Após te ter conhecido, busquei-te incessantemente, até que te encontrei! Desde o dia em que te vira pela 1ª vez, puder contemplar-te era a minha felicidade. Este texto retrata exatamente aquilo que eu vivi quando era criança e sonhei, um dia, sabe-se lá como, juntar a minha vida a tua. Sonhos de criança que duraram uma eternidade mas é tão bom ser-se criança não achas? Sonhar e sonhar sem qualquer malícia ou malvadez e acreditar num futuro radiante onde apenas a paz e a felicidade irão prevalecer. Infelizmente, não foi assim Tiago ! Não para mim. A tua vida corre-te prazenteiramente. A minha parece extraída de um filme do David Lynch e – sinceramente – não sei se irei sobreviver a tal, como tal, criei dois Blogues ( mulher prevenida vale por duas ), onde irei relatar-te nos próximos meses muito do que senti e aconteceu-me. Tive de utilizar uma estratégia metódica para alguém chegar aqui, como por exemplo, utilizar o teu nome como palavra-chave no início de cada texto e no título do mesmo. De que outra forma alguém daria com este Blogue? Ironicamente, ao fazê-lo, juntei-te a ti e a mim na busca do Google e ambos aparecemos indissociáveis um do outro. Sabes uma coisa Tiago ? Acho que já sei o que vi quando olhei para ti pela 1ª vez. Claramente, vi toda a minha vida ligada a ti, mas não foi só isso, vi , em ti, o início e o fim de algo : o início e o fim da minha própria vida ! A minha existência será curtissima disso tenho ceteza. Se, porventura, a minha vida der uma reviravolta, juro-te que só poderá ser por um milagre e eu já não acredito em milagres, portanto, sejamos racionais. Se a minha vida acabar onde eu acho que ela irá acabar, este será o meu legado. É esta a minha decisão. É esta a minha escolha. Sabes que - por vezes - venho aqui e deixo simplesmente a PLAYLIST a rodar? Modéstia aparte é excelente e reproduz algumas das minhas músicas PREFERIDAS, ou não tivesse sido eu a DJ de serviço...
Vi a reportagem da TUA EMPRESA no JN e pensei cá para comigo : " Mas que karma, bolas ! " Tudo bem que, a custa de uma música dos Def Leppard, quando era jovem, imaginava nas minhas histórias e ficções novelísticas reencontrar-te ao abrir uma secção de um jornal qualquer ( vá lá Deus saber porquê ) Serei vidente e não o sei ou, por outro lado, tinha uma fé cega e inabalável em ti que dar-te-ias muito bem na vida ? Acho que é a segunda; sempre acreditei muito em ti Tiago, de verdade... Tenho uma história de intuição absurda ou futurologia - como bem o entenderes - muito engraçada para te contar acerca das amizades que detêns hoje em dia e que acabaram por tornar-se como irmãos para ti e reencaminharam toda a tua vida. É tão engraçada , tão pouco conseguirás supor. Muito antes de o Joel e o Gilberto entrarem na tua vida ( e quem tivesse associado a eles, nessa altura, na turma ), eu já havia intuido algo. Foi um episódio muito estranho da minha vida. Muito engraçado. Adoraria que o Joel soubesse dele. Não só de drama se rege esta história. Também possui umas belas histórias de humor a mistura, como quando conheci o Pedro ( ai Cristo essa é outra coincidência tão fatídica do destino mas tão irónica e engraçada ), ou quando o Ricardo se atirava para cima de mim no HI5 ( vocês eram uns autênticos caçadores de miúdas ), ou quando o Barreira me convidou para um café e queria ir implementar as normas de Higiene e Segurança no Trabalho na minha empresa e o que dizer do Arnaldo ? Ai meu Deus, o Arnaldo ! E quando passava horas a fio, de madrugada, a falar com o pai do Nuno, sem saber quem ele era? Cristo, homem, tu cruzavas a minha vida em todas as esquinas, estivesse eu onde quer que eu estivesse. Não havia como fugir de ti. Até a zona geográfica do Porto era pequena demais. Mas isso são histórias