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FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

MELANCOLIA & SUICIDIO ( AFINAL PORQUE DESEJAMOS NÓS MORRER? )

 

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Falar de depressão, melancolia, saudosismo, tristeza, suicídio, seja o que for que atinja as nossas emoções bem lá no âmago da nossa essência e nos faça refletir acerca do porquê de outros indivíduos sentirem uma pungente comiseração pelas suas vidas e, consequentemente, desejarem dar-lhes um término, ainda é um tabu para a sociedade; um flagelo que desejamos evitar a todo o custo e uma espécie de conversa perniciosa e de mau agouro, quase como uma epidemia, que nos pode contagiar apenas de ser focada!

 

Portanto, não o fazemos!

 

É comummente sabido que se afirmarmos perante um futuro pretendente que possuímos essa predisposição para estados melancólicos, o seu interesse romper-se-á numa fração de segundos, a sua candura desvanecer-se-á com a nossa confissão e, amavelmente, seremos dadas logo como mulheres problemáticas. O amor ou ensejo que, outrora, nos haviam jurado ser sincero passa a ser substituído por desculpas cordiais de absentismos, incertezas emocionais e pareceres parciais: afinal de contas, ninguém deseja ter uma mulher depressiva do seu lado, não é uma qualidade atraente! Aos seus olhos a mulher depressiva passa a ser vista como um ser vulnerável, em constante carência, impermeabilidade, inconstância e demasiado sensaborona para ser apresentada a quem quer que seja. O dito flagelo também atinge os homens, não nos enganemos relativamente a isso; todavia, parecem ser as mulheres sempre as presas mais fáceis do nervosismo a flor da pele, do choro convulsivo e das redundantes dores de cabeça que parecem atingir-nos como relâmpagos.

 

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As teorias em torno da morte de Marylin Monroe acarretam sempre um cariz conspiratório, embora, para o mundo, a atriz mais sensual do século XX tenha falecido, vítima de suícidio! Na manhã do dia 5 de Agosto de 1962, a notícia da morte de um dos maiores ícones do cinema chocou o mundo "A bela e loira Marilyn Monroe, símbolo esplendoroso da emocionante vida de Hollywood, havia morrido tragicamente, provavelmente em consequência de um suicídio; voluntário ou involuntário. O seu corpo foi encontrado nu na cama. Tinha apenas 36 anos de idade. A estrela, com um longo historial de perturbações psíquicas, tinha o telefone na mão. Junto dela, encontrava-se um frasco de soporíferos vazio", dizia uma concisa nota de Imprensa. Mas a dúvida se Marilyn havia sofrido uma overdose intencional ou acidental ficou sempre no ar, fomentado várias teorias. Uma delas é a de que a actriz teria resolvido colocar  fim à sua própria vida depois de saber que o presidente John F. Kennedy desejava terminar o seu romance com ela. A actriz mais sexy da história de Hollywood viveu envolvida em vários dramas ao longo da sua vida. Filha de uma actriz fracassada e emocionalmente instável, Marilyn - Norma Jean Baker - passou grande parte da infância em lares de adopção e comunidades rurais no norte de Los Angeles.

 

Mais tarde, a busca pela fama e pelo amor fizeram-na percorrer um caminho duro, passando pela prostituição e por uma série de casamentos falhados.

 

 

 

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As causas para um individuo cair nesta estado de apatia existencial ainda são desconhecidas, embora, muito se tenha estudado acerca do assunto! Acredita-se que a melancolia ou depressão advêm de uma neurose onde a premissa central gira em torno da trajetória errónea ou acertada da nossa vida e das nossas necessidades individuais mais primitivas e ocultas a face dos outros seres humanos; daí que cada caso seja um caso. A depressão em si nunca pode ser estereotipada: atinge todas as classes e todos os gêneros, contudo, ainda existe quem se ache imune a dito flagelo e repugne quem o viva.

 

A depressão é um colapso na nossa energia, é um não saber para onde ir, o que fazer, o que ser…

 

É um estado que deixa um hiato no nosso interior, uma ferida aberta, um buraco negro intransponível, e a partir daí surge um medo constante de se viver e conviver com os demais. Perdemos intimidade com todos em nosso redor porque não desejamos que estes contemplem o nosso âmago. Sentimos que não possuímos nada para oferecer ou mostrar porque se nos contemplarem a olho nu apenas irão ver uma ferida a sangrar, completamente infetada. Por vezes, silenciamo-nos e escondemos os nossos medos, demônios e fantasmas mais profundos para que ninguém possa ver o nosso íntimo e aperceber-se que não fazemos a mínima ideia de quem somos… Se as outras pessoas contemplarem o nosso vazio interior verão um louco, que não sabe para onde vai. Que nem sequer consegue escutar a sua própria voz ou seguir o seu próprio coração. Os outros verão que a nossa vida é um caos!

 

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É triste e pungente a maneira como Quentin Bell relata o fim da sua tia escritora Virginia Woolf: Na manhã de sexta-feira, 28 de março, um dia claro, luminoso e frio, Virginia foi como de costume ao seu estúdio no jardim. Lá, escreveu duas cartas, uma para Leonard e outra para Vanessa (sua tão amada e estimada irmã). Nas duas cartas explicava que vinha ouvindo vozes há já algum tempo e que acreditava que nunca mais ficaria sã; não podia continuar a atormentar a vida de Leonard, seu marido. Virginia colocou ambos os bilhete sobre a lareira da sala de estar, e por volta das 11h30 saiu, levando consigo a sua bengala de passeio; e atravessou os prados até o rio. Leonard acreditava que ela já havia feito uma tentativa para se afogar: consequentemente, Virginia, teria aprendido com o fracasso, e estava decidida a não fracassar de novo. Deixando a bengala na margem do rio, a conturbada escritora esforçou-se para colocar uma grande pedra no bolso do casaco. De seguida encaminhou-se para a morte, " a única experiência ", dissera um dia a Vita, a sua melhor amiga " que nunca haverei de descrever ". Virginia Woolf padecia de uma série de perturbações mentais. Acredita-se que sofria do síndrome de bipolaridade. A sua sexualidade era algo ambígua e libertina. Virginia era uma leitora compulsiva. Queria compensar, em tempo recorde, o fato de não ter educação formal, universitária. Os irmãos Thoby e Adrian estudaram em Cambridge. Ela não pôde estudar lá. Ficou ressentida a vida inteira por tal fracasso.  A sua saída foi ler bastante, aprender sozinha ou com o seu pai, Leslie Stephen, um homem sábio mas de personalidade frágil e difícil.Depois da morte do seu pai, em 1904, Virginia fez a sua primeira tentativa de suicídio. Muitas outras seguir-se-iam... 

 

No ano de 2002, a atriz australiana Nicole Kindman, interpretou de um modo magistral os dilemas existenciais de Virginia Woolf no filme The Hours vencendo o Óscar para Melhor Atriz !

 

 E quando os outros vêem que a nossa vida é um caos: o que é que fazemos nesses casos? Fingimos, obviamente! E qual é a razão para o fazermos? A verdade é que somos vistos como um bando de súcias na sociedade e para sermos aceites nos parâmetros convencionais da mesma, não partilhamos o nosso interior, apenas encenamos um teatro de sombras. Quem é que quer mostrar a sua pobreza interior? Tudo o que fazemos é encenar papéis de má qualidade onde exibimos uma vida de feitos alcançados e a certeza absoluta antes os demais que sabemos exatamente em que latitude nos encontramos, o que estamos a fazer e para onde vamos. Protegemo-nos dos nossos próprios demônios e dos demais porque raros são aqueles que são suficientemente corajosos para se abrir antes os outros com medo de serem julgados e de mostrar o seu próprio caos interior e vulnerabilidade.

 

Jamais cansar-me-ei de focar isto: os outros DETESTAM ter em ser redor pessoas com predisposição para se embrenhar na escuridão e, como tal, são evitados como se sofressem de uma doença infecto-contagiosa. Friedrich Nietzsche disse em tempos e bem: “ Não pensem que sou um homem feliz. Sorrio apenas para evitar as lágrimas. Se eu não sorrir, as lágrimas acabam por correr. “ A humanidade está completamente enjoada de pessoas nauseadas com as suas próprias vidas. Atitudes completamente erradas foram colocadas em prática por outros seres humanos que não são acometidos pelo dito flagelo; dizem-nos para escondermos as nossas lágrimas, para seguirmos em frente, para mantermos a escuridão a distância, para evitarmos familiaridades com pensamentos nefastos porque não conseguem lidar com a nossa angústia e desgraça interior.

 

Apenas especialistas no ramo e medicação apropriada poderão servir de colete de salvação, não a nós aparentemente, mas aqueles que nos rodeiam, porque a esses falta-lhes a coragem para lidar com a escuridão do outro e, uma vez embrenhados na escuridão de alguém, nunca se sabe quando poderemos ser sugados pela intempérie e sermos largados nas ondas agrestes de um mar revolto. A covardia é a resposta de quem nos rodeia face os nossos demônios. O silêncio torna-se o nosso escudo protetor e um dia o SUICÍDIO acontece, muitas das vezes, extremamente premeditado, outras das vezes, a custa de um consumo exagerado de estupefacientes para evitá-lo (irónico; não?)

 

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Quando se pensa em poesia confessional, ou confessionalismo, um dos primeiros nomes que vêm à mente (e ao google, diga-se de passagem) é o de Anne Sexton, aquela que poderia ter sido irmã gémea de Sylvia Plath; não só eram melhores amigas como partilhavam os mesmos dilemas, aspirações e frustações pessoais o que levaria ambas ao suicidio! Anne, nascida em 1928 na cidade de Newton, Massachusetts, teve uma vida marcada pela sua luta contra a depressão, tendências suicidas e outros problemas de saúde mental. A famosa poetisa começou a escrever em meados da década de 1950, incentivada exatamente pelo seu psicanalista, como parte do trabalho da sua psicoterapia. Filha de um pai alcoólatra e de uma mãe que teve as suas aspirações literárias frustradas pela vida doméstica, Anne sentia-se completamente deslocada. Aluna mediocre, desobediente e desconcentrada, foi indicada insistentemente pelos seus professores para uma educação de cariz mais especial que, relutantemente, os seus pais não se interessaram em fornecer-lhe. A poeta Anne, ao contrário da sua amiga Sylvia, alcançou algum reconhecimento, tendo os seus poemas sido publicados em proeminentes revistas e chegou a vencer, inclusive, o prestigiado prémio Pullitzer, em 1967. Sexton agregava carisma e simpatia em torno de si e junto dos seus pares, uma empatia tal, capaz de entreter toda a gente que a rodeava. A sua beleza também não passou despercebida junto de nenhuma revista de moda da época, nem tampouco junto dos seus amigos, amantes e psiquiatras com quem mantinha variadissimas relações. Mas nada disso pareceu aplacar a sua solidão, tampouco a maternidade. Sendo vítima de várias depressões e tendo tentado o suicidio num dos seus aniversários, Anne continuou a sua luta contra a escuridão, acabando por instaurar a poesia confessional nos Estados Unidos; a sua temâtica girava em torno da morte e da complexa relação com os seus familiares. A 4 de Outubro de 1974, após regressar de uma reunião para avaliação de um dos seus manuscritos, Anne vestiu o casaco de peles da sua mãe, trancou-se na garagem, ligou o carro e suicidou-se por inalação de monóxido de carbono.

