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FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

MADONNA - REBEL HEART ( SHE CAN`T GET ENOUGH OF MARYLIN AND BEING SIMPLY AMAZING )

 

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Madonna regressou: rebelde, vulnerável, explícita, provocadora! Uma Madonna que já não víamos há algum tempo, menosprezando as tendências dos seus dois últimos álbuns, em que incluía produtores que singravam na indústria musical do momento e a faziam balançar ao som do groove que incendiava o mundo fonográfico em voga. Não significa isto que, desta vez, Madonna também não o tenha feito. A verdade é que fê-lo; mas de uma maneira mais inteligente e complexa. Em Rebel Heart, Madonna, concebeu um produto ambíguo. Ambíguo porque nos faz reavivar a memória e devolver ao nosso subconsciente algumas das tendências mais dançáveis e intimista que caracterizaram tanto uma geração que a aclamou e cresceu conjuntamente com ela (a geração da década de 90) e ainda se rodeou de uma série de produtores atuais do século XXI!

 

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Nos últimos anos, ao invés de colaborar com a genialidade de produtores relativamente obscuros como ela fez em clássicos como Erotica e Ray of Light, Madonna contratou grandes nomes como Timbaland e Benny Benassi. É consensual que Madonna criou os seus melhores álbuns a colaborar, primariamente, com um produtor destinado unicamente a cada álbum, tal como aconteceu com William Orbit em Ray Of Light, Nile Rodgers em Like A Virgin ou Patrick Leonard em Like A Prayer. Mas a conexão com Avicii conduziu-a à metodologia predominante do século XXI de se ter múltiplos colaboradores a trabalhar e retalhar multíplas canções o que pode resultar numa obra genial ou numa caocidade total. A ideia de Madonna em criar um conceito de dualidade em Rebel Heart fazendo dois álbuns distintos poderia ter resultado num golpe de mestre porque as baladas são poderossíssimas e tão intimistas, ao ponto de nos fazer lembrar o brilhantismo de Ray Of Light.

 

Recordemos que os resultados de 2008 do Hard Candy e MDNA em 2012 foram desagradáveis para a carreira de Madonna e fez-nos pensar que a sua criatividade artística se desvanecera com a inevitabilidade do seu próprio envelhecimento. Em Give Me All Your Luv , um tema de 2012 interpretado ao lado de Nicki Minaj e MIA, Madonna não se encaixava em absoluto. Juntar a Rainha da Pop ao lado dos Rappers do momento só vinha comprovar ainda mais aquilo que os fãs receavam: Madonna tentava recuperar desesperadamente o seu trono ao lado das artistas em voga, deixara de lado a sua arte individual para se transformar numa espécie de vampira a cobiçar a juventude das suas concorrentes, mas, em Rebel Heart, Madonna vingou-se das acusações à sua pessoa encarnando essa crítica e usando-a a seu favor como pólvora e gasolina para hinos megalómanos e confissões vulneráveis perfeitas para o surrealismo.

 

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Rebel Heart, como a maioria dos álbuns de Madonna, soletra o seu conceito diretamente, sem grandes camufulagens à mistura. Originalmente, Madonna planeara efetivamente um álbum com dois conceitos distintos tais eram as quantidades das faixas produzidas. Madonna desejava criar uma dualidade: Rebelde versus Coração. “Um aspecto seria uma representação do meu lado mais rebelde e provocante. E o outro seria o lado mais romântico e vulnerável”, afirmou a cantora. Todavia, finalizado o álbum, Madonna decidiu alterar-nos as emoções e mesclar tudo numa amalgama só o que resulta num produto que não é coeso, mas, pode ser visto, antes como uma retrospetiva incisiva em todos os estilos musicais experimentados por Madonna desde a década de 90 até pleno século XXI. É algo raro em Madonna, porém, já o tema Veni, Vidi, Vici o diz: Madonna chegou, viu e venceu e em Rebel Heart constrói uma autobiografia triunfante através dos títulos das suas canções e da sonoridade que emula em cada faixa.

 

 

 

 

Na prática, soa-nos algo atroz escutar Madonna a interpretar algo acerca dos Illuminati, e juntar várias celebridades à mistura, ou escutá-la em três ou quatro faixas atribuir a si própria uma série de epítetos bem grotescos onde se autoproclama uma cabra descarada e inflexível, à qual é melhor as hodes obedecerem: a Madonna de inícios dos anos 90 está de regresso como nunca antes se viu e é aí que se encontra toda a mística do álbum; em algumas faixas encontramos a Madonna da edição do filme Truth Or Dare, a libertina do livro Sex com uma série de polêmicas a perna acerca da sua sexualidade e índole e queremos repassar a faixa o mais depressa que conseguirmos porque ninguém gosta de escutar alguém autoproclamar-se de cabra e depois, como que por um passe de mágica, surgem-nos aqueles temas surpreendentes onde Madonna parece francamente vulnerável e sincera.

 

Devil Pray inicia-se com uma sonoridade muito semelhante a fase do álbum American Life onde faixas como Tell Me brilharam, mas, desta vez, a artista mergulha com profundidade nas suas confissões, argumentando, que aos 56 anos de idade pode drogar-se, beber uísque e fazer todo o gênero de prosmicuidades porque entre o bem e o mal até o Diabo reza e, no final, ao som de uma Aléluia ela poderá ser salva. No fim de contas, é um tema inteligente acerca de absolvição e de como Deus é benevolente (remeniscências espirituais de Like a Prayer?) Musicalmente, o tema é polido e muito Avicii, mas espiritual e absolutamente triunfante.

 

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Os crescendos de vulnerabilidade que existem latentes em Ghosttown transformam o tema numa daquelas grandes canções de dança que sabemos, de antemão, que irá triunfar e que será o próximo single a escalar os Charts Internacionais. Numa dualidade de angústia e força Madonna canta pungentemente e encorajadora, ao mesmo tempo: "Tudo o que possuímos é o amor." Durante o refrão, Madonna autoproclama-se algo messiânica e tenta convencer o seu amado que será a sua salvadora: "Quando tudo desmoronar-se / Eu serei o teu fogo quando as luzes se apagarem/ Nós seremos duas almas numa cidade fantasma"

 

No single de estreia Living For Love escutamos uma explosão de tendências musicais vivenciadas nos inícios da década de 90 por uma Madonna loura/platinada, cuja música de dança comercial invadia as tabelas de charts. A sonoridade está toda lá. Uma verdadeira reminiscência clássica dos anos 90, a fazer-nos lembrar as pistas de dança que frequentávamos na adolescência. As referências espirituais de finais da década de 80 quando Madonna lançou Like A Prayer é outra das novidades a ser trazida à baila neste tema com um coro gospel a mesclar-se na batida que vai rodando, freneticamente, enquanto Madonna canta triunfante: “ Viver pelo amor, viver pelo amor/ Eu não irei desistir

 

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Outro tema que nos soa extremamente autobiográfico e de uma beleza singular é a balada Joan Of Arc. Madonna inicia a sua interpretação em jeito de confissão e acusação pesarosa, revelando-se contra os paparazzi, argumentando que não é impenetrável, e que já passou por muitas intempéries ao longo dos anos. “Sempre admirei a história de Joana D’Arc e o que ela simboliza, a convicção dela. Ainda não cheguei lá nem pretendo ser uma mártir. Todos pensam que eu sou impenetrável e super-humana, e, talvez, isso seja uma verdade incontornável, visto que estou na indústria fonográfica há mais de três décadas.“ afirma a cantora.

 

Rebel Heart pode não agradar a todas as hostes por ser tão diversificado, mas, é-nos impossível ficarmos indiferentes a catarse psíquica que Madonna faz em Heartbreak City, lamuriando-se por um amor perdido explicitamente, com alguns palavrões à mistura mas uma transparência tal que a nossa alma chora conjuntamente com ela naquele tema tão dilacerante de amor despedaçado e evadido (vocais belíssimos, letra ridiculamente pertinente em jeito de Adele ). Madonna canta enraivecida: “ Fodeste-me , disseste-me que eu era a tua rainha e agora apelas a tua liberdade e ainda tens a lata de dizeres-me que poderemos sempre ser amigos/ Despedaçaste-me por completo, eu amaldiçoei o dia em que te conheci e tudo isto me parece uma grande merda “

 

 

 

 

 

 

Aos 56 anos de idade, Madonna é uma mulher destemida, irreverente, franca e ousada a fazer frente a um mercado Pop obcecado com o culto da juventude. A resposta dela, como sempre, é a perseverança. “Por ter sido marginalizada como mulher num mundo dominado por homens, e por estar inserida numa indústria sexista ou num mundo sexista, eu sempre tive que superar ou resistir a tudo. Acho que nunca consegui viver verdadeiramente tranquila. Como tal, por esse motivo, não digo que foi fácil. Para mim, impor-me, tem sido difícil desde o primeiro dia”.

 

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“Vivo a vida de uma maneira masoquista a escutar o meu pai dizer-me constantemente: “Eu bem te avisei… Eu bem te avisei… Por que é que tu não és como as outras miúdas?”/ E eu disse: ‘Oh pai não, essa não sou assim. E acho que jamais o serei/ Tentei encaixar-me mas essa não era eu sempre desejei mais através da escuridão de alguma forma eu sobrevivi com o meu coração rebelde/ Passei tanto tempo a viver como uma narcisista e a escutar os outros dizer “ olha só para ti, olha bem para ti a seres tão provocadora “/E eu disse “ essa sou mesmo eu, todas as coisas que fiz foram para ser vistas “’. Estas palavras vêm da letra da faixa-título de Rebel Heart. Não importa o que Madonna faça, com quem ela se case, quantos filhos tenha, ou quantos namorados acumule, a verdade é que ela jamais será como as outras mulheres e, por mais que tente, ficou bem evidente no tema Rebel Heart, que Madonna também nunca se reconciliará totalmente com o seu pai pois fortes diferenças de valores e vivências os separam.

