Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

FIFTY SHADES OF VANESSA PAQUETE

SO I`M LOVE WITH YOU

 

 

 
{#emotions_dlg.fallingstar} Ton histoire est mon histoire

 

 

 

Não sei de cor os traços do teu rosto nem sequer conheço o perfume da tua pele ou a candura das tuas mãos mas carrego a tua inicial cravada no meu coração e vi-te nitidamente na minha solidão povoada de sombras a contemplar-me através dos olhos de um outro e a velar-me os passos como um pai faz com um filho. No espaço vazio da minha alma tens sempre um lugar cativo só para ti, aonde tu e eu conversamos muito num prelúdio incessante que mais parece não ter fim, como se ambos não nos quiséssemos largar ou dar continuidade ao livro da minha vida.

 

Confesso-te que, por vezes, me apetece silenciar tudo, correr as cortinas e sentar-me apenas a teu lado no chão frio do salão e recitar-te palavras de contrafacção e então mergulhar na mais profunda das solidões. Tu chegas em passos lentos e olhas-me calmamente, tocas-me o rosto e afagas-me os cabelos. Reconheces as minhas mãos frágeis e pequenas e o meu corpo diminuído. Sei que quando vires os meus olhos à luz e a miúde aperceber-te-ás que estão rasos de água e que tenho as pupilas dilatadas de tanto ter chorado.

 

Arranjarás o meu cabelo desalinhado e os primeiros acordes da tua voz serão doces e subtis. Aquecer-me-ás o espírito com as tuas parábolas e quando eu começar uma frase tu simplesmente acabá-la-ás. Apaziguarás a minha raiva e estender-me-ás uma escada em espiral para que eu a suba a conta-gotas até ao Céu e lá do alto, bem no cimo de mim, eu possa vislumbrar o azul do vasto horizonte pintado a pincel. Puxar-me-ás para ti e far-me-ás levantar os pés do chão e rodopiar nos teus braços ao som de uma valsa.

 

Abraçada a ti chorarei ainda mais e lembrar-me-ei dos amores que perdi e do vazio que eles deixaram em mim.

 

Falar-te-ei do amor imenso, doce e intemporal que vivi ao lado de alguém que dizia ser o meu anjo da guarda e um enviado de ti para mim.  Falar-te-ei dele e das folhas de Outono a gretarem no jardim das nossas almas. Falar-te-ei dele e dos dias que não tinham horas e das horas que não pertenciam a ninguém e do tempo que se dissipava e simplesmente ancorava nas nossas mãos. Contar-te-ei que ele me tapou os olhos e, sem que eu me apercebesse, me levou num tapete mágico a empreender uma viagem ao longo de sete anos por entre a ramagem das árvores e os farrapos de nuvem do céu.

 

Contar-te-ei que possuíamos um equilíbrio perfeito, que eu vivia entregue a ele e ele entregue a mim. Contar-te-ei que passeávamos de mãos dada pela baixa de Madrid e pelas ruas coloridas de Barcelona, que sabíamos conjugar o verbo partilhar como ninguém mais o sabia fazer e que o nosso amor se conjugava no plural e não no singular. Dir-te-ei que ele via um futuro para nós e que diante dos seus olhos se desenhava uma casa à beira mar e um jardim de orquídeas, que ele sonhava com o cheiro a eucalipto e a alfazema e o riso das crianças. Segredar-te-ei a medo que ainda hoje trago a aliança de noivado presa no meu molhe de chaves, a sonhar com um presente e um futuro melhor, colada a mim como um amuleto sagrado do qual jamais me irei desfazer. De seguida, agachar-me-ei bem junto a ti e falar-te-ei da pele que se gastou, do olhar que se apagou, das promessas arruinadas em discussões que nos levavam a exaustão e das lágrimas que jorravam incessantemente em jeito de confissão. Contar-te-ei como se desfez o nosso pacto de intimidade e como nos separámos numa tarde quente do mês de Agosto.

 

Contar-te-ei que estivemos juntos anos e que, por vezes, preferíamos calar a falar porque no nosso silêncio com sabor a fel residia a nossa paz e no nosso quotidiano já habitado pelos mesmos hábitos e os mesmos lamaçais havia sempre um rio de esperança que acalentava os nossos ideais.

 

Os dias correm devagar e estáticos. Três anos passaram-se. Amores vieram e outros tantos partiram.

 

Escrevo-te palavras prisioneiras no seu descontentamento, palavras sopradas e recitadas ao sabor do vento, num tom lúgubre e de desalento.  Escrevo-tas para que tu jamais as esqueças e a minha ama de pássaro tas possa cantar a dado momento…

 

Foste o meu companheiro de viagem na alegria e na dor e quando, com voz baixa e meiga, te implorava, tal e qual uma criança, para me levantares do chão e me pegares ao colo tu fazia-lo disfarçando-te de outros rostos e outras vozes que povoavam a minha existência e eu amei-os com uma impetuosidade tal que me tornou volúvel, multíplice e vulnerável aos olhos dos outros.

 

Os dias correm devagar e estáticos e estas e outras palavras delineiam-se na minha mente e quando o faço imagino-te gentil, compreensivo, um amigo cúmplice a ouvir o eco da minha voz a tiritar ao teu ouvido. Imagino-me a ser conduzida por ti numa valsa Vianense e a rodopiar livre e liberta num teatro de sombras onde apenas tu e eu conhecemos verdadeiramente a cor do meu coração…

 

 
VANESSA PAQUETE 2007 ©

ALL RIGHTS RESERVED

 

 
 
 
 
 
 

WHAT WOULD HAPPEN IF WE KISS

 

 

 
{#emotions_dlg.barf} Céus, demorei quatro dias a escrever este texto. Eu queria relatar aquele simples ato de 1995, mas, sou tão lírica e detenho uma veia de escritora tão acentuada que acabou nisto. Todavia, estou extremmente orgulhosa! Acho que me excedi e superei na descrição de sentimentos, sensações e descrições. Sinto-me realizada {#emotions_dlg.blink}

 

 

 

Lá venho eu com as minhas condescendentíssimas palavras falar-te.

 

Sinto, muitas das vezes, que ando em círculos infindáveis, numa espécie de espiral, como se tratasse de um círculo vicioso; falo-te de tanta coisa, mas, raramente, consigo pronunciar-me acerca de algo objetivo.

 

Penso na sólida presença que sempre sustiveste na minha existência e quero relatar-te fatos, ainda que insignificantes, falar-te de “ nós “, ainda que tu não desejes tal pronome associado a esta história. Raramente me pronuncio no plural quando tento relatar algo acerca daquilo que vivi. Raramente emprego verbos de conotação sentimental direta, ou se o emprego faço-o em modo teatral, para que aos olhos de nenhum leitor tal afirmação pareça credível; que estupidez não achas?