 

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Suicídio (do latim sui, "próprio", e caedere, "matar") é o ato intencional de matar-se a si mesmo. Pensar em suicídio é entregar-se a uma busca incansável dos porquês. É refletir sobre quais sentimentos, faltas, lacunas ou mistérios rondam a nossa existência. Muitas questões surgem, como por exemplo, por que razão um individuo se suicida, o que aconteceu com aquela pessoa para desistir de viver e se matar, etecetera. Isto consequentemente leva-nos a uma busca por respostas no sentido de aliviar o sofrimento e a sensação de indignação e inconformismo, por alguém ter decidido acabar com sua própria vida.

 

A ideia do suicídio como um aparente desfecho para uma história de sobejo sofrimento, de um quadro depressivo, um ato de desespero ou insanidade, reacende uma discussão sobre a dificuldade que é a compreensão e a abordagem destas pessoas no desenrolar de suas tramas pessoais, além das dificuldades de deteção de sinais de desesperança, dos pedidos de ajuda, verbais e não verbais comuns frente ao surgimento do desejo de morte e da própria ideação suicida. Alterações de comportamento, isolamento social, ideias de autopunição, verbalizações de conteúdo pessimista ou de desistência da vida, e comportamentos de risco podem sinalizar um pedido de ajuda. O comportamento suicida está frequentemente associado com a impossibilidade do indivíduo de identificar alternativas viáveis para a solução de seus conflitos, optando pela morte como resposta de fuga da situação desmoralizadora.

 

Todos os potenciais sofredores de melancolia têm o seu sofrimento enraizado em variadíssimas causas complexas; desde fatores biológicos, psicológicos conscientes e inconscientes, interpessoais, sociológicos, culturais e existenciais. Uma série de fatores estão associados a depressão e ao risco de suicídio, incluindo a própria doença mental, consciente ou inconsciente, o uso de drogas e álcool, bem como fatores socioeconómicos. Circunstâncias externas, tais como eventos traumáticos de perda, separação, luto, falência financeira, podem desencadear o suicídio de igual modo e uma crise de melancolia aguda que nos faz desistir de viver.

 

A prevenção para os nossos ditos estados de melancolia vêm sempre na resposta de psicoterapia e fármacos, todavia, está comprovado cientificamente que cada caso é um caso isolado e que, muitas das vezes, a toma das ditas anfetaminas, ou a cessão das mesmas num período de “ desmame “ pode acelerar o processo de depressão, fazer com que haja uma reincidência e levar ao dito ato do SUICIDIO em si.

 

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Eu não sou uma exceção a regra, subentenda-se! Com uma vida caótica, solitária e uma herança genética familiar de parentes com predisposição melancólicas e afetos emocionais bipolares, bem como, tendências abruptas para drogas e álcool, toda a minha vida fugi do uso de fármacos para combater a minha tristeza latente e a minha herança genética. A melancolia atingiu-me muito cedo, levando-me a estados extremos de desesperança e angústia insuportáveis! Aprendi com a minha não camuflagem da predisposição para a negatividade, que os homens odeiam mulheres da minha índole e, se porventura, se aproximam delas, fazem-no com um intuito de cariz sexual e leviano; jamais com a intenção de as ajudar ou preservá-las a seu lado como seres válidos para uma vida a dois.

 

Curiosamente, sendo eu um ser tétrico e soturno, sempre busquei nos homens por quem me interessava centelhas de luz e uma espécie de farol no meio do oceano que me pudesse conduzir a bom porto. Costuma-se dizer que os opostos atraem-se e – no meu caso – tal afirmação sempre se aplicou a minha existência. Nas amizades, pude constatar que o mesmo se sucedia; procurava amizades afetivas com pessoas de caracter forte e decidido, onde a constância fosse uma premissa básica. Creio que tentava extrair luz e segurança das pessoas que me rodeavam, todavia, este processo que parece algo simples, tem a contrariedade de pudermos estar a sugar vivacidade e energia a quem não a possui para dar e vender, ou seja, aprendi que deveria buscar a LUZ dentro de mim e não na circunferência dos afetos dos demais.

 

Não pretendo com isto utilizar clichés baratos porque jamais o faço!

 

Estive apaixonada anos a fio por um homem que era a minha antítese; ele era a água e o pão, o açúcar e o champanhe, um carnaval, um ser repleto de um caleidoscópio de cores. O meu contraste, evidentemente! Olhando para trás, é fácil percecionar se a minha afeição a ele e a minha exigência premente de fazer parte da sua vida: eu desejava que o seu calor se incidisse sobre a minha pele, a aquecesse e dardejasse centelhas de luminosidade para o meu coração; eu desejava alimentar-me da sua luz. Uma atitude muito literária e cinéfila, convenhamos! A sua rejeição, em contrapartida, e uma vida familiar caótica, fizeram-me experimentar os pensamentos suicidas desde tenra idade.

 

Mentiria a alguém que esteja a ler isto se não afirmasse que a religião foi um porto de abrigo.

 

Hoje, tendo-me convertido numa pagã, muitas das vezes questiono-me se não foi o meu desapego a religião que fez com que a minha vida nos últimos anos ficasse voltada de pernas para o ar. Porém, porquês e questões aparte, quando a tristeza e a melancolia se abate sobre mim tenho como foco principal as minhas recordações. Seria uma hipócrita se vos dissesse para seguirem em frente. Seria uma cínica se vos dissesse para procurarem ajuda especializada (procurem-na se acharem que esse é o melhor caminho para vocês) e também seria uma impostora se vos dissesse para sorrirem e não carpirem as vossas mágoas; chorem, berrem, gritem a vossa angústia, deixem que o vosso corpo exorcize a dor.

 

Reter a angústia e silencia-la é que levar-vos-á ao limite da desesperança.

 

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Sylvia Plath ( No Limite Da Desesperança )

 

Na década de 60 o mundo da literatura norte-americana perdia uma das suas mais belas, intrigantes e precoces vozes dos ditames da alma: a escritora Sylvia Plath! Sylvia é uma exceção curiosa no mundo dos afetos literários. Nascida em 1932 e – aparentemente – predestinada a um futuro promissor; não só Sylvia mostraria os seus dotes literários numa idade bastante precoce como a sua mestria, perfecionismo e inteligência a transformariam numa aluna de eleição em Cambridge, todavia, seria a sua beleza resplandecente a atirá-la quase para as malhas do mundo da moda, mundo esse que Sylva narraria de uma maneira exímia no seu único romance publicado, A Redoma de Vidro (The Bell Jar). Nele, Sylvia narraria a sua própria experiência numa importante revista de moda em Nova Iorque, quando uma importante revista citadina a elegeu como a modelo selecionada para ser fotografada em Manhattan.

A bela escritora viveria desde finais da sua adolescência uma renegação face a sua beleza, isolando-se daquele mundo, ao qual, ela parecia não pertencer. Sua beleza acabaria por ser ofuscada e relegada para segundo plano em prol da sua poesia soberba. O mundo da moda, da futilidade, expressos nos trâmites da roupa e da aparência foi demasiado pequeno para a jovem loura que, doravante, dedicar-se-ia à poesia, às imagens verbais e não a sua própria imagem. Um caso único no mundo literário; uma aspirante a modelo escolheria as suas influências literárias como Dylan Thomas e Emily Dickinson para se transformar – verdadeiramente – numa dos nomes mais influentes da poesia contemporânea.

Os ditames da alma de Sylvia são sobejamente conhecidos; desde a morte do seu pai aos 8 anos de idade que Plath parecia não lidar muito bem com o mundo circundante. A sua primeira tentativa de suicídio remonta a década de 50, altura em que a metodologia utilizada para combater tamanho mal da humanidade era o tratamento através de eletrochoques! As suas perturbações emocionais impulsionam Sylvia a refugiar-se sempre na sua escrita, onde a evocação da morte é uma premissa constante. É através da sua escrita que Sylvia exorciza os seus demónios e chora a sua dor, dor essa atenuada pela sua paixão e posterior casamento com o poeta inglês Ted Hudges. Contudo, passados os primeiros enleios de paixão, a relação parece estar predestinada ao fracasso: o casamento é abalado pelo enorme sucesso de Hudges enquanto poeta e a ofuscação de Plath enquanto dona de casa/escritora. Quase que a fazer relembrar um pouco a magistral obra escrita por Richard Yates na década de 60“ Revolutionary Road “ , Sylvia não consegue aceitar as convenções sociais da época e ser relegada para segundo plano naquele sistema de vida americano. Nem mesmo a maternidade parece acalentar e dar-lhe algum conforto, muito pelo contrário, Sylvia agoniza na sua própria redoma de vidro, não consegue canalizar as suas energias para a vida doméstica e familiar.

A traição do marido e poeta Ted Hudges parece ser a gota de água e a bomba detonadora que estilhaça a sua redoma de vidro. Naquela fria manhã de Inverno do ano de 1963, Sylvia tinha o seu sistema nervoso num colapso; descobrira há meses que o marido a traia, o seu casamento tornara-se inicialmente numa prisão (dois filhos num espaço de três anos mais um aborto) e depois numa farsa de marionetas. Na manhã de 11 de Fevereiro de 1963, antes das duas crianças amanhecerem, Sylvia prepara o pequeno almoço das mesmas, veda as portas da sua cozinha para que as crianças não sofram a intoxicação e abre o gás. Silenciava-se, assim, aos 31 anos de idade, uma das vozes mais promissoras da poesia norte-americana. Muitas das vezes questiono-me que destino seria o de Sylvia se, ao invés da literatura e de uma mente intelectual, tivesse optado pela futilidade das passerelles de Nova Iorque…

 

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Michael Hutchence (Drogas, Depressão, Fracasso E Rock & Roll)

Michael Hutchence, símbolo sexual da década de 80 e 90, a própria encarnação de toda a mística em torno de uma morte pop/rock: drogas, fracasso e rock & roll ! Michael, um músico e cantor pop australiano que sempre soube agregar em seu redor alguns dos nomes mais influentes do mundo do espetáculo como é o caso de Bono, The Edge dos U2, com os quais, coabitava, quase lado a lado no Sul de França, em Nice. A sua sensualidade e voz enlevada como um beijo que se pressiona de encontro a cavidade da nossa clavícula, renderam-lhe não só o legado de sexualidade do então falecido vocalista dos “ The Doors “, Jim Morrison, como uma legião de fãs e uma atribulada vida amorosa com algumas das mais belas mulheres do mundo artístico, como é o caso de Kylie Minogue e Helene Christensen. Michael nasceu em Sydney, Austrália, a 22 de novembro de 1960. Morreu na mesma cidade, a 22 de novembro de 1997. Guitarrista e vocalista integrante da banda de rock australiana INXS, ficou conhecido para a posterioridade como "o selvagem do rock" no seu país. A partir de 1995, Michael, empreende uma relação com Paula Yates, a apresentadora de televisão britânica BBC (e ex-mulher do cantor pop irlandês Bob Geldof), com quem acaba por ter uma filha e a quem deram o nome de Tiger Lily. A carreira do INXS fez imenso sucesso, contudo, Hutchence pareceu não lidar muito bem com a aquisição de fama, e, consequente, vida amorosa agitada advinda dela. Contudo, seria um acidente em Copenhaga, na Dinamarca, a atirá-lo para as malhas da depressão!