 

 

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Madonna regressou em Rebel Heart a muitas reminiscências da década de 90, nomeadamente, a personificação da sua justa diva: Marylin Monroe

 

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Uma retrospectiva no tempo: Madonna há 21 anos atrás aquando do lançamento de Bedtime Stories e, presentemente, na edição do seu Rebel Heart com 56 anos de idade.

 

 

Madonna recusa-se a vergar-se a qualquer convenção relacionada com a arte que ela pratica ou com aquilo que se deve esperar de uma mulher com mais de 50 anos e o seu mais recente álbum é uma prova viva de tal afirmação. Rebel Heart é uma longa meditação, uma introspeção apaixonada e um ato de contrição e de autorreferência acerca da perda do amor e ter de encontrar a razão por entre a escuridão e os momentos mais avassaladores de pânico, dúvidas e incertezas da nossa vida. Musicalmente, é uma aventura em vários opostos e existe tanta diversidade que, decerto, irá agradar tanto aos rebeldes quanto aos mais burgueses, bem como aos corações mais românticos. Rebel Heart é um álbum corajoso, uma homenagem a cultura popular e um manifesto convicto de um coração rebelde que insiste em nos avivar a memória com a premissa irrefutável de que “ não existe melhor cura para as nossas mágoas do que a música pop “ !

 

Vanessa Paquete 2015 ©

 

 

 

PS: Um especial agradecimento a Helena Coelho que tanta força me deu para que eu abrangesse a temâtica do meu Blog e incidisse a minha escrita em todo e qualquer tema que me apaixone. Daqui a uns dias lá teremos a nossa III entrevista publicada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TIAGO MADALENA ( III INTERVIEW ABOUT HIM AND VANESSA PAST)

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CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA DO POST ANTERIOR

 

Helena Coelho: Mas nesse Verão não. Nesse Verão detinhas autocontrolo e eras uma miúda segura. Ciente de que o Tiago não poderia oferecer-te os seus lábios a moverem-se ao ritmo dos teus, pura e simplesmente, procuraste outros.

 

Vanessa Paquete: Sim, após muito ponderar, e cansar-me verdadeiramente das nossas provocações mútuas. Se ele não tinha nada de bom ou útil para me ensinar e eu a ele, aparentemente, mais valia ficarmos mesmo naquele estado de animosidade e com aquelas saudações anti climáticas, com as quais, ele me presenteava tão frequentemente. Havias dias tangíveis, bons – na verdadeira aceção da palavra – em que a minha esperança se reacendia e conseguíamos comunicar. Existiam outros, porém, em que ele objetificava tudo, franzia o esgar e ficava com aquela expressão de gajo saturado estampada na face. No final, fui eu a ficar saturada… Porém, no ano seguinte, lá iria eu embarcar no comboio, mais uma vez, desta feita, com toda a experiência adquirida ao lado do Simão no porta bagagens e a desculpa esfarrapada que o Tiago já havia crescido o suficiente para não me franzir mais o sobrolho. Errar é humano…

 

Helena Coelho: Parece-me que eras muito mais madura que ele, ou tão simplesmente, cresceste depressa demais e desejavas tão avidamente explorar o que existia em teu redor?

 

Vanessa Paquete: Creio que a literatura influenciou-me muito. Era, como já referi, uma fã acérrima da leitura de assuntos pertinentes. Era atraída, automaticamente, para livros de cariz soturno onde assuntos como a droga e a sexualidade eram abordados. Sentia a urgência de começar a explorar o meu corpo. Não que eu quisesse colocar em prática o que havia lido compulsivamente, até porque, a assimilação do conteúdo de certos livros ensinou-me a detetar, instintivamente, onde se encontrava o perigo.

 

Helena Coelho: Daí já seres possuidora de preservativos aos catorze anos de idade?

 

Vanessa Paquete: Da nossa conversa, deves ter apreendido que aprendi algo com a turma que eu frequentava. Associa essa experiência a um estudo minucioso dos livros que eu lia. Não foi preciso ninguém dizer-me que a pílula evitava a gravidez mas não doenças contagiosas e que o preservativo também não era fiável a 100 %, mas, que para primeiras relações, continuava a ser o melhor método de contraceção. O próprio Simão foi o primeiro a mencionar o uso de preservativo. (risos) Miúdos, sim! Mas miúdos altamente conscienciosos e atentos para o mundo circundante. Talvez o destino tivesse tido a sorte de juntar duas mentes pensadoras e analíticas. Como já te referi, anteriormente, e volto a vincá-lo, creio que com o Tiago a história teria sido bem diferente. Para começar, não teria acontecido sob as circunstâncias enternecedoras e mágicas que proporcionaram o encontro da alma de dois miúdos sedentos de paixão, tesão, desejo, sonhos e ilusões…

 

Helena Coelho: O Tiago não estava a altura da situação?

 

Vanessa Paquete: (ri-se compulsivamente)

 

Helena Coelho: Não te rias. É uma pergunta séria…

 

Vanessa Paquete: Estás a perguntar-me se o Tiago não estava a altura de tirar-me a virgindade?

 

Helena Coelho: Sim…

 

Vanessa Paquete: (coloca um ar sério) Não, não estava! Ainda haveria ter de crescer muito a nível físico e, acima de tudo, de mentalidade. Ele era uma criança lindíssima. Quase estou tentada a afirmar que o Tiago era um bibelô, um daqueles ursinhos de pelúcia que queremos abraçar muito. Detinha a sua teimosia, absolutamente implacável para comigo, mas era um rapaz meigo quando a ocasião assim o pedia. Acredito que possuía os mesmos desejos que qualquer rapaz em fase de entrar na puberdade possuí, porém, não acredito que os manifestasse ou os colocasse em prática com a mesma inteligência e intelectualidade com que o Simão o fez: ele foi simplesmente brilhante. Jamais o esquecerei!

 

Helena Coelho: E nem precisaste fazê-lo, visto que, voltariam a encontrar-se aos vinte e dois e vinte e sete anos respectivamente, sendo o último encontro um script digno de um filme. (risos)

 

Vanessa Paquete: Sim, tive muita sorte em puder voltar a amar o Simão, independentemente das pessoas que magoamos à nossa volta, de nos termos magoado a nós próprios, em virtude da nossa vontade e desejo irresoluto de estarmos juntos; afinal de contas o Simão já era um homem casado.

 

Helena Coelho: Nunca se esquece verdadeiramente o nosso primeiro afeto. Diz-me uma coisa; o Simão era um Lip Gallagher nos seus catorze anos de idade?

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Vanessa Paquete: (risos) A exceção dos olhos verdes sim, são muito parecidos, embora o Simão, fosse menos dado a bebidas e tabaco. De resto, o Simão, detinha aquele ar de gênio do Lip, feições e corpo semelhante, as mesmas questões e controvérsias e, seguramente, o total apego aos seus irmãos mais novos. Era um romântico, tal como o Lip e teve as suas doses de dúvidas bem vincadas na sua existência, inclusivamente, uma tentativa de suícidio com estupefaciantes à custa de uma gaja (fica pensativa). Gênio como era, pôde diversificar entre diversas opções universitárias, embora, toda a sua adolescência - apesar de namorar e ter um claro dom inato para as raparigas - ter decidido ingressar num Seminário e estudar para dedicar a sua vida a Deus (ri-se). Saiu passados três anos imbuído numa crise enorme de consciência e dúvidas e, tal como o Lip, seguiu Informática ou Robótica (a área onde é um gênio). Creio que já conseguiste juntar as peças todas do puzzle para perceberes a minha idolatria pela série Shameless… O Simão lembra-me imenso o Lip: era um rebelde intelectual; cabelo desajeitado louro, prancha debaixo do braço, viola ao ombro e uma parafernália de irmãos (ri-se). Tal como a Mandy Milkovich fez com o Lip, também eu instalei-me na casa do Simão, e era a melhor amiga da sua irmã. O primeiro mês em que nos cruzamos e passamos a conviver, as idas e saídas daquela casa eram tão abundantes, que nos contemplávamos cheios de curiosidade, mas, entre as minhas incursões constantes com a Madalena a praia, as tarefas domésticas na cozinha que pareciam nunca mais terminar e cuidar das crianças, ainda demorou algum tempo até dirigirmos a palavra um ao outro.

 

Helena Coelho: E quando é que tal aconteceu?

 

Vanessa Paquete: Quando o Sr. Rebelde Destemido se aventurou no meio de uma intempérie a ir surfar e foi parar ao hospital com umas dores pungentes. Acabou por lhe ser vaticinada uma pneumonia grave que o colocou de cama por mais de trinta dias.

 

Helena Coelho: E tu, tal como uma verdadeira Mandy Millkovich, trataste dele; estou correta?

 

Vanessa Paquete: Sim, tal como uma verdadeira Mandy Millkovich, mas tens de retirar da equação a promiscuidade latente da Mandy. Lá porque eu queria descobrir o mundo dos afetos bem como a anatomia humana e, erroneamente, tivesse tido uma atitude de vagabunda diante do Tiago, não significava que o era, ok?

 

Helena Coelho: Ninguém está a dizer isso. (suspiro)

 

Vanessa Paquete: Tratei dele como nem eu suponha que conseguiria tratar de alguém. A medida que foi melhorando, eu e a Madalena, também nos encarregávamos de saber por onde andavam as crianças e tratávamos delas.

 

Helena Coelho: Quantas eram no total?

 

Vanessa Paquete: (fica pensativa) Hmm, deixa-me ver… Havia a Madalena, o Simão, o Pedro, a Ana, o António, a Teresa e o Daniel. Uns anos mais tarde ainda haveria de nascer a Emília.

