta ser revista  Nada como ter amigos tão fieis !!! Lá se enfiou a Rute num Alfa para o Porto com uma série de documentos atrás do Ministério para eu a ajudar nas traduções. Chegadas ao Bit foi troca por troca. " Pega lá a carta ! ", " Traduz-me essas cenas por favor ou faz a retroversão " Ficamos 4 horas no meio daquele burburinho todo, sentadas bem no centro do bar, a bebericar umas caipirinhas, casa qual em silêncio, a fazer favores uma a outra. Eu com assuntos do Estado em mãos. Ela com a carta para o Excelentíssimo Tiago Madalena. No final, o veredito foi direto e frontal, como só ela o sabia fazer ! " NÃO VAIS MESMO ENVIAR-LHE ISTO POIS NÃO? " A minha cara de ingenuidade deve ter-me denunciado pois revirou os olhos em jeito de desaprovação e acabou por contestar : " PRONTO, ESTÁ BEM, SE ASSIM O DESEJAS... CORTEI-TE AÍ UMA SÉRIE DE PARÁGRAFOS E EMENDEI-TE UMAS COISAS " , portanto, agradece a secretária do Srº Ministro a carta não ter chegado as 80 páginas

 

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            Fim-de-semana de Páscoa. O Gustavo insistiu em conhecer o Bit Bar e, como veio de visita a Leça, resolvi fazer-lhe uma incursão turística guiada (ainda que amiúde). Eu, que aprendi a ser muito discreta e cautelosa, quanto as minhas saídas em Leça, resolvi que era melhor inspecionar o local. Ato estranho para o Gustavo, todavia, aceite! Sendo conhecedora do horário do funcionamento do bar, estacionamos o jipe a porta, saímos e apreciamos a vista.                        

         - Ainda é muito cedo. Está fechado. É melhor regressarmos mais tarde! – Exclamou o Gustavo no seu habitual tom calmo de voz.

          Efetivamente, o silêncio e a escuridão denotaram a ausência de viva-alma (o local parece sempre assustador e tétrico visto desse ângulo). Sentei-me nos dois pequenos degraus que abrigam uma entrada contígua lateral de resguardo do bar. Mantive o olhar pregado na entrada, com os meus olhos a seguirem o movimento dos passos do Gustavo que, movido por uma curiosidade insaciável, espreitava por entre as gelosias e cravava o seu olhar na cor verde-hortelã do logotipo do bar. O silêncio arrastou-se. O Gustavo franziu o sobrolho e num tom calmo e complacente exclamou:

           - Voltamos daqui a umas horas – afirmou – Está fechado mas tem um ar bastante agradável…hey…tu aí…terra chama Vanessa!                                                                                            

             O seu tom de voz fez-me erguer o olhar, mordi o lábio e fixei o olhar por entre as janelas. Conclui a minha sentença, abanando apenas a cabeça em sinal negativo. O Gustavo parecia estarrecido. Estávamos em frente do bar. As luzes do jipe estavam acesas, a viatura estacionada no seu devido lugar, tudo absolutamente normal. Voltei-me para o olhar e acabei fitando-o com uma expressão de melancolia e anui:

         - Não! Hoje não me parece uma boa noite para te mostrar o bar.

         - Não? - Perguntou com um ar reticente e apreensivo, mas o seu tom de voz continuava tão calmo quanto o seu rosto.

         - Não, nem por isso! – Respondi prontamente sem perder a minha linha de raciocínio e com um tom de voz soturno que transmitia o meu ceticismo quanto aquela nossa incursão noturna.

           A escuridão e o silêncio marcavam a pausa na minha voz.

         - Como queiras. Mas estás outra vez com aquele olhar.

         - Que olhar? – Indaguei eu já bastante irritada.

       - Aquela espécie de olhar que faz os teus olhos assemelharem-se a um caleidoscópio multicor. Já a Cristina o diz e afirma-o bem; a mudança para verde nos teus olhos deixa cair sobre ti um véu quase sobrenatural. Ficas com os olhos verdes quando estás zangada ou quando pareces estar a visualizar algo – e estremeceu ligeiramente ao prosseguir com a próxima suposição – como almas do outro mundo!

         Eu continuava como os olhos semicerrados enquanto lançava um último olhar através do vidro e sorrindo, exclamei com um suspiro.

     - Antes fossem almas do outro mundo. Não quero ter de te dar explicações porque já conheces a minha intuição. Não é uma boa noite para te dar a conhecer o bar; só isso!

       Tentei manter a voz o mais normal possível.

     - Não posso ter a certeza, como bem o deves supor, mas pressinto que teria encontros desagradáveis esta noite…vá, não te rias - A minha voz tornou-se ríspida e, quando voltou a olhar-me, os meus olhos pareciam dois cubos de gelo tão frios quanto dois glaciares.

     - Já sabes que sou uma daquelas aberrações estranhas que têm uma intuição apurada, visões fora do normal e teorias evasivas acerca das minhas premonições. Se te dissesse o que estava a visualizar, limitar-te-ias a zombar de mim – salientei eu, entrelaçando os dedos nervosamente e olhando-o fixamente, como que a aguardar uma resposta. Ele olhou-me com um ar enternecedor e disse, por fim:

       - Eu lá ia zombar de ti Vanessa! Não há maneira de superares as tuas premonições, bem sei, e essas tuas atitudes evasivas na tua própria cidade. Tu tens faro. Por vezes, parece que segues o cheiro das pessoas, consegues adivinhar os seus pensamentos, os lugares aonde estão. Chega a ser assustador…

         Já com os olhos fitos na porta do jipe e abrindo-a, suspirei.

     - Pois bem, mas a mim, estas ditas coisas sobrenaturais têm-me livrado de milhares de sarilhos nos últimos anos e de encontros extremamente desagradáveis e constrangedores.

         O Gustavo deu um último relance de olhos a porta dianteira do bar, concedendo-me tempo para me recompor e questionando-me:

     - Será que é a terceira que conheço algum bar em Leça?

         Olhei-o mal-humorada, mas acenei com a cabeça e deixei balbuciar algo impercetível, com apenas um laivo de raiva e – simultaneamente – pesar na minha voz. Por fim, acabei por dizer pesarosamente com uma ponta de escárnio e sarcasmo:

       - Da próxima vez, prometo que consulto a minha bola de cristal!  

         Soltou meia dúzia de gargalhadas, com a ignição do jipe já ligada.

       - Não te rias! – Anui contrafeita e num tom quase inaudível.

       - Mas – aparentemente – Vanessa tu não precisas de consultar a bolinha de cristal – hesitou por um momento e acrescentou – é que há aí, qualquer coisa no teu interior, num cruzamento qualquer aonde alma e coração colidem, um fio umbilical invisível que te une a determinada PERSONA. Ages tal e qual uma caçadora: a adrenalina pulsa-te nas veias se o sentes por perto, consegues antever o perigo do confronto entre a presa e o caçador, consegues percecionar tudo através dos teus cinco sentidos; o teu olfato segue-lhe o rasto, a tua visão vislumbra-lhe o rosto, a tua audição deteta o mais ínfimo dos seus murmúrios…bom, deixo o tato e o paladar de fora – disse ironicamente

         Baixei o olhar envergonhada e – numa repentina mudança de humor – aturdi num tom de voz aveludado:

       - Já viste alguma caçadora fugir da sua presa…hum?

         Acenou com a cabeça em tom afirmativo:

     - Tu!

         Deteve-se, olhando para mim com um ar sombrio, enquanto a sua afirmação ia ganhando mais densidade e profundidade nas avenidas nublosas do meu cérebro.

     - Ok…ok…basta desta conversa! – Resmunguei profundamente irritada.

       O Gustavo apertou delicadamente a minha mão, afagou-me os cabelos, entrelaçando-os nos seus dedos e encostando os seus lábios quentes junto da cavidade do meu pescoço, murmurou simplesmente:

     - Vanessa…Vanessa, diz-me porque é que foges do teu passado?