 

Porém, hoje escrevo-te como se tu estivesses diante de mim e eu estivesse a contemplar-te olhos nos olhos e, numa perfeita cumplicidade, eu me encontrasse abstraída do poder abissal de desejo que ainda me consome, e, pudesse falar-te de igual para igual, sem denunciar a tensão do meu corpo, a retração dos meus músculos e a perturbação do meu espírito.

 

Recordaste do dia em que deixaste os teus dedos marcados na minha pele, seguraste a minha cintura, e num movimento ágil, pegaste no meu cabelo, deixando as cavidades da minha clavícula a descoberto, enquanto eu permanecia aturdida e silenciosamente, à mercê das tuas mãos e, num ato algo inédito da tua parte, colocaste um colar de missangas em redor do meu pescoço?

 

Havia passado uma noite lamentável com visões distorcidas de imagens inteligíveis (tivera um dos meus típicos pesadelos onde tudo parece extraído de uma pintura de Dali). Ao amanhecer chorara. Com dezasseis anos de idade, a inquietude da vida remoçava-me a alma e fazia-me sofrer de uma obsessão compulsiva que colocava em causa todos os “ se “ e “ senãos “ de uma existência. Era uma rapariga esquecida no tempo, a espera do seu passaporte para a felicidade.

 

Nesse dia, demorara menos de dez minutos a chegar ao átrio da escola. O cenário não mudara em nada; a chuva bafejara-nos de novo com a sua malograda recaída. Leça parecia estar entregue ao flagelo da cortina do nevoeiro cerrado que pintava cada uma das suas esquinas com o mais sombrio dos cinzentos e condenada a humidade persistente e insistente que cobria o ar de uma corrente de ar fresco que nos obrigava sempre a usar agasalhos in extremis. Ainda assim, jovens de pele bronzeada e cabelos louros ou castanho arruivados, a fazer lembrar o Verão que já findara, passeavam-se pelos corredores, rindo jovialmente, e, arrastando-se, langorosamente, até a sala de aulas, numa conversa fluída e ciciada.

 

Assim que contornei o pavilhão, foi fácil localizar-te. Sentia-me a ficar cada vez mais cambaleante e indisposta à medida que te via aproximar de mim. De repente, o espaçoso e amplo pavilhão tornara-se num lugar exíguo, onde a minha respiração cessara de expirar e o oxigênio ficara enclausurado nos pulmões. Tossi em convulsão para que o oxigênio voltasse a bombear-me os pulmões e a concentração de dióxido de carbono no sangue fluísse; céus, porque seria tão difícil a simples contemplação da tua pessoa,Tiago?

 

Quando a campainha soou inspirei de alívio. Pude olhar-te de relance e ver que envergavas uma camisola com decote em V em pura lã caxemira de padrão axadrezado em tons beges e pastel e uns jeans slim, de cintura baixa. Fitaste-me e eu mantive o meu olhar baixo, fixado nos apontamentos de Inglês que a Clara me trouxera a fim de eu os copiar. O teu olhar permaneceu cravado em mim, como se a qualquer momento, fosses avançar uns passos, inclinar-te sobre mim e falar comigo; contudo não o fizeste!

 

Passei o resto da manhã na ânsia e expetativa de voltar a ver-te, encaminhando-me, ora para os edifícios de aulas, ora para o polivalente. Nutria uma vaga esperança de puder encontra-te sozinho, sem aquele caleidoscópio e amalgama de amigos, que trazias sempre em teu redor. Como poderia eu ter um minuto a sós contigo, Tiago? Era completamente impossível. E, todavia, agora que soltávamos risinhos de embaraço na presença um do outro, eu tinha a certeza que poder-te-ia segredar o meu amor, sem ter de o proferir em voz alta e diante de toda a gente.

 

Volvida toda a manhã, sem que tu me voltasses a olhar, regressei a casa cabisbaixa e com a mais melancólica das expressões estampadas no rosto. O meu quarto era o meu refúgio mais que sagrado, o único lar que verdadeiramente eu possuía e conhecia, o único lugar onde eu podia lançar o meu olhar vazio contra o branco das paredes sem que ninguém me instigasse com uma série de perguntas. Ninguém entendia o precipício onde eu me lançara; creio que toda a gente já se apercebera que eu só não sentia vertigens da vida a teu lado, que eu só sorria a teu lado, que o meu raciocínio só se desenvolvia a teu lado, que eu só conseguia transgredir o abismo a teu lado e, todavia, o quão assustadora era aquela dependência para uma rapariga impúbere, de seios ainda em fase de desenvolvimento, corpo em transmutação e psique em plena metamorfose.

 

Tu assustavas-me, Tiago, e o que eu sentia por ti melindrava-me até ao meu último fio de cabelo: era surrealista, sobrenatural, contranatura. O que era aquilo afinal? Talvez fosse amor, sim, talvez fosse amor! Não acreditas ser possível amar-se alguém aos dezasseis anos de idade? No entanto, eu amei-te…

 

O início de tarde chegou e foi melhor, contudo, o nevoeiro cerrado não nos largara, mas parara de chover, embora as nuvens fossem baixas, carregadas, densas e opacas, a desenhar um espectro de tristeza sobre Leça.

 

Almocei em silêncio com toda a gente especada a contemplar-me, como já era hábito usual no seio familiar. Ao terminar a minha refeição, levantei-me da mesa e tratei de arrumar a bagunça da hora alimentícia e cumpri, religiosamente, as minhas tarefas a fim de evitar conflitos com a Ana, esposa do meu pai. Tu não me saias do pensamento. Os minutos passavam, vagarosamente, naquela tarde de Outono de 1995. Estava inquieta, desassossegada. Peguei no “ Quo Vadis “ e tentei centrar a minha atenção no segundo fascículo do livro mas a mente vagueava desordenadamente para ti. Não havia sol, nem o teu corpo moreno, deitado, nas areias quentes da nossa praia. Agora a nossa praia estava vazia e a luz que invadia Leça já não era a mesma e o mar que agora esbatia contra a barra também já não era o mesmo, só uma coisa permanecia imutável: eu não conseguir deixar de pensar em ti.

 

A chuva regressou fraca a meio da tarde. A minha impaciência aumentou vertiginosamente. Precisava sair daquela casa. Espairecer as ideias. Sentia um nó no estômago. Tinha a cabeça a andar as voltas desde que os nossos olhares quase se haviam cruzado. Eu sabia que, desta vez, fora eu a baixar a cabeça, a fugir de ti, a deixar que os meus cabelos tombassem para a frente numa tentativa vã de me isolar do teu olhar evasivo sobre mim. Olhei-me ao espelho. Decididamente, tinha que espairecer as ideias, ainda que o tempo assim não o permitisse. Sentia algo a chamar-me. Desconhecia o porquê, todavia, era um chamamento forte e gutural.