 

Helena Coelho: Uma autêntica família Gallagher (risos). Devias sentir-te muito em casa junto deles. Afinal de contas, possuías uma família igualmente grande: quantos irmãos tinhas na altura?

 

Vanessa Paquete: Seis no total (a contar com as enteadas do meu pai). Ainda faltava nascer a casula da família, portanto, quando nos juntávamos eramos seis, visto que, uma das minhas irmãs estava sob a guarda dos meus avôs maternos e era unicamente filha da minha mãe; não havia qualquer ligação ao meu pai… A família do Simão quando se juntava eram sete, no total, a prol de filhos; sim, sentia-me em casa. (risos)

 

Helena Coelho: Lamento dissuadir-te mas temos de finalizar esta entrevista.(pausa) Acho que toda a gente vai reclamar por nos termos expandido tanto, mais uma vez…

 

Vanessa Paquete: Deixa-me só acrescentar algo a um tópico que abordamos hoje.

 

Helena Coelho: Sim?

 

Vanessa Paquete: Queria regressar ao tópico do Ivo e do Tiago serem um produto Pop Pastilha Elástica e eu, uma fã incondicional do Grunge de Seattle, vivendo sob o espectro de uma geração que sublimava altas doses de angústia e sarcasmo e que idolatrava bandas que tinham o seu foco na alienação social… Não conseguiste entender como um mundo se pode cruzar com o outro. Como uma mente conscienciosa pejada de rebeldia social se pode sentir atraída por um Cover Boy…

 

Helena Coelho: Acabaste de inventar esse termo (risos); a canção não era Cover Girl?

 

Vanessa Paquete: Sim (apressa-se a argumentar), mas não é aí que quero chegar… Eu não fui a única fã da alienação existencial a sentir-me atraída por um produto Pop Manufaturado. Noutra entrevista falar-te-ei muito mais amiúde acerca dela, até porque nos transformámos em grandes amigas com o passar dos anos. Sabes o quão boa observadora sou; não sabes? Pois bem, existia uma rapariga com o estilo, a filosofia e a indumentária toda do culto dos Nirvana. Era uma artista exímia: pintava e desenhava (retratos sobretudo). A sua paixão pelo Kurt Cobain era fervorosa, mas, o que a diferenciava dos demais é que ela era uma excelente retratista, ao ponto de conseguir uma exposição na Junta de Freguesia com os seus esboços do Kurt. Ela almejava prestar-lhe uma homenagem. Creio que desenhava desde muito nova; talvez desde os doze ou treze anos de idade, todavia, na vida real adivinha por quem batia o seu coração apaixonadamente?

 

Helena Coelho: Não faço a mínima ideia…

 

Vanessa Paquete: Pelo Tiago Madalena. (risos)

 

Helena Coelho: Continuo a achar isso uma verdadeira dicotomia!

 

Vanessa Paquete: Helena, a escuridão é atraída pela luz, a noite quer encontrar o dia, o mal deseja redimir-se e começar a praticar o bem e, seguramente, a existir, quem perece no Inferno, deseja ganhar asas e voar até ao Céu em busca da redenção.

 

Helena Coelho: Estás a querer dizer que o Tiago era a luz?

 

Vanessa Paquete: Eu fui atraída que nem um hímen para ele e queria aproximar-me dele a todo o custo. Posso até ter-lhe dado uns meses de folga entre os meus catorze e quinze anos de idade e ter ido desbravar outros horizontes (fala do Simão), mas, sempre me senti verdadeiramente feliz e iluminada a seu lado, principalmente, quando me apaixonei por ele nos meus quinze anos de idade: ele conseguia extrair o melhor de mim, não é surrealista? (suspira)

 

Helena Coelho: Mmmh…Eu sempre achei essa história surrealista! Alguém que vive algo dos onze anos até os seus, quê…trinta e quatro anos, talvez, deve ser condecorada ou vista por um psicanalista.

 

Vanessa Paquete: (olha-me sarcasticamente) … por isso é que te procurei; o que é que achas que ando a fazer contigo? Psicanálise, minha querida! (ri-se) Não te sentes verdadeiramente exausta após teres estado a aturar o meu ego?

 

Helena Coelho: Não (sorrio) Tenho um saudável desrespeito- e respeito- pelo teu próprio ego, história e passado.

 

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Uma família onde cada individuo tem uma multiplicidade de falhas hediondas. Uma família onde cada membro falha, erra e segue o caminho errado, mas, no final, todos se amam e nenhum irmão perde de vista o outro. Se eu fosse uma Gallagher e tivesse desaparecido por três anos, teria tido a vizinhança toda em busca do meu paradeiro. Um exemplo a seguir, é uma série apenas mas a MELHOR DE TODAS !

 

Vanessa Paquete 2015  ©

Helena Coelho 2015 ©

 

 

 

TIAGO MADALENA (II INTERVIEW ABOUT HIM AND VANESSA PAST)

 

 

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Persuadir Vanessa Paquete a prosseguir com as nossos diálogos em jeito de Up Close & Personal foi uma tarefa árdua. Mostrou-se preguiçosa. Mascarou-se atrás de desculpas inequívocas; faltava-lhe tempo, desvanecera-se a inspiração, não conseguia concluir o processo de psicanálise, era cofundadora de um projeto em evolução no Castelo dos Mouros em Sintra, encontrava-se adoentada fisicamente e sob o escrutínio médico, estava a estudar História de Arte Contemporânea… Enfim, uma autêntica amálgama de desculpas e projetos todos mesclados por detrás do único propósito de acreditar que estava a expor-se em demasia. Tratou de salientar, de uma maneira muito inicisiva, que não devia nada a ninguém, que não era casada, que não constituíra família, que não era mãe, nem filha de ninguém (hipoteticamente falando) e que, sendo asim, era o ser mais livre e nómada a face da terra para falar do seu passado...

 

Em finais do mês de Fevereiro deste ano, tendo uns trabalhos programados em Lisboa, e, sabendo de antemão que ficaria uns dias pela capital, propus-me a aparecer para um café. Atrevi-me a convidar a minha bloguista para uma série de conversas ciciadas. Devo confessar que a curiosidade de conhecer pessoalmente a Vanessa remoía-me o ventre. Como muitos que seguem os seus textos ou páginas cibernautas e contemplam o verdadeiro caleidoscópio de fotografias que esta Leceira exibe, a curiosidade invade-nos inconscientemente. A miríade de estilos, com os quais, Vanessa nos agraciou ao longo dos anos (em jeito de Madonna), faz-nos desejar ver o artigo em primeira mão.

 

Como boa tripeira que sou, propus-me simplesmente a aparecer, sem lhe dar muitas margens para declínios de convite. Vanessa achou que era boa ideia e que talvez pudéssemos passar algum tempo juntas. Assim sendo, apanhei um voo da Ryanair para o aeroporto da Portela.

 

Assim que coloquei os meus pés em território sulista, pude constatar algo que se veio a confirmar mais tarde através da nossa convivência: Vanessa era uma entusiasta da capital, uma fã incondicional da cosmopolita cidade. Raramente vi uma nortenha apreciar tanto o Sul de Portugal. Encontrava-se enamorada pelas praias protegidas do Sado (seu exílio e templo de meditação, como mais tarde me viria a confessar). Falava apaixonadamente dos areais banhados por paisagens sadias, de águas tranquilas e transparentes, tão populares entre os habitantes da periferia de Setúbal e Lisboa. Num dos nossos passeios dominicais mostrou-me orgulhosa o Portinho da Arrábida, uma baía com uma pequena ilha, a Anicha, que forma um porto natural abrigado pela serra e que é, conjuntamente com a Praia da Figueirinha outra das suas grandes paixões.

 

Devo confessar que quanto aterrei no aeroporto da Portela, esperei encontrar no meio da multidão uma Vanessa toda aparaltada, com um fato de grife. De igual modo, imaginei uma Vanessa a torcer os saltos altos dos seus sapatos Christian Louboutin na gravilha da estrada, a tentar apanhar um pequeno vislumbre de mim. De alguma forma, concebi na minha imaginação uma Vanessa coquete, granfina e tão refinada quanto as palavras que utiliza nos seus textos.

 

Erro meu.

 

Não, Vanessa não envergava um fato de grife da coleção de Stella Mc Cartney ou um Alexander Mc Queen, mas sim uma roupa CASUAL URBAN, ainda assim, pude percecionar com o meu faro feminino sempre apurado que a indumentária não pertencia propriamente a loja dos chineses. Rapidamente chegámos a uma rua sossegada e ampla que, num autêntico declive, nos conduzia diretamente a Estação da Gare do Oriente. Estando sempre habituada a utilizar Táxis ou Rent a Cars, foi com grande espanto, que vi uma Vanessa desenrascada arrastar-me as malas pela rua abaixo argumentando num tom sorridente.

 

- São só uns quatro quilómetros Helena. É um desperdício de dinheiro.

 

Não consegui contrapor-me perante a sua incisiva investida de fazermos o percurso todo a pé. Eu sim, encontrava-me enfiada numas calças brancas de linho primaveris (tenho sempre a sensação que Lisboa acresce 10 graus em temperatura a nossa cidade Invicta) e com os meus pés a resfolegar pela calçada abaixo nuns sapatos de cunha da Zara. Vanessa seguia uns centímetros a minha frente em silêncio, num passo acelerado e desajeitado, muito descontraída e casual; jeans rasgados (que surpresa) e repleta de contrastes e cores garridas a adornar-lhe a silhueta. Era impossível ficar indiferente aos quadrados a preto e branco com flores coloridas que inundavam o seu top comprido de alças viscose, com um bordado lindíssimo a desenhar as letras delineadas da marca Desigual.