       Permaneci sentada no jipe, com os olhos fitos no bar, sentindo a frieza do meu olhar trespassar as paredes de pedra e as lâminas no âmago da minha alma, cortarem-me o coração em pedaços enquanto me explicava:

   - Porque sou uma caçadora. Enquanto a minha presa estiver ao meu alcance, tentarei sempre caça-la. A sua presença há-de despertar em mim os meus instintos mais primitivos e irracionais. E – enquanto boa ser humano que sou – ao invés de tentar caçar a minha presa, fujo dela – sorrindo acrescentei – de qualquer maneira, já sabes que a minha presa não se deixa caçar e foge do meu arpão como o Diabo foge da Cruz o que só faz de mim uma caçadora ainda mais impiedosa, faminta e sedenta do seu calor.

 

Vanessa Paquete 2012  ©

 

TIAGO MADALENA ( I INTERVIEW ABOUT HIM AND VANESSA PAST )

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Estas conversas-confissões foram-me propostas pela Helena C., alguns meses após o Blogue se ter iniciado. A ideia era complementar com os meus textos algumas entrevistas pessoais, onde eu iria abrir-lhe a minha alma e desvelar-lhe algumas das razões que me levaram a criar o Blogue.

Inicialmente, recusei a proposta. Posteriormente ponderei. Acabei por prometer-lhe que acabaria por ter as minhas confissões, caso o Blogue tivesse alguma adesão, mediatismo e eu conseguisse ultrapassar a barreira dos 30 POSTS! Ultrapassada essa barreira, decidi arriscar!

Agradeço-lhe pelo seu entusiasmo, interesse e constante motivação para prosseguir com o Blogue, bem como os seus conselhos sábios e críticas analíticas e incisivas!

 

Vanessa Paquete

 

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A Vanessa não é uma mulher de meias tintas; é mais de extremos, passional, por vezes, irracional e habituada a guerras que não se importa de polemizar. Os seus escritos confundiram-me inicialmente. Não sabia para quem escrevia. A curiosidade levou a sua melhor e acabei por estreitar laços de amizade com ela. Fiquei feliz por saber que não escrevia para alguém sepultado.


As suas conversas assim mo levavam a crer: que o Tiago Madalena era, talvez, um Ex falecido, um amigo intimo que a vida arrebatara cedo demais. Ironicamente e, como só ela o sabe fazer, tratou de desmistificar a minha teoria, o que ainda só me criou mais curiosidade:

Quem era ela, afinal?

Quem era, afinal, Tiago Madalena?

Nestas confissões que foram divididas por tópicos de entrevistas semanais, ela foi-me contando tudo, como se estivesse a falar consigo própria e sem se esquivar a questões críticas. Conversas essas que, muitas das vezes, tiveram a sua ponta de polêmica e outras um clima de intimidade muita grande. Pergunto-lhe se ela se considera uma escritora. Prontamente diz que não. Remata que apenas se serve das palavras e da linguagem para recordar velhas feridas da sua alma e do seu passado. Todavia, deixou-me esmiuçar o projeto do seu livro de ficção, cujo nome não nos quis revelar.

Enquanto entrevistadora encenei uma série de diálogos que roçam na psicanalise de divã. Centrei-me em aspetos específicos da sua vida, como a sua infância, fase a posteriori, adolescência, a relação com os diversos intervenientes que figuram no seu blogue, com especial incidência no mítico e, até então, desconhecido para mim, sujeito de nome Tiago Madalena.

Propositadamente, aticei-a muitas das vezes e questionei as suas crenças político-religiosas, bem como a sua cultura e inteligência.

 

Afinal de contas, seria ela uma “ menina despeitada fútil “ a romancear um amor? Ou teria conteúdos mais substanciais no seu cérebro para além de um moreno de olhos verdes? A resposta está nos acessos diálogos que vivenciamos acerca de alguns assuntos menos romanescos. Falamos dos seus sucessos, vitórias inesperadas e, inevitavelmente, do seu fracasso também e frustrações subjacentes a carapaça que, por norma, costuma usar.

Vanessa não deixa para ontem o que deseja dizer hoje. É pretensiosa. Arrogante. Tem a sua dose bem medida de narcisismo. Talvez por saber o quão extraordinária é na posse dos seus múltiplos talentos. Talvez para combater o medo que a persegue e a tristeza de nunca ter conseguido realizar algumas das suas maiores aspirações. É uma fútil mascarada. Única e clone em simultâneo mas não pretende admiti-lo. Aliás, foge das similitudes com os seus “ pares “ e a cidade onde viveu (Leça da Palmeira) como o diabo foge da cruz, porém, se a centrifugarmos bem ela revela-se e vai-nos contando amiúde cada capítulo da sua vida.

Quis fazê-lo para exorcizar a dor. Para expurgar a raiva. Afinal de contas, aquele que ela escolhera, mal os seus olhares se haviam cruzado em tenra idade, nunca chegou para a vir resgatar. Tratou-se de uma miragem, uma utopia in concretizável. Ela não soube aguardá-lo em silêncio. Fustiga-se até hoje devido a tal. Castiga-se. É um drama óbvio e pouco incomum.

 

Sabiamente, o senso-comum manda-nos seguir em frente, caso façamos uma escolha errónea. Mas ela não. Ela alimenta o sofrimento. Vivencia a praga como um cancro que a vai matando a conta-gotas.

Quis fazê-lo pelo seu pai também.

O seu pai… uma montanha demasiado inacessível, difícil de transpor, impossível de alcançar.

Quis manter nestas confissões um carácter informal e mostrou-se um livro transparente, o que muito lhe agradeço.

Todas as nossas conversas foram revisitadas a seu pedido e sujeitas a aprovação, bem como uma correção ortográfica de sintaxe e semântica (Vanessa é uma seguidora irrepreensível do novo acordo ortográfico e do bom português) !


Helena Coelho

 

" DISPUTE NOT WITH HER: SHE IS LUNATIC " WILLIAM SHAKESPEARE

ENTREVISTA I

Helena Coelho: Fazes um retrato bastante abstrato da personagem, em torno da qual, gira o teu Blogue. As estórias mesclam-se umas com outras, ora fazendo rewind, ora fazendo foward na cronologia do tempo, e faze-lo em várias línguas: porquê?

Vanessa Paquete: Pediste-me para te ser inteiramente honesta e deixar de lado o lado erudito e a minha eloquência. Permitiste-me dizer palavrões, inclusive, para dar autenticidade ao diálogo.

 

Helena Coelho: Sim, não gosto que digam algo ou afirmem uma coisa só para ficarem bem no figurino “ como se costuma dizer “.

Vanessa Paquete: O back and forth dos textos é totalmente aleatório. Um dia, amanheço e apetece-me descrever um diálogo que tive com o Tiago na Primavera de 1995. Numa madrugada de chuva impiedosa, recordo-me de um momento de zanga ou tensão ocorrido no Inverno de 1998. Por vezes, apetece-me falar do dia em que o conheci (15 de Junho de 1991). Outras vezes, apetece-me avançar para o novo milênio e descrever o nosso reencontro em Janeiro de 2004. Falar da longa carta que lhe enviei após a morte da minha mãe no decorrer do ano de 2005, ou voltar a retroceder para 1996 e regressar ao falecimento do seu pai. Uns dias, acordo inspirada, e relato o Verão de 1994 que passamos juntos. Outros falo-lhe de reencontros em 2006 e 2007 e, muitas das vezes, do mítico jogo de futebol, ao qual, assisti em 2013 enquanto fotógrafa, da dupla edição de uma revista sensacionalista no decorrer de 2012 onde escavaquei o nosso passado. Do seu jogo contra o Sporting, ao qual, assisti no ano de 2006. Olho retrospetivamente para os momentos joviais, utópicos e também para os azedos e agridoces e, tal como um pintor, monto a minha tela, vou buscar os meus pinceis e começo a esboçar o rascunho de algo, e, assim nascem os meus textos acerca dele.

Helena Coelho: Portanto, o Tiago Madalena existe?

 

Vanessa Paquete: Claro que existe (risos)! Achas que iria inventar alguém para incidir a minha escrita?