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Bono dos U2 & Michael: uma amizade eterna!

 

O acidente provoca-lhe danos cerebrais que o fazem perder por completo o seu olfato e o paladar. A partir dessa altura a sua vida entra numa linha descendente e em declive. Os álbuns dos INXS não passam mais do que recordações gloriosas de feitos passados. A sua relação com Paula Yates traz-lhe problemas agravados devido ao facto de Paula ser a ex-mulher de uma das personalidades mais influentes do mundo artístico beneficente (o fundador do Live AIDS de 1985, Bob Gedfon). A depressão toma conta de Michael e este vê no álcool e nos antidepressivos uma panaceia para os seus problemas, porém, nenhuma droga parece conseguir aplacar o túnel onde este havia entrado. Nos seus últimos momentos de vida, desesperado com os seus problemas pessoais e sob efeito de álcool, drogas e antidepressivos, o vocalista dos INXS, ligou para vários dos seus amigos (incluindo Bono dos U2 e Johnny Depp). Hospedado no apartamento 524 do Ritz-Carlton Hotel, de Sydney, a 22 de novembro de 1997, Michael suicida-se aos 37 anos de idade, enforcando-se com um cinto de couro preso à porta de seu quarto. Revistado o seu quarto, o cenário era desolador, uma verdadeira amálgama de bebidas e PROZAC (medicamento que lhe havia sido prescrito para ajudá-lo a contornar a profunda depressão que vivenciava)! A par com a morte de Kurt Cobain em 1994, Michael dos INXS, foi outro dos desfechos fatídicos que – no ano de 1997 – marcaram o mundo de perdas de celebridades (Gianni Versace e Princesa Diana de Gales)! Paula Yates não aguentaria a perda e três anos mais tarde, acabaria ela também por falecer, consta-se, vítima de morte acidental de overdose, deixando Lily órfã de pais (Paula deixou para trás ainda mais três filhos da sua relação com Bob Gedfon). Bono dos U2 ficou dilacerado com a perda, especialmente, porque Michael o contatara antes de falecer, em 1997. Com a morte de Yates, Bono e The Edge compuseram “ Stuck In A Moment “ para o seu álbum de originais “ All That You Can`t Leave Behind “ e fizeram uma sentida homenagem a morte de ambos!

 

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Dalida ( Talento E Maldição Mesclados Num Só )


Poucas personalidades do mundo artístico nos anos 60, 70 e 80 provocaram tanta emoção ao público, como aconteceu com a poliglota cantora Egípcia, Dalida. Mais de 30 biografias já foram publicadas sobre ela e a sua vida já deu origem a obras de ficção escrita, canções e filmes. Talvez mais do que por ser uma personalidade artística incomum, toda esta atenção se deva ao facto de Dalida ter tido uma vida tão gloriosa quanto romanticamente trágica. De ascendência italiana, de seu nome Yolanda Gigliotti, nasceu no Egipto, onde viria a tornar-se tornar-se uma Beauty Queen. Com o título de Miss Egipto na bagagem, parte para Paris em 1955, onde de imediato inicia uma carreira artística que será de sucesso ininterrupto. Contudo, a sua vida privada foi um mar de problemas e de sofrimento, sempre sob os olhares ávidos do público. Tendo-se ligado muito jovem ao diretor de rádio Lucien Morisse, veio a divorciar-se ao fim de 5 anos de vida em comum. Lucien Morisse viria a suicidar-se poucos anos depois, no que foi um dos sucessivos acontecimentos trágicos que marcariam a sua vida. Dalida, entretanto, passados dois anos do seu divórcio, viria a apaixonar-se pelo talentoso, mas perturbado idem aspas, cantor italiano Luigi Tenco. Depois de muitos esforços, Dalida convence-o a entrar no certame musical mais famoso de Itália: o Festival de San Remo. Na noite de 27 de Janeiro de 1967, após a divulgação dos resultados, Tenco não conseguiu aguentar a frustração por a sua canção Ciao Amore, Ciao, não se ter classificado! Enquanto Dalida e o seu staff o esperavam num restaurante, ele punha termo à vida no quarto do hotel onde se encontravam hospedados em sinal de protesto contra a ditadura italiana após a sua apresentação no famosíssimo festival. Acaba por ser Dalida, poucos minutos depois, a encontrá-lo morto no quarto.

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Dalida em desespero também tenta o suicídio, um mês mais tarde, permanecendo 9 dias em coma. Numa evasão pessoal que Dalida apelidou de viagem de cariz lúdico para se refazer do luto, esta tranca-se num quarto de hotel e tenta a mesma proeza de Luigi. É socorrida a tempo pelo próprio staff do hotel que estranha a sua ausência. Uma semana depois ao sair do coma, ficou patente, para todos os seus entes mais próximos, que a bela cantora Egípcia francófona nunca mais viria a ser a mesma pessoa. Com a morte de Luigi Tenco o público de Dalida viria a demonstrar o quanto a admiração por um artista pode ser egoísta e até mesmo cruel! Daí em diante, a canção que levou Tenco à morte, tornou-se uma obrigação contratual incontornável para todos os espetáculos de Dalida. Nessas alturas, o olhar triste e vazio da cantora, e as lágrimas que muitas vezes não conseguia reprimir eram, para o público, o ponto mais alto de todo o espetáculo. O público que adorava a cantora, apreciava, em simultâneo, assistir ao espetáculo do seu sofrimento. Nos últimos anos de vida, Dalida tentou fugir à solidão em que vivia, tendo encontrado um novo companheiro em Richard Chanfray. Infelizmente para ela, este seu envolvimento não viria a ser menos problemático que os anteriores, dado que quando se conheceram ele estava a entrar num processo psicológico que o conduziria posteriormente a comportamentos violentos e à loucura. Após alguns anos de casamento com este homem, que afirmava ser messiânico, ter 17.000 anos e ser capaz de transformar metal vulgar em ouro e água em vinho, Dalida conseguiu o divórcio. E poucos meses depois Chanfray viria também a suicidar-se. Três casamentos: três suicidas! Dalida começou a questionar severamente a sua responsabilidade na morte dos seus companheiros, e, na busca de respostas para as suas questões, busca outras formas de realização pessoal, que incluiu uma viagem ao Nepal para estudar a religião Hindu bem como a adoção não concretizada de uma criança (o maior desgosto de Dalida residia no facto de nunca ter sido mãe). Apesar de toda a sucessão de dramas que viveu, Dalida conseguiu sempre manter inalterados o ritmo e o sucesso da sua carreira tanto em França, como no resto da Europa e nos Estados Unidos. Mas esse sucesso nunca lhe conseguiu dar o suplemento de alma de que necessitava para desejar continuar a viver. Um mês antes de falecer, confessou a um amigo, que se ninguém pode escolher o momento em que nasce, ela poderia, no entanto, vir a escolher o momento da sua partida. E, na verdade, a 3 de Maio de 1987, Dalida, mulher belíssima, afortunada, dotada, rica, famosa e admirada por milhões de pessoas, recusa-se a continuar prisioneira da solidão e da tristeza que o destino lhe impôs, e suicida-se com uma dose excessiva de barbitúricos. Deixa um pequeno bilhete, onde estava escrito: “A vida para mim é insuportável… perdoem-me” A sua voz e as suas capacidades interpretativas, tinham a marca profunda da sua vida conturbada. Com Dalida, a dor transfigurou-se também numa forma de arte, fazendo-nos sentir que alguns dos seus momentos mais terríveis eram, simultaneamente momentos passados para o público de forma artisticamente inesquecível. A sua interpretação de Je suis Malade no Olympia, em 1981, é disso um exemplo perfeito, pelo que tem de visceralmente emotiva a sua interpretação.

 

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Kurt Cobain ( A Mística da Morte )

A década de 90 e a indústria do mundo fonográfico viria a ser sobejamente marcada por um tumulto intangível e de difícil compreensão para muitos dos fãs espalhados pelo mundo fora do Grunge de Seatlle: o suicídio de Kurt Cobain! Cobain viria a afirmar que Nevermind (o álbum que fez do vocalista dos Nirvana, um ícone de massas do rock, ainda que muitas das vezes relutante), era, literalmente, páginas arrancadas do seu diário pessoal, enquanto o seu primeiro álbum Bleach, era uma amálgama de letras aleatórias que lhe vieram a cabeça e ele exortou para os acordes da sua guitarra, sem pensar muito no que sairia dali. Kurt Cobain não conseguia simplesmente olhar para a sociedade e o seu próprio íntimo com indiferença e seguir com a vida, como outrora, sem lhe virem a memória lampejos de que ele, jovem artista em ascensão, acabara de se cruzar com a escuridão, e, portanto, fez o que achou melhor para transmitir à sociedade que ele tanto desprezava o seu parecer; um "wake up call" que vociferava bem alto, através da sua música, o que ele não conseguia mais tolerar ao seu redor. A morte de Kurt Cobain ocorreu no dia 5 de abril de 1994, quando o líder e vocalista da banda Nirvana foi encontrado morto em sua casa, localizada em Lake Washington Boulevard, 171, em Seattle. Embora, muito se tenha discutido em torno da morte do mítico vocalista, a verdade é que a teoria plausível de que Cobain teria sido assassinado não se coaduna, de maneira alguma, com a própria postura silenciosa e gélida de Kurt face o mundo que o rodeava nos meses antecedentes a sua morte. Não só Kurt possuía um historial comumente conhecido de depressão clínica, como o vicio das drogas também, enraizado bem no amago do seu ser, especialmente a heroína! Reza a história, que muito antes de se tornar num ícone musical, já Cobain sofria de uma acutilante dor face a humanidade, uma espécie de incompreensão quase infantil face as agruras da vida e as intempéries da existência. Já na adolescência, Cobain, havia sido diagnosticado como um jovem com défice de atenção, hiperatividade, e, na idade adulta, com proeminências e indicações de transtorno bipolar. Na sua nota de suicídio, Cobain, exulta a admiração que nutre por alguns dos seus companheiros no meio da música; o seu entusiasmo e empatia para com a profissão de músico, o êxtase de subir ao palco e encarar uma audiência, citando Freddie Mercury como exemplo e – num lamento pungente – pede perdão aos seus fãs por não conseguir sentir tamanha felicidade de estar diante deles, argumentando, inclusive, que enfrentar uma audiência é como picar o ponto numa fábrica que se detesta trabalhar. A sua nota de suicídio anunciava uma clara intenção de abandonar Courtney Love, a sua filha Frances, o mundo da música e tudo aquilo que o rodeava. A sociedade, pela qual, ele parecia nutrir tanto desprezo e incompreensão acabara de o derrotar com um tiro de espingarda deferido contra o seu crânio. A década de 90 foi entusiasticamente inspirada pela voz ácida e áspera de Kurt Cobain e, como qualquer mito que entra para a história, o seu chocante suicido no ano de 1994, só veio aumentar a mística em torno do tortuoso vocalista dos Nirvana.