 

Por entre passos cambaleantes e tropeções, acabamos por chegar a porta da frente de um carro e eu acabei por me apoiar no chassis do mesmo, aturdida pela viagem pedestre que me colocou os pés em bolha. Vanessa soltou um risinho abafado, ainda que discreto e indagou-me sarcasticamente.

 

- Então? Ainda achas que fazer entrevistas acerca de um tipo mundano chamado Tiago Madalena vale todo este sacrifício?

 

Voltei-me para responder mas vi-a desaparecer, subitamente, para as traseiras do automóvel prateado aonde enfiou as minhas malas. Mecanicamente abriu-me a porta, aconselhou-me a descalçar-me e a descansar os meus pés totalmente ruborizados e esfolados pela peregrinação Aeroporto-Gare do Oriente.

 

- Entra – ordenou numa voz amistosa – Não sou uma exímia condutora e odeio a hora de ponta lisboeta mas, com sorte, entramos já ali na Vasco da Gama e evitamos o tráfego descomunal desta cidade.

 

Já anoitecera e no interior do carro estava escuro – nenhuma luz se acendera quando Vanessa me abrira a porta – e eu mal conseguia ver o seu rosto. Ao ligar a ignição, os pneus chiaram, abriu-me a porta do tablier e ofereceu-me uma garrafa de água e alguns snacks.

 

- Então Helena? Ainda não respondeste a minha questão – proferiu com uma voz algo tensa mas controlada em simultâneo.

 

- Sim – respondi com um tom de voz omisso – Se não achasse que valia a pena ter estas conversas nem dar-me-ia ao trabalho de gastar o meu tempo extra laboral contigo a fazer-te uma série de perguntas acerca do Tiago ou da tua família.

 

- Hum – expirou bruscamente mas resignada – Sabes que tudo isto ainda me parece muito suspeito; não sabes?

 

- Porquê?

 

- Não tenho por hábito confiar nas pessoas – as suas pálpebras comprimiram-se e duas rugas desenharam-se na sua testa. Deduzi que o seu tom de voz sombrio denunciava uma certa incredulidade acerca do meu interesse por si e pelo tal Tiago Madalena – Mas já que estás aqui – continuou com as suas palavras a serem pronunciadas com cautela e quase como um murmúrio – Vamos fazer da tua estadia a melhor possível, ok?

 

No dia seguinte, encontramo-nos no lobby do hotel setubalense aonde eu ficara hospedada. Combinámos almoçar juntas. Vanessa viera de correr 5 quilómetros (ato que pratica diariamente) e pediu-me que não nos instalássemos no café ao lado, ou num outro qualquer lugar vulgar pois sentia-se “ suja “, a precisar de um banho. Envergava uns cardigans pretos casuais e uma camisola de algodão com capuz de manga comprida branca. Toda ela era casual; algo a que me habituei nos dias que se seguiram: a ver uma mulher descontraída, informal e totalmente casual a cirandar a minha volta, em torno das questões que eu lhe colocava, ora entusiasmada com as mesmas, ora consumida por um nervoso miudinho.

 

Utilizamos o quarto do meu hotel para esta entrevista. De banho tomado, roupão de feltro aconchegado no corpo iniciamos a nossa conversa. Pedimos umas sandes de fiambre e salame locais e um sumo de laranja que ambas dividimos. Às tantas, uma camareira de etnia negra achou que seria boa ideia começar a cantarolar Jennifer Lopez. Nada mais inconveniente e semiprofissional, achei eu, porém, essa não pareceu ser a opinião da Vanessa que exultou a escutar a jovem a cantarolar If You Had My Love da artista norte-americana de ascendência porto-riquenha, o que a fez colocar a tocar no meu iPod On The 6, primeiro álbum de estúdio de J.Lo. Embora nada confortável com a música de fundo a servir de banda-sonora as minhas questões, não pude deixar de admitir que, talvez, aquele ambiente mais intimista e em jeito de “ Na cama com Vanessa “ a ajudasse a levantar o véu da sua vida, a livrasse dos nervos e nos fizesse brilhar em mais uma entrevista. Durante todo o tempo, mostrou-se tranquila e muito reguila, algo que se reflete na nossa conversa, onde o humor negro e o descaramento propositado, vai ficando cada vez mais evidente.

 

 Helena Coelho

 

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“SOME RISE BY SIN AND SOME BY VIRTUE FALL “

 

Entrevista II

 

Helena Coelho: Tu estiveste a ponto de te desligares destas nossas conversas; porque razão voltaste atrás no teu veredito final de não me cederes mais testemunhos acerca da tua vida?

 

Vanessa Paquete: Para te ser honesta, está relacionado com aquele velho cliché de que “ todos nós queremos ter o nosso minuto de fama no mundo “. Por mera coincidência, ou pura bisbilhotice alheia, o Blogue tem tido uma adesão mediana que é algo, para mim, que já constituí um feito extraordinário. Nunca achei que me fosse transformar numa Bloguista de renome a redigir a minha complexa e intrínseca história de arte abstrata com o Tiago Madalena. Sempre considerei este Blogue um diário intimista, um recetáculo das minhas fraquezas, da minha raiva e dos meus sonhos: quem poderia desenvolver algum interesse por tal catarse emocional?

 

Helena Coelho: E todavia, tens tido leitores assíduos e boas críticas acerca destes nossos diálogos. Reparei, de igual modo, que expandiste os teus escritos a outros temas que te suscitam interesse ou, pelos quais, tens uma opinião vincada a transmitir aos demais.

 

Vanessa Paquete: Sim, de facto (risos)! Noutro dia amanheci com uma melodia na cabeça e apetecia-me escrever a história por detrás desse tema, mas, a inspiração não me bafejou com a sua divina intervenção… Ao assistir ao filme “ As 50 Sombras de Grey “ senti-me estupidificada pela venda astronómica de bilhetes e senti-me na obrigação de dissecar tal fenômeno. Se pensares bem, era um assunto que estava na “ berra “, acerca do qual, toda a gente emitiu uma opinião; desde o crítico especializado ao mais mundano dos mortais, portanto, seria um bom chamariz de publicidade para o meu Blogue.

 

Helena Coelho: Sim, já tinha reparado nisso. E também iludiste os teus leitores com um título que atraía cliques no teu Blogue mas que era uma autêntica contradição. Muniste-te de publicidade enganosa ao colocares como título “ TIAGO MADALENA (NO LIMITE) “ e a redigires de seguida um texto acerca da versão norte-americana da série Britânica SHAMELESS…

 

Vanessa Paquete: (risos) Desculpa lá se vos iludi! Foi uma ação cómica carnavalesca. Nem tudo o que escrevo no meu Blogue tem de ser, necessariamente, acerca do Tiago. Foste tu própria que me incentivaste a alargar os meus horizontes e assim o fiz. Fui atraída automaticamente pela família Gallagher; tive de lhes prestar a minha rendida e sentida homenagem.

 

Helena Coelho: Consegui percecionar uma verdadeira idolatria em torno da série. Fiquei curiosa; porquê? Alguma similitude com a tua família? Algo que te recorde o Tiago ou a tua adolescência?

 

Vanessa Paquete: (pausa) …sim…não… Creio que, pela 1ª vez, em muitos anos é ótimo puder afirmar, quase como se fosse algo revigorante, que não tem nada a ver com o Tiago (solta um riso sarcástico) Irónico; não? De igual modo, o ambiente onde fui criada não possui quaisquer parecenças com a família Gallagher, porém, se centrifugarmos bem a minha adolescência lá vamos parar nós outra vez a uns episódios vividos ao lado do Ivo e do Tiago Madalena que, posteriormente, levar-me-iam a uma família Gallagher - sem substâncias abusivas à mistura, um pai alcoólatra a lixar-lhes a vida continuadamente e uma mãe bipolar a exacerbar as suas maluquices e a afetar radicalmente o crescimento dos seus filhos!

 

Helena Coelho: Explica-te, por favor. Aquilo que me interessa é perceber que capítulo da tua vida te fez ligar tanto a série. Parece-me um script algo decadente e repleto de sinalização proibitória a crianças, adolescentes e até mesmo adultos. Não consigo imaginar de que maneira te identificas com a série…

 

Vanessa Paquete: Oh Helena, não sejas tão ingénua… Existe uma verdadeira e complexa moral implícita por detrás de toda aquela libertinagem explícita. Acima de tudo, existe a velha máxima de que não importa que erros cometas na tua vida, seja qual for a estrada que sigas, tornes-te um Santo ou um Anticristo, transformes-te num grande homem ou numa merda de mulher, o sague familiar lateja-te nas veias e irmãos serão sempre irmãos. Independentemente das discussões e os arrufos, das brigas violentas em altos decibéis, das encrencas em que nos coloquemos a jeito, não existe nada que extinga o laço que nos une a um irmão. Podemos ser uns demônios arrogantes a cuspir na cara de toda a gente ou até afetados emocionalmente ou extremamente ativos sexualmente a pejar de vergonha a família, mas os laços perduram e não se desvanecem com a nossa fraca índole ou até a nossa idiossincrasia subjacente. Irmãos serão sempre irmãos: não se abandonam nas intempéries, não julgam os erros, não nos apontam o dedo. Por mais penoso que seja estar num universo próximo de um irmão que exala rebeldia, protesta, bate com o pé e te bate com a porta, ele possui o teu ADN, a tua genética, Helena…

 

Helena Coelho: Sim, és capaz de ter razão, estou a ver a tua estranha relação com a série. Dos poucos episódios que vi (creio que assisti a II temporada e a alguns da IV), pude constatar que a falta de um apoio parental, os irmãos Gallagher, são extremamente unidos em tudo o lhes acontece. Não colocam muitas questões aos erros cometidos e tentam, pura e simplesmente, soluciona-los entre eles. Mas, se não estou enganada, e a família Gallagher te trouxer a memória tudo aquilo que os teus irmãos não são para ti, há que se acrescentar ao apêndice, que os cinco irmãos cresceram juntos, sob o mesmo teto, afetados pelo mesmo drama e não são meios-irmãos como é o teu caso. Não que esteja a desculpar a suposta negligência, de que tanto te queixas, dos teus irmãos; mas não existirá alguma diferença?