Helena Coelho: Muitos escritores fazem-no. Não serias a primeira a usurpar um personagem. Nas nossas conversas “ off the record “ pude percecionar que não era uma invenção da tua cabeça para entreter leitores, todavia, convêm esclarecer que “ ele “ realmente existe porque muitas pessoas, como já to afirmei, acham os teus relatos algo alienados…

Vanessa Paquete: (pausa) Alienados, hein? Bom, sempre disseram que eu tinha alguns fusíveis fundidos, portanto, não me espanta tal parecer. Mas sabes? É interessante saber isso! Tomarmos conhecimento que as pessoas nos acham desconcertadas, em modo de representação, a interpretar um script(suspiro)!

Helena Coelho: Referes-te a ele, muitas das vezes, com um discernimento muito aguçado e até uma ponta de sarcasmo. Toda a tua narrativa se centra nele, em redor dele ou acerca dele: não achas um pouco obsessivo? Sendo uma excelente escritora, nunca pensaste em dividir os textos do teu Blogue por outros assuntos mais pertinentes que marcam a nossa atualidade, como política, assuntos socioeconómicos e personagens extraordinárias que deixaram o seu cunho marcado na nossa História? Vejo-te em voos muito além-horizonte e sei que deténs pareceres bem vincados acerca do mundo que te rodeia: porquê centrar a tua mente e prosa num sujeito mundano?

Vanessa Paquete: Porque amei incondicionalmente esse sujeito mundano

Helena Coelho: E o que há de tão especial nisso? Sinto-me na necessidade de te perguntar se existe algum feito notável que ele tenha feito para que nós o recordemos.

Vanessa Paquete: (gargalhadas) Por acaso, agora que falas nisso, consta que recebeu em dezembro o prémio “ Camões “ e uma distinção por ser “ poliglota “; satisfaz-te a resposta? Isso faz dele alguém digno de ser mencionado publicamente?

Helena Coelho: Estás a falar a sério ou a ser sarcástica?

Vanessa Paquete: Evidentemente, que não foi condecorado com o prémio “ Camões “ pelo nosso Presidente da República, nem recebeu uma medalha da Legião de Honra, todavia, não estou a mentir-te quando digo que lhe foram atribuídos dois prémios. Foi distinguido pela empresa, com a qual, colabora, talvez, em jeito de brincadeira, visto que se tratava das festividades natalícias, ainda assim… (ri-se) … temos de lhe dar o devido mérito!

Helena Coelho: Vê-se que não permites que ninguém galgue as barreiras do “ vosso “ mundo. Não te interessa a política nem a religião, mas sim, dissecar uma “ paixão do passado “. Consegue-se percecionar a tua obstinação em “ trazê-lo sempre a baila “ e a tua necessidade premente em defendê-lo no teu subconsciente e escrita como se te tivessem a arrancar o teu brinquedo preferido; estou certa?

Vanessa Paquete: (pausa longa) Sempre essa velha treta da obstinação e da obsessão relativamente ao Tiago. Porra! Se quiseres que eu opine acerca de política eu escrevo-te uma série de textos acerca do legado Comunista no mundo, ponho-me a dissecar acerca de Karl Marx e da utopia de uma sociedade igualitária. Ou melhor, ao invés, porque não me explicas tu porque razão o estabelecimento de uma sociedade sem classes sociais e baseada no bem-estar do proletariado adveio de um sanguinário como o Bolchevique Estaline e teve as suas raízes na União Soviética? Um país, claramente, sob o cunho de um ditador!

Helena Coelho: Houve uma “ desestanilização “ em inícios da década de 60…

Vanessa Paquete: (interrompe-me zangada) Claro que houve. A União Soviética acabou com a II Guerra Mundial e tornou-se numa potência dominadora. Não podemos deixar de lhe conceder o crédito de Estaline ter avançado com o seu “ exército vermelho “ sobre Hitler e tampouco podemos esquecer que Lenine, aparentemente, segundo aquilo que pude apurar, ao fazer com que a classe operária se sublevasse contra os czares, desejava, veementemente erradicar as idiossincrasias de gêneros e classes, todavia, Josef Stalin, tal como Hitler que acreditava que a raça ariana tinha de ser criada através da opressão, também Estaline acreditava que a instauração do Comunismo (a sua lei e filosofia) deveria ser feita através da eliminação da classe burguesa (sua principal opositora). E a erradicação do pensamento-livre foi feito a força, recorrendo aos métodos subjacentes a uma ditadura. Ponto. Sabias que os membros da sua família iam desaparecendo misteriosamente (caso se lhe opusessem)? A sua filha costumava perguntar-lhe: “ Papá, para onde mandaste o tio tal e a tia etecetera? “ Eram todos assassinados. Nada poderá apagar da História que os fundamentos de Marx e Engels foram radicalmente deturpados por Estaline e manchados de sangue. O Comunismo está manchado de sangue e opressão pelo maoísmo, o leninismo (levado a seu cabo e bel-prazer por Estaline e à sua maneira) e por Fidel Castro. Existe quem diga orgulhar-se de ser Comunista. Até compreendo. Mas, por aquilo que já pudeste apurar dos meus pareceres, vejo sempre o reverso da medalha. Conheço os alicerces do Comunismo. Como qualquer ser livre e democrata sou contra qualquer tipo de ditadura. Algumas das maiores ditaduras do mundo foram implementadas em países Comunistas, portanto, explica-me tu tanta ambivalência de políticas.

Helena Coelho: És muito suscitável quando se fala de política ou estás simplesmente zangada por ter-te desviado do teu assunto-mor (Tiago Madalena) e ter-te apelidado de obcecada por ele?

Vanessa Paquete: Ambas! (suspiro) Se quiseres também te falo de religião. Igualo o Cristianismo a um Comunismo. Os mandamentos estão todos lá (baseados totalmente em valores utópicos), todavia, foram deturpados e instaurados a força a quem se lhes opusesse. O próprio Cristianismo foi uma ditadura, em tempos, não muito longe dos terroristas muçulmanos que atacaram Charlie Hebdo. A Inquisição foi promulgada em nome de Jesus Cristo e de um Deus que não tolerava quem não fizesse parte da sua “ seita “ . Os Muçulmanos atacam a suposta “ liberdade de expressão “ com bombas e metralhadoras, enquanto que os Cristãos lançavam para a fogueira os seus opositores, faziam verdadeiros massacres (como os que ocorreram com os Templários). Ninguém está impune Helena. Ninguém é santo ou pecador. Os Muçulmanos têm escrito no livro sagrado do Alcorão para erradicarem quem se opusesse a Alá.

Helena Coelho: Concordas, então, com os ataques terroristas?

Vanessa Paquete: Claro que não! Lamento que inocentes sucumbam perante a estupidez do mundo.

Helena Coelho: Estupidez; como assim? Explica-te!

Vanessa Paquete: Hum…Não gosto de colocar sal e vinagre na ferida e por isso nunca me manifesto publicamente acerca de política, mas censuro perentoriamente o humor negro e qualquer tipo de sátira que invada a liberdade de outrem e que mexa com as crenças e valores dos demais. Dito isto, evidentemente, que um jornal satírico, cartoonista, jamais seria a minha leitura predileta. Recordo-me de ver alguns dos “ cartoons “ e de censura-los ferozmente e tampouco sou uma religiosa férrea, seja de que religião for. Simplesmente acredito no respeito. Acredito, idem sapas, na liberdade de expressão mas não daquela forma. Se jornalistas atacam com um lapís e esboços cartoonistas sujeitos que eles sabem serem extremistas, possuidores de armação bélica e adeptos da morte em defesa do seu Deus, só posso dizer-te que se colocam a jeito. Já lá existe aquela velha expressão “ You play with fire and you get burned “

Helena Coelho: Tu estás a brincar com fogo. Tens noção disso? Onde se inicia a tua liberdade de expressão?

Vanessa Paquete: Creio que estás a falar do Blogue, certo?

Helena Coelho: Sim…

Vanessa Paquete: A minha liberdade de expressão inicia-se numa linha bem concreta.

Helena Coelho: Que é?

Vanessa Paquete: A partir do momento que se inicia a minha liberdade de expressão termina a liberdade do Tiago.

Helena Coelho: Era aí que queria chegar. Gostaria de aprofundar essa questão, sem cinismos a mistura. Redigi-lhes textos reveladores e românticos, todavia, propus-te irmos mais fundo, até ao âmago da estória, dissecar os esqueletos, entregares-te de corpo inteiro, remexer nas axás e atear-lhes fogo, por assim dizer.

