IT DIDN`T HAD TO BE YOU
Dedicado ao Gonçalo
Se eu pudesse, acarinhava-te todos os dias nos meus braços, entoava-te baixinho músicas de embalar como se nunca nos tivéssemos separado...
Se eu pudesse, entrava nos teus sonhos e pintava-os de cores e sons perfeitos. Depois, acordava-te ainda cedo, devagar, abria sorrateiramente as persianas e enroscava-me ainda mais em ti e enchia-te a face de beijos, tal e qual uma criança. Deixava-te brincar com o meu cabelo louro desalinhado e espreguiçava-me contra a parede. Deixava que os teus braços ainda dormentes me rodeassem o corpo e me chegassem um pouco mais para ti...Ficava assim quieta, enrolada em ti, a sentir o teu respirar no meu ouvido e o teu corpo cingido ao meu numa abraço eterno...
Se eu pudesse, afagava-te os cabelos até acordares. Desta vez seria eu a trazer-te o pequeno-almoço à cama, torradas de pão doce afogadas em manteiga derretida, chocolate quente e corn flakes, sorriríamos como sempre e iríamos espreitar o Sol por entre as frinchas da persiana. Voltaríamos a espreguiçarmo-nos mais uma vez e eu dir-te-ia em surdina " Quero-te tanto! ". Punha o banho a correr e ficaria imóvel à espera que o teu dia começasse ao meu lado e esse teu sorriso hipnotizasse todos os meus sentidos e me carregasse para lá dos objetos e sons que nos embalam o quotidiano...
Se eu pudesse, espalhava flores por toda a tua casa, cobria-te o quarto de ninharias que só eu e tu saberíamos o seu verdadeiro significado, ficaria pacificada contigo e com o mundo...
Se eu pudesse, todos os comboios deste mundo levar-me-iam até ti e em todos os apeadeiros existiria um traço teu a recordar-me o porquê de tão longa viagem...
Se eu pudesse, todos os aviões deste mundo fariam escala no teu olhar verde e nunca mais de lá partiriam, jamais existiriam fronteiras a separar-me do teu coração, o meu amor por ti seria o meu passaporte além-mundo e estas palavras que te escrevo a única bagagem agarrada a mim...
Se eu pudesse, vendava-te os olhos e afagava-te a nuca, ver-te-ia semicerrar o olhar de prazer e levar-te-ia para um canto sossegado, livre dos homens e do mundo, despojado de crenças e políticas, indiferente a raças e a credos...
Se eu pudesse, voltava ao início e ia mais devagar, falava menos e ouvia-te mais, oferecia-te um portfólio com todos os meus percalços, erros e emendas da minha vida, ensinar-te-ia todas as palavras, manejos, vícios e caprichos que te são desconhecidos. Pedir-te-ia tolerância, confiança, abnegação e um pouco de paciência para comigo...
Se eu pudesse, pedir-te-ia para esqueceres os meus defeitos que eu seguramente já esqueci os teus...Voltaríamos a conversar de novo e deixaríamos o riso e a cumplicidade fluir e com o tempo voltaríamos a olharmo-nos sem máscaras e subterfúgios. Teríamos o espírito desprotegido e a alma ao descoberto, o corpo a fervilhar de desejo e a carne fraca, volúvel...
Se eu pudesse, abraçava-te muito como o fiz ainda hoje em sonhos. Dir-te-ia palavras doces e conservar-te-ia assim quieto no meu abraço, gozaria o sabor do Sol na tua pele e veria os seus raios iluminarem-te o olhar, mergulharia num sono profundo e deixar-me-ia levar pelo teu Norte e pelo teu Sul para jamais te perder de vista e nos teus passos encontrar o meu caminho de regresso a casa...
Se eu pudesse, trazia-te agora de volta para a minha vida, sentávamo-nos à beira da praia a conversar, explicava-te o porquê de um dia ter reparado em ti e, sem querer, ter abandonado o meu coração no teu cais...
Mas não posso, meu amor!
Não posso porque agora caminho sozinha e os meus braços já não possuem forças para te alcançar e eu sozinha já não consigo, nem sei, como construir uma ponte que me leve até ti...Sozinha, já não sei mais como me aventurar nas águas turvas de um rio, cuja corrente me afoga, já não sei mais como construir castelos na areia e montar e desmontar puzzles...Sozinha, já não me apetece mais desenhar caminhos e desvendar mapas, escrever em folhas de papel em branco e utilizar o amor como minha única bandeira e estandarte.
Se eu pudesse, reinventava-me nas tuas mãos e voltaria a escrever de novo a nossa história, segredar-te-ia sonetos simples ao ouvido e tatear-te-ia na penumbra da noite, escreveria o teu nome em maiúsculas nas entrelinhas da minha vida e faria deste amor o meu maior amuleto. Juntaria a tua primeira e segunda inicial e faria delas as últimas e as derradeiras da tua vida porque nelas está escrito o encontro do teu e do meu nome e tu carregá-las religiosamente ao pescoço como um temerário...
Se eu pudesse, mas não posso meu amor!
Vanessa Paquete 2014 ©All Rights Reserved