 

Contra todas as condições climatéricas, enfiei-me num vestido preto, em forma de envelope, estilo evasé, de mangas curtas e malha jersey. Nunca o usara devido ao seu decote proeminente. Olhei-me uma vez mais ao espelho. Completei a minha vestimenta com um casaco comprido em tons bordeaux de malha jersey também. Em inícios de Outono, numa tarde cinzenta e chuvosa como aquela, não havia roupa mais desapropriada e despropositada para ir arejar as ideias e o meu pai pareceu reparar em tal.

 

 - Vanessa! – Gritou o meu pai quando me viu a subir as escadas num passo célere.

 

Voltei a descer as escadas e respondi, contrafeita, ao seu chamamento.

 

 - Olá. Diz… - respondi sisuda e apreensivamente.

 

 - Está a chover e um frio de cortar lá fora! – replicou entredentes.

 

«Jura? Olha que nem havia reparado.» pensei para comigo própria e os meus botões.

 

 - Tens aulas a seguir ao almoço? Onde raio vais vestida assim, toda coquete? – perguntou enquanto bebia o seu segundo whisky da tarde, antes de regressar ao trabalho.

 

 - A lado algum especial – resmunguei- Talvez passe pela biblioteca para requisitar uns livros do Gil Vicente. Estamos a estudar o “ Auto da Barca do Inferno “. O meu pai franziu o sobrolho e pareceu surpreender-se com a minha saída inesperada.

 

 - E não pode ficar para depois, essa tua ida a biblioteca? Já sabes que não gosto que andes por aí sem qualquer propósito viável e, ainda mais, com um tempo destes.

 

Caímos num daqueles nossos silêncios infindáveis até que declarei, por fim, com a voz firme e incisiva.

 

 - Pai, eu sei que não gostas. Mas preciso de sair. Estou a sufocar. E a vestimenta coquete foi a primeira coisa que me veio a mão, nada mais…

Retrocedi e dei uns passos na direção do meu quarto.

 

 - Vou mudar para algo mais confortável e quente. Tchau. Não me devo demorar muito. Antes das 18:00 estou em casa.

 

O meu pai intersectou-me o discurso rápido e autoconfiante.

 

 - Vanessa, não é tão-somente a mim que me deves satisfações, mas a Ana também – e tentando ser mais agradável e complacente acrescentou – As seis da tarde em casa. E muda-me essa roupa que, por mais elogioso que tente ser relativamente a ela, não te quero ver a pavonear por aí nesse vestido.

 

Lancei um suspiro para o ar e anui, afirmativamente, contrafeita.

 

Despi o vestido e enfiei-me nuns jeans casuais e juntei-lhes uma sweat com capuz cinzenta de algodão. Pelo menos era algo bem mais aconchegante e prático e dava-me um look urbano. Sai direta para a rua, sem rumo ou destino. Rapidamente o meu cabelo ficou num estado lastimável devido a humidade que se fazia sentir no ar. A chuva voltara a cessar mas a neblina cinzenta persistia. Levei o walkman comigo e pus a tocar uma cassete que tirara a pressa da mesinha-de-cabeceira; algo da Mariah Carey, se não me engano, Daydream, talvez… Enfiei os auscultadores nos ouvidos, deixei que a música absorvesse o meu subconsciente e dragasse as imagens que eu tentava, dissipar de ti, a todo o custo.

 

A caminho da biblioteca a chuva começou a cair impiedosamente. Coloquei o capuz na cabeça numa tentativa inglória de me resguardar. Os meus olhos pareciam procurar, desesperadamente, um local para eu me abrigar. Dirigi-me até a Capela do Corpo Santo, onde verifiquei, com algum alívio, que se encontrava desimpedida. Sentei-me numa das suas vigias de pedra e recostei-me a uma das suas colunas ancestrais, escutando Mariah Carey. Os meus olhos permaneceram, cuidadosamente concentrados e fechados, alheados de tudo em seu redor. Aquele era o meu momento de paz que eu tanto procurara ao longo de todo o dia. Não sabia o que me trouxera até ali mas – naquele instante – tudo me parecia perfeito!

 

Por uns instantes, entreabri os olhos, para rabiscar indolentemente um esboço de toda aquela paisagem no meu caderno de rascunhos. Ao fazê-lo ergui o olhar, algo atónita, arranquei os auscultadores abruptamente dos ouvidos e atirei-os para dentro da mochila. O walkman continuou a rodar a cassete em silêncio e eu quase me estatelei no chão, de tanto embaraço. Os nossos olhares mesclaram-se e eu desviei o meu com algum constrangimento.

 

 - Desculpa, Tiago, não sabia que estavas aí – retorqui – vim dar uma volta mas a chuva fez-me refém – tentei explicar-me atrapalhadamente.

 

 - Eu só estava de passagem – disseste-me num tom de voz aveludado, com um sorriso tão constrangido quanto o meu, a desenhar-se no teu rosto.

 

 - Ah…

 

 - Mas – prosseguiste – parece que, tal como tu, também fiquei refém do mau tempo.

 

Ruborizaste a fazer tal comentário e o teu sorriso esbateu-se no rosto, por instantes. Porventura, acabaras de te aperceber que estávamos os dois sozinhos e confinados a um lugar exíguo, donde se podia contemplar o halo de chuva a cair sobre Leça inteira e o vento a assobiar ruidosamente nas nossas costas, e nós os dois sozinhos, aturdidos, naquele local sem saber que palavras proferir, que gestos manejar…

 

Sentaste-te tão distante em relação a mim quanto a capela o permitia. Ficamos ambos recostados as colunas de pedra a ver a chuva a cair, cada qual no seu canto. Os pensamentos galopavam velozmente na minha mente e atropelavam-se, atabalhoadamente. Tinhas o cabelo molhado ao ponto de gotejar sobre a tua camisola de caxemira. O teu rosto parecia distante. Tinha a sensação que a tua mente estava a tentar estabelecer uma ponte de ligação comigo com o único intuito de estabelecermos um mero diálogo de ocasião.

 

 - Então? – exclamaste após um silêncio ensurdecedor que pareceu durar horas – O teu namoro com o André não deu certo.

 

Revirei os olhos numa expressão pouco amigável. Tudo o que tinhas para me dizer era algo convencional. O meu coração pulsava a mil a hora por ti, o sangue gelara-se-me nas veias. Eu tinha de falar. Dizer-te algo. Contudo, para cúmulo da situação, abordaras assuntos que em nada me interessavam.