para outras " romarias " onde o humor prevalece. Talvez a mais fatídica de todas foi quando tentaste engatar a minha irmã Beatriz no ano de 2010, inícios de 2011. Quantas conversas ciciadas esconde aquele quarto que eu e ela partilhávamos e aqueles dois beliches... Na realidade, eu e a Bia zangamo-nos, ainda que amíude, a tua custa. Evidentemente, eu morri de ciúmes. Mas ela acabou por passar a batata quente para as minhas mãos numa tentativa de fazer as pazes comigo. Eu e a Bia adoravamo-nos. Eu tinha a plena consciência que ela fazia o teu gênero e ela é tão/ mas tão mais bonita do que eu e mais felizarda também: doutorada, mais estável, muito mais confiante... Adiante, histórias de outras " romarias "... Quanto vi a tua fotografia pensei : " Só pode ser karma ! Agora que já não tenho a possibilidade de vê-lo na secção futebolística, aparece-me na área empresarial... Good Lord, mas que mal fiz eu a Deus? " Va benne !!! Sabem o que dizem de quem usou óculos na 1ª classe , não sabes ? Por norma, os defeitos óticos acabam por voltar a surgir numa idade mais avançada. Ficas tão engraçado, mais gordifas, de óculos e com barba ( algo parecido com o meu pai o que confirma , mais uma vez, também a teoria de que as gaiatas se apaixonam por homens semelhantes aos seus progenitores mas va benne )
Ainda me hás-de explicar, um dia, porque razão, usando tu sempre barba - aparentemente - no dia em que ia fotografar-te pela 2ª vez a aparaste e cortaste o cabelo como se fosses a madrinha. What ? As miúdas morrem de curiosidade e eu nunca consegui explicar. Também nunca consegui perceber, para te ser francamente honesta. Fiquei a remoer naquilo e sem compreender RIEN DE RIEN...Bem, Tiaguito, vamos lá ao texto que já se faz tarde e a noite vai longa.
22 Junho de 1991
Deslizo suavemente para fora da cama e visto-me langorosamente. Não tenho por hábito escolher a indumentária nem tão pouco preocupar-me com tal, mas hoje é um dia especial… Vivo convencida de que me aconteceu algo extraordinário, como se, subitamente, a luz tivesse irrompido em mim e trazido ao de cima milhares de emoções subtérreas. Sou tão nova Meu Deus! Mas no meu fanatismo de adolescente obsessiva e sedenta de preencher um vazio impreenchível, convenço-me seriamente que acabei de encontrar o elixir para o buraco que existe em mim, a panaceia para todo os meus males, a cura através do amor!
Contemplo-me ao espelho e analiso-me minuciosamente como se aquela fosse a primeira vez que me olho efetivamente olhos-nos-olhos. Desconheço o meu rosto. Desconheço os seus traços. Ignoro o significado da beatitude ou o que será necessário fazer-se para se chegar lá. Tenho apenas onze anos de idade. Não possuo uma coluna vertebral de dogmas ou valores e certezas irrefutáveis, nas quais, me apoiar…Sou uma criança. Que poder-se-ia esperar de mim senão a confusão do onírico? Vivo mergulhada em sonhos de papelão, tudo me parece imensamente belo neste preciso momento. Tudo me parece imensamente belo desde que o vi!
A minha expressão no espelho revela candura e meninice. Aperto o cabelo num carrapito desalinhado e deixo alguns caracóis à solta. Convenço-me que tal ar desalinhado me confere algum selvagismo e me dá um toque original. Envergo a cor roxa porque o roxo contrasta com a lividez da minha pele e o roxo sempre foi uma das minhas matizes preferidas. Os jeans adelgaçam a minha silhueta roliça e disfarçam qualquer uma das imperfeições que lhe possam saltar à vista. Massajo as maçãs do meu rosto em movimentos céleres e circulares, da direita para a esquerda, ora da esquerda para a direita. Faço-o, não por hábito, mas sim porque uma amiga me confidenciou que tais movimentos circulares aceleravam a circulação sanguínea do rosto dando-lhe vida e rubor.