 

Vanessa Paquete: (encolhe os ombros e suspira). Suponho que sim Helena, todavia, na vida ensinam-te que a tua história familiar deve ser preservada. Mas também se costuma dizer que a família não se escolhe, os amigos sim. Talvez seja um pensamento utópico meu, acreditar que, com o passar dos anos, certas questões seriam contornadas e receberiam como resposta atos inteligentes e solidários e não o silêncio.

 

Helena Coelho: Sentes que há perguntas que querias ter colocado aos teus irmãos e que irão permanecer para sempre sem resposta?

 

Vanessa Paquete: Hmm…acho que não! Tenho uma maneira algo prática de encarar a ausência fraternal, bem como a parental. Na minha memória mais recôndita construo-lhes um mausoléu onde guardo recortes e fotografias da nossa infância – aliás exposto contra ventos e tempestades na minha página cibernauta do Facebook - e imagino-os mortos. Não existe muito que eu possa fazer, a não ser recordar que – em tempos – possuí cinco irmãos e que possuímos magníficas recordações de infância e retratos belíssimos capturados pelo meu pai que perpetuarão para sempre a linhagem que, um dia, existiu, bem como a minha ligação a eles. São imagens que fazem parte do passado. Há que recordá-los como mortos. Fazer-lhes o luto e seguir em frente. Tive cinco irmãos, em tempos. Hoje sou filha única…

 

Helena Coelho: OK,OK…De repente o humor ficou algo sombrio. Voltemos a experiências alegres e coloridas. Teremos muito tempo para falar de períodos negros da tua vida mais para a frente. Não que não os estejamos a abordar já, mas, prometo-te que quando tocar o dedo a fundo na ferida, o faço com uma garrafa de Chardonnay ao nosso lado. (risos)

 

Vanessa Paquete: Uhhh sinto-me tentada a aceitar. Primeiros achas-me uma coquete refinada, todavia, és tu que estás a entrevistar-me no quarto do teu hotel e ofereces-me a melhor casta de vinho branco para acompanhar as minhas divagações; estarás a tentar embriagar-me? Começo a ficar preocupada. (risos)

 

Helena Coelho: Sinto-me tão tentada quando falas assim…

 

Vanessa Paquete: Ah sim, seria fantástico! Mas, devo admitir que adoro o facto de teres permitido que a entrevista se desse num local privado, nomeadamente, no teu quarto de Hotel e acabaste de me oferecer um copo de Chardonnay para os momentos mais penosos e insolentes das nossas confidências; que mais posso desejar?

 

Helena Coelho: Vamos falar de sexo, drogas e rock&roll… (risos)

 

Vanessa Paquete: Oh, sim… Não. Vamos falar de sexo. Só. Deixamos as drogas para mais tarde?

 

Helena Coelho: E o rock&roll?

 

Vanessa Paquete: Teremos de encaixá-lo algures entre a família, sem-abrigos, fuga de Leça, depressão, anorexia, bullying e mais uma série de infortúnios existenciais e Tiago Madalena. (suspira)

 

Helena Coelho: Vamos precisar mais que uma garrafa para a ocasião. (risos)

 

Vanessa Paquete: Ok, se fores tu a pagar. Não quero soar a desmancha-prazeres que desarma a sua psicanalista privada, mas, pudemos voltar ao assunto-mor?

 

Helena Coelho: OK, vamos lá então regressar a tua infância – ainda não a posso classificar de adolescência. Tens catorze anos de idade no Verão de 1994. Julgas-te apaixonada por um rapaz de treze anos de idade que, tal como tu própria o referiste, era sereno, dócil e exalava um Je Ne Sais Quoi de candura. Hoje, olhando para o Tiago, parece-me deveras difícil de acreditar em tal estado de inocência, principalmente, num rapaz impúbere que está já prestes a despertar para a deslumbrante fase da puberdade. Mas tu deixaste levar pela estranha sensação de conforto que sentes a seu lado, como se de alguma maneira, houvesse um sentimento de pertença, ainda que extremamente precoce. Admitiste que o que sentias por ele aos catorze anos de idade não podia, de modo algum, ser classificado de amor, porém, existe algo que pulsa no teu peito e é um pulsar arrebatador e absoluto. Não sendo uma aluna exímia és, porém, uma leitora assídua, interessada e compulsiva. Apresentas um trabalho descomunal acerca do livro de Christiane F. “ Os Filhos Da Droga “ e recebes uma ovação geral da tua turma do oitavo ano. Começas a pensar no teu futuro. Ponderas seriamente em que Universidade poderás ingressar após uma série de elogios dos teus professores de línguas, nomeadamente, a de Português! Escreves poesia. E decides, perentoriamente, que no Verão de 1994 o Tiago será teu, bata ele o pé ou não. Sentes-te extremamente preparada, confiante e segura. Lês tudo acerca de sexo. Juntas dinheiro para comprar conjuntos juvenis de lingerie (ato que estranhamente consegues). Ponderas em tomar a pílula, mas, a falta de ajuda médica optas pela compra de preservativos. Simplesmente, diriges-te a um supermercado e adquire-los. Tens simplesmente catorze anos de idade: astúcia, audácia, irreverência e malicia pareciam fazer parte do teu quotidiano como um frasco de amaciador para o cabelo: a tua segurança é assustadora. Nunca julgaste tal projeto um ato seriamente leviano? Afinal de contas não passavas de uma criança; não era suposto desejares começares a tua relação com o Tiago (a existir uma) por carícias subtis, beijinhos na testa e passeios de mão dada?

 

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Vanessa Paquete: Hmm…eu queria o pacote completo. Sei que parece estranho, mas, sentia-me preparada para lidar com todos esses assuntos clássicos que avassalam uma relação. Eu queria sentir o formigueiro nas pontas dos dedos, as borboletas no estomago, o calafrio a percorrer-me a espinha…Também queria os beijinhos na testa (risos) e os cafunes no cabelo. Queria que ele me abraçasse e disparasse contra o meu coração ou libido, se assim o quiseres entender, e atacasse as portas blindadas da minha estrutura. Queria escutar todas as estupidezes que só um miúdo de treze anos pode proferir. Queria sentir o medo e a insegurança dele e ensinar-lhe tudo o que eu julgava estar preparada para ensinar-lhe, mas controlei-me como pude (risos). Nas nossas conversas intimas posso ter-te soado leviana ao focar-te, pura e simplesmente, a parte sexual: omiti-te que também o queria cobrir de presentes, dispersar-lhe as dores de cabeça e curar-lhe a febre? Pareço demasiado direta e óbvia mas não me julgues como uma devassa que simplesmente queria seduzi-lo.

 

Helena Coelho: Estamos mesmo a falar de miúdos de catorze e treze anos de idade? Supostamente vocês não deveriam, por essa altura, andar a brincar com legos e bonecas? Estávamos nos anos 90. Se eu já acho a geração dos dias que correm absolutamente leviana e impetuosa, imaginas o que estarei a pensar de vocês; a geração dos anos 90 era assim tão precoce ou apenas tu?

 

Vanessa Paquete: Não. Erámos mesmo assim. Não posso assegura-te acerca do que andava o Tiago a fazer Behind The Scenes, mas posso assegurar-te que as miúdas e os miúdos da minha turma eram absolutamente desregrados, o protótipo exato da rebeldia juvenil. Tínhamos sede de ver tudo a nossa volta a pegar fogo. Eu não alinhava nas atividades extracurriculares mas sei que elas englobavam muitas descobertas a base de anatomia e algumas substâncias. Cheguei a vê-los aparecerem embriagados para algumas aulas da parte da tarde. Escutavam-se muitos rumores acerca das famosas Terças-Feiras em casa do Daniel. Ouvíamos rumores acerca de sexo. De quem havia dormido com quem. Ou quem se havia enrolado com quem. Na altura, duvidada muito da veracidade de tais factos. Uns três anos mais tarde, quando uma das minhas melhores amigas da adolescência iniciou um curso de modelo e saiu numa das edições da revista Ragazza encontrava-me na cafetaria da escola com alguns desses meus colegas do oitavo ano, e, um deles argumentou dececionado “ Se eu disser a alguém que dormi com esta gaja, alguém lá vai acreditar? “. Ai soube que era verdade. Fiquei espantada por ela nunca ter comentado nada comigo na altura sendo nós tão amicíssimas.

 

Helena Coelho: Presumo que tenham dado aos pobres dos vossos professores muitas aulas em branco. Os jovens costumam ser rebeldes, todavia, tu referiste que a turma do Ivo e do Tiago, na altura, era sã e vocês só significavam problemas; foste contagiada pela rebeldia, insolência e sede de curiosidade dos teus companheiros de turma?

 

Vanessa Paquete: A turma que o Ivo e o Tiago frequentavam era santificada (risos descomunais). Nós erámos uns verdadeiros estafermos em todos os sentidos. Ameaçávamos os professores, lançávamos-lhes com artilharia da pesada. Ripostávamos cada argumento. Aterrorizávamos as aulas e, muitas das vezes, acabávamos todos expulsos cordialmente, debruçados sobre o parapeito da janela a fumar. Fomos considerados por dois anos seguidos a pior turma da Secundária da Boa Nova, ao ponto do Conselho Executivo nos colocar numa sala no rés-do-chão diretamente voltada para os seus gabinetes, o que não fez – como deves calcular – que parássemos de cometer estupidezes atrás de estupidezes, por isso, respondendo a tua questão, sim, creio que frequentar aquela turma me concedeu uns bons laivos de laia que, suponho verdadeiramente, que o Ivo e o Tiago não possuíam.