 

Suspirei, e voltei-me lentamente para ti, contrafeita e de má vontade. Estava tão familiarizada com o tom da tua voz, o teu cheiro, a tua presença. Era um cocktail irresistível que me inebriava os sentidos. Não adiantava estar a esforçar-me, estupidamente, para me alhear do facto de te encontrares ali ao meu lado, sob a queda de uma chuva imparável; o cenário todo era demasiado idílico e romântico, compreendes? Tu tinhas uma expressão indecifrável de cautela e apreensão estampada no rosto. Não conseguia adivinhar-te os pensamentos, Tiago. Se desejavas fugir e lançar-te na intempérie que nos assolava, ou se desejavas ficar. Por momentos, os nossos olhares cruzaram-se e ambos expressavam curiosidade. Lançamos um sorriso enviesado um ao outro. Levantaste-te e aproximaste-te com um passo firme, nunca desviando os teus olhos dos meus. O meu rosto deve ter-se contorcido de pânico ao ver-te aproximar. A sensação de frio que me aflorava o ventre era tão agradável e excitante quanto perturbadora.

 

- Estás a tremer, Vanessa! - disparaste docilmente.

 

 - Não te preocupes. Eu estou bem, a sério.

 

Ambos não possuíamos casacos e devíamos estar gelados. De repente, lembrei-me do vestido que – inicialmente – pensara em usar e do brilharete que ele teria feito naquela ocasião, a teu lado.

 

 - Deixei o casaco em casa – constatei – mas tu deverias ir andando, Tiago, estás completamente encharcado. Moras a dois passos daqui. Se continuares enfiado nessas roupas molhadas, vais acabar por apanhar um resfriado ou ficar doente.

 

 - Não me queres por perto? – exclamaste estupefacto.

 

 - O quê? – respondi rabugenta – Não é nada disso, Tiago – prossegui – Simplesmente, acho que ficamos meio estupidificados na presença um do outro, os teus olhos ficam inteligíveis, não sei o que esperar de ti e, pior de tudo, não sei como me comportar perante ti.

 

Baixei o olhar envergonhada, pelo teor de tamanha confissão. Lembro-me dos teus olhos castanhos aveludados terem tomado uma tonalidade mais agreste, transmutando-os, subitamente, em verde topázio.

 

 - É muito difícil para mim estabelecer qualquer tipo de conversação contigo – confessei num murmúrio – Não quero ser maçadora ou interferir na tua vida - Ao dizer-te isto fui invadida por uma estranha sensação de alívio e prazer como se me tivessem tirado um peso de cima dos ombros – Mas… sinto constantemente que o sou ; que aos teus olhos sou uma melga insuportável – observei.

 

Permaneceste em silêncio durante um momento incomensurável. Incidiste o teu olhar sobre o meu, um tanto ao quanto estarrecido. Provavelmente, seria informação a mais para assimilares, vinda de uma jovem imatura de dezasseis anos de idade. Abanaste a cabeça de forma indulgente, sorriste e os teus olhos pousaram-se, uma vez mais sobre os meus, denunciando málica, nenhuma mácula e um esgar travesso.

 

 - Esse é o teu problema, Vanessa – franziste o sobrolho – Por vezes, tens atitudes descabidas; ora me evitas, ora avanças sobre mim que nem uma caçadora. Tudo em ti é seriedade. Eu próprio não sei como falar ou lidar contigo.

 

Fixaste o olhar no vazio, sem conseguir prosseguir mais.

 

 - Achas-me arrogante, então… antipática…

 

 - Eu não disse isso; vês? Eu não consigo desenredar as expressões do teu rosto porque tu levas tudo demasiado à risca e a sério. Devias ter uma atitude mais descontraída em relação a tudo – proferiste num ato de compaixão para comigo – Esforças-te ao máximo percebes? E, por vezes, não é preciso nada disso. Basta seres tu própria… e com um sorriso no rosto, de preferência. Não leves tudo tão a sério, Vanessa! Irá prejudicar-te a longo prazo.

 

Baixei o olhar, subjugada pelo teu sermão moralista.

 

O meu sorriso desvaneceu-se. Percebera, subitamente, que fizera algo de errado. Que os meus humores eram demasiado transparentes e percetíveis. Que te assustava e afugentava de mim. Que o problema era eu! A minha cabeça rodopiava com a rápida e súbita mudança de rumo que a conversa tomara. Tudo o que eu mais desejava era estar a sós contigo, sentada, aconchegada no teu abraço muito quieta, sentindo a chuva a cair mas tal parecia impossível. Eu simplesmente não te agradava.  

 

 - Vês? – disseste num lampejo de impaciência para comigo – Agora ficaste aborrecida e silenciosa devido ao que te disse.

 

 - É que… acho que não consigo ser modelada ao nível da descontração, Tiago. Não me havia apercebido que notaras os meus estados de espirito deploráveis, em certas ocasiões. Acho que é lícito da minha parte tê-los… Ah… sei lá… a minha família é uma treta, as coisas não me correm bem na escola, tenho comportamentos que nem eu própria compreendo e outros que me são estranhos – e acrescentei, hesitante, conseguindo escutar cada batida do teu coração – E, para piorar tudo, achas-me antipática, sensaborona e eu não sei como hei-de estar ou comportar-me perante ti.

 

Olhei-te sub-repticiamente para sondar a tua reação. Eu mal conseguia respirar, mas tu sorriste e lançaste uma gargalhada para o ar.

 

 - O teu problema é esse, Vanessa: seriedade! Tens de suportar o intolerável, viver o momento, atreveres-te, não te coibires de ser jovem e gozar o instante. Para de fazer projeções futuras no que quer que seja. Temos dezasseis anos de idade, por amor de Deus! - exclamaste com um tom de voz exasperante.

 

 - O quão descontraída queres que eu seja? - sussurrei.

 

 - Simplesmente descontraída!

 

A minha respiração alterou-se. O vento agora tornara-se numa aragem cada vez mais fresca que me emaranhava os cabelos no rosto e me chicoteava as faces. Os músculos estavam paralisados devido ao frio, devido a tua presença mas, acima de tudo, devido ao pensamento que me assaltara a mente e me fazia ferver o sangue nas veias: desejava beijar-te! Provavelmente, seria uma das maiores imprudências que faria na vida, contudo, foras tu a afirmar a minha apreensão e falta de destreza e que outro momento ideal, de perfeição teria eu a não ser aquele? Os lábios queimavam-se-me já de desejo. Os teus olhos contemplaram-me algo admirados e expectantes.

 

 - Parou de chover, Tiago – suspirei ansiosa – Tenho de me ir embora.

 

 - Já? – Observaste cuidadosamente, elevando a mão até ao teu cabelo completamente encharcado, para o puxares para trás e libertares o teu rosto das mesclas desalinhadas que te acariciavam a face.

 

 - Tenho mesmo de ir. Posso pedir-te uma coisa? -  perguntei reticente por entre dentes, com a respiração ofegante, a voz a falhar-me e uma luz incandescente a alumiar-me o olhar.