Vanessa Paquete: Estou a fazê-lo em concordância contigo.

Helena Coelho: Sim, eu sei , mas estás a comprometer a liberdade de outras pessoas ao passar por cima de alguns episódios mais íntimos das suas vidas. É a tua liberdade de expressão contra a liberdade de terceiros. Não pensas até que ponto podes enfurecê-los?

Vanessa Paquete: Repara numa coisa. Desde os meus 15 anos de idade que prometi a redação de um livro acerca do Tiago e era uma rapariga impúbere que apenas havia feito sexo uma única vez na vida, todavia, no meio da minha “ meninice “ imatura, já sabia e tinha consciência que havia de escrever muito acerca do Tiago. Chama-lhe premonição. O que quiseres. Não é uma coisa assustadora?

Helena Coelho: (risos) Não te consigo imaginar imatura aos 15 anos de idade depois de teres lido “ Quo Vadis “ duas vezes seguidas, “ Os Filhos da Droga “, seres fã incondicional de Sophia de Mello Breyner, Florbela Espanca e após teres perdido a virgindade com catorze anos apenas para um rapaz de treze. (risos)

Vanessa Paquete: Pronto, talvez fosse madura, com alguma dose de perspicácia e sensatez. O que eu quero dizer com isto é que, desde muito nova, lhe prometi dedicar-lhe os meus pensamentos mais íntimos, os meus segredos inconfessáveis. Não se tratou de uma negociação onde ele teve direito a voto ou a vetar a minha decisão. Tratou-se mais de uma imposição. Todavia, fi-la, tão-somente após me certificar que “ entre nós “ existia apenas desconforto, nada de palpável e jamais uma estória aconteceria. A partir do momento que deixei de almejar ao seu amor enfiei na cabeça a ideia de que não poderia ser um nome “ para esquecer “ no corredor da sua existência. O meu nome tinha de ficar registado nas entrelinhas da sua vida.

Helena Coelho: Então tens sido tu a batê-lo “ round “ após “ round “ por aquilo que consegui perceber, ou é o oposto? Sabes? Vejo a tua estória com ele como uma “ tragédia cómica “ porque tem laivos de comédia à mistura. É algo triste, mas, simultaneamente, interessante. Ele corre atrás da vida. Tu permaneces nos apeadeiros das estações. Todavia, vocês são parecidos, já reparaste nisso?

Vanessa Paquete: Parecidos como?

Helena Coelho: Nas “ nossas conversas “ falamos muito das vossas parecenças e diferenças.

Vanessa Paquete: Que eu julgo serem um bilião…

Helena Coelho: Espera, deixa-me acabar! Estranhamente, é muito similar o teu percurso com o dele a nível amoroso e estético. A partir de uma determinada fase mais adulta da tua vida, creio que muito influenciada pelos seus estereótipos, a tua idade da inocência findou, o sexo exaltou-te, a beleza idem aspas, descobriste-te a ti própria ao imaginares que poderias recuperá-lo. Começaste a celebrar a vida, tal e qual, o Tiago o fazia. Ele um Casanova ou um D. Juan, como lhe queiras chamar. Tu, uma caçadora emocional de homens. A adulação assentava-vos bem. A bajulação também. Ambos eram muito bonitos. Pareciam demónios incarnados que povoavam a mente de quem se aproximava de vocês. Ele com os seus olhos verde topázio…

Vanessa Paquete: Castanhos… (risos)

Helena Coelho: Adiante…Verde topázio… Tu com os teus olhos azuis celeste. Era como se ambos tivessem o mundo a vossos pés. É muito interessante regressar a este capítulo da tua vida, em que tu terminas um noivado de 7 anos, regressas a Leça, sem quaisquer pistas de como poderias concretizar o teu desejo de ter o Tiago, mas faze-lo por amor e, todavia, dizes ter sabido aos 15 anos de idade que nada existiria entre vocês, Estás a praticar a arte da desonestidade e da imodéstia para comigo. Tu acreditaste que poderias inverter o decurso dos vossos destinos. Contraria-me se estiver errada. Tu acreditaste.

Vanessa Paquete: (longo suspiro) A exceção dos 34 anos. Ai só mesmo num livro de ficção. A estória já fora longe demais. Porém, não possuo filhos. Não me casei. Pareço uma “ songbook “ extremamente batida. Um disco riscado. Como te disse, em conversas mais intimas, era-me penoso estar no mesmo universo que ele ou num próximo sequer.

Helena Coelho: Por isso te mudaste para Lisboa aos 33 anos de idade, vinte e dois anos após o teres conhecido?

Vanessa Paquete: Efetivamente! Tornei-me uma espécie de Anticristo com rancor da vila onde vivia. O sangue latejava-me nas têmporas de tanto esbater com a cabeça contra o muro. Envolvia-me em brigas verbais com toda a gente. Protestava contra tudo e todos. Não detinha o mínimo de equilíbrio. As minhas discussões eram ruidosas e em altos decibéis. Era difícil de acreditar que já ia a caminho dos 34 anos de idade e custava-me a admitir que eu virava uma diaba, encolerizada com Deus. Sentia-me tão revoltada…

Helena Coelho: Raiva e encolerizada com o quê?

Vanessa Paquete: Com o vazio… a minha vida era um vácuo…um mar de solidão. Eu precisava de pessoas em meu redor. Muitas pessoas. Desperdiçara talentos, abdicara de amizades e amores. Perdera sustento familiar à custa das minhas decisões emocionais. Subestimara as minhas capacidades. Jogara empregos importantíssimos pela janela fora. Sentia-me uma nulidade: a sem-absurdo da família Paquete!

Helena Coelho: Certo, mas todos nós a uma dada altura das nossas vidas, passamos por crises, não?

Vanessa Paquete: Sim, mas não de uma envergadura tal como aquela. Ainda não conheci ninguém que perdesse tudo ao mesmo tempo. Foi um duro golpe para mim depois de ter batalhado tanto para singrar em determinados campos da minha vida. É complicado exprimi-lo por palavras, compreendes? Existia um compromisso para comigo. Uma promessa que eu havia feito e no ápice da intempérie quebrei a promessa, desonrei o compromisso e não consegui fazer absolutamente nada mais por mim própria; o que é algo decadente e patético. Por vezes, sinto-me como uma alcoólatra ou um toxicodependente em reabilitação, cheio de falhas no seu caracter e espirito, com todas as fraquezas espalhadas pelo seu corpo, a não conseguir trazê-las cá para fora, a combate-las e, consequentemente, a sentir-se um “ pedaço de merda “ (suspira e põe-se a trautear alguns trechos de “ Born Of Frustation “ da banda britânica “ James “ )

Vanessa Paquete: Sabes? Durante anos, no auge do meu narcisismo (ri) costumava acreditar que Tim Booth havia escrito esta tema propositadamente para mim : “ Eu não preciso de um psiquiatra mas sim de um exorcista. “ Não achas uma frase de génio?

Rio-me com o seu aparte sombrio e cinzento…

Helena Coelho: Sim, os James ainda continuam a ser o “ guilty pleasure “ de muita boa gente, mas, voltando ao tópico do teu autodesprezo, tu nunca foste adepta de vícios e és apologista de uma vida saudável – não fumas, não bebes, não consomes cafeína, tampouco chá verde, nem bebidas gaseificadas ou fast-food. Sinto-me tentada a colocar-te esta questão: és Mórmon?