 

Helena Coelho: Como eram eles? Lembras-te de algum episódio particular que os envolva ou tão simplesmente o Tiago?

 

Vanessa Paquete: Pode ser uma manobra arriscada responder-te a tal, visto que não te posso afirmar nada conclusivamente, mas, acho que o Ivo e o Tiago eram uns miúdos na verdadeira aceção da palavra, daqueles que colecionavam cromos de coleção, viam o Dragon Ball e levavam uma existência sem grandes demonstrações de interesse por acontecimentos surrealistas além horizontes. Por exemplo, possuo uma fotografia dos meus colegas todos de turma dessa época e os rapazes pareciam, verdadeiramente, já homenzinhos em fase de desenvolvimento: barba rasa por aparar, sexys, modos irreverentes ao estilo de James Dean e audazes. Sexo, bebidas e rock&roll já parecia ser o nosso apanágio. Duvido que o Ivo e o Tiago se interessassem pelo Grunge de Seattle, idolatrassem os Nirvana e escutassem ininterruptamente a voz ácida e áspera de Kurt Cobain. De igual modo, duvido que tenham feito um minuto de silêncio aquando do suicídio do vocalista da mítica banda. Não acredito que nos seus registos musicais figurasse a banda de Eddie Vedder ou temas dos Depeche Mode e aquele som de sintetizadores industriais obscuro. “ Songs Of Faith And Devotion “ marcou-nos intensamente. Erámos uns filhos da mãe conscienciosos, revoltados e de coração aberto para um mundo estranho que nos dava as boas-vindas. Foi-nos deveras difícil entender e assimilar o suicídio de Kurt Cobain. Um dos meus colegas, num curto espaço de dois anos, transformou-se na sua encarnação física: cabelo louro pelo queixo a pender-lhe sobre as faces, barba rasa por aparar e casaco de lã verde azeitona sobre uma t-shirt, camisas de flanela axadrezadas e os tênis estilo Converse All Star.

 

Helena Coelho: Significa então que vocês eram muito mais vanguardistas que o Ivo e o Tiago? Estás a insinuar que eles eram ingénuos à vossa beira? Que não detinham causas a defender? Vocês tinham um humor negro e perverso. Eram pretensiosos e arrojados. Viviam verdadeiramente sob o espectro de uma geração que sublimava altas doses de angústia e sarcasmo. Vocês idolatravam bandas que tinham o seu foco na alienação social, na apatia, no confinamento e no desejo de liberdade existencial. A vossa estética era desleixada e imbuída de teatralidade explícita para chocar. Diz-me, como eram o Ivo e o Tiago?

 

Vanessa Paquete: (pausa e algumas gargalhadas) Pop…totalmente Pop. Não havia falhas a apontar-lhes. Como já te referi na I entrevista: eles eram o equivalente a uma boys band; um produto manufaturado lustroso e brilhante, direcionado as massas com o objetivo de atrair um grupo de raparigas em geral ao invés de uma única subcultura específica ou uma ideologia. Possuo colegas que ao longo dos anos questionavam-me incessantemente acerca da minha idolatria por eles: achavam-nos sobejamente vulgares, sem qualquer substância ou ponta que se lhe pegasse. Mas aí é que os pareceres se dividem seriamente; as minhas colegas adeptas da filosofia POP, verdadeiramente, colocavam-nos num pedestal porque o ar de “ bons rapazes “ impressionava-nos. A dor, a tortura, et cetera não pareciam fazer parte da vida daqueles dois irmãos, cujos olhos, pareciam verdadeiramente terem sido pintados por Leonardo Da Vinci, tal era a sua beleza Eles murmuravam melodias. Pareciam-nos felizes. Exortavam boas energias e eram devotos a Deus. O bizarro, o impressionismo e o abstracionismo não se coadunavam com a sua forma de ver e viver a vida. Creio que eram diretos e práticos. Que não faziam monólogos interiores em busca de respostas para quaisquer perguntas que existissem no seu subconsciente porque – na realidade – o subconsciente do Ivo e do Tiago estava pejado de futilidade (eles vão matar-me se leem isto)(pausa) Mas, sabes, ser prático não é de todo mau. Eles saíram-se muito bem ao não complicarem as suas vidas com puzzles difíceis de montar, ao não cometerem excessos ou a não quererem transgredir e testar limites.

 

Helena Coelho: Como sabes que não transgrediram ou testaram limites?

 

Vanessa Paquete: Bom, estamos a falar numa I fase da adolescência deles. Numa II fase posso dizer-te algo mais, mas, por ora deixo-te esta afirmação: eles alimentaram o mito da beleza em torno deles! Nós não acreditávamos que aqueles dois irmãos se debatiam com significações de conteúdo espiritual ou social. Como já to referi; eram práticos, padronizados! As minhas colegas de índole mais introspetiva e cultura eloquente achavam-nos uma “seca”, um verdadeiro cliché da cultura pop pastilha-elástica.

 

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Helena Coelho: Tipos sem nada para dizer; certo? E, todavia, tu apaixonaste-te por um deles…incondicionalmente!

 

Vanessa Paquete: É complicado de explicar. Só viria a apaixonar-me por ele após a minha I relação sexual, na realidade. Mentir-te-ia se te dissesse que eu e o Tiago detínhamos os mesmos gostos ou a mesma mentalidade. Repara. Eu tinha catorze anos de idade. Estava a desbravar território desconhecido. Estava a descobri-lo. Tinha a plena noção que detínhamos intelectos diferentes e vivências distintas. Só para te dar um pequeno exemplo, eu podia ter a sabedoria toda na ponta da língua acerca de sexo e afins a custa do meu poder de observação e assimilação de tudo aquilo que ia vendo em meu redor, porém, nunca beijara ninguém em toda a minha vida mas já tivera uma série de orgasmos e conhecia bem a sensação do prazer a eletrificar-nos o corpo. O Tiago já beijara algumas raparigas, não tas vou quantificar mas, aos treze anos de idade, creio, que ele já devia possuir uma boa dose de linguados na sua coleção. Orgasmos não to consigo dizer (risos) e, no entanto, quando eu me aproximei dele no Verão de 1994, uma das suas grandes afirmações era que “ era absolutamente impossível eu ser virgem”!

 

Helena Coelho: (risos) A sério; porquê? O que o levou a pensar tal coisa?

 

Vanessa Paquete: Havia uma certa inevitabilidade em afirmar tal… (levanta-se e pega no telefone e solicita um chã a receção…enquanto aguardamos vai remexendo na minha playlist; olha desagradada para os itens que vão surgindo)

 

Vanessa Paquete: Bom. Onde íamos? Ah sim…porque razão o Tiago achava que eu não era virgem? Como já to referi, havia uma certa inevitabilidade em afirmar tal. Havia em mim aquela teatralidade subjacente que me é tão característica: o dom de conseguir fazer os demais acreditar que somos experientes em algo (risos). Ao longo da minha vida viria a iludir muita gente com a minha suposta experiência em muitas áreas. A minha sorte é que sou autodidata, ou seja, é fácil convencê-los. Depois é só assimilar o conhecimento e pô-lo em prática; como achas que me tornei numa escritora poliglota ou numa modelo? Observação, aprendizagem, poder de persuasão a convencer e, de seguida, câmaras e ação: VOILÁ! Eu fazia um jogo de sedução com o Tiago. Olhava-o fixamente, lançava-lhe um ar libertino. Devo ser honesta e reconhecê-lo. Ao relembrar-me de tal e ao vir-me a memória o Tiago em fotografias nos seus treze anos de idade, sinto-me absolutamente envergonhada porque não consigo conceber na minha cabeça, hoje, o desejo de se possuir alguém em tão tenra idade. Meu Deus, esse pensamento agora é-me inimaginável porque ele era tão “pequeno”, uma verdadeira criança mas eu tinha as minhas hormonas aos pulos; juro-te que encenei uma cena parecida com a da Sharon Stone do filme “ Instinto Fatal “ diante dele.

 

Helena Coelho: O quê? Estás a brincar comigo… (risos)

 

Vanessa Paquete: Antes estivesse… Eu confundi-o muito nessa altura. Ora avançava ante ele que nem uma caçadora impúdica, ora chegava a beira dele cheia de moralismos e pudor. Tinha – na verdadeira aceção da palavra – uma atitude bipolar para com ele. Talvez por não saber como havia de lidar com a situação. Afinal de contas, tinha apenas catorze anos de idade!

 

Helena Coelho: Conta-me a personificação da Sharon Stone; estou curiosíssima!

 

Vanessa Paquete: (risos) Sabes? Acho que foi uma das poucas vezes na minha vida em que lancei aquele olhar gutural a alguém. Pobre Tiago! Desde que eu entrara para o grupo de amigos dele que nos juntávamos a conversar perto do Corpo Santo. Por essa altura discutia-se muito a minha suposta castidade ou perda de virgindade. No vaivém da conversa, na qual, nem ousei interferir e só assisti como espetadora no meio de um bando de catraios, ele afirmou, perentoriamente, que eu não era virgem. O Tiago encontrava-se de pé a gesticular e a argumentar a cerca de um ou dois metros de distância de mim. Encontrava-se voltado para mim a afirmar com tamanha convicção a ideia da minha vagina estar já desflorada que eu não resisti a tentá-lo.

 

Helena Coelho: O que é que fizeste?