 

Detinhas uma expressão afável e calorosa, ainda que sustentada por rasgos de explícita curiosidade. O meu cabelo agitava-se ao sabor do vento. A chuva cessara de cair mas o ar humedecera ainda mais, causando-me arrepios intermitentes de frio e desejo frenético constante. As nuvens negras e espessas de baixa altitude ensombravam a capela, conferindo-lhe uma neblina mística e espectral que só tornava todo o cenário ainda mais apetecível a conclusão do nosso momento Estava completamente embriagada com a tua presença ali, naquele instante, naquele local, a minha mercê…

 

 - Vanessa! - exclamaste já algo ansioso – Querias pedir-me algo; o que é?

 

 - O teu colar…

 

Fitaste-me, estupidamente. Fizeste uma pausa na tua respiração e voltaste a olhar-me de soslaio. O silêncio era uma barreira entre nós, ainda que conseguisse escutar as batidas to teu coração, por mais inaudíveis que fossem. Interrompi os teus pensamentos absortos com uma risada ligeira, descontraída e acrescentei:

 

 - Quer dizer… desculpa, expressei-me mal. Não quero que me ofereças o teu colar. Quero que mo emprestes…só isso!

 

Demorastes alguns instantes a responder antes de proferires com alguma cautela.

 

- O meu colar?

 

 - Sim – anui 

 

- Mais alguma coisa? – perguntaste divertido.

 

 - Não, só isso – respondi-te num tom de gracejo.

 

Uma ruga minúscula desenhou-lhe no teu maxilar, acentuando ainda mais a cavidade onde a tua pele suave se deixa afundar, formando um declive que te é tão característico na tua fisionomia facial. Estavas prestes a responder-me, contudo, antes mesmo de te puderes pronunciar eu silenciei-te com um carinhoso e admoestador «Chiu» e ambos sorrimos.

 

 - Eu sei que o colar que usas faz parte de ti – afirmei-te hesitantemente.

 

 - Sim, é uma bugiganga – replicaste sardónica e momentaneamente zangado - tal como tu própria a classificaste no Verão passado, que possui um valor sentimental para mim. Não porque alguém ma tenha oferecido – acrescentaste – Mas porque acredito que me traz boas energias e é uma espécie de talismã/ amuleto – explicaste num ápice, mantendo o teu tom de voz ansioso e apertando ligeiramente os dedos em torno do teu colar multicolor de missangas.

 

 - Desculpa Tiago se o apelidei de bugiganga – respondi-te automaticamente – Podes emprestar-mo? – insisti.

 

 - Devias regressar a casa antes que chova, Vanessa. Porque queres que eu te empreste um colar, do qual, nunca me desfaço nem para tomar banho?

 

Corei face tal pergunta. A resposta era óbvia, apenas tu é que não a vias. Sentia-me a desfalecer perante ti. A aproximação do teu corpo junto ao meu estava a fazer com que deixasse de raciocinar e estivesse ao ponto de ficar inconsciente (ainda que não literalmente falando). Conseguia sentir o teu hálito, cheirar o teu perfume, antever o sabor do teu beijo, sentir o toque das tuas mãos em redor do meu pescoço e os teus olhos verdes a aglutinarem-me os sentidos, a toldarem-me o discernimento e os meus lábios ofegantes a irem de encontro aos teus, numa emergência de amor insaciável…

 

O céu clareara e agora transformara-se num cinzento-pérola que alumiava ainda mais a luminosidade incandescente do teu olhar. As árvores deixaram de ser sacudidas pela ferocidade impiedosa do vento. O silêncio manifestava-se entre nós. O meu estômago ainda se contorcia em espasmos de nervosismo. Tu já te devias ter apercebido que eu desejava fazer algo ou levar o colar emprestado como uma mera desculpa de ter um pouco de ti junto de mim, pois observavas-me, agora, com o teu rosto moreno, inusitada e surpreendentemente branco.

 

 - Tens razão, Tiago, é melhor ir andando – sorri – Ainda tenho de estudar Gil Vicente para o exame desta semana. Desculpa toda esta tensão e todo este diálogo sorumbático. Sabes ?  - exclamei com a voz límpida e finalmente controlada – Acho que tens razão relativamente a mim, não possuo um grande dom para o domínio da mente sobre a matéria, tão pouco para o domínio do razão sobre a coração; daí as minhas mudanças voláteis de humor. Eu sou comandada pela voz dos sentidos – conclui laconicamente.

 

 - Vanessa…espera.

 

Com muito cuidado, encostaste suavemente a ponta dos teus dedos ao fecho dourado do teu colar de missangas e retiraste-o do pescoço. Contornaste o meu corpo num semicírculo e posicionaste os teus braços sobre os meus ombros. Os meus olhos azuis incendiaram-se. Todo o meu sistema nervoso central reagiu ao teu toque num arrepio que se me aflorou o ventre e terminou na espinha, libertando em mim, um cocktail químico explosivo de dopamina e oxitocina que me coibiram de inspirar e expirar, repentinamente.

 

Discretamente, arquejei o meu corpo para trás, inclinei a minha cabeça na direção das tuas mãos, ficando, subitamente, paralisada e de olhos semicerrados. Descontraí os braços, deixando-os cair junto ao ancas, enquanto uma das tuas mãos se cingia a minha cintura, puxando todo o meu corpo de encontro ao teu peito. O impacto com o teu peito fez-me ficar sem fôlego, uma vez mais: eu desaprendia a arte de respirar a teu lado, Tiago!

 

 - Ah… – tentei interromper, mas a minha voz não passava de um murmúrio inaudível. Mantive-me de pé com as pernas trémulas, enquanto delicadamente tu agarravas nos meus cabelos, fazendo um puxo, com ambas as mãos, roçando suavemente as pontas dos teus dedos na minha clavícula. Projetei a cabeça ainda mais bruscamente para trás, enquanto sentia o teu coração a bater aceleradamente ao colocares-me o teu colar de missangas em redor do meu pescoço. As minhas costas encontravam-se firmemente encostadas ao teu peito. Gemi em surdina, de modo a que não me pudesses escutar, no entanto, senti as tuas mãos soltarem-me o cabelo e a tua voz de veludo sussurrar-me ao ouvido:

 

- Cuida bem dele. Não te esqueças, Vanessa… É uma parte de mim que levas contigo para casa – a tua voz jovial, de repente, adquirira um tom sério.

 

Aquelas palavras haviam sido sopradas ao meu ouvido num tom demasiado sedutor. Libertei o meu corpo de encontro ao teu peito. Ainda me encontrava de costas voltadas para ti quando as proferiras, sem puder contemplar-te o rosto e tentar decifrar o que se passava no âmago da tua alma. Nervosamente, percorri a pele do meu braço numa tentativa vã de erradicar a reação de pele de galinha que acabaras de me provocar.

 

Tentei lembrar-me do Simão e de como ele encostara os seus lábios quentes junto aos meus numa tarde de Verão em que eu colocara os meus braços a volta do seu pescoço e me entregara aos seus beijos, as suas carícias e me afundara no seu abraço profundo quando este me envolvera a cintura.