 

Vanessa Paquete 2015 ©

 

 

 

 

TIAGO MADALENA ( IV INTERVIEW ABOUT HIM - AQUELA NOITE... ABANDONADA A SUA PORTA)

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Quando se está a encetar uma conversa com Vanessa parece difícil encontrarmos um ritmo próprio. É tudo aleatório. Sem uma sequência homogénea. Tampouco mantêm uma ordem cronológica. As conversas que vão sendo gravadas sequencialmente, quando transpostas para o papel perdem o seu ciclo. Ora falamos presencialmente, ora falamos durante umas duas horas ao telefone. Por vezes, estas conversas possuem um espaçamento de semanas e até serem publicadas é necessário impulsioná-la a fazê-lo. Sim, porque, por mera preguiça ou um medo indómito de ser julgada, Vanessa deixa de envergar aquele estereótipo de mulher felídea que tão bem a caracteriza e decide hibernar no seu casulo e esconder-se do mundo.

Mas uma vez engrenado o tema de conversa, ela mostra-se sempre uma mulher muito disponível para falar acerca do seu passado.

 

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“ They Say That Your Attitude Determines Always Your Latitude “


Helena:
Lembras-te do que me disseste há uns dias atrás no Terreiro Do Paço? “ Sinto sempre que me exponho em demasia nestas conversas. Por vezes, julgo-os totalmente impertinentes, como se já não houvesse qualquer significado relevante em abordá-las “ Tal afirmação significa que já não achas o Tiago Madalena importante?


Vanessa:
(o seu olhar entristece) Não sei como explicá-lo. Durante anos fui apaixonada por aquele homem. Nessa altura tinha um sentimento muito forte em relação ao Tiago. Era irrespirável o ar junto dele. A minha vontade de possessão era indómita, avassaladora. O meu sentimento por ele era incondicional e tal assustava-me. Quando jovem julgava-o atraente, sobretudo por causa dos seus olhos, tão verdes como um mar revolto, absolutamente extraordinários, uns enormes olhos castanho aveludado a mesclarem-se com um verde tão dócil que faziam voar o meu coração. Com o passar dos anos, o seu maior encanto passou a residir noutro tipo de beleza que eu cria inabalável: acreditava na sua integridade enquanto homem, na sua sabedoria, no apelo ao bom senso, na sua compaixão generosa para com os amigos. Julgava-o um homem cheio de valores; a sua beleza estava para lá da sedução física ou de qualquer outro desejo carnal que eu pudesse suster por ele.


Helena:
Sei que tiveste oportunidade de lhe dizer tal; é verdade?


Vanessa:
Sim, e foi algo verdadeiramente libertador! Embora o tenha dito por escrito em mensagens caóticas, creio que ele percebeu que confiava nele. Acima de tudo, acreditava nele enquanto pessoa; para mim, ainda era um mortal endeusado... Eu tenho um caracter volúvel. Ora me zango e fico absolutamente irada, ora me apaziguo e esqueço por completo o motivo da intempérie. Um dos meus maiores dons é conseguir depor em palavras o que me vai na alma. Puder dizer ao Tiago após vinte e dois anos o que mencionei no parágrafo acima foi-me muito importante. Creio que passei metade da minha vida adulta a tentar transmitir-lhe essa mensagem; que o achava um homem íntegro, de boa índole e com um coração pacificador. Já tivera a oportunidade de lhe dizer aos vinte e cinco anos de idade que não o amara apenas pela sua aparência mas sim pelas suas capacidades. Havia algo nele que me atraía e não era pura e simplesmente a sua excelente e agraciada fisionomia. Durante a minha adolescência houve atitudes suas que presenciei que me comoveram e fizeram com que o respeitasse incomensuravelmente. Quem estiver a ler isto irá sempre afirmar que me apaixonei por uma ilusão…


Helena:
Exato, desculpa interromper-te, mas era aí que queria chegar. Muita gente afirma que o seu carater não possui esses atributos todos que lhe conferes e que, para além disso, existem alguns episódios algo sórdidos por detrás da pele de bom moço que costuma envergar… (Vanessa interrompe-me a meio)


Vanessa:
Oh, Graças a Deus (risos) Não pretendo canonizá-lo após a sua morte… É estranho, nos dias que correm, considerarem um cenário assustador um homem que é cobiçado por inúmeras mulheres; onde é que está o problema disso? Cada ser humano possui o livre arbítrio para não se deixar seduzir por um individuo que é apostrofado de galã sedutor. Se a sua maior falha de caracter são os rabos de saias, então, teremos que começar a medir os valores de cada individuo que nos aparece a frente não pela cor do seu coração, mas pela tesão que esconde por detrás da sua braguilha ou pela quantidade de feromonas que segrega a cada segundo que passa (ri-se). Nunca considerei o Tiago um santo. Mentir-te-ia se não te afirmasse que desejei veementemente que os seus olhos se pousassem em mim, e unicamente em mim, mas como pudeste comprovar tal não aconteceu, e, mesmo quando os seus olhos se pousaram noutra pessoa que não eu e o seu coração pendeu em direção a outra mulher, a verdade, é que o Tiago nunca conseguiu refrear o seu ímpeto de macho latino. As mulheres galanteavam-no e ele derretia-se perante o galanteio. Não deve ser fácil ser-se um homem com uma fisionomia daquele gênero (ri-se em altas gargalhadas). Ou possuímos uma moral muito convencional e face as investidas respondemos com repulsa e uma certa serenidade, ou então, adotámos uma postura progressista e esquecemos a linha divisória que existe entre o emblema da integridade e o estandarte dos bons costumes. Em última estância, acabamos por mentir a nós próprios, convencendo o nosso espirito que espalhar charme por aí é já algo bem aceite socialmente e tão comum que não estamos a inferir em nenhum ato pecaminoso.


Helena:
Todavia, tu condenas severamente qualquer tipo de traição ou mentira, inclusivamente, foste muito direta e perentória num texto/carta que escreveste ao Tiago, onde fazias alusão a tua incompreensão para com o seu estilo de vida.


Vanessa:
(ri-se) … Sim, eu e os meus dogmas moralistas! O texto adveio de uma crispação de ciúmes doentia que me assolou em meados do Verão de 2014. É um texto lúcido, revelador e muito sincero, porém, foi redigido no ápice de um equívoco, o que não lhe retira a sua substância e veracidade, mas, as minhas palavras ardentes e profusas foram-lhe lançadas com uma certa indignação até à custa de, na altura, achar que ele estava a ser um canalha. Achava-o um libertino a cometer adultério e a atirar areia para os olhos daquela que o amava. Na altura, não consegui compreender como a sua namorada não se poderia sentir ofendidíssima e caluniada por estar a ser ofuscada daquela maneira por umas férias estivais com amigos onde, para cúmulo da situação, ainda apareciam outras raparigas.


Helena:
O irónico da situação é que – na realidade – a “ sua “ namorada estava ao seu lado.


Vanessa:
Falaremos disso mais tarde... Porque existe muito para contar... Mas voltando a tua questão inicial,  não me recordo dos pormenores concretos, mas, parece-me que sim. (risos). O problema é que o Tiago havia trocado de namorada há já mais de um ano e eu não o sabia sequer. Tudo aquilo que eu suponha estava absolutamente errado. Se a situação em si não me fizesse encarnar um papel tão patético e alienado, quase que poderíamos rirmo-nos alto e bom som de tamanho equivoco meu.


Helena:
O Tiago trocou de namorada e esqueceu-se de te avisar?


Vanessa:
(ri copiosamente) Exato! Foi uma situação ridiculamente ultrajante para mim. Eu sempre fui uma rapariga muito descontraída, de cabeça enfiada no meu mundo, nunca buscando o óbvio e, muitas das vezes, o óbvio está bem diante dos nossos olhos. O maior cego é aquele que não quer ver, já lá diz o ditado…


Helena:
Em que fase da sua vida achavas que estava o Tiago?


Vanessa:
Oh, sei lá… (suspira e fica pensativa).Creio que o achava já de vida feita com aquela que fora a sua namorada de longos anos. Várias vezes advertiram-me para a possibilidade de tal não se passar, porém, a minha mente conservadora nunca julgou que algo se protagonizasse na sua vida de maneira diferente: para mim era o passo lógico a dar! Acabei de me aperceber que saltámos vinte anos precisamente desde a última entrevista para esta que estamos a elaborar; os leitores não estarão confusos?


Helena:
Sim, eu sei. Saltámos de um Tiago com treze anos de idade e uma Vanessa de catorze anos a tatear ao de leve e na penumbra as avenidas nublosas de um jovem que ela acreditava puder ser o “ tal “ que seria definitivo na sua vida…


Vanessa:
Fizeste de propósito não? (a sua voz mostra-se zangada)


Helena:
(risos) Desculpa, mas ainda me é difícil conceber no meu imaginário uma jovem com certezas tão absolutas acerca da sua vida, numa idade tão precoce.


Vanessa:
Não as tinha. E os vinte anos que se seguiram provaram-me o quão errada eu estava. Aos catorze anos, entreguei-me ao Simão, depois voltei a apaixonar-me pelo Tiago incondicionalmente. Muitos cenários passaram-se entretanto; uns bons, outros verdadeiramente malévolos. Muitos namorados aparecerem; com a Graça de Deus nê? Os Orixás ouviram minhas preces e meu Pai de Santo me agraciou com muito cafuné e sacanagem também. Obrigado minha Mãe Iansã (ri-se e faz um sotaque brasileiro ao proferir esta última frase). Estive noiva do Duarte durante sete anos. Numa noite quente de Agosto fui forçada a optar por entre uma vida a seu lado, um apartamento, um canário, um periquito e uma conta poupança ou o meu amor pelo Tiago. Demorei quatro horas a responder a tal questão e, no combate secreto no amago do meu interior, a escolha pendeu em favorecimento do Tiago; nesse dia sentenciei a minha vida! Existem noivas que são largadas no altar. Eu fui largada em plena madrugada defronte da porta do Tiago Madalena. Tinha vinte e cinco anos de idade. Era tão obstinada quanto a jovem que se apaixonara por ele aos quinze anos de idade; sustinha as mesmas ilusões e a mesma esperança. Chorava copiosamente, mas, entre as trágicas circunstâncias daquele abandono as tantas da madrugada, após sete anos de um clamoroso namoro, onde jamais vivi mergulhada silenciosamente nas trevas e a humilhação de estar a ser, literalmente, escorraçada a pontapé da vida de alguém e o pânico que se assomou de mim ao aperceber-me que tal cena poderia atrair atenções sobre nós na calada da noite, tais eram os gritos do Duarte para comigo, resignei-me ao seu veredicto.