 

Vanessa Paquete: Imobilizei-o com o meu olhar e começamos a absorver-nos mutuamente. Creio que ele estava expetante e confuso acerca do que eu estava a fazer naquelas milionésimas de segundos. Ficara bastante morena nesse Verão. Usava sempre vestidos milimétricos onde se exibia bem o contorno das minhas ancas e a minha pele macia e brilhante. Encontrava-me sentada num degrau de pedra do jardim quando ele afirmou tal ao olhar-me olhos nos olhos. Eu simplesmente arquei as minhas costas para trás e fui abrindo lentamente a minhas pernas, olhando-o selvaticamente e com um ar mordaz que lhe perguntava explicitamente: “ Queres experimentar?”. (cora ao afirmar tal)

 

Helena Coelho: O quê?

 

Vanessa Paquete: (risos) Com a graça de Deus e todos os santos a face da terra foi a única vez em toda a minha existência humana que crepitei de desejo em público e arqueei as minhas ancas em frente a meia dúzia de rapazes com o intuito de seduzir apenas um. Em minha defesa, tenho a dizer que creio que me perdi no momento. Tampouco olhei em redor. Esqueci-me por completo que estava a ser observada sub-repticiamente pelos demais.

 

Helena Coelho: E o Tiago, como reagiu ele a essa tua atitude?

 

Vanessa Paquete: Devia estar mergulhado numa série de pensamentos dissonantes e confusos. Não te consigo dizer o que terá pensado ele de mim, na altura, pois a sua expressão era inescrutável. Como deves calcular, ele contemplava-me com um olhar vítreo até que desviou os seus olhos dos meus. Eu fechei as pernas, crispei os lábios e pensei para comigo própria: “ O que raio acabaste de fazer?”

 

Helena Coelho: Acabaras de te oferecer a um gajo…

 

Vanessa Paquete: Sim. Foi essa a minha inevitável conclusão. No meio de toda aquela pandemia e no auge dos meus catorze anos, nem sequer consegui considerar aquele ato como algo sedutor, mas sim, uma autêntica encenação de vulgaridade promíscua. Ali estava eu, no zénite da minha adulação pelo Tiago a tentar descobri-lo, e exponho-me implacavelmente de pernas abertas a sua mercê. Fiquei extremamente embraçada mas estava terrivelmente excitada, ao mesmo tempo. Foi uma guerrear acesso dentro do meu ser de instinto versus coração & razão.

 

Helena Coelho: Mas tu acreditavas estar apaixonada pelo Tiago? Como é que te esqueceste que estavas rodeado por meia dúzia de gajos com as hormonas em ebulição? Vocês eram uns miúdos… Não me canso de referir isso.

 

Vanessa Paquete: Foi um ato instintivo, Helena. Muito primitivo. Tornas-te protagonista, numa fração de segundos, de um filme realizado e dirigido apenas por ti. Para te responder a I pergunta, não, não me acreditava, de maneira alguma, apaixonada pelo Tiago. Só viria a apaixonar-me por ele uns meses mais tarde o que não deixa de ser irónico; não? É preciso que se entenda que nos primeiros anos juvenis a estratégia era sondá-lo, apalpar terreno, saber se aquele era o tipo certo para inspirar-me e incitar-me a escrever os meus próprios argumentos. Eu queria saber se aquele era o tipo certo para dedicar a minha vida; precoce, estúpida, precipitada e extremamente carente mas essa era eu…

 

Helena Coelho: Daí teres vacilado, inclusivamente, entre ele e o irmão gêmeo, o Ivo?

 

Vanessa Paquete: (risos) Completamente. Sem sombras de dúvidas. Na minha cabeça, a resposta é essa. Eu centrei-me num foco e muito zelosamente andava a tentar descobrir quem poderia ser quem na minha vida e quem poderia interpretar o quê no meu guião: o Ivo ou o Tiago? Só o tempo dar-me-ia a resposta…

 

Helena Coelho: Fala-se tanto do Tiago que se esquecem do Ivo, ou tu não demonstrastes a verdadeira natureza dos teus sentimentos por ambos? Ambos eram reféns do teu subconsciente; certo?

 

Vanessa Paquete: (pausa) Sim, tanto um como outro despertavam em mim uma centelha. Até hoje consigo diferenciar muito bem a personalidade distinta de cada um. E conseguia-os reconhecer fisicamente ao longe através de manejos, trejeitos, o andar ou simples expressões. Nunca consegui compreender como algumas professoras os podiam confundir (risos), eram gêmeos falsos.

 

Helena Coelho: Como seria se fossem gêmeos idênticos?

 

Vanessa Paquete: (risos) Perdia a graça toda, para te ser sincera. O que tornava a situação tão peculiar era exatamente o fato de eles serem gêmeos falsos. Dava-me mais margem de manobra para analisá-los, a minha visão periférica ampliava-se muito mais: existia muito mais para ver para lá daquela linha do horizonte. Pelo menos, assim o julgava eu no início, porque como já pudemos comprovar através dos meus relatos, o Verão de 1994 foi uma verdadeira deceção para mim relativamente a incursões Madelinas.

 

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Helena Coelho: O que te dececionou tanto neles ao ponto de saíres do grupo e ires em busca daquilo que procuravas noutro lado?

 

Vanessa Paquete: Credo, essa pergunta soa a algo grotesco (olhar depreciativo)

 

Helena Coelho: Desculpa… O que quis dizer foi que, de alguma maneira, cansaste-te deles. Deixaste de ser prisioneira do culto, não é verdade?

 

Vanessa Paquete. Não, não, creio que fiz uma pausa, uma espécie de interregno. Repara numa coisa, ainda agora me perguntaste porque razão tanta gente foca o Tiago e se esquece do Ivo. Acho que é preciso dar-se espaço as pessoas para se perderem de vez em quando nos seus devaneios, para descobrirem novo trilhos a percorrer, quer tenhas tu catorze, vinte ou trinta anos de idade. Eu passei por um período algo perturbador no Verão de 1994. Era a ovelha tresmalhada da família. Uma família que já nem existia mais pois o meu pai solicitara o divórcio nesse verão à mãe dos meus dois irmãos mais novos. Seguia o meu próprio caminho e posso assegurar-te que caminhava sozinha. Quando abri as pernas perante o Tiago senti, de imediato, que estava a chafurdar na lama, que fora um ato estúpido e que estava a caminhar na direção errada.

 

Helena Coelho: Creio que foi ótimo teres tido consciência disso; é verdade que a esposa do teu pai costumava gritar-te a plenos pulmões que bastava o Tiago estalar-te os dedos e que tu abrir-lhe-ias as pernas?

 

Vanessa Paquete: Infelizmente Helena não era ela a única a afirmar tal. Muitas vozes proferiram essa afirmação ao longo dos anos. Naquele dia em que, literalmente, lhe abri as pernas pude escutar murmúrios onde se dizia que eu estava simplesmente a espera que ele saltasse para cima de mim e, curiosamente, até aos dias de hoje ainda sou alvo dessa malograda afirmação. (suspira) Todavia, a minha madrasta ia mais longe. Aquilo que as outras pessoas se esqueceram, nomeadamente, o Ivo, ela não se esqueceu…

 

Helena Coelho: Talvez, por viver sob o mesmo teto que tu te conhecesse melhor…

 

Vanessa Paquete: Sem sombras de dúvida. Ela conseguia percecionar que eu me encontrava dispersa, inconstante nos meus sentimentos e, acima de tudo, perdida… A família que me abrigava não era a minha. Sentia-me verdadeiramente desnorteada e deixei de ter os desejos mais normais e banais pertencentes aos comuns dos mortais. Refugiei-me na escrita e na literatura. Redigia centenas de poemas. No canto de cada poema existia uma pequena insígnia que designava para quem fora escrito determinado poema: Ivo ou Tiago! Creio que apenas a minha madrasta sabia decifrar o códex devidamente… Ela confiscava a minha correspondência. Mais tarde, o meu pai fotocopiava-a e levava-a para ser analisada por psicanalistas. Todavia, nada disto se passou aos catorze anos de idade ou em 1994. Avancei uns dois/três anos na história para puderes ter um pequeno vislumbre de todas as transformações, pelas quais, passei em prol daqueles dois rapazes: uma loucura completa!

 

Helena Coelho: Sim, pude compreender isso, até porque estamos numa fase muito precoce da história aonde tudo ainda esta muito colorido. É necessário realçar que o charme adocicado do script se vai transformar numa mistura amarga de fel e escuridão, portanto, regressemos a fase descontraída em que a primeira impressão e convívio contribuíram substancialmente para o teu veredito final, com apenas catorze anos de idade. Veredito esse que virias a mudar aos quinze anos; inconstância, inconstância e mais inconstância…

 

Vanessa Paquete: (encolhe os ombros) Não comando os batimentos do meu coração ou o meu instinto, muito menos aos catorze ou quinze anos de idade (risos).

 

Helena Coelho: Portanto, aos catorze anos de idade desiludes-te com o Tiago; porquê? Ele não era quem imaginaras?

 

Vanessa Paquete: Vou tentar ser sucinta e abreviar o que vou dizer pois sei que havemos de regressar ao Verão de 1994 mais vezes e ainda temos uma caminhada gigantesca para fazer até chegar ao Simão.

 

Helena Coelho: O Simão fez escapar-te da deceção que o Tiago te provocou, certo? Mas não seriam essas as únicas sensações que o Simão viria a provocar em ti, pois não?

 

Vanessa Paquete: (risos) Se não me interromperes talvez consigamos chegar lá ainda hoje.

 

Helena Coelho: OK.OK. Não quero demover-te do teu raciocínio ou desencorajar-te mas o tempo urge. Teremos de deixar o Simão para a III entrevista, creio que um capítulo destinado a esse pedaço da tua vida tão vital e importante não pode ser dissecado nas próximas três linhas.