Vanessa Paquete: Ora aí está uma questão pertinente, a qual, não consigo chegar a um consenso. Se calhar sou! Nahhhhhh, estou a brincar. Os Mórmons são extremamente duros e disciplinados para consigo próprios, sabias? São uma boa filosofia de vida a seguir, mas vivem num clima de auto-adoração da sua religião e submissão aos seus valores. Quem se desvia um milímetro que seja dos dogmas impostos é convidado a desenraizar-se da comunidade. O mundo deles é algo ambíguo e estranho. Até pregam sábios conselhos como o culto da mente e do corpo através da pureza e desintoxicação alimentar que eu muito prezo, mas, possuem regras inflexíveis como a estranhíssima preservação da virgindade, em pleno século XXI, até o dia ridículo do teu casamento. Não veneram santidades (princípio que eu apoio), tentam interagir bastante com a comunidade, toleram que os seus sacerdotes sejam casados, por norma, quem lidera a comunidade possui sempre um cargo de destaque a nível profissional como médico, engenheiro, economista, arquiteto etecetera…


Helena Coelho:
…parecem-me algo capitalistas…

Vanessa Paquete: (risos) E são-no! Praticam a lei do dízimo. 10% do teu ordenado vai diretamente para a comunidade. É fantástico, não? Se reparares bem, segundo as leis deles, eu jamais poderia ser Mórmon…

Helena Coelho: Ohhh… Sim, estou a ver… Já perderas a virgindade – vezes sem conta, não? (risos)

Vanessa Paquete: Não, nada disso! Tal “ desvio espiritual “ cura-se com a entrada na religião e o teu batismo que é processado através de um ritual algo sagrado e muito específico, onde mergulhas toda a tua alma (bem como todo o teu corpo seminu) numa pira batismal de tamanho XXL. Lá deixas todo o teu passado, bem como o teu existencialismo amargo. Renasces purificada diante de uma plateia excitada que dá bênção aos céus por mais uma alma se ter juntado a comunidade.

Helena Coelho: Queria regressar ao tópico inicial (o intuito do Blogue), mas, definitivamente, o que tu não demonstras no Blogue através da tua escrita, exprime-lo bem uma conversa up-close & personnal. Acabei de me aperceber que foste Mórmon, é verdade? Desculpa se estou a insinuar algo estúpido mas conheces a religião muito a fundo…

Vanessa Paquete: (ri-se em gargalhadas estridentes) … Quase Helena, quase! Levaram-na na certa mas perderam qualquer credibilidade junto de mim com o pedido do dízimo, todavia, sim, fui Mórmon, confesso!

Helena Coelho: Achava-te Cristã. Não porque mo tenhas dito, mas, devido a algumas conversas que tivemos. Se fizeste parte da comunidade Mórmon o que te levou a desistir do culto?

Vanessa Paquete: Tal como já te referi, aparte a solicitação do dízimo, possuem uma excelente filosofia de vida a seguir que recomendo a qualquer pessoa. Conselhos básicos e práticos que podem salvar uma vida (na verdadeira aceção do termo). Cada família deve possuir uma espécie de bunker clandestino em casa com mantimentos extra…

Helena Coelho: … desculpa interromper! Um bunker? Em caso de haver um dilúvio tipo a Arca de Noé ou a chegada do Armagedão? Não fazia a mínima ideia!

Vanessa Paquete: Não. Tudo isso advém da literatura cristã que vais lendo (o dilúvio, o tão esperado Armagedão), são parábolas que aprendemos a assimilar. Como já te disse, são uma religião voltada para o lado prático da vida. Os mantimentos e o bunker são obrigatórios em cada família que pertença a comunidade Mórmon e advêm da ideia (absolutamente realista) de que poderá ocorrer uma III Guerra Mundial ou algo do gênero.

Helena Coelho: Hum…parece-me inteligente. Mas não me respondeste. O que te levou a desistir do culto?

Vanessa Paquete: (risos) Enamoro-me muito facilmente. Quantas vezes teria eu de entrar naquela pira batismal? Já para não falar que não poderia proferir mais junto dos meus “ irmãos “ o meu passado; o que significaria não pronunciar mais o nome do Tiago. (fica pensativa) A água lavaria a minha alma, far-me-ia conhecer a verdade e a verdade libertar-me-ia (supostamente). Porém, continuei com os mesmos grilos na cabeça e a sentir borboletas no estômago de cada vez que olhava para uma fotografia do Tiago numa rede cibernauta. Para além disso, amando um platonicamente, nunca abdiquei de amar outro em simultâneo fisicamente. Tinha um coração tipo T3 Duplex (cabia lá muita gente). Era indigna da religião!

Helena Coelho: Levou-me algum tempo a inquirir-te acerca dos teus momentos mais íntimos; estavas relutante em responder-me. Não querias armar confusões. Agora sinto-me andar aqui às voltas com as perguntas na cabeça e, a medida que vamos conversando, não consigo arranjar uma linha condutora de raciocínio…Sinto-me perdida… E sou meticulosa…

Vanessa Paquete: É! Falar comigo dá sempre pano para mangas (risos). Mas porque não regressamos ao princípio para finalizar esta primeira entrevista.

Helena Coelho: Mmmh…ok (pausa)! Não me respondeste ainda a algumas perguntas. Porque razão escreves em múltiplas línguas?

Vanessa Paquete: Porque sou uma exibicionista! Repara, passei 9 anos da minha vida numa secundária a fazer “ puto “, à exceção de derramar rios de lágrimas, pelos corredores da escola, por um rapaz que nunca se deu ao trabalho de… (para de repente) ah… sei lá… Ia dizer que nunca se deu ao trabalho de olhar sequer de relance para mim, mas isso seria uma mentira porque nós fomos colegas de turma. No mínimo de bloco. Falamos. Convivemos, Evidentemente, que teve de olhar para mim. Mas, o que te queria dizer é que eu estava tão consumida pela minha “obsessão” como tu própria a apelidas, que esqueci-me de elaborar um projeto para o futuro. Estava tão fascinada por ele! Nunca tinha conhecido ninguém como o Tiago. (os seus olhos brilham)

Helena Coelho: … ao ponto de te esqueceres de ti…

Vanessa Paquete: O Tiago era o tipo “cool” da secundaria. Vestia-se com mais estilo que qualquer outro rapaz, e tal, na altura, constituía um feito extraordinário. Nós não estávamos ao mesmo nível. Existiram sempre fortes discrepâncias entre nós; em termos de elegância no vestir, na estética e ao nível do conhecimento.

Helena Coelho: Queres dizer que ele era superior a ti? Significa o quê, o que acabaste de dizer?

Vanessa Paquete: Se existisse um sistema de castas ou hierarquia a nível estético o Ivo e o Tiago estariam no topo da cadeia alimentar. Têm, ainda hoje, e sempre tiveram uma excelente aparência. Uma elegância inigualável. Pareciam-se muito com estrelas de Hollywoood. Via-os entrar pela porta dianteira do Bloco e parecia que o faziam em slow motion, nunca colocavam um pé em falso, nunca perdiam aquela sua postura cool…

Helena Coelho: (risos) Não estarás a exagerar?

Vanessa Paquete: Não, não…acredita! Eles eram um cocktail perfeito para a década de 90. Aliás, o Ivo e o Tiago eram a perfeita incarnação da mística pop da era que a nossa geração vivia: lustrosos e brilhantes! Eram um Pack Deluxe (abençoada mãe) !

Helena Coelho: Tenho tentado conter-me com algumas das tuas observações e tento encarreirar a entrevista para um segmento sério, mas, desculpa não consigo parar de rir com o teu encantamento tóxico por essas duas personagens. É hilariante a maneira como falas deles. (gargalhadas)

Vanessa Paquete: Ainda existe uma pitada de humor em mim; continuamos?

Helena Coelho: Sim… E tu, como eras? Não tinhas esse ar fabuloso?

Vanessa Paquete: Díspar deles. Antagónica esteticamente. E, muito provavelmente, seria classificada como a parte “ não-comestível “ da cadeia alimentar. Todavia, ganhava-lhes num ponto.

Helena Coelho: Que era?

Vanessa Paquete: Eu conhecia todas as palavras certas. Sabia como proferi-las. Escrevê-las. Tinha todo o léxico próprio de uma escritora, mas, ainda assim, sabia dominar a gíria comum. Movimentava-me bem entre os dois mundos. Tinha um visual horrível e agia enquanto uma “ out cast “ mas a minha escrita e poesia possuíam a terminologia correta e, devido a tal, passavam-me ano após ano, nem que detivesse notas para chumbar. O Ivo e o Tiago não detinham esse privilégio.

Helena Coelho: Queres dizer, então, que a beleza deles encantava mas não os iria levar longe?