 

Sem ter bem a certeza do que fazia, virei-me de frente para ti. Os nossos olhares mesclaram-se nesse momento. O meu raciocínio estava descoordenado e lamentavelmente uma lástima, aquela altura do campeonato. Inspirei profundamente; tinha-te ali a escassos centímetros da minha boca. Pude desenhar o contorno dos teus lábios sem que me fosse mesmo necessário tocá-los.

 

 - Obrigado, Tiago! – balbuciei com a voz embargada.

 

O teu sorriso era inteligível e a tua íris parecia ter-se transmutado. O meu olhar voltou a semicerrar-se e colei os meus lábios as maças do teu rosto, incidindo, por instantes, toda a minha paixão na tua face ruborizada, deixando os meus lábios irem escorregando em declive até ao encontro dos teus. No entanto, detive-me. Não conseguia desviar o meu olhar da perfeição do teu e do desalinho do teu cabelo desgrenhado. Era preferível puder olhar-te olhos nos olhos e admirar-te a afugentar-te com uma atitude irrefletida e precipitada. Cruzei os braços, dei uns passos para trás, não fazendo qualquer movimento para evitar a chuva que voltara a cair e enfiei o capuz na cabeça.

 

Conservei uma boa distância de segurança entre a tua pele e o meu corpo. Acariciei o colar que me colocaras em torno do pescoço e prometi-te cuidar bem dele. Estávamos ambos enregelados e tensos. Despedi-me de ti, com ansiedade, e atabalhoadamente, esquecendo-me, por momentos, que talvez aquela fosse a única oportunidade que possuiria na vida de beijar-te. Mas, tal como tu próprio o disseras, erámos novos, tínhamos apenas dezasseis anos, o espectro das possibilidades eram tantas…

 

Who Knew ?

 

Vanessa Paquete 2014©

All Rights Reserved

 

 
What Would Happen If We Kiss?
Curiosamente, aquela não viria a ser a primeira nem a última vez em que estivemos a sós em que me apeteceu beijar-te
You Got Lucky ( I was too shy ) {#emotions_dlg.heart}

I`M LOST

 

 

 

 

 

Dizem que a arte de escrever-te me ajuda enquanto catarse emocional. Dizem também que existem recordações que de tão dolorosas se transformam numa miscelânea de nostalgia e melancolia que nos acompanharão até ao fim dos nossos dias. Dizem, de igual modo, que na iminência da vertigem e do abismo o apoio de amigos e familiares e, até mesmo de técnicos especializados, é fundamental na ajuda de uma vivência meramente razoável.

 

Não possuindo eu nenhum desses apoios acima mencionados que me resta então?

 

Escrever-te!

 

Deixar de ser hipócrita. Libertar-me de todas as máscaras e subterfúgios. Deixar de sublimar certas e determinadas emoções, revestidas de lirismos apenas para parecer bem aos olhos de outrem. É essencial que eu consiga exprimir a minha dor, revesti-la de uma personalidade e dar-lhe voz para que esta possa gritar avidamente o seu pesar.

 

Tu és tão belo e tão feliz  (dentro do culminar das aparências claro)! Mas diz-me, como consegues tu alcançar tamanha perfeição existencial, Tiago?

 

Questiono-me como e porquê! Para mim, tornou-se na maior incógnita da Humanidade. Claro que o meu subconsciente, revestido de um certo mecanismo de autodefesa lá mo explica. Mas a dor permanece!

 

 Perguntam-me porque te escrevo. A resposta é óbvia. Pretendo apenas avivar a minha memória e tornar-me visível perante os outros visto que, durante um longo espaço de tempo, andei incorpórea sem que ninguém me pudesse ver. Diziam que sim, que me viam nitidamente, como dois olhos que contemplam as águas calmas de um rio lendário mas mentiam. Mentiam sem se aperceberem que teciam mentiras a eles próprios. Estavam cegos diante de um rio de águas turvas à mercê das intempéries que o assolavam. Como o ser humano pode ser tão mentiroso. E hipócrita!

 

Sempre que a dor aumenta a ponto de se me consumir as entranhas e dilacerar-me o coração, sento-me a escrever-te! Não sou uma escritora exímia! Uso o papel como recetáculo das minhas mágoas e dores mas, mesmo assim, denoto, que poucos escutar-me-ão, consequentemente, sinto-me sozinha a cada dia que passa, numa languidez que só a morte parece ter a capacidade de apaziguar.

 

O objetivo da escrita e de me confessar perante ti é o extravasar das emoções contidas num recanto da  minha mente demasiado exíguo aonde não existe oxigénio para respirar. Nem se trata tanto de um grito de alerta, mas sim, mais de um desabafo espontâneo. A sociedade e o mundo onde tu vives exige-me que use a hipocrisia como uma máscara. Que forje gargalhadas no meu quotidiano, Que pactue com o bem-estar dos outros que não se coaduna em nada com o meu.

 

Quando a dor me consome há uma necessidade intrínseca, quase que visceral, de partilhar com os outros o peso que me consome, as saudades que latejam dentro do peito, as recordações que me assaltam constantemente e me deixam reféns da suas grilhetas; há uma necessidade de partilha, de te fazer confissões, de te desvendar segredos e falar, falar, falar e falar ininterruptamente e tudo isto é possível de ser feito mesmo sem ninguém por perto. Basta apenas escrever-te!

 

 Quando estamos sob o espectro da dor, a exposição é constante, não há disfarces que nos ilibem. Há quem a domine e manipule no seu dia-a-dia e depois existem aqueles que, como eu, sucumbem perante ela porque o nosso equilíbrio é tão frágil que qualquer pequenino episódio ou mínima perda que aconteça e fuja, ainda que involuntariamente, ao nosso controlo pode fazer desabar as poucas pedras que tentávamos erigir da nossa morada ainda em obras e constante reconstrução de alicerces.

 

Creio que, através de tudo aquilo que pude vivenciar, ver, ler e até escutar, de ti e dos teus amigos vocês não possuem qualquer sensibilidade ou discernimento sequer, para entender a desorganização emocional que existe na minha mente (não querendo eu imputar culpas a ninguém). Todavia, a lógica que eu tento começar a forjar para reestruturar as minhas vivências e reorganizar o meu dia-a-dia permanece irrecuperável devido a uma revolta lancinante que me consome, incessantemente.

 

E…

 

Tiago…

 

Há quem diga que na guerra e na revolta existem duas velhas máximas a seguir: na revolta zangámo-nos porque não conseguimos deixar de nos revoltar e na guerra revoltamo-nos porque não conseguimos deixar de guerrear! Assim se enraíza a angústia em nós e cresce que nem um Golias, assustadoramente, a descoberto e a olho nu aos olhos de outrem!

 

Este foi o décimo nono desabafo. Muitos outras hão-de vir!