Helena:
Como vivenciaste essa madrugada? Alguma vez te passou pela cabeça no auge dos anos noventa, nos teus quinze anos de idade, que dez anos mais tarde serias largada diante da porta do Tiago? (fico pensativa) … Espera, lembro-me de teres comentado comigo algo que ainda não abordamos aqui: uma conversa muito séria que tiveste com o Tiago aos dezasseis anos de idade exatamente diante da porta da casa dele, onde lhe declaraste o teu amor e pedistes-lhe compreensão para contigo e um ínfimo rasgo de esperança que fosse. Deixa-me reformular a pergunta: Alguma vez te passou pela cabeça, no decorrer dessa conversa, que dez anos mais tarde, serias abandonada, exatamente ali, diante da porta dele, às tantas da madrugada, imbuída em lágrimas e com um noivado terminado? Alguma vez tal te ocorreu?


Vanessa:
Nem por uma milionésima de segundos… Embora (faz uma pausa), o meu sentimento pelo Tiago fosse tão forte que sempre supos que, pelo menos do meu lado, a história ainda teria muitas páginas para serem escritas, ainda que o Tiago se transformasse meramente num interveniente fantasma. Se me questionares como vivenciei essa madrugada posso confessar-te que foi uma madrugada agridoce; o Duarte estava colérico, pejado de dor e raiva. Eu tentava acalmar a sua tempestade interior, implorava-lhe para ele não fazer nenhum escândalo, para me levar de regresso a casa, para desligar a ignição do carro (a travagem foi tão brusca que julguei que iria despertar todos os quarteirões em redor), a sua voz transmitia indignação. Mal proferi o nome do Tiago como a minha futura escolha de vida, e aquela que era inegável e irrefutável para mim, o Duarte arrancou com o carro, percorrendo as ruas envoltas em nevoeiro, serpenteando os cruzamentos com demasiada velocidade, as luzes dos faróis estavam no máximo; ele estava completamente descontrolado! Quis manifestar-me, impedi-lo de fazer o que quer que fosse que ele pretendia fazer, mas ordenei a voz na minha cabeça que se calasse e que aguentasse o pavor que estava a vivenciar pois, no final de contas, era um justo castigo por ter escolhido o Tiago; acabar numa morgue ou numa cama de hospital, incapacitada, devido a um acidente de viação. (Vanessa acreditou que devido ao descontrolo emocional de Duarte iriam ter um acidente). Ao chegar a rua do Tiago o carro quase que fez um pião, derrapando até se imobilizar diante da porta dele. A extrema perícia e o controlo absoluto que o Duarte detinha na condução de qualquer viatura que fosse (possuía tanto carros quanto motas de corridas) fizeram com que o pior fosse evitado pois a rua do Tiago é estreitíssima e, um mínimo deslize, acabaria em embate ou despiste numa viatura estacionada. A rua onde o Tiago vivia é um lugarejo demasiado sossegado, absolutamente incapacitada para albergar uma cena de fast & furious. Os pneus chiaram quando ele travou bruscamente. Eu encontrava-me petrificada, agarrada ao assento com ambas as mãos, enquanto o Duarte ordenava-me perentoriamente que saísse imediatamente do seu carro, que saísse da sua vida, quase a fazer lembrar uma canção popular do nosso cancioneiro nacional. Eu mostrei-me relutante em obedecer-lhe e só lhe implorava que desligasse o carro, se silenciasse e refreasse os seus ânimos, que acabaríamos a acordar a rua inteira no auge da nossa discussão, mas, o Duarte estava lívido, os seus traços faciais eram implacáveis, a sua respiração era acelerada e ele tinha estampada no rosto uma expressão de raiva assustadora: ele viera entregar-me ao Tiago, literalmente, na verdadeira aceção da palavra!


Helena:
Bom, tu assim o decidiste: como reagiste?


O nosso ritmo e as nossas conversas telefónicas voltaram a ser interrompidos por uma doença súbita que assaltou Vanessa. Sendo ela a transcritora – por natureza – e avaliadora de todas as conversas que encetamos, a sua disponibilidade e predisposição para estar diante de um computador a redigir o que quer que fosse foi nula, como tal, Vanessa pediu-me um interregno. Por transcrever ainda estavam muitas das nossas conversas, aquando da minha estadia em Setúbal, porém Vanessa salta aleatoriamente de tópico para tópico e, tal como uma maestrina que conduz uma orquestra, também é ela que conduz os nossos diálogos a seu bel-prazer. Regressamos as conversas telefónicas assim que a sua disposição melhorou e o seu humor idem aspas. Por essa altura, Vanessa, havia encetado uma engrenagem diferente no seu Blogue; desde títulos de Posts até ao seu próprio endereço. Reparei, instantaneamente, que a descrição relativamente ao Tiago havia sido substancialmente aumentada, o que me suscitou alguma curiosidade.

 

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Helena Coelho:
Bom dia! Estou feliz de ouvir a tua voz; como te sentes?

 

Vanessa Paquete: (responde-me com um ar maçador) Estou um bocadinho de mau humor hoje, por isso não sei se terei grande utilidade para responder as tuas questões. Continuo mergulhada na minha doença ótica e na bronquite asmática que me está a destruir a paciência por completo. Conhecendo tu como me conheces, sabes que a minha paciência – por natureza – já é limitada, por isso, multiplica ao quadrado o meu grau de exasperação. (suspira) Devem ter-me lançado um feitiço, se ainda fosse um sexy “ I Put A Spell On You “ eu até sucumbia (ri-se amiúde… nota-se que a sua disposição não é das melhores). Como estás tu?


Helena Coelho:
Estou bem, sempre sorridente, de astral em cima, mas um pouco chocada com a última notícia da queda de um avião devido a um piloto depressivo. Queria ler-te a peça que escrevi para a coluna do jornal onde trabalho, mas, se calhar não estás lá com grande paciência para me escutar.


Vanessa Paquete:
Claro que te escuto (sorri). No final da entrevista pode ser? A notícia não me passou ao lado, muito pelo contrário, chocou-me sobejamente. As notícias agora parecem estar diante dos nossos olhos a toda e qualquer hora do dia, no entanto, ouvi a tragédia pelo rádio. Só mais tarde é que vi as imagens. De partir o coração. (faz uma pausa). Conheces um tema gravado pela artista Belga Lara Fabian no decorrer do ano de 1996, intitulado “ J`Ai Zappé “?


Helena Coelho:
Duvido…


Vanessa Paquete:
J`ai Zappé” é uma das melhores músicas alguma vez escritas. É um tema muito social e transparente, daqueles que coloca o dedo na ferida e foca o nosso dia-a-dia, tal e qual como ele é. O segredo das melhores canções é a capacidade de exultarem um sentimento de pertença, quando escutamos uma melodia e nos identificamos com ela. “ J`Ai Zappé” é uma resposta inteligente, escrita já em meados de 1996, acerca dos Media e da violência gráfica e do terrorismo que invade diariamente os nossos noticiários. Existe uma razão muito simples e prática para me ter apaixonado, irremediavelmente, por Lara Fabian: é uma artista completa que sabe articular as síncopes do coração com temas socialmente pertinentes.


Helena Coelho:
Estou curiosa…De que fala “ J`Ai Zappe”?


Vanessa Paquete:
(canta em francês) Então eu fiz zapping/ Para que a imagem mudasse/ E rezei com fervor/ Se existe alguém lá em cima no Céu/ Faça com que possamos recomeçar do zero/ E eu espero /Não existe mais nada a fazer/ Já ninguém mais se entende/ Neste nosso pequeno planeta/ Todas as nossas preces/ Perdem-se no meio da tempestade/ Mas esta voz incisiva/ Ainda me diz que um dia tudo há-de passar… Tens de escutá-la! É maravilhosa…Uma letra soberba com uma cadência agressiva e subtil, em simultâneo, a melodia cai que nem veludo no ouvido e de seguida atinge-nos que nem um relâmpago no refrão com uns rifes de guitarra a rasgar-nos a alma! Tens mesmo de escutá-la!

 

 

Helena Coelho: Retomamos a nossa entrevista?


Vanessa Paquete:
Sim, claro, refresca-me lá a memória; onde é que havíamos ficado?


Helena Coelho:
Na noite em que foste abandonada, literalmente, no altar. (tento meter-me com ela)


Vanessa Paquete:
(dá uma pequena risada) Sim, é verdade, havíamos ficado algures para o meio dessa experiência alucinante transcendente. Sabes que depois de reler e escutar o que havíamos gravado, me dei conta que eu devo ter sido a única rapariga abandonada a porta do Tiago Madalena?


Helena Coelho:
É bem provável! Também sempre foste a mais dramática (faço uma pausa) ou a mais apaixonada… ou a mais teimosa; nunca sei como apostrofar esse sentimento que sentias por ele. Diz-me, como reagiste ao abandono do Duarte?


Vanessa Paquete:
Foi muito difícil. Não havia argumento que pudesse contrariar a decisão do Duarte. Não havia tempo para dramatizar ainda mais a situação. Aquela não era a hora nem o lugar. Tinha de evitar a todo o custo um escândalo diante da porta do Tiago. A lógica, naquela noite não estava a favor do Duarte que estava, completamente, subjugado pelo seu lado mais emocional. Tinha de ser eu a racionalizar os sentimentos, a aceitar os fatos, a estancar os gritos, a silenciar o nosso duelo de titãs. Sentia-me completamente apavorada. Temia violentamente. O único pensamento que me atravessava a mente era que o Duarte ia arrastar-me pelo braço, levar-me aos tropeções até a porta do Tiago e premir a campainha.


Helena Coelho:
Porque ele o ameaçara fazer, certo?


Vanessa Paquete:
Sim (a sua voz está embargada) … A minha cabeça rodopiava vertiginosamente. A princípio tudo parecia pouco claro, como se estivesses imersa num pesadelo, porém, a medida que os minutos e a hora avançavam, a certeza de que o Duarte se encontrava completamente irado, tornava-se cada vez mais evidente. Ele acabara de se aperceber que após sete anos de namoro eu lhe roubara anos de vida, o traíra em pensamento constantemente e o enganara; pois eu continuava, incondicional e irrevogavelmente, apaixonada pelo Tiago!


Helena Coelho:
Então estás a querer dizer que nunca foste apaixonada pelo Duarte, que assumiste uma relação durante anos apenas para o tentar esquecer, que o Tiago sempre te assombrou e que mentias a ti própria afirmando que a sua invisibilidade te ajudaria nessa tarefa?