Vanessa Paquete: Sim…

Helena Coelho: Tu vieste da classe média alta e os irmãos Madalena de uma classe mais proletária: isso causou fricção entre vocês?

Vanessa Paquete: (inspira profundamente) Podemos deixar esse tópico para outra entrevista? Há muito a dissecar nele.

Helena Coelho: Como queiras.

Vanessa Paquete: Mas, recuando ao que estávamos a falar, existiam céticos veementes, ou invejosos (nunca o conseguiremos saber) que afirmavam a pé juntos que finda a beleza com o passar dos anos, e a carreira futebolística que (creio) ambos pretendiam empreender, o Ivo e o Tiago acabariam pendurados na grua de umas obras quaisquer da periferia a mandar piropos grotescos as “ babes “

Helena Coelho: Jura?

Vanessa Paquete: Sim, todavia, creio que ambos aperceberam-se que o status de veneração, adoração e deslumbramento não chegaria para singrarem na vida. Ser cool não era uma profissão nem ajudava no empreendorismo existencial. Muita gente podia gravitar em torno deles por terem o peito inchado e o ego mais ensaboado que uma safira preciosa, mas, tanto um como outro sabiam que, a dada altura do campeonato, iriam ver no placar “ Game Is Over “ e aí já não poderiam esconder-se mais por detrás dos óculos de sol que tanto estilo lhes davam. Acho que eles aprenderam a ver a equação por inteiro; tinham de reeducar-se, aprimorar o vocabulário, alargar a sua circunferência de amizades e incutir nela pessoas com qualidades que os obrigassem a perceber que, para além da beleza, eles possuíam um dom e esse dom poderia fazê-los crescer enquanto seres-humanos e indivíduos bem-sucedidos na vida.

Helena Coelho: De que dom estás a falar?

Vanessa Paquete: Eles eram radicalmente cool e extremamente descontraídos. Não eram académicos mas aperceberam-se que poderiam sê-lo. Que a sociabilidade os poderia ajudar a atingir metas, mas que a inteligência e o alargar de horizontes os manteria um nível acima da média e do esperado. Torná-los-ia impecáveis! E assim o fizeram…

Helena Coelho: Parece-me que chegaste a vivenciar as mesmas experiências que eles; estou certa?

Vanessa Paquete: Sim, mas num sentido inverso e ao jeito de “ montanha-russa “. A uma dada altura da minha vida fui tão solicitada e bajulada quanto o Tiago. Por vezes, sinto que Deus me fez bonita por uns anos para me dar a conhecer o que era estar na pele do Tiago Madalena !

Helena Coelho: E como era estar na pele do “ Tiago Madalena?”

Vanessa Paquete: (risos) Deixamos isso para outra entrevista?

Helena Coelho: Está bem… Numa próxima incursão ao teu mundo veremos as coisas por um ângulo diferente; pode ser? Gostaria que te colocasses na pele do Tiago, que despisses esse teu manto de tabus e trouxesses ao de cima o teu lado santificado e demoníaco.

Vanessa Paquete: Ainda mais? (risos)

Helena Coelho: Não quero que abordes a estória de um prisma preto-e-branco, tampouco acinzentado. Todas as coisas más têm um lado iluminado e todas as coisas boas têm um lado obscuro e vice-versa. Tu acendeste um rastilho… Deixa agora que ele arda!

Vanessa Paquete: Eu simplesmente estou a tentar dar a volta a escuridão.

Helena Coelho: Ok, se tu o dizes… Faltam duas perguntas para terminarmos este diálogo. Ainda não me respondeste: quem anda a vencer round após round?

Vanessa Paquete: Olha, vou ser-te honesta. Sou uma pessoa que se agarra aos seus princípios e convicções. O Tiago é, igualmente, obstinado mas um obstinado diplomata e avesso a queixumes e lamúrias, muito menos, dramas de cariz greco-romanos. O gajo é um sacana de um católico com boa índole. Não interessa se é boa ou má rês por ter uma parafernália de mulheres atrás dele. O tipo tem todo o direito de tê-las pois é um sujeito disponível, que causa empatia, é agradável e não é reacionário, portanto, o Tiago nunca esteve no ringue comigo Helena. Ele é um pacifista. Eu ando a lutar contra moinhos de vento invisíveis, mas, caso o Tiago tivesse entrado na arena comigo com o propósito de se gladiar contra mim, claramente, teria ganho ele a batalha. Ele ganhou-me logo no primeiro round ao arrebatar-me o coração.

Helena Coelho:… poético! Vais continuar estas conversas comigo?

Vanessa Paquete: Se não cobrares (risos)…

Helena Coelho: Negligenciamos muitas questões nesta primeira entrevista. Outras mais virão. Estás disposta a responder a todas as questões que te colocar mesmo que causem controvérsia ou desconforto em algumas pessoas?

Vanessa Paquete: Olha, vamos fazer um jogo. Fecha os olhos. Imagina-me de coldre e botas de cowboy, com um colete a prova de bala a com uma GM de 57 m/s na mão e VOILÁ, estou pronta para o duelo. (risos)

Helena Coelho: (pausa) Prefiro imaginar-te em termos mais harmoniosos, mas, creio que isso responde afirmativamente a minha questão. Podemos despedirmo-nos com uma canção?

Vanessa Paquete: As always! (sorri de orelha a orelha)

 

Helena Coelho 2015 ©
Vanessa Paquete 2015 ©

 

 

 

 

 

 

EVERYONE WNATS TO RULE THE WORLD

 

 

 

É estranho sabes? Essa tua mudança de vida! Habituamo-nos a algo e lá vens TU e trocas-me as voltas todas. Isto dito por alguém que mudou-se para 420 Kms de distância de ti e fez a maior mudança de vida que pode existir, certo? É estranho, só isso… Só no mês de Dezembro estivemos fisicamente duas vezes no mesmo local o que torna tudo ainda mais estranho. Momentaneamente sou sulista. Conheço os cantos a casa, o Hotel onde ficaste, aquele restaurante etecetera! E na noite de 20 de Dezembro estive a centímetros de ti. Vi-te. Avancei. Recuei instintivamente. Fiquei do lado de fora do Bit a remoer. Eu não costumo fumar mas no ápice do momento, dei uns tragos! Seria hora de vos enfrentar? Seria hora de vos mostrar que me eras indiferente e que não tinha medo? Ou eu iria, tão simplesmente, arruinar a tua/vossa noite? Como sempre, vieste TU em primeiro lugar … Murmurou-me a minha consciência: “ Deixa-o lá divertir-se. Tu vais ficar com um nó na garganta, em sobressalto, transfigurada. Ele apreensivo. Não é bom nem saudável, nem para ti nem para o Tiago. Um dia, talvez, quem sabe, se espetem um contra o outro numa esquina quando menos ambos o esperarem e aí nada poderão fazer, mas, por enquanto, se puderes evitar a dor de o ver fá-lo! “ Acreditas na voz da consciência? Eu acho que era a voz da minha MÃE (já falecida)!

 

 

Sabes? Habituei-me a companhia das palavras, a escrever-te e a fazer-te estas confissões. Fico sempre com a sensação que falta dizer-te o essencial, que o mais importante ficou por dizer, retido, algures, num fragmento da minha alma!

 

Hoje vou falar-te, como sempre, sentada à beira mar, com a minha música a rodar no PC, e sem um único intruso admitido no meu momento de peregrinação interior. Vou falar-te de coisas sérias. Relaxa. Vai buscar um café. Acende um cigarro. Traz o restante maço para a tua beira.

 

Eu possuo algum talento para encontrar pessoas com quem descubro quase instantaneamente múltiplas afinidades e outras em quem revejo, imediatamente, um choque interino de personalidades! A Mafalda é um desses casos. E eu nunca desgostei dela. Que razões teria para o fazer? No mínimo, a sua cegueira e burrice é tão grande que a gaiata nem se apercebe que quando lhe escrevi estava a tentar apelar a sua ajuda e piedade; afinal de contas não é ela a tua melhor amiga?  Interpreta inequivocamente o que lhe escrevo e diz que ameaço a sua filha (uma criança)! Como poderia eu ameaçar uma criança? Eu recordo-me explicitamente bem do que lhe escrevi. Que me acuse de manipulação psicológica, até aí acarreto com as CULPAS e aceito a acusação pois sei perfeitamente bem que a tentei USAR para me desculpar perante ti.