 

Obrigado aos olhares atentos! E a quem estiver aí do outro lado!

 

Vanessa Paquete 2014 ©
All Rights Reserved

 

 
 
{#emotions_dlg.sadflower} Vá, prometo começar a falar de coisas mais alegres.
Pareço um disco riscado e rachado sempre a falar da dor e da morte.
Mas é que sempre que tento relatar factos, acabo por me afogar nestes relatos abstractos

 

I CAN`T LIVE WITHOUT YOUR SWEET FANTASY

 

 

 
{#emotions_dlg.sol}" Without You " de Mariah Carey WOW...
O quanto eu queria ser como ela. O quanto eu desejava ser possuidora daquela beleza.
O quanto eu desejava ter aquela voz de ouro para arrebatar o teu coração.
Uma das minhas interpretações preferidas de sempre...
 

Hey, amor, como te sentes hoje?

 

Por favor, não te sintas zangado por te chamar de “ amor “; bem sabes que nunca mais voltaremos a ver-nos fisicamente, e, escrever-te é crucial para mim, sempre foi, portanto não te zangues comigo, prometes?

 

Escrever-te tem sido um grande disparate não achas? Todavia, é o único disparate válido que me mantem agarrada a esta vida; sabias? O teu silêncio não me importa e sabes porquê? Céus, vais achar-me uma louca ao afirmar-te aquilo que te vou dizer: “ O teu silêncio não me importa porque tu estás morto e os mortos não se manifestam, pois não? “

 

Deram-me a notícia da tua morte decorria o ano de 2007. Foi a Anabela que me anunciou o trágico acontecimento e o início de um luto profundo meu. Senti-me como uma náufraga, à deriva, sem saber para onde a maré me levava e a tentar, furiosamente, mudar o curso das águas, como se tal pudesse evitar a tua morte. Se bem me conheces, não aceitei o teu desaparecimento, claro que não ! Sentia-te vivo. Via-te vivo. Lá por eu estar destroçada, de coração partido e a alma sem ânimo, não significava que a ceifeira te tivesse levado, não achas, Tiago?

 

No entanto, foste assim qualificado: “ de fantasia morta, idolatrada, e transporta para a realidade com o início de uma depressão profunda revestida num luto emocional irreversível “. Foi este o meu diagnóstico ante o mundo psíquico. E no entanto… rejeitei toda e qualquer medicação possível. Não sei se sabes mas sempre vi os psicofármacos como um dia de Inverno gelado que nos prende os músculos, nos impossibilita de caminhar e nos trazem um vento de Oeste cortante que nos impede de respirar sincopadamente e sentir o aflorar da mais ínfima das emoções. Não tomá-los, surtiria em mim, um caleidoscópio de efeitos perniciosos: decidi arriscar a não tomá-los e fiquei a espera que a minha alma conseguisse, ainda, sustentar fortes alicerces capazes de te reter, fiquei sentada no alpendre do meu coração a espera que viesses, e tu não vinhas, Tiago, tu simplesmente já não vinhas…

 

Agora, tinha de te procurar eu, ininterruptamente, em redes cibernautas; o meu subconsciente chamava-lhe uma perda de tempo total, estar ali a desmembrar a ridícula de uma página de internet onde não se escutava o teu riso, onde não se ouvia a tua voz, onde tu não estavas ao meu lado e, na pior das hipóteses, estavas, sim, para cúmulo dos espinhos que ia descobrindo diariamente, ao lado de outras pessoas.

 

Eu tinha de regressar a ti obsessivamente. Como ia eu viver, ou aguentar dez ou quinze minutos, sem te ter no meu pensamento? Eu precisava voltar a encontrar-te, Tiago! O meu coração não conseguia enterrar a fantasia do homem que eu acreditei que – um dia – virias a ser. Eu idealizei-te. Inventei-te. Desenhei um esboço de ti onde, modéstia aparte, a perfeição imperava e cada traço era um deleite para os olhos de tão minucioso e arrebatador que eu o projetara. Olhava para ele e não lhe conseguia ver um pingo de maledicência, fraqueza ou falta de hombridade, e, por isso, amava-te incondicionalmente, ao ponto de ser louca o suficiente para não chorar a tua morte, nem tão pouco enterrar-te onde quer que fosse.

 

Tu acompanharas-me anos a fio e eu jamais cansara-me de estarmos juntos nas minhas fantasias.

 

Mesmo quando o tempo escasseava e, por vezes, a caocidade da minha vida e a acumulação de pessoas em meu redor (namorados, familiares, vida laboral e assuntos complicados), não permitiam que o meu tempo fluísse naturalmente, eu conseguia sempre arranjar, numa tarefa algo Herculana, uma maneira de me encontrar contigo em sonhos e fazer colidir a minha existência com a tua. Por vezes, bastavam-me apenas cinco minutos do meu tempo. Jamais entrei, algum dia, debaixo dos lençóis, desassossegada, por não ter estado contigo e junto a ti.

 

Havia tamanha voracidade de afeto, em mim por ti, que quando te via, efetivamente, ao vivo e a cores, saído das minhas fantasias, esquecia por completo todas as contraindicações que tal encontro faria ao meu corpo; os malefícios de ver a tua pele, uma vez mais, a crueldade de contemplar os teus olhos, sem deixar que tu os desviasses dos meus, a sede de beijar os teus lábios e aflorar cada poro e centímetro do teu corpo…

 

Ninguém podia dizer-me para eu chorar a tua “ morte “ porque eu ainda te sentia vivo dentro de mim. Nos meus sonhos eu ainda me agarrava a tua clavícula e conseguia arrepia-la com as minhas carícias subtis, nas minhas fantasias eu ainda te beijava o dorso e o interior das tuas coxas. Eu não podia chorar pela tua morte, Tiago, porque o teu corpo não jazia debaixo da terra, mas sim, nos braços de um outro alguém, ou dezenas de outros alguéns, quiçá!

 

Sempre entregaste-te nos braços de outras mulheres, menos nos meus! E eu queria-te só para mim, num ato egoísta e desmesurado, de amar-te há mais de uma década… Eu queria-te só para mim!

 

No entanto, foste qualificado pela Dra. Anabela e pela Dra. Sandra e o séquito de psiquiatras que esmiuçavam o meu caso: “ de fantasia morta, idolatrada, e transporta para a realidade com o início de uma depressão profunda revestida num luto emocional irreversível “.

 

Eu não queria perder-te. Poderiam tirar-me tudo menos a tua ilusão. Mas o tempo golpeia-nos a vida, é uma penitência amarga e, desesperadamente, eu quis continuar a ver-te nos meus sonhos, a sentir o teu peito a palpitar junto ao meu, o teu sangue a dissolver-se no meu, tu a odiares-me e eu a amar-te. Que importa se tinha uma vida dupla? Tantas vezes fui apostrofada de prostituta por querer o sexo, o carinho e o interesse dos outros (num ato puramente egoísta) e amar-te em simultâneo.