Contemplo-me ao espelho uma última vez. Escondo os óculos numa parte recôndita da mochila. Tenho o rosto ruborizado como se o tivesse enchido de blush. Os olhos de um azul incandescente piscam intermitentemente acusando a miopia. Viro-me e reviro-me. Tornei-me numa catraia vaidosa à custa disto mas que importa a vaidade quando o meu reflexo no espelho reflete um pedaço de mim tão doce de ser saboreado…
Não consigo dissimular perante ninguém a minha energia; ando eufórica, hiperativa, vivificada, sei lá…Ando à mil à hora num rodopio sem igual…Parece que acabei de desenferrujar a minha alma e sacudir o meu corpo. A beleza desta sensação que me invade o ser, a mim basta-me! Atiro as almofadas para o lado, abro os estores de metal para que o Sol entre e inunde este apartamento voltado para o mar. Respiro o cheiro da maresia. Contemplo a imponência deste maravilhoso dia de Verão. A vida fluí…fluí e fluí…
Saio para a escola com um passo incisivo e convicto e vou trauteando pelo meio do caminho uma algaraviada qualquer estrangeira. A falta da letra da canção remato os meus hiatos musicais com um assobio hesitante mas convincente. Sorrio a toda a gente que passa. Sorrio a este, aquele e aqueloutro. Sorrio de contentamento e satisfação. Sorrio porque ando numa roda viva de sentimentos e hoje o meu caminho cruzar-se-á com o dele e eu poderei sorrir-lhe também.
Atravesso os pátios da escola e os corredores dos blocos ao sabor dos ventos da minha inquietação. Falam-me ao ouvido baixinho. Elevam-se risinhos abafados. Enumeram-se programas de Verão. Mas eu economizo palavras e abstenho-me de quaisquer comentários, tenho os meus olhos postos numa das alas laterais do Bloco leste e eis que ele surge, assim, vindo do nada no seu passo hesitante de passeio de criança, com uma bola de futebol nos pés, pontapeando-a sincronizadamente, fazendo-a girar ao seu ritmo, ao compasso de uma dança em golpes subtis e cambaleantes como quem conduz uma espécie de samba.
Calor e mais calor! Tudo lateja em mim. O coração irrompe numa arritmia descompassada e as pernas parecem cambalear. O meu olhar perde-se naquele instante. Tudo nele é a vida; a maneira como sorri, a maneira como se envolve no seu jogo de bola e a remata para uma baliza fictícia, as nuances do seu olhar…
Contemplo-o incessantemente na esperança que ele se volte e o seu olhar cruze o meu mas da sua voz emerge um grito de alerta, um assobio agudo que reúne a seita e os faz afastarem-se no espaço em direção ao campo de futebol. Por entre a multidão que se atropela e os miúdos que recolhem ao toque, ainda o consigo vislumbrar; liberta a sua camisa azul dos jeans que a prendem e arregaça as mangas, puxa o cabelo para trás e delimita as fronteiras do campo. Define as equipas e apercebe-se através das variações de voz que o caos se instalou. Repõe a ordem e, num gesto imprevisível e precipitado de uma milionésima de segundos, o seu corpo arqueia e volta-se para trás. Os seus olhos verdes poisam-se sobre mim! E aí se define o princípio de tudo. Existem ruídos no ar, a música do momento, a luz do dia, o deglutir das sensações e o silêncio, sobretudo, o nosso silêncio!
Convenço-me de que ficaremos amigos e hei-de certificar-me que isso aconteça. Por ora, olho-o longamente nos olhos e não lhe desvio o olhar. A timidez surripia-me o sorriso e eu fico à toa que nem um trapezista sem rede…Ele sorri ligeiramente e, voltando-se apressadamente, concentra na bola que ainda conserva a seus pés, toda a sua atenção.
Solto o meu cabelo e deixo os caracóis penderem-me para o rosto porque amo a sensação do cabelo a acariciar-me o rosto e apenas os emaranhei num carrapito com o único intuito de o agradar.
Vou começar por me aproximar dele como quem não quer nada querendo tudo, no entanto! Assim sou eu e assim seremos nós!
Vanessa Paquete 1991©
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Há quanto tempo és dono do meu ritmo cardíaco?
in "Prometo Falhar", de Pedro Chagas Freitas.