 

Recuemos!

 

Como sempre, e distraída, da maneira que sou, apenas no início do ano de 2014 soube da situação.

 

Fiquei tão encolerizada que foi preciso agarrarem-me para não apanhar o primeiro Alfa para o Porto e seguir para Leça com a intenção de lhe perguntar onde tinha eu ameaçado a sua filha. O problema ainda me encolerizou mais porque toda a gente possuía o meu telemóvel, o meu FACEBOOK, e bastava perguntarem-me a mim a questão e não ir “ incomodar “ o meu primo João Carlos (que parece ser o Al Capone de Leça, visto que ser sua familiar me traz vantagens incomensuráveis).

 

Sem sombras de dúvida, o João Carlos, detêm muito poder em Leça. Foi preciso perguntarem-lhe primeiro a ele se a “ dita-cuja “ lhe era alguma coisa, ao qual, ele respondeu que sim o que – aparentemente – significou não “ levar “. Ditas explicitamente estas palavras pelo João Carlos eu recordei-me de todas as vezes que ia a Leça: o meu PAI tinha medo por mim! Comentou por diversas vezes com o Gustavo que punha as mãos no fogo por ti e pelo Ivo (vá lá) mas que não confiava absolutamente nada nas pessoas que te rodeavam.

 

O meu pai andou apavorado uns tempos. Nunca cheguei a compreender se alguém o havia ameaçado ou não. Ridiculamente, EU, não só residi em Leça (vocês saberiam isso?) nos seis meses que se seguiram a publicação das revistas como andaria livremente pelas suas ruas, descontraída e liberta. Se alguém possuía um plano maléfico para se vingar de mim bem o poderiam ter colocado em prática que eu, distraída como sou, ainda seria apanhada desprevenida.

 

Eu abri os olhos tarde demais mas ABRI-OS!

 

Creio que, nesta vida, tudo é uma aprendizagem e, sem sombras de dúvida, tu tens sido o meu maior mestre e eu a tua maior aprendiza e pupila. Todas as lições que retenho da vida advêm, inconscientemente, de episódios onde tu entras. Aprendi muito a AMAR-TE e a viver ILUDIDA, sob o teu espectro. Por vezes, tenho a sensação de ter estado “ casada “ com um espírito do passado anos a fio. Mas não penses tu, meu querido, que lá por seres um “ fantasma “ eu não usufrui de tudo o que me era devido.

 

Na realidade, a quantidade de vezes que me apareces em sonhos é ridícula e incontável.

 

Nunca consegui perceber o subconsciente ou o mundo do onírico.

 

Parece tudo tão real.

 

Consegues sentir a pessoa. Toca-la. Inalar o seu cheiro. Escutar a sua voz. Ler nos seus olhos. Percecionar os seus humores. Sentir o seu beijo e ter horas infinitas de conversa com ela. Nem sempre foram assim os nossos “ encontros “ em sonhos. Durante muitos anos buscava-te incessantemente sem nunca te encontrar. Na realidade, era tétrico, soturno e assustador (parecia um filme de terror), mas desses sonhos, que retenho até hoje no meu subconsciente, falaremos depois.

 

A uma determinada altura, os “ meus “ sonhos mudaram. TU falas tanto comigo em sonhos, Tiago, que quase que me vais revelando boa parte da tua vida através deles. É deveras assustador! Não te preocupes, TU BERRAS BASTANTE COMIGO EM SONHOS também…Depende do teu humor! Por vezes, fazes-me cada discurso intenso que acordo angustiada e lavada em lágrimas. Escusado será dizer que quando me estendes os braços e me sorris e, inequivocamente, algo acontece, vá lá Deus saber como, amanheço arrebitada e pacificada interiormente e em êxtase. Não dura mais de um dia ou umas horas mesmo a sensação, porém, danço, canto e levito!

 

Muitas das vezes acordo, volto a adormecer, e a entrar no sonho contigo (nunca hei-de compreender)!

 

Creio que, em algumas das vezes, até te peço (como se soubesse que vou acordar) que não te vás embora e que só vou ausentar-me por um instante e que volto já. “ Espera, por favor “ peço-te! Algumas das vezes lá me fazes a vontade e esperas por mim, ficamos especados, perplexos, a olhar um para o outro e não nos largámos o resto da noite inteira (nem que seja para me dares um valente sermão) como o fazes muitas das vezes.

 

Sei sempre o que pensas porque tu transmites-mo em sonhos; creio que é um privilégio enorme!

 

A sério, não estou a brincar! Não sou bruxa nem possuo uma bola de cristal mas tu foste viver com alguém em 2012 certo? “ Porque raio te estou a colocar esta questão? “ Fácil ! Tu mostraste-me o apartamento/casa em “ sonhos “ nesse ano! Não foi agradável, acredita ! Quer dizer, para te contar o sonho todo até que uma parte foi… Nunca percebi porque o havias feito. Eu fiquei destroçada na altura. Tão destroçada ao ponto de me recordar da pergunta que te coloquei : “ Porque razão és tão cruel para comigo? “ Jamais me irei esquecer desse sonho e do seu desfecho seguinte.

 

A Irina apareceu-me em sonhos há uns dois meses atrás. Olhei-a de longe para tentar diagnosticar de que mal sofria ela e classificar a sua patologia. Há muito que sei que houve uma mudança na tua vida. O Facebook dela, ainda que amiúde, era extremamente transparente. Basta reter a crónica do MEC “ Como esquecer alguém que amamos? “ ou o tema da Pink “ Just Give Me A Reason “ e o seu desaparecimento posterior ou a sua fotografia de perfil ou mesmo o comentário do Arnaldo para se saber que algo estava deserto e evidenciava um buraco negro mas, mais uma vez, não sou BRUXA (antes fosse)!

 

Se calhar sou doida, sei lá, mas sentei-me a seu lado, ainda que a medo. A pobre coitada estava furiosa contigo. Começou por dizer-me que eras um “ sacana “ e assim seguiu a nossa conversa. Acho que falamos a noite toda. Talvez para me tentar desculpar de algumas atitudes menos simpáticas minhas, a verdade é que lembro-me de a consolar. A falta de puder ter uma conversa ao vivo com ela, julgo que a do “ sonho “ ajudou-me bastante a aliviar alguma tensão! Tivemos uma conversa afável e amigável onde acabei por lhe confessar exatamente esta frase: “ Sabes? Sempre te admirei…Esse teu ar diplomático, de superioridade…Podia não te achar a rapariga mais bonita a face da terra mas exalavas um JE NE SAIS QUOI de inteligência e – rematei em tom de brincadeira – e sempre invejei a tua licenciatura em Psicologia ! “

 

Espero que ela esteja bem! E que seja feliz !

 

Tal como a Carolina, ela teve um impacto grande na minha vida…

 

As férias ao México renderam-me um ataque de histerismo compulsivo lacrimal em plena Vobis no Norte Shopping (que era onde eu acedia a Internet Cyber na época) e renderam ao pai do Nuno chamadas a consolar-me.

 

Verdade seja dita, devo-lhe o consolo, o ombro amigo e o telefonema dessa noite que foi interrompido, vezes sem conta no seu escritório, porque o seu filho – o Tiago – andava a imprimir algo! Céus, a chamada durou tanto que até teve de ser evitado o telemóvel e ele teve de telefonar para o telefone fixo da casa da Srª onde eu habitava, na altura. Pobre coitado. Deu o nome falso de Joaquim (vá-se lá saber porquê) e a Dª Helena não me queria passar a chamada aquelas horas da noite (devia passar das 23:00 já) …

 

Credo, eu só soluçava, engasgava-me, estava afogada numa dor sem igual… Como numa verdadeira “ telenovela “ só lhe perguntava por que razão ele não me havia contado que tinhas um namoro sério. Estava completamente destroçada. Ele explicou-me “ Não te queria magoar. O Tiago parece ter um impacto tão grande em ti. Não queria mesmo que sofresses. Já tens tanto com que te preocupar. E também queria preservá-lo. Não sou de revelar nada da vida dos amigos dos meus filhos; desculpa! ”

 

Nessa noite adormeci a soluçar e ao som da voz do Sr.º Américo a consolar-me. Na realidade- naquela época da minha vida – vocês podem até não acreditar mas ele foi como um verdadeiro pai para mim, o que ainda tornava tudo mais difícil. O destino, as tramas e manhas do Facebook haviam colocado na minha vida como apoio emocional e amigo alguém tão próximo de ti: era doloroso e angustiante.