Vanessa Paquete:
Não, não…Não compreendes, Helena? É possível amar-se em simultâneo mais do que uma pessoa, sem que tal seja considerado traição ou poligamia. Existem variadíssimas formas de se amar alguém. O Duarte protegia-me, tinha um olhar afável, um abraço intenso, seguro, pacificador… Era o meu anjo protetor. Eu adorava-o e posso afirmar-to, sem qualquer sombra de arrependimento ou dúvidas, que vivi colada a ele durante sete anos; erámos um verdadeiro casal, bolas! Contudo (lamentou-se pesarosamente) existiam sempre réplicas do Tiago na minha cabeça que me traspassavam. Nunca me foi necessário existirem redes sociais cibernautas para que o Tiago vivesse insistentemente na minha cabeça, como referiste, e bem, a sua invisibilidade não fazia com que eu deixasse de pensar nele.


Helena Coelho:
Enquanto namoraste com o Duarte tinhas algum contato visual com o Tiago?


Vanessa Paquete:
Vai parecer-te algo estarrecedor, mas não. Não coloquei os olhos em cima do Tiago desde meados do Verão de 1999 até o Carnaval de 2004 o que perfaz cerca de cinco anos ao todo sem qualquer contato visual. Não sabia se ele estava vivo ou morto. Casado ou solteiro. E, na realidade, pasme-se a comunidade, não faço a mínima ideia de absolutamente nada do que se passou na sua vida desde meados de 1999 até o ano de 2006. Foi uma rede cibernauta a abrir-me de novo uma frincha de uma janela que me dava uma réstia de possibilidades de espreitar um pouco a sua vida; ainda assim, muitas das ilações que concluí, não passaram de meras suposições.


Helena Coelho:
(sorrio perante o fato de ela acreditar que eu fosse achar tal afirmação estarrecedora) Vanessa, os grandes amores, não necessitam de uma atualização anual da vida do outro. Agora surpreendeste-me! Em todas as histórias de amor literárias e cinéfilas não se passam anos até que um volte a encontrar o outro, sem que nunca o tenha esquecido? Não é esse o segredo das grandes histórias de amor das nossas obras literárias? A ausência com a permanência do nosso amor pelo outro no coração! Pensei que soubesses que o primeiro amor nunca se esquece, ou pelo menos, os grandes amores… A ausência não diminui em nada o nosso sentimento.


Vanessa Paquete:
Ah, pois, estava a tentar ser um pouco racional.


Helena Coelho:
Suponho que tenha sido o fato de reveres o Tiago em 2004 que te tenha feito ponderar a relação e contornar a esquina, não? (sinto-a engasgar-se um pouco e se a tivesse diante de mim iria jurar que está a ruborizar)


Vanessa Paquete:
Sim, foi um encontro que eu não estava de maneira alguma a espera ou sequer preparada para enfrentar.


Helena Coelho:
Mas, esclarece-me apenas uma questão: tu e o Tiago não viviam a dois quarteirões um do outro? Como é que é possível duas pessoas que residem na mesma cidade, que não alberga mais do que 20.000 habitantes, nunca se esbarrem no meio da rua? Vocês viviam praticamente a uma avenida de distância…


Vanessa Paquete:
(fica pensativa) Sim, olhando para trás, vivíamos tão próximo um do outro que parece incrível que nunca nos tenhamos esbarrado. Na altura, eu mudara por completo a rotina e regras da minha vida; o Duarte vivia a 40 Kms de Leça e eu, por norma, saía de casa as 07:00 da manhã e apenas regressava as 24:00: trabalhava, estudava, estava a tirar a carta, tive mais do que um trabalho em simultâneo, pratiquei jogging e natação durante três anos. Como podes ver, pouquíssimo tempo me restava para cirandar pelas ruas de Leça: eu tinha uma vida repleta de atividades, uma família para confraternizar, amigos para conviver, um namorado, atividades laborais em grandes empresas… Eu tinha uma vida, percebes? (a sua voz soa tão triste que consegue percecionar se o quanto se sente frustrada momentaneamente e saudosa dos tempos idos)


Helena Coelho:
Todavia, pensavas todos os dias no Tiago…


Vanessa Paquete:
Sim… Conseguia sempre reservar-lhe espaço no meu coração e pensamentos para ele, onde quer que eu estivesse. A noite, antes de adormecer questionava-me sempre por onde ele andaria, com quem estaria, em que abraço perder-se-ia… Por vezes, uma simples melodia na rádio trazia-mo a memória e lá ficava eu perdida nos meus devaneios. Outras vezes, recordava-me dele, tão simplesmente, a contemplar um filme ou uma antestreia no cinema.


Helena Coelho:
Como foi esse teu encontro com ele?


Vanessa Paquete:
Foi algo profético e como se estivesse predestinado a acontecer. Eu sempre evitara frequentar bares em Leça para não ter de me cruzar com ele, tampouco com os seus amigos. Eles contemplavam-me pretensiosamente, havia um claro mal-estar entre nós… Era difícil de entender como uma história a uno conseguia afetar uma miríade de pessoas. Existe uma história de desamor agridoce entre mim e todos (dá enfase ao dizer “todos”) os amigos do Tiago que já remonta quase a pré-história. É inexplicável.


Helena Coelho:
Não serás tu que tens a mania da perseguição? Fiquei com uma clara perceção que a animosidade apenas se deu após o teu desentendimento com a Renata em finais de 2012; não terá sido assim? Na realidade, dir-se-ia que foi apenas no decorrer desses acontecimentos que eles, verdadeiramente, ficaram a saber quem tu eras.


Vanessa Paquete:
Hum, ena, começo a acreditar que és uma espiã ao serviço deles. (pronuncia com estranheza)


Helena Coelho:
Deixa-te de tolices. Simplesmente estou a constatar fatos! Continua, por favor…


Vanessa Paquete:
Numa noite, depois de ter trabalhado doze horas (que era a minha rotina habitual já há mais de um ano visto que possuía dois empregos), um dos meus colegas do restaurante onde trabalhávamos em part-time persuadiu-me vigorosamente a ir com ele até um bar que eu desconhecia (o Bit Bar). O Francisco andava de beicinho caído por uma funcionária brasileira que trabalhava lá, a Gabriela! Eu recusei. Pedi para ele me levar a casa. Já passava das 24:00. Precisava de acordar dali a seis horas para entrar a trabalhar na minha atividade diurna; o escritório de advogados do nosso Ministro da Defesa. Eu franzia o sobrolho de cada vez que o Francisco insistia. Ele acabou por resignar-se e levar-me até casa. Todavia, quando estava a abrir a porta do seu Audi para sair, suspirei, soltei um gracejo qualquer e assenti a que ele me levasse ao tal bar, contanto que apenas ficássemos lá meia hora. Quando chegamos o bar estava praticamente vazio o que fez sentir-me um pouco aliviada pois odeio confluência de pessoas. Fui, com relutância, sentar-me a uma mesa num canto adjacente ao próprio bar aonde se serviam as bebidas, tentando convencer-me que seria melhor despachar aquela saída o mais rapidamente possível. Estávamos a pedir uns tónicos quando um pequeno grupo entrou pela porta lateral do bar. Consegui percecionar, de imediato, a voz do Tiago. Um feito inacreditável para alguém que não a escutava acerca de cinco anos. O Tiago tampouco deu conta da minha presença no bar e, como tal, sentou-se exatamente no lugar vago a minha frente. A sua voz transmitia energia, vivacidade e uma alegria contagiante; meu Deus, era o meu Tiago, tal e qual eu me recordava dele… Notei que ele não trazia nenhum casaco vestido, mas apenas uma camisola de malha azul-escura de mangas compridas com decote em V. Envergava uns jeans que lhe assentavam colossalmente bem, e, que a juntar a camisola, faziam um conjunto perfeito para manter os meus olhos cravados nele. Eu comecei a mexer nervosamente no fecho de correr do meu casaco de lã, sem conseguir fazer com que os meus olhos deixassem de se incidir no seu rosto, com um ar especulativo. Ele ainda não me contemplara o que fez com que agisse normalmente. Estava muito bem-humorado, rindo compulsivamente e fazendo covinhas de cada vez que o seu sorriso se abria de par em par. No meio de uma gargalhada sonora, ao erguer a sua cabeça, e de mãos depostas nas suas ancas como que a apoiar-se nelas, cruzou, finalmente, o meu olhar que o contemplava já há minutos condescendentemente. Olhou-me pasmado, ergueu uma sobrancelha e, pura e simplesmente, congelou no tempo; o riso morreu-lhe nos lábios, ficou lívido e incapacitado de pronunciar o que quer que fosse. Lancei-lhe um olhar admoestador, com laivos de emoção que lhe implorava silenciosamente: “ Por favor, não te mexas, não fales, nem respires, deixa-te ficar apenas aí e permite-me que te contemple assim, por favor Tiago, volta a sorrir, por favor Tiago… há anos que eu espero por este reencontro “


Helena Coelho:
Uau, deve ter sido uma estranheza de sensações para ambos, mas, indubitavelmente, uma prova forte e concreta que vocês não passavam indiferentes um ao outro, ainda que por razões bem distintas.


Vanessa Paquete:
Eu tinha as minhas mãos unidas debaixo do queixo; inclinei-me para a frente, com a mão direita em concha, amparando o cabelo e tentando respirar. Fiz um esforço para lembrar-me de como se expirava novamente porque a minha respiração cessara de fluir e, a qualquer momento, parecia que o meu coração ia explodir de tanta emoção. Tive de desviar o olhar para não sucumbir perante aquele nosso enleio. Os seus olhos estavam arregalados de admiração e consternação, ao mesmo tempo. Num ápice, reparei que o Tiago ergueu-se atabalhoadamente, contornou a mesa e sentou-se de costas voltadas para mim, acendeu nervosamente um cigarro, (fumava-o compulsivamente), e manteve os seus olhos pregados num concerto dos Pearl Jam que passava na TV. Parecia que estava em estado de choque, impaciente e extremamente frustrado com o desenlace daquele nosso reencontro. Passou de um estado de descontração total a uma atitude de apreensão (aliás tão típica nele diante de mim). O seu olhar transformou-se num semblante carregado, os amigos repararam que algo se havia passado, questionavam-no incessantemente se estava tudo bem, porque mudara de lugar mas o Tiago apenas fumava e mantinha as suas costas voltadas para mim e o seu olhar estampado no raio do concerto da banda de Seattle.


Helena Coelho:
Foi nessa altura que resolveste entrar em contacto com ele; certo?