 

Vanessa Paquete: Não, de maneira alguma. O Simão foi o meu Sol a brilhar intensamente no halo incomensurável do meu céu azul. Ele foi a primeiro rapaz a sorrir-me, enlevado pelos meus ridículos discursos pejados de tanta informação desnecessária. Ele foi o primeiro a contorcer-se sob o domínio das minhas mãos, a sentir a sede das minhas feromonas e o meu corpo a zunir sob a malicia dos seus dedos destros. O primeiro a dizer que me amava… O Simão recebeu tudo aquilo que eu tinha destinado para o Tiago nesse Verão. Olhando para trás, não posso deixar de constatar o quanto foi maravilhoso e reconfortante ter-me entregue nas mãos da pessoa certa. Os seus olhos sérios e sorumbáticos ensinaram-me tanto; todo ele era uma perfeita simbiose de brilhantismo intelectual, mistério, perfecionismo e beleza, algo tão raro de se encontrar num jovem surfista de treze anos, cujo intelecto, superava o meu e os demais infinitesimalmente… A sua paixão pela música e o decifrar do dialeto anglo-saxónico implícito em cada tema para depois mo explicar, os acordes da guitarra acústica que dedilhava: tão diferente do Tiago Madalena e tão brilhante…

 

 

 

Helena Coelho: Parece-me que desejavas que o Tiago detivesse todas essas facetas imbuídas em si, o que não aconteceu. Revelou-se um rapaz normal de treze anos de idade, totalmente despreparado para o teu hedonismo selvagem, enquanto tu aguardavas que ele mesclasse a sua boca com a tua e fosse assoberbado por ti.

 

Vanessa Paquete: Hmm…pois… não havia maneira de nos encaixarmos, sinceramente. Após a vergonha que eu passara ao tentar provar-lhe que detinha experiência, como deves calcular, tornei-me muito cáustica e cautelosa em virtude de não ganhar epítetos feios e grotescos acerca da minha índole sexual. Tal dificultou-nos imenso uma aproximação verdadeiramente intimista. Creio que andamos lado a lado inúmeras vezes, porém, ao invés de aproveitarmos o momento, o agora e nos encontrarmos para trocar experiências e descobrirmo-nos mutuamente enquanto jovens que erámos, ávidos de respostas para o nosso corpo e mente, fazíamos um duo estranho, em constante embate de ideias e provocações desnecessárias. Erámos umas autênticas crianças um ao lado do outro. Eu desejava muito mais, apreender, acima de tudo, tudo o que estivesse ao meu alcance de ser apreendido. Eu tinha sede de mais, muito mais… O Tiago era apenas uma criança, incapaz de me proporcionar uma tortura lenta a queimar-me a pele como se de ácido se tratasse.

 

Helena Coelho: Nem mesmo o Ivo?

 

Vanessa Paquete: (risos) Agora falei-te do Ivo e vou ter de me explicar; não?

 

Helena Coelho: Claro (risos). Tentar entender o fascínio por um já é uma tarefa árdua. Tentar decifrar o dueto é ainda mais caótico.

 

Vanessa Paquete: Principalmente quando pareço enaltecer todos os demais em detrimento deles; quer a nível intelectual, quer a nível de interesse social.

 

Helena Coelho: Exato! Já reparaste a admiração que dedicas aos teus colegas ou mesmo a outros rapazes que entraram na tua vida? E, todavia, dedicaste-te incondicionalmente e entusiasticamente ao que, aos meus olhos, parecia ser absolutamente supérfluo.

 

Vanessa Paquete: Ditames do meu coração. O meu cérebro desligava-se automaticamente a beira do Tiago. Se calhar fui dardejada por um feitiço e não sei (risos).

 

Helena Coelho: Mas nesse Verão não. Nesse Verão detinhas autocontrolo e eras uma miúda segura. Ciente de que o Tiago não poderia oferecer-te os seus lábios a moverem-se ao ritmo dos teus, pura e simplesmente, procuraste outros.

 

A ENTREVISTA CONTINUA NO PRÓXIMO POST

 

 

LEMBRAR KURT COBAIN (THE MYTH, THE LEGACY AND THE ENDLESS LOVE OF THE SO-CALLED GENERATION X)

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Ao conceder a II entrevista a Helena Coelho acerca do mítico e ridiculamente dessinteressante tema do meu Blog  vieram à baila várias coisas (que é a melhor parte das nossas conversas) e, desta feita, foram os NIRVANA uma das estrelas a figurar no elenco da minha vida; falou-se de sexo, drogas e rock &roll numa fase muito precoce de uns adolescentes de cerca de treze e catorze anos de idade oriundos de uma Escola Secundária de Leça da PalmeiraSenti, de imediato, antes de publicar a entrevista, um apelo para redigir um artigo acerca de Kurt Cobain. 

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Nirvana é um termo que surge do Budismo e que significa um estado de libertação atingido pelo ser humano ao percorrer a sua busca espiritual. Numa das premissas fundamentais da doutrina budista, num sentido mais abrangente, nirvana indica um estado eterno de graça, uma espécie de renúncia ao apego da sociedade a posses materiais que não elevam o espírito e apenas trazem sofrimento. Quando falamos de Nirvana também podemos encontrar um sinónimo para tal termo numa espécie de exorcismo ou aniquilação de certos traços negativos da nossa própria personalidade, portanto, quando Kurt Cobain compunha, apenas pudemos deduzir que tal, significava um exercício interno de psicanálise, uma espécie de catarse emocional.

 

Cobain viria a afirmar que Nevermind (o álbum que fez do vocalista dos Nirvana, um ícone de massas do rock, ainda que muitas das vezes relutante), era, literalmente, páginas arrancadas do seu diário pessoal, enquanto o seu primeiro álbum Bleach, era uma amálgama de letras aleatórias que lhe vieram a cabeça e ele exortou para os acordes da sua guitarra, sem pensar muito no que sairia dali. Kurt Cobain não conseguia simplesmente olhar para a sociedade e o seu próprio íntimo com indiferença e seguir com a vida, como outrora, sem lhe virem a memória lampejos de que ele, jovem artista em ascensão, acabara de se cruzar com a escuridão, e, portanto, fez o que achou melhor para transmitir à sociedade que ele tanto desprezava o seu parecer; um "wake up call" que vociferava bem alto, através da sua música, o que ele não conseguia mais tolerar ao seu redor.

Nevermind foi classificado como um dos álbuns mais importantes e singulares do punk/rock dos anos 90, abrindo a porta a dezenas de bandas de Seattle analogamente dominadas pela angústia. Embora as letras de Cobain fossem indubitavelmente poderosas e sentidas, o verdadeiro sucesso do álbum provinha da música. O produtor Butch Vig (futuro elemento da banda Garbage) conseguira fazer a banda soar simultaneamente de forma elegante e crua. As palavras são inflexíveis, óbvias, descomplexadas e diretas sem quaisquer sublimações à mistura ou floreados, mas as melodias contribuíram substancialmente para criar um gênero. Temas como Smells Like Teen Spirit, Come As You Are e Lithium, apresentam uma estrutura clássica, eternizada na poderosa secção rítmica de Kris Novoselic, Dave Grohl (futuro vocalista e fundador do grupo Foo Fighters) e a voz troante de Cobain. Alguns violoncelos lacrimosos à mistura e uma arrepiante história acústica de rapto – Polly - interromperiam, aqui e ali, uma verdadeira explosão de energia de puro punk rock. Poucos rivais existiram para este trio de Seattle, antes ou depois. Cobain definiu um gênero, criou uma identidade inigualável e tal ver-se-ia nas gerações que o haviam de preceder e jamais deixariam que o seu nome caísse no esquecimento.

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Poucos teriam acreditado no início dos anos noventa que Kurt Cobain ainda seria um ícone de estilos relevantes e influentes duas décadas mais tarde. Tal impacto foi construído não só a base das músicas criadas pelo homem de frente do grupo de Seattle, os Nirvana, mas também devido ao seu estilo grunge muito próprio e infame. Ténis Converse All-Star, jeans rasgados e camisas xadrez são peças de marca e destaque do guarda-roupa de alguns dos indivíduos mais marcantes da nossa cultura pop/rock e cinematográfica dos dias que correm.

 

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Um estilo refrescante, descontraído e irreverente a referenciar a atitude indiferente de Cobain de se vestir. Desde a notória coleção de Marc Jacobs a homenagear o Grunge de Seattle e o estilo punk mainstream que contribuiu para a perda do seu emprego, mas valeu-lhe o amor e admiração do mundo da moda, o estilo inspirado no mítico vocalista do Nirvana começou a aparecer em todos os desfiles de moda da época.

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A década de 90 foi sobejamente inspirada pela voz ácida e áspera de Kurt Cobain e, como qualquer mito que entra para a história, o seu chocante suicido no ano de 1994, só veio aumentar a mística em torno do tortuoso vocalista dos Nirvana. No decorrer do ano de 2013, Yves-Saint Laurent teve a audácia de fazer regressar as luzes da ribalta das passerelles internacionais uma criação semelhante a que Marc Jacobs lançara em 1993, inspirada totalmente no estilo grunge, obscuro e industrial de Seattle. No entanto, assim como já acontecera com o seu antecessor, Jacobs, as criações de Yves-Saint Laurent evocaram tanta ovação e dedicação avassaladora, quanto uma genuína controvérsia flagrante, já que os seus pares da indústria da moda ficaram chocados com o retrocesso aos anos 90 e ao não ser exibida a sua típica coleção de ensembles coquetes, talhados a medida e bem polidos.

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Estava de regresso o repto e apelo do Grunge de Seattle; uma tendência que influenciou e marcou uma geração inteira, não só na mentalidade, como na sua aparência também.

 

Vanessa Paquete 2015 ©