 

A uma determinada altura tive de acabar a minha amizade com ele.

 

Sei que ele ficou muito magoado. Nunca me hei-de esquecer do que ele disse quando o tirei de amigo do Facebook : “ Vanessa, nem acredito que acabaste de fazer isto. Depois de tudo o que fiz por ti, como pudeste? Olha que ainda vais arrepender-te! “ Não sei se o disse por mágoa, raiva, despeito por me achar uma ingrata. Eu sei que tive de o fazer senão dava em louca. Eu não conseguia separar as águas, Tiago. A custa disso, possuo apenas 50 amigos da Secundária. Toda e qualquer pessoa próxima de ti foi automaticamente eliminada. As pessoas – por norma – pressupõem que foram os teus amigos que me eliminaram e eu, ironicamente, esboço um sorriso e um gracejo e digo sempre: “ Irónico, não? Mas não, nenhuma daquelas pobres almas me eliminou mas sim eu a eles! “

 

Ou seja, a Irina foi-me importante…

 

O meu “ suposto namoro “ que era sério para o “ outro “ lado e, com o qual, eu estava a passar quinze dias em sua casa teve de aturar a minha “ crise “, apatia, estado de coma e suspiros pelos quatro cantos da casa. Pedi-lhe para não dormirmos juntos durante uns tempos se fosse possível. Se poderia mudar-me para o quarto da sua mãe que estava de férias na Europa. Ele anuiu que sim sem questionar. Eu só soluçava e adormecia a chorar. Era-me impossível partilhar uma cama com o Martim naquela altura do campeonato.

 

Um dia, questionou-me o porquê! Eu não sou “ boa “ a fingir ou a mentir e confessei-lhe a verdade. Coitado, veio consolar-me com um chazinho de camomila e abraçou-me muito. Perguntou-me se eu não queria lutar por ti. Que ele apoiava qualquer que fosse a minha decisão. Que me ajudava até. Que me libertava. Que fazia tudo para me ver feliz. Perguntou-me se havia algo que ele pudesse fazer. Disse-lhe que eras um caso perdido, que não se preocupasse. Era só uma questão de tempo até me habituar a ideia, depois limparia as lágrimas e seguiria em frente.

 

O impacto da Irina na minha vida foi tão grande que redigi uma série de poemas.

 

Na altura era modelo: agraciada com má fortuna mas uma “ boa fama “! Tornara-me modelo por ti. Alguma vez na vida lá eu sonhara em posar para uma câmara? Bem, na realidade sonhara mas achara o sonho absolutamente in concretizável! A “ fama “ levou-me a participar semanalmente num programa de rádio onde uma hora era dedicada a poesia. Liam-se os meus poemas (sempre dedicados a ti) e a seguir eu era a DJ de serviço. Cada música espelhava um momento de poesia. Engraçado como de todos os poetas lá revelados eu fui a única a não ter um livro editado. Foi um sonho que nunca prossegui. Nunca fui ambiciosa nesse aspeto.

 

Livros de poesia não vendem, toda a gente o sabe. Ainda assim, quando surgiam as propostas eu declinava. Olhava para a pilha de poemas e não os achava merecedores de serem editados ou “ para quê “ se não teriam sucesso no mercado. Ou em última estância: “ Para quê se não os posso esfregar na cara dele? “ Acho que era esse o meu verdadeiro dilema. É que sabes? Eu não sou poetisa. Tampouco modelo. Muito menos escritora. E, se algum dia, me escutares a cantar acredita que tê-lo-ei feito por ti (pensar que participei na edição do Factor X de 2013)

 

Ainda bem que me lembrei a tempo no palco da Meo Arena, em frente aquele público, as verdadeiras razões porque me encontrava ali, ofuscada por aqueles holofotes e encandeada por as luzes daquele palco: TU!

 

Quem é que faz um baile com o nome da maior novela da Globo? Há cá cada UMA...É que " Avenida Brasil " só conheço duas né " meu bem " ? A principal via rápida do Rio de Janeiro e a novela mesmo ! 

 

Podes dizer a Mafalda para no próximo baile (o de Carnaval, quiçá) utilizar insígnias da RAF (descubram o que é) e como estás na área dos “ aviõezinhos “, juntem-lhe caças pilotos, juntem-lhe também as insígnias da U.S Air Force e apareçam de havaianas. Não, não tem nada a ver com o Hawai.

 

Simplesmente, acho o desenrolar de uma história em Leça chato e ridículo. Sim, o livro atrasou-se e está bastante em falta. Uma cheia quase devastou a cidade para onde te “ mandei hipoteticamente “ no decorrer de 2014. “ Ah coisa e tal não é ficção? “ É, claro, mas por acaso achas que faço as coisas assim no ar? Estou a escrever acerca de um país cujas leis, normas e burocracias desconheço. Preciso de me manter em contacto com o território para tudo parecer absolutamente plausível; desde como chegar lá, o comércio local, onde uma pessoa se pode alojar, trabalhar, como são as pessoas, a sua economia, clima etc (não posso propriamente inventar em demasia se realmente me foco numa cidade). E, dado os problemas que se passaram no decorrer do ano de 2014, tive de deixar o Ethan e a Helen acalmarem um pouco!

 

Ahhh, sim, aprendi tal com a Stephanie Meyers (autora da saga Twilight). Quando concebeu a ideia na sua cabeça precisava de uma cidade que se adequasse a sua trama. Acabou por escolher Forks devido as suas condições climatéricas mas só depois de a visitar e a revisitar de cabeça para baixo. Eu escolhi a “ nossa “ por achar que irias apreciar habitar num local parecido, por fazer o teu gênero e por ser absolutamente inacessível e um local absolutamente impensável para quem quer que fosse das tuas amizades. Eu sou absolutamente Europeia. Jamais teria escolhido aquela cidade para a minha personagem. Na realidade, eu vagueio muito pela Europa, e até te tento trazer até aos meus recantos mais escondidos da dita-cuja! Como cidadania falsa sou Canadiana francófona! Se visses a miscelânea de sotaques que vai para ali. Céus!

 

Já agora, o Gustavo está radiante com o teu NOVO relacionamento; que posso dizer? Durante meses ele andou ali numa ânsia sem igual. Era como se ele soubesse mesmo que tu estavas sem a Irina. A quantidade de vezes que me mandou ir atrás de TI foram incomensuráveis. Creio que ele te achava sozinho- inclusive- na altura em que fui fotografar-te!

 

Aliás, morro de curiosidade.

 

Juro-te que não sabia nada da tua vida. Não sabia que era o teu último ano a jogares futebol. E, agora, não faço a mínima ideia  se estavas com uma, com outra, ou entre relações, ou em “ trabalhos forçados “ numa.

 

Está mais que visto que eu percecionei que era o teu último ano a jogar futebol mas será que eu percecionei que algo ESTAVA MAL CONTIGO? Juro-te, se assim for ainda é mais hilariante e fantástico…É que eu estava a 420 KMS de distância e simplesmente apanhei o ALFA, vá-se lá entender…

 

Bem, o Gustavo está radiante e hilariante. Deste-lhe uma ALEGRIA imensa. A vida nem lhe tem corrido nada bem mas saber-te assumido numa relação tão abertamente fez as suas delícias. Diz que a moça é bonita, brincalhona, alegre, simpática e recomenda-se!

 

Eu só estou a RELATAR as minhas memórias.

 

Pouco me importa o que pensam, o que fazem… Já toda a gente sabe que sou infelicíssima e - simultaneamente- pacificada com a minha infelicidade e refúgio. Acho que se chama a isto conformismo. Quiça. maturidade e sabedoria! Sou feliz na minha infelicidade! Quando tudo acabar, ACABOU!

 

 

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