Vanessa Paquete:
Sim. Ele havia reagido tão mal a minha presença e havia-a encarado com tanta frieza e repugnância que, inconscientemente, acabei por levantar uma série de questões na minha cabeça, uma série de interrogações suficientemente abundantes para darem comigo completamente em doida. Precisava falar-lhe; entendes? Questioná-lo por que razão era tão seletivo, por que razão o espirito dele se ensombrava sempre que me via, por que razão o rosto dele se tornava indecifrável e cáustico. E a minha curiosidade não seria saciada com um mero e parco “por que sim”! Recusava-me teimosamente a ficar sem respostas. Eu debatia-me com um ardor sufocante que me percorria o corpo todo de cada vez que o via e ele, meramente, olhava-me de relance e não me retribuía o olhar – muito pelo contrário – debatia-se ele próprio também contra a tentação de espreitar o meu rosto…


Helena Coelho:
Talvez por medo… O vosso passado havia deixado marcas indeléveis em ambos, mais uma vez, por razões bem distintas, mas, o Tiago devia sentir um pânico desconcertante quanto te via. Para te sintetizar melhor; ele devia sentir uma grande sensação de angústia de cada vez que se cruzava contigo… (fiz uma pausa, o silêncio pesaroso do outro lado da linha fazia-me adivinhar que havido atingido Vanessa bem no seu calcanhar de Aquiles…teria sido demasiado dura para com ela?) Ainda estás ai?


Vanessa Paquete:
(silêncio) Bem, és muito perspicaz mas não me faças parecer a malévola, contudo, admito que estás absolutamente certa quanto aos aspetos negativos e foi tal iminente conclusão que fez com que lhe redigisse uma longa carta a desculpar-me perante ele. Queria pedir-lhe perdão. Esclarecê-lo. Tentar explicar-lhe, ainda que atabalhoadamente, o porquê desta atitude, o porquê de outra reação mais colérica, a razão dos meus devaneios, enfim, queria puder explicar-me perante ele.


Helena Coelho:
Pediste-lhe perdão?


Vanessa Paquete:
(faz uma pausa) Não sei se ele chegou a página onde o pedido de perdão estava estampado, mas, sim, pedi-lhe perdão, inclusivamente, pedi perdão a ambos, a ele e ao Ivo. Sentia que havia sido desastrada. Que eles haviam sigo sugados pelo meu humor imprevisível e que, em muitas das vezes, eles me haviam magoado não propositadamente, mas sim devido as suas idades tão precoces. Tal não apagava a humilhação que eu sentira na pele, o desprezo vivenciado, mas acabava por lhes dar um pretexto para serem desculpados por mim e, consequentemente, para eu lhes pedir perdão pela minha retaliação à indiferença deles. Era assim que eu pensava nos meus vinte e cinco anos de idade; que uma explicação resolveria as dificuldades, abrir-me-ia novas opções e dar-me-ia uma outra oportunidade, quiçá, de redimir-me. A carta que lhe redigi no ano de 2004 foi uma das jornadas mais agradáveis que empreendi em toda a minha existência: nunca me sentira tão próximo de alguém! Escrever-lhe e falar-lhe era um deleite para o meu coração; era como se estivéssemos sentados a beira-mar e eu pudesse contemplar os seus olhos cristalinos verde topázio e as nossas mentes estivessem sintonizadas numa frequência só, em uníssono! Demorei cerca de catorze meses a redigir-lhe a carta e posso dizer-te que senti o Tiago sempre comigo, a meu lado, enquanto lhe sussurrava aquelas palavras de amor e redenção. Vê-lo naquele Carnaval no Bit Bar após tantos anos mudou o meu estado de espirito. A sua atitude também suavizou-se um pouco após o primeiro encontro. Creio que ele precisou de mais alguns embates nossos para se refazer do choque e tirar a lividez do seu rosto, mas, amiúde foi chegando lá. Notei que se sentia sobejamente protegido, ou quando estava rodeado pela panóplia dos seus amigos, ou quando já bebera uma ou duas cervejas ou shots (talvez tal o ajudasse a descontrair).


Helena Coelho:
Onde ficou o Duarte no meio de tudo isso?


Vanessa Paquete:
(suspira) Esquecido… Todavia, ainda seriam necessários cerca de dezasseis meses até a nossa relação terminar e eu ser abandonada a porta do Tiago, feita uma noiva largada em pleno altar!


As nossas conversas telefónicas voltaram a ser interrompidas de novo. Vanessa decidiu dividi-las em transcrições mais sucintas. A sua disponibilidade era muito limitada devido a toda a engrenagem do Evento Desifoto Lisboa 2015, ao qual, enquanto Organizadora, nem chegou a comparecer devido a problemas sérios de cariz pessoal e de saúde. Sendo ela a transcritora – por natureza – e avaliadora de todas as conversas que encetamos, o regresso ao Blogue fez-se de uma maneira morosa; a sua predisposição para escrever acerca do Tiago e acerca daquela noite não era das melhores, ainda assim prometeu continuar a entrevista brevemente…


CONTINUA…


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 Vanessa Paquete 2015 ©

Helena Coelho 2015 ©

 

 

 

 

DITAMES DA BELEZA (O FLAGELO DE SER-SE ROLIÇA)

 

 

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O que é ter-se beleza?


Todos nós sabemos que o comportamento do ser humano varia conforme a mentalidade de cada época. Mas cada mentalidade advém do ser humano e da visão que este possui do mundo e de si mesmo diante de inúmeras interrogações pessoais que nos são impostas pela sociedade.


O ser humano vive de acordo com a cultura local e a Moda que se encontra em Voga. Raros são aqueles que vivem, nos dias que correm, em prol de uma busca íntima/espiritual que lhes permita sentirem-se bem com as suas próprias escolhas pessoais.


Ser-se roliça e curvilínea e fugir aos estereótipos da magreza extremista implementada no decorrer do século XX, é ser-se diferente! A nossa saúde física e mental é relegada para último plano, simplesmente, para satisfazermos o parecer dos demais e a imagem que vemos refletida no espelho. É-nos exigida beleza, graciosidade, formas simétricas, cabelos sedosos a ondularem ao vento, indumentárias a adelgaçarem-nos o corpo, tudo em prol de conquistarmos um lugar ao Sol onde quer que seja, quer na nossa vida amorosa/emocional, quanto na nossa vida profissional.


Parece que os ditames da beleza ditam o nosso cargo profissional, o coração que conquistamos, as amizades que vamos agregando ao nosso redor: tudo!


De se salientar que os ditames da beleza sempre tiveram a sua influência nos anais da história e, dificilmente, poderemos esquecer que Impérios se ergueram e outros tantos capitularam em prol da beleza de um ser feminino! Eva foi a primeira pecadora. O primeiro estereótipo de beleza. Uma mulher tão bela e irresistível que Adão não lhe conseguiu resistir, acedendo aos seus pedidos, e acabando por destruir a terra prometida do paraíso, a ingerir o fruto proibido: assim nos reza a lenda!

 

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Nos anos 1950, Marilyn Monroe era o modelo de beleza feminina. Hoje, Norma Jean, aquela que foi considerada a mulher mais sexy de sempre, muito provavelmente, ver-se-ia forçada a emagrecer uns dez kilos e seria, de imediato, colocada pelos seus agentes sob uma dieta férrea, ou tão simplesmente, seria convidada a tornar-se vegetariana, a frequentar o ginásio sete dias por semana e em cada contrato que assinasse existiria uma cláusula destinada a alínea “ peso & aparência “!

Em meados dos anos 1980 surge o culto da magreza.


Começa a fase da cultura estética, o horror a tudo que é mole, flácido, gordo e sobre os obesos recai o estigma moral. Tal flagelo recaí que nem uma bomba atómica em países de origem Europeia, onde ser-se magro passa a ser a demanda do Santo Graal. Essas características têm levado conglomerados de mulheres a procurarem centros cirúrgicos para poderem estar de acordo com a moda. Os processos atuais da construção de corpos femininos, tanto no sentido de práticas corporais (regimes exaustivos de exercício, dieta, cirurgias cosméticas ligadas à fantasia do 'aperfeiçoamento' do corpo, segundo padrões estabelecidos de beleza, e preocupações - em proporções obsessivas - com a aparência, a moda, como ditado por uma indústria cultural que sustenta a cultura do narcisismo…


A indústria cinéfila, o mundo da moda e do entretimento em geral invadem-nos diariamente as casas e as revistas que folheamos com imagens perfeitas de mulheres esbeltas; quer atrizes, quantos artistas do mundo fonográfico, jornalistas, desportistas… o mundo parece ter-se rendido ao estereótipo da perfeição e, caso fujamos dele, obrigatoriamente somos aperfeiçoadas que nem bonecas de porcelana a custa de programas informáticos especializados para tal: o Photoshop ainda continua a ser o mais mediático e celebrizado no meio!

 

Em 1990, Madonna, gravaria aquela que viria a ser um dos seus temas/cunho de marca para todo o sempre. Fazendo uma clara e inteligente alusão os ditames de beleza e um trocadilho interessente ao mundo da dança (dado que " Vogue " além de significar MODA também advêm do verbo DANÇAR e significa " Dança " ). Madonna recriaria uma mística em torno das maiores estrelas de Hollywood, já perdidas, homenageando-as em simultâneo. O seu ar de " Marylin Monroe " e os seus movimentos dance só ajudariam a fazer com que o tema singrasse nos Charts e se tornasse icônico !

 

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Os diários das adolescentes de outras épocas encontravam-se preenchidos, principalmente, com as reflexões acerca do seu caracter sobre os desafios de amadurecimento de personalidade; hoje em dia, a preocupação central gira em torno da sua aparência física e da apresentação do seu corpo perante os demais. Para as adolescentes do século XX & XXI, a autoestima parece depender muito mais do tamanho do seu nariz, da cintura adelgaçada, das pernas longínquas do que da maneira como desenvolvam capacidades de relacionamento com o mundo.


Atualmente há uma padronização perversa que não respeita as características anatômicas de cada cultura. O que faz lembrar um pouco o conceito da “ Raça Ariana “: perfeita quanto à cor dos olhos, altura ideal, corpo perfeito etecetera. Se olharmos para os anais da História, Adolf Hitler, parece ter sido um dos grandes empreendedores e impulsionadores dos ditames da beleza e da cultura que se pratica em torno da nossa fisionomia; irónico, não?


Muitas mulheres têm desistido de ser mãe para não engordarem; outras vivem num regime diário onde tomam medicamentos que ora engordam, ora emagrecem. Existem milhares de pessoas que se tornaram bulímicas ou anoréxicas a custa dos ditames da beleza.


É interessante de se analisar que quando as mulheres usavam roupas cobrindo boa parte do corpo não havia tanta preocupação com a estética e as maleitas que advêm dela: estrias, celulite e gordura localizada. E se formos mais além iremos ver que houve períodos da história humana que ser-se roliça/curvilínea era sinônimo de beleza e não de feiura. Somente quando as mulheres passaram a mostrar mais o seu corpo em meados do século XX, é que nasceu a dita preocupação com as “imperfeições femininas”. Com a emancipação da mulher adveio, idem aspas, os seus maiores dilemas a nível físico pois todas as atenções passaram a estar centradas no núcleo feminino da sociedade.