 

Nunca me importei, sabes?

 

O teu silêncio, Tiago, era um fantasma que eu amava e todos os teus silêncios e ausências, para mim, valeram a pena, porque do teu silêncio eu conseguia desenhar e extrair dois braços abraçados, dois corpos alinhados em plena sincronia como uma espécie de simetria de arte. Do teu silêncio, eu conseguia fazer nascer duas mãos vagabundas a vaguear por entre a linha perfeita das minhas costas. Oh céus, o quanto eu amava, essas tuas ausências e esses teus silêncios na minha vida, pois da tua mais premente recusa, nasceu o mais perfeito dos amores: um amor politicamente incorreto mas feliz em toda a sua magnificência.

 

Por isso, meu amor, nunca aceitei a tua morte. Nunca quis chorar-te. Tão pouco enterrar-te. Onde haveria eu de sepultar-te? Diz-me! Eu sabia que no momento em que deixasse de sonhar contigo, de projetar-me em ti, de acreditar, quem acabaria sepultada seria eu, Tiago! O mais provável era cair no abismo do vazio e, numa previsibilidade indómita, de desistir de avançar e arriscar.

 

Já te disse o quão sou louca pela simples ideia de me apaixonar por alguém? Devo ter-te confessado, algures, no meio de uma das minhas epístolas infindáveis, o quanto amo AMAR e o quanto preciso de uma pele para desbravar, Tiago, no entanto, eu, que nunca quis que tu morresses dentro de mim, e que te prolonguei a vida quando tu já eras vítima de uma série de execuções, deixei o tempo passar e permiti que o meu próprio carrasco me assassinasse. Talvez sejamos a continuidade da saga de William Shakespeare, quem sabe? Aclamavam-te de fantasia morta e eu golpeei as paredes e gritei mil vezes: “ Não, o Tiago, não…Tudo, menos o Tiago “. O drama de se amar aparvalhadamente alguém é não se admitir a descontinuidade ou morte desse próprio amor.

 

E, um dia, a verdade veio ao de cima, e eu já não conseguia sentir-te nem amar-te, nem amar-te nem sentir-te e tu, efetivamente, estavas morto. Depois de ti eu sabia que não existia mais nada e deixei que tu me tirasses a vida e me sepultasses, ou fui eu que me sepultei a mim própria?

 

Tu eras a minha mais bela ficção e agora estás morto; como poderei eu viver sem ti, Tiago?

 

Não posso.

 

Não consigo.

 

 

Vanessa Paquete 2014 ©

All Rights Reserved

 

 

 
{#emotions_dlg.blink} Bom, olha, o cabelo a Mariah Carey e o STYLE até se arranjou, passados uns anos.
A voz foi bastante mais complicado.

Sabes qual foi uma das perguntas assíduas que me fizeram, ao longo daquela minha fase, de transformação física ? " Como é que uma rapariga como EU infligia tanta auto-destruição a si própria e me subjugava perante ti? " Claramente, nenhuma daquelas pessoas conhecia a " Vanessa " do passado. Olhavam para a " capa do livro " e julgavam-me pelo exterior. Como muitos homens e mulheres me viriam a dizer " eu poderia ter o mundo a meus pés ", mas, o problema é que ninguém sabia que eu ainda pensava como a " Vanessa " do Ivo e do Tiago e - sinceramente - até hoje acho que nunca deixei de ser a " menina enjeitada do Ivo e do Tiago " por isso, não, nunca me vi como os outros me viam. Por vezes, tão pouco me reconhecia nas fotografias: esta é uma delas! 

NOVO CONTADOR DE VISITAS

Oi gente...

 

Hoje estou aqui apenas para vos dar uma informação relativa ao NOVO CONTADOR DE VISITAS.
Aquele que vêem no TOPO da página em NÚMEROS GRANDES E A NEGRITO é o CONTADOR original; aquele que existe desde o terceiro dia do Blogue quando o criei em Julho.
Deve datar de 27 de Agosto, embora o Blogue tenha sido criado a 22 de Julho !
Contudo, noutro dia, apercebi-me que não existiam AS DEZENAS DE MILHARES ou mais casas numéricas, portanto, fiz a suposição que o Blogue voltasse ao NÚMERO 0.
Tendo tal em mente, há 1 DIA ATRÁS, acrescentei um NOVO CONTADOR que é aquele que vêem em NÚMEROS AZUIS E JÁ COM CASAS EXTENSIVEIS AS DEZENAS DE MILHARES.
Obviamente, que, de momento, os CONTADORES, não estão em SINCRONIA porque o ORIGINAL é o a NEGRITO e o mais RECENTE é o a NÚMEROS AZUIS.

 

 

Ainda assim, aqui fica a informação {#emotions_dlg.smile}

 

PACO RABANNE STYLE

Para ti, Tiago Madalena
De mim, Vanessa Paquete

 
{#emotions_dlg.blink}Acho que este é o Post mais curto e mais estúpido que existirá neste Blogue.
Olhando para as fotografias, nem que eu quisesse imitar alguém da tua prol feminina de amigas, seria impossível. Vá lá, admite, o meu estilo é tão único e anti-leceiro que nunca conseguiria seguir o molde e os parâmetros adequados e sabes que mais? Eu gosto de mim assim! Aqui estão apenas 30 % dos estilos que experimentei desde o final do relacionamento com o Duarte com a intenção de te conquistar ( sim, é verdade ). Sabes ? Adoro óculos Paco Rabanne, é a minha marca preferida e o meu estilo preferido. A falta de dinheiro, adquiri a versão feminina de imitação, tal é a minha paixão por essa marca. Todavia, outro estilo que também adorei usar foi o estilo da " Anastacia " algo muito invulgar em Leça ou onde quer que fosse e o estilo Vintage.

 

Os óculos de sol são algo que nos distingue, compreendes ? Faz parte da nossa personalidade !
Se eu mudei tanto de estilo significa -obviamente- que sou volátil de humores e inconstante
Mas os Paco Rabbane sempre foram os meus predilectos 

 
 
Hoje, mesmo com o excesso de peso em cima, continuo a adorar possar.
Uma vez modelo e vítima das objetivas, modelo serás para sempre.
Se vamos falar de moda agora ? E porque não ? Tenho umas belas experiências para te contar!
Um dia, conto-te tudinho ( desde o quanto eu odiava ser fotografada até chegar a queimar as fotos, desde o início na arte da fotografia e a libertação dos complexos, até a influência a 200 % que tu e todo o teu mundo circundante tiveram em mim.) Por agora, fica a dica, não sei ser LECEIRA ! Não me está no ADN. Já reparaste que nem os traços típicos dos Leceiros possuo ? E, todavia, nasci e cresci em Leça, vá-se lá entender !