O conceito de MODA representa o agora; estilo é perene. Moda é algo que o ser humano segue; estilo é algo que o individuo cria. Moda é fazer parte de um rebanho, alistar-se na multidão; estilo é algo sobre a visão pessoal de cada um, sobre as suas particularidade e seus maneirismos. As mulheres possuem todo o direito de cuidar do seu corpo, mas jamais deixarem de ser racionais em prol dele. Quando desejamos muito mudar algo em nós é porque existe subjacente um grande descontentamento interior. Um dos motivos de tantos distúrbios mentais é o narcisismo. É notório, nos dias que correm, vermos adolescentes que saem à noite; quer para bares ou locais festivos. Se a sua presença passa despercebida ante os olhares dos jovens ou se a sua fisionomia não atrai os seus colegas na Secundária, a tendência é uma Auto Culpabilização latente que as leva a atos extremos de martirização e flagelo que lhes surripia toda e qualquer réstia de racionalidade. Quando não conseguem obter a atenção dos demais o corpo é que paga; anulam a sua personalidade e tentarão encontrar meios de se juntarem a elite dos socialmente aceites. Relegarão para segundo plano o seu intelecto em detrimento de um corpo perfeito que tentarão obter a todo o custo, nem que para isso tenham de negligenciar a sua saúde e autodestruírem-se: quem negligencia a sua própria saúde em detrimento de tendências e da moda vigente não valoriza a sua própria vida.


A pressão aumenta ainda mais quando se trata de celebridades e embora, muitas de nós mulheres, julguemos que o dito flagelo nunca ataca as endeusadas artistas e só aflige o comum dos mortais, a verdade é que tal é pura ilusão. Elas são belas, ricas, talentosas e, claro, famosas, mas nem por isso escapam do dito flagelo que é o envelhecimento corporal e, consequente, obesidade. Seja por problemas psicológicos, ou apenas mero deslize, Christina Aguilera, Kelly Clarkson, Mariah Carey, Laura Pausini e Lara Fabian são apenas algumas das celebridades que já tiveram – ou ainda têm – problemas de peso, assim como a maioria de nós, mulheres na casa dos trinta, a debaterem-se arduamente com a sua silhueta.

 

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Christina Aguileira
pouco se pronuncia acerca da sua relação com o corpo. Tendo passado a maior parte da sua vida muito magra, foi bastante chocante quando a coach do The Voice começou a ganhar peso. Sua única declaração sobre o assunto foi em 2012 numa entrevista à revista People, quando declarou amar o seu corpo, independentemente do peso que este sustentasse.


Diferente de muitos casos, o peso extra da cantora não foi consequência de sua primeira gravidez, em 2008, quando teve seu primogênito, o pequeno Max. Ela começou a engordar entre 2010 e 2012. Logo de seguida, a cantora focou-se no estilo de vida saudável, e voltou a exibir um corpo perfeito.


Em 2014, Christina ficou grávida pela segunda vez, e hoje, sete meses após o parto, exibe um corpo coerente ao atual momento de sua vida.

 

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Kelly Clarkson
é outra das artistas onde a oscilação de peso é uma constante. Se olharmos para a sua fisionomia acreditamos, invariavelmente, que o seu percurso normal seria de uma obesa curvilínea, cujo peso, iria sempre aumentando com o passar da idade. E a verdade é que, embora Kelly, tenha tido desde o início da sua carreira um corpo esbelto e adelgaçado, os ossos proeminentes do seu rosto e cara cheia faziam adivinhar um futuro negro na vida da artista relativamente ao peso.


A artista norte-americana engordou muito cedo, mesmo antes dos trinta, e pareceu aceitar bem a situação, não se coibindo de continuar a usar jeans justos. As oscilações de peso ocorreram, claro, variadíssimas vezes, ou porque a pressão mediática em seu redor assim o exigia ou aquando do lançamento de um álbum, todavia, a aparência normal de Kelly é curvilínea e IN EXTREMIS; desleixo, quiçá? Ou talvez Kelly, pura e simplesmente, não goste do ginásio e pouco ligue a balança...

 

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Dona de uma voz incrível e hits atemporais, Mariah Carey passou a maior parte de sua carreira sendo vista como uma mulher belíssima e dona de uma silhueta de invejar. Apesar de nunca se ter pronunciado publicamente acerca da sua relação com o seu corpo, a diva de R&B é constantemente fotografada por paparazzi a entrar e a sair do ginásio, o que nos demonstra que Mariah se importa sim e não está disposta a abdicar do seu título de “artista mais sexy da década de 90”


As suas maiores perturbações começaram aquando de uma depressão em inícios do milênio, mas, passada a tempestade, e, ressurgida a bonança, foi desde a sua gravidez (de gêmeos) em 2010 que a cantora voltou a passar por períodos oscilantes com a balança, tendo momentos em que estava muito magra, como em 2012, quando lançou o single Triumphant (Get ‘Em), e, pouco tempo depois, com um peso visivelmente maior. Especula-se que Mariah tenha feito intervenções plásticas durante esse período, mas nunca nada foi comprovado ou afirmado.

 

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A artista Belga, Lara Fabian, nunca se coibiu de falar abertamente acerca da sua relação amor-ódio que deteve ao longo de variadíssimos anos com o seu corpo. Roliça e curvilínea por natureza, com ancas de cariz latino, visto ser descendente de italianos, Lara sempre se mostrou uma fã da boa comida e da chocolataria belga e inimiga da balança. A pressão sobre a sua silhueta e o seu corpo só tomou proporções mesmo sérias quando Lara foi capitulada para o centro das atenções francófonas de todo o mundo ao lançar o seu 3ª álbum de originais. Tendo atingido a tão desejada fasquia de milhões de álbuns vendidos e singrado até ao pódio de vários CHARTS internacionais, Lara, fez capa de variadíssimas revistas. A somar a toda esta mediatização da sua pessoa, ainda existiu o famosíssimo contrato com a Sony Music, para a realização do seu primeiro álbum anglofónico. A 12ª cláusula do contrato era específica e bem clara: a artista Belga teria de emagrecer pelo menos dez kilos (algo que viria a ser tão típico nos contratos assinados com a Sony Music). Lara Fabian emagreceu moderadamente e – na realidade – a nova magreza não parecia, de modo algum, ser-lhe prejudicial a saúde, muito pelo contrário, Lara era agora uma mulher de trinta anos de idade belíssima.


Todavia, com o passar dos anos, algumas depressões e relacionamentos falhados pelo meio do caminho, Lara foi-se vingando no corpo e nas dietas, até acabar por ficar numa magreza latente IN EXTREMIS que pareceu nunca mais querer abandonar. Na realidade, Lara transformou-se em vegetariana, e a medida que os anos passam o seu estado normal é a magreza! Variadíssimas vezes discutiu publicamente, em revistas, ou em programas de televisão a sua relação inconstante e perfecionista com o seu corpo, argumentando, que tinha de obter uma linha perfeita e jamais desejava regressar as formas curvilíneas do seu início de carreira e a cara de “ efeito bolacha “! Sempre tentando provar a si mesma que detêm o corpo perfeito, Lara Fabian, posa regularmente, seminua para o booket e capa de cada um dos seus álbuns. A perfeição é a sua meta a atingir…

 

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Laura Pausini é outra das artistas que admite publicamente ter gravíssimos problemas de oscilação de peso e embrenhar-se em dietas drásticas que a fazem perder até 20 kilos em duas semanas. A adolescente que invadiu as nossas vidas com os seus êxitos em italiano e detinha um corpo de fazer inveja a qualquer ragazza de 18 anos, admitiu ser muito insegura, dependente dos demais e claustrofóbica socialmente, por incrível que pareça.


A sua relação de nove anos com o seu manager parece ter contribuído para a sua falta de autoestima, já que o mesmo lhe dizia, vezes sem conta, a quão roliça esta se encontrava. Em tournée, Laura admitiu, necessitar de comida extra para aguentar o ritmo o que a fazia engordar progressivamente. Afiançada ao estilista Giorgio Armani e representativa da sua grife, Laura solicitava sempre ao estilista fatos de casaco comprido, onde as suas ancas pudessem ser escondidas.


Já nos seus vinte, a sua silhueta roçava nas ancas largas e Laura detestava tal escondendo-as sempre. Após ter gravado o seu terceiro álbum de originais com apenas 22 anos de idade, e, após ter empreendido a sua primeira Tournée Mundial, Laura perde a sua voz e fica impedida de comunicar durante seis meses, sob a agravante de nunca mais vir a cantar. A medicação prescrita fá-la engordar uns bons kilos e quando Laura lança o seu 4ª álbum de originais, as fotos de lançamento mostram uma Laura de cabelos cumpridíssimos e ondulados (seu cabelo natural) e uma silhueta sobejamente roliça. Todavia, as oscilações de peso, como a própria viria a afirmar viriam a dar-se sempre com os lançamentos dos álbuns e atribuições de prémios, eventos, para os quais, tinha sempre de emagrecer obrigatoriamente.


Em 2001, em plena crise emocional, e imbuída numa depressão devido ao término do seu relacionamento, Laura emagrece 15 kilos. A acrescentar a sua fragilidade psíquica/emocional ainda existia o tal contrato, idem aspas em Inglês, com a castradora Sony Music, onde, mais uma vez, se exibia uma alínea de emagrecimento obrigatório. Daí em diante a sua relação com o corpo seria uma autêntica montanha-russa: salvou-a Giorgio Armani que sempre desenhou vestimentas que escondiam e se adaptavam as suas formas roliças. Em 2006, empreende uma relação que dura até hoje com o guitarrista Paolo Carta, que afirma ama-la roliça ou adelgaçada o que ajudou a contribuir muito para algum do seu desleixo corporal e deixou-a relaxada. Todavia, após o nascimento da sua 1ª e única filha, Laura viu-se obrigada a emagrecer 40 kilos e, de ora em diante, é adepta da comida saudável e do exercício regular.


Tal como Lara Fabian, os quarenta, demonstraram-nos uma artista muito preocupada com a sua saúde e aperfeiçoamento do seu corpo, enquanto os trinta foram um verdadeiro efeito ioiô!


Todavia, um efeito desconcertante em Laura Pausini, é que a sua beleza facial nunca se desvanece, quer pese 55 ou 75 Kilos !

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O caso da bloguista, MOI, Vanessa Paquete… Para ser sucinta, sempre fui roliça, rosto cheio e redondo e extremamente curvilínea. Os ditames de beleza apanharam-me desprevenida após o fim de um relacionamento de sete anos. Pressionada pelas convenções sociais da freguesia que habitava, Leça da Palmeira, e por um amor do passado que a semelhança de Johnny Depp, aprecia tão unicamente raparigas de cariz tábua estilo Kate Moss e Vanessa Paradis, o meu subconsciente obrigou-me a emagrecer até obter os tão desejados 45 kilos. Na magreza, anorética e obcecada com o meu corpo permaneci por quatro anos, mas, tal como os exemplos acima referidos, os trinta atingiram-me em cheio e fizeram-me regressar as minhas linhas curvilíneas e obesas, chegando a atingir os 80 kilos.

 

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 Vanessa Paquete 